No Olho Da Tempestade escrita por P r i s c a


Capítulo 21
Pais. Os Dele e os Dela


Notas iniciais do capítulo

Demorei mais cheguei!
Leiam, critiquem, comentem, reclamem, elogiem, façam qualquer coisa, mas me deixem saber o que estão achando!!!!!!!



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Líquido quente e vermelho pingava de sua boca. Subia em si a certeza de logo seu corpo cairia inconsciente. A pancada chegara rápida e violenta ao ponto do pequeno Vongola não ter a chance sequer de pensar em se preparar. Fora pego de surpresa e agora pelejava para voltar a si, para articular as palavras e responder ao desespero de seu Guardião, de pé bem à sua frente.

O ofensor? Ninguém mais... que seu próprio Braço Direito.

Gokudera Hayato.

Diante de tamanha cena, Sawada Nana derruba as roupas que carregava consigo, segurando o próprio rosto com ambas as mãos e os lábios se partindo no que parecia ser a primeira vez que a faziam gritar:

"TSUNAYOSHI! Olha só a sujeira que você fez!"

A arma do crime? Cinco palavras.

~Precisamente três minutos antes...

Anoitecia na casa dos Sawada quando o furacão de vergonha e arrependimento que era Gokudera atravessou a porta correndo, colocou-se de joelhos e, sem qualquer motivo mais relevante que o estrago que acabara de fazer na entrada da casa deles, começa a bater a cabeça no chão repetidas vezes, pedindo mil perdões.

E Tsunayashi continuou tomando seu chá de maçã com canela como se fosse Reborn a ouvir seu desespero. Ele estava pegando o jeito daquela coisa de "nada me impressiona, nada me afeta".

"O que houve, Gokudera-kun...?" perguntou, depois de um leve assoprar e um pesado suspirar. Tomava seu segundo gole, devagar, bem pequeno, pelo chá ainda estar muito quente, quando Hayato dispara as palavras fatais:

"Eu e Haru estamos namorando!"

"PUUUUUU!" queimara a boca, queimara a cara de seu guardião e tomara uma ainda inédita bronca de sua mãe.

ooo

Horas antes, na sala de jantar dos Miura, Gokudera sentava-se a mesa com a nítida sensação de que presenciaria um assassinato.

À mesa, o almoço estava caprichosamente disposto e intocado e do balcão que separava a sala da cozinha, podiam ver que Sra. Miura preparava o que ninguém confirmara, mas mesmo assim ele podia apostar um rim que era bolo.

E bolo de cenoura.

Tactactactactac fazia a faca que picava as frescas, tuberosas e laranjas raízes recém-lavadas preenchendo o ambiente com ainda mais constrangimento. Sem perceber, um tique em sua perna o fazia acompanhar as batidas na mesma velocidade.

Porque é que ele tinha a impressão de que não era àquelas cenouras que a Sra. Miura queria tanto fatiar?

Ainda pior...! Porque ele tinha a sensação de que Haru também queria fatiá-lo?! A morena não percebia que aquilo tudo era culpa dela pra início de conversa?!

"Então..." deslizou a santoku (materializada no lugar da faca comum) enchendo um tigela com picadinhos laranja até o topo. Continuou a picar. sua perna continuou a tremer. "Você é o tal Gokudera que vem brincando de casinha com minha Haru..."

Aquela mulher (a filha, não a mãe) não sabia limites pra fechar a boca?! Não bastava Bianchi, os guardiões e até a Varia do futuro, tinham que os pais dela ficarem sabendo daquelas vergonhas? Hayato respirou bem fundo. Já previra aquela cumplicidade

"Sou, mas quando você fala desse jeito me faz parecer um pervertido ou algo assim."

A lâmina fincou na madeira e a mulher lhe deu um sorriso psicopático.

"E não é?"

Era por coisas assim... que qualquer um mais velho que ele devia ser considerado um inimigo.

"Não. Sua filha é que insistiu com essa ideia." e completa. Não precisava, não devia, mas o fez mesmo assim "A pervertida é ela, eu sou só a vítima."

"Eu?!"Haru ergueu a cabeça ofendida, abrindo e fechando a boca várias vezes sem conseguir se defender. "Ha-haru não é pervertida desu!"

"Pois muito bem, então devo presumir que aquela ceninha lá no quarto fora por força da minha filha, correto?" o movimento de fatiar se intensificava, a grade tigela repleta de poeira de cenoura já devia ter pedaços de madeira misturados.

Lembrou do beijo. Sentiu o rosto queimando parte feliz por ter feito, parte constrangida por ter sido pego. Agora quem abria e fechava a boca indignadamente era ele. Tactactac fazia o facão.

"Vamos direto ao que interessa." e fincou o cutelo na tábua quase fatiando a madeira. Mas o que é que aquela mulher tinha contra a pobre cenourinha?! O que foi que ela fez!? "Perguntinha clássica: Quais as suas intenções para com a minha filha?"

"Nossa filha..." sussurrou Sr. Miura, lembrando a todos que também estava ali.

"Nossa." enfatizou a esposa. O efeito de um eco reverso, que começa baixo e repete mais alto, até gritar e impor o que dizia conseguia espaço entre o constrangimento e a cenoura retalhada.

Nossa e não sua.

Nunca sua.

Nunca permitiria.

E Gokudera se irriitou com o que estava subentendido.

"Exatamente o que esteve ouvindo escondida." Haru arregalou os olhos "Pretendo me casar com ela." não importava quando. Mas ele ia. E quanto mais cedo os pais dela entendessem aquilo, melhor.

"Não pode."

"Não é você quem decide."

"Ela é nova demais e o fato de ser você a ser entrevistado em minha sagrada cozinha prova que é também inexperiente demais pra decidir qualquer coisa."

"O que quer dizer? Que prefere ver sua filha namorando um monte de outros caras ao invés de escolher um e ficar com ele apenas?"

"Sim! Ela é nova ainda, ela pode fazer isso! Você pode fazer isso!"

"Não, ela não pode! E eu nunca faria isso! Relacionamentos são coisa séria e não uma brincadeirinha que se pode parar e reiniciar quando der na telha!"

Em meio às vozes que se elevavam e começavam a berrar, uma confusa garota Hahi se chega a seu pai e lhe pergunta:

"O que é que está havendo aqui?"

O sr. Miura se aproxima sua cadeira devagar, observando a cena como um fotógrafo da vida selvagem observa espécimes agressivas em seu habitat natural.

"Ao que parece sua mãe está brigando pela sua independência e direito de experimentar tipos diferentes de relacionamento sem compromisso enquanto que o rapaz a confronta com a ideia clássica e conservadora de dedicação a uma única pessoa em um relacionamento mutuamente sério."

Haru espiara os dois cabeças-duras discutindo como um par de doninhas raivosas. A comida a mesa esfriava e a massa a qual deveria ser acrescentada as cenouras jazia esquecida. Já ouvira falar que o rapaz tinha "problemas com a autoridade", mas nunca que em sua vida iria imaginá-lo travando tamanho argumento com sua própria mãe, e o que era pior...! Haru sentia-se inclinada a concordar com ele.

...

"Minha mãe quer que eu saia namorando vários por pouco tempo e Hayato quer que eu fique com ele e ponto final?"

"Ela não quer isso, ela só está contrariando o garoto tanto quanto lhe é possível."

...

As doninhas raivosas continuavam a rosnar uma para a outra, mostrando dentes e garras enquanto discutiam colericamente.

"Qual o seu problema? Posso apostar meu fogão que é um cara bem popular em sua escola, porque não vai atrás de outras?!"

"Não gosto delas, gosto da sua filha e quero algo sério!"

"Urrrrgh!" a pequena mulher parecia prestes a pegar a faca e acertar a cabeça prata de alguém. "Não se fazem mais punks como antigamente!"

Por qualquer motivo que fosse, Gokudera volta a se ofender e a discutir.

...

"Mesmo assim, não tem algo errado demais nessa cena?!"

"SIM! Enquanto não sentar à mesa, sua mãe não vai nos deixar almoçar e eu estou com fome!"

"Pai!"

Um murro na mesa os tira de sua conversa particular, assustando a ambos os espectadores. A brincadeira havia acabado.

"Pessoas prontas para se casar tem estudo. Elas tem trabalho e planos de futuro, você já tem tudo isso, garoto?"

"Só falta terminar o colegial." em algum momento, o rapaz havia se levantado e quase dobrava o corpo em um 'L' de ponta cabeça para manter não desviar o olhar de sua desafiante. Não havia dito e a mais nova sabia que não fora a intenção, mas quanto mais a discussão avançava, mas dava a sensação de que ele pretendia se casar assim que se formasse na escola.

E aquele não era um bom rumo de conversa para sua mãe, Haru tinha certeza.

"Meus parabéns! Você pretende trabalhar?"

"Eu sou Braço Direito do chefe Vongola, já estou trabalhand-" foi quando percebeu o que havia dito.

"Ah, sim..." o tom da Sra. Miura baixou perigosamente "...o menino mafioso..." e havia tamanho desdém que o rapaz sentiu parte de seu maior orgulho como pessoa sendo pisoteado. "Então sua ideia de carreira é passear por ai com seu amigo herdeiro mafioso e ser pago pra isso?"

Gokudera piscou algumas vezes e olhou para Haru. ela não ousou retribuir o olhar. Não precisava encará-lo pra perceber o que estava perguntando.

Você falou sobre a Máfia?!

A morena gesticulou que conversariam sobre aquilo depois. Aquele não era o ponto mais importante no momento.

"Juudaime não é apenas um amigo. Ele será o chefe e eu sou seu Guardião." não importava mais os segredos. Seu orgulho estava em jogo e ele não o perderia agora.

"Então está me dizendo é que você é pago pra passear com seu melhor amigo usando smoking e escutas?"

"Não é apenas sair! É cuidar da segurança dele e auxiliá-lo. Protegê-lo com minha vida se assim for necessário!"

"E o que te faz pensar que esse é o trabalho remotamente apropriado para se formar uma família?"

O não tão orgulhoso Guardião da Tempestade fica sem resposta. ele entendeu onde ela queria chegar.

"Acabou de falar em seriedade... comprometimento... mas com "casar" você pretende exigir isso enquanto você mesmo se dedica apenas a seu chefe? É isso o que eu entendi?"

Contra aquilo não havia argumento. Ela o encurralara em algo que já vinha se preocupando antes e não fora capas de responder. Gokudera decidira simplesmente ignorar aquele pensamento e agora se arrependia por não ter buscado uma solução.

"Eis o que vocês vão fazer." falava baixo. Falava devagar. Não havia mais alguém ali que pudesse contestar a Sra. Miura. "Você vão namorar."

Parte do que lhe doera mais fora ver Haru abrindo a boca para protestar. O pai dela a segurou pela mão, delicado, aconselhando-a silenciosamente a apenas escutar. A mãe continuou.

"Você vai levar minha filha pra sair e vai cuidar dela. Um único final de semana. Se depois disso ela ainda quiser algo com você, muito bem, lavo minhas mãos..." havia um tom estranho. Algo frio e contrariado que Gokudera não conseguiu reconhecer, mas percebeu com clareza que havia atingido fundo a morena. "Se não..."

A mais velha se aproxima e de repente a diferença de altura não importava mais, pois naquela hora, era ele a observá-la de baixo e o contrário não voltaria a acontecer.

"Vocês terminam. Você some. E não volta mais."

"Não pode nos obrigar a-"

"Vai descobrir que eu posso. E eu vou."

Quando acaba de falar ela entrega um pacote com o que parecia ser um prato do almoço já frio e esquecido na mesa.

"Isso é pra sua irmã. Por ter cuidado de Haru quando estava com febre. Já pode sair e esteja de volta amanhã as nove da manhã em ponto. Vocês vão terminar esse trabalho e eu e seu pai vamos supervisionar."

Sem mais, Hayato pega o pacote e sai. Sai indignado, sai constrangido, e sai humilhado. Mas principalmente, sai ferido. Porque parte do que lhe doera fora sentir que a morena o havia desertado quando não se manifestou. A outra parte foi perceber... só depois, quando viu o olhar dela e o olhar que a mãe dela lhe lançava, percebeu que talvez fosse mais que isso. Muito mais que isso.

Ele podia não ter a cumplicidade parental, mas sabia que ela era real. Não em sua vida, mas na de outro alguém. Que existia e que era importante. E, naquela hora, ele percebera que havia feito Haru sentir que traíra seus pais.

ooo

Tsuna estava de queixo caído havia bons minutos e não sabia ao certo, de todas as anomalias daquele relato, qual delas deveria ou poderia abismá-lo mais.

Escolheu o que lhe pareceu mais inofensivo.

"M-m-mas, mas mas CASAR? JÁ?!"

Gokudera segurou o impulso de revirar os olhos. Não queria de modo algum desrespeitá-lo, mas não suportaria ter seu prezado chefe contra ele também.

"Não precisa ser . Eu nunca disse que precisava! " mas só por curiosidade "E qual seria o problema, afinal?"

"B-bom... e a faculdade... e... e.." sinceramente, Tsuna não conhecia nenhum outro motivo além daquela. E só a usara porque ouvia sua mãe tagarelando sobre a importância daquilo. Para o Bom-em-Nada, o grandissíssimo fato de estar namorando Kyoko já lhe era uma vitória tão suprema que o deixava feliz demais para pensar em qualquer coisa além disso. "V-você sabe...!"

Se tinha forças para torcer para que a Sra. Sasagawa não fosse assim, o moreno já fazia muito.

"Existem boas faculdades na Itália. A mulher e eu poderíamos cursar o superior lá sem os atrapalhar, Juudaime."

Não é sobre mim...! choramingou o chefe em sua mente.

"Mas você não acha que, bom... vocês não são muito novos?"

"Não." e sorri. Uma resposta direta e sincera. Mas não necessariamente correta.

Ele esquecera que Gokudera nunca fora fã dos mais velhos. Tsuna estava ficando sem alternativas

"E os pais dela?"

"Podíamos testar uma daquelas boxes de armazenamento e trancá-los lá um pouco."

Tsunayoshi para petrificado. Gokudera começa a rir.

"É brincadeira, claro que eu nunca faria isso, Juudaime! Hahahaha!" Não! Ele não estava brincando e Tsuna sabia! "Eles não estão errados." diz por fim, acalmando um pouco os já desgastados nervos do moreno. "Só não concordo com eles em tudo."

Antes que Tsuna pudesse perguntar mais, um calafrio percorreu sua espinha.

Estavam sendo observados.

Assim que percebeu o alarde de seu chefe, Gokudera se colocou em alerta e...

"BAKADERA!" era tarde. A ameaça grudara em sua perna e se recusara a sair. "Hoje você vai brincar com Lambo-sama!"

"OI! Sua vaca idiota, me solta!" e sacode, sacode, sacode a perna, mas nada d menino soltar "Que droga, vai ser assim toda vez?!"

Desde que voltaram de missão Lambo parecera ter grudado no rapaz um pouco mais que o normal não largando do pé dele até literalmente. O moreno se recusava a dizer aquilo em voz alta porque treinara bem o seu bom-senso, mas a verdade é que havia um tempo percebera o menino aprontando menos e obedecendo, ainda que só por pouco tempo, quando quer que seu guardião estivesse por perto.

Podia ser só coisa da cabeça de Tsuna... mas ele achava que o pequeno Bovino havia desenvolvido um novo respeito pelo Smoking Bomb.

Logo a mãe do moreno aparece e convida Gokudera para dormir ali e aquela ideia deixara Lambo eufórico ao ponto de quase ficar insuportável. O Guardião recusa até o momento de Tsuna pedir por favor e fazê-lo, sem querer, tratar aquilo como uma missão ultra importante, pois com o guardião parecia ser tudo oito e oitenta...

Ou não queria ninguém ou queria, casava e fim de história. Ou frio e desligado ou explosivo e destrutivo. Não que houvesse algo errado... a menos que Haru não quisesse ser tão radical.. ai eles teriam problemas.

O menor suspirou exausto, prevendo as futuras dores de cabeça que enfrentaria com seus subordinados dali para frente.

Já estavam prontos para dormir e, exausto, Lambo roncava no futon que haviam preparado para o de cabelos prata ao lado da cama de Tsuna. No final das contas Gokudera aceitara jogar video-game com o mais novo (só porque Juudaime também jogou) e agora resmungava pelo espaço que aquele cabelo afro ocupava em seu espaço.

Apesar de não ser do tipo que insiste em assuntos alheios (ou em nenhum assunto... nem nada), ao se deitar e perceber Gokudera utilizando Lambo de travesseiro, o moreno acabou por perguntar:

"E agora, o que vai fazer?" se deitou e cobriu o corpo até o queixo. "A Sra. Miura faliu que te quer lá as nove em ponto, não é?"

O rapaz de cabelos prata não respondeu de imediato como era o esperado.

Não. Ao invés disso ele se vira e diz:

"Eu não vou."

ooo

Em sua casa, depois que Gokudera se fora, Haru ficara pensando no que sua mãe lhe dissera.

Bastou a porta fechar para a mais velha se virar pra Haru com zangados olhos castanhos de "Sua vez". Haviam discutido por uma hora inteira. A mais velha parecia ter o fôlego de uma cachalote quando se tratava de discutir e argumentar e o silêncio ao qual fora submetida durante o almoço dera a garota indignação o suficiente para protestar.

Mesmo sabendo que em parte estava mesmo errada.

Mas o problema de se insistir em brigar quando não se tem argumento... é quando começam a sair palavras que não queria realmente dizer.

"Que tipo de mãe é você que me obriga a sair e namorar?! Porque você não pode ser mais normal?!"

"Porque, minha filha, por algum motivo, os céus me agraciaram com uma filha que não é normal. Você não tem problemas com notas e estudos! Já te vi fazendo vários desses trabalhos de fim de ano e nunca te tomou mais que três ou quatro dias pra terminá-los! O que está acontecendo, Haru?!

Agora a conversa tomaria um rumo que sempre frustrava a menina quando se tratava de suas amizades.

"Eles estão te maltratando? Te ameaçaram, ameaçaram a gente?" não parecia assustada, nem alterada. Não, apenas jogava as possibilidades, como se já soubesse a resposta.

"Não!"

Mesmo assim sua mãe insistia.

"Não trabalho mais lá, mas ainda tenho contatos na polícia, se estiverem te obrigando a algo que não quer..."

"Não, mãe, eles não são assim!"

E a Sra. Miura ergue ambas as mãos no ar, como quem diz "ão sei mais o que fazer."

"Então por que os está ignorando?!" agora a havia encurralado. "Por que você está enfurnada aqui em casa de novo, fugindo deles como fugia quando criança? Sem uma explicação?"

Não era bem assim... Haru.. Haru não estava fugindo deles...!

...estava?

"Eu não sumi sem dizer nada eu expliquei! Eu falei com eles que tinha trabalho!"

"E disse que não queria ajuda também?"

"Ah-hum.. quase."

"Você se impôs? Porque se sim, não entendo o que o rapaz estava fazendo aqui."

A mais nova se cala. Não importava o quanto desviasse a mais velha sempre a traria para o tópico do qual não queria conversar e sempre venceria o argumento. Era sua maior habilidade.

"Ele te beijou! Você deixou as coisas simplesmente chegarem a esse ponto e não fez nada! E não ouse negar...!"

"Não foi culpa minha" não era... como ela pudesse ter feito algo. E anda que pudesse... bom... Não era pra ser da conta dela. Até era, mas... não precisava de tanto alvoroço. Foi só... um beijo.

Haru não queria admitir culpa, mas também não podia passá-la para seus amigos. Estava encurralada.

"Então ele te forçou?"

"N-não!"

Da sala de estar, seu pai fingia ler o jornal. Ela queria muito que o mais velho se levantasse e a ajudasse, mas ele tinha seu próprio papel ali e, enquanto não precisasse apartar ninguém, não se meteria na discussão. Agora que a mãe já havia constatado o que tinha que constatar, deixaria o resto se desenrolar sozinho.

"Haru... Não é pelo beijo. Não é mesmo..." e já completamente calma, mas ainda com a voz de autoridade a Sra. Miura se aproxima. "É pelo que o desencadeou." e com ambas as mãos segurando-a pelos ombros, sua mãe continua "Eu não criei uma filha covarde. Se o problema não é com eles, então o que você tem feito, é feio, é irresponsável e é injusto! Eu olhei aquele garoto nos olhos e o vi dizer que quer se casar contigo sem pestanejar! Juro pra você que não ficaria nada surpresa se a qualquer momento ele surgisse com a papelada do cartório pra vocês assinarem e sabe o que mais me assusta? O jeito que você tem levado suas decisões. Porque não duvido que teria assinado! E depois? O que você faria? Se arrependeria de ter agido sem pensar e sumiria? mudaria de nome, de país?"

Ela ainda não respondia. Sua mãe costumava exagerar pra se fazer entender, mas, quando chega o ponto que até o exagero lhe parecera possível, foi que Haru percebeu que havia perdido.

"Vou repetir só mais essa vez. Você vai namorar aquele garoto, vai decidir se gosta dele ou não e vai deixar ele saber. Se gostar, vai parar com essa crise pelo Sawada. Se não quiser, vai terminar e mandá-lo embora!" e não acabou por ai não. Desgraça pouca é bobagem. "Segunda coisa: Suas amigas. Decida se quer continuar essa amizade. Se quiser saia com elas, esteja perto, presente, ajude e seja ajudada. Se não, a mesma coisa: diga adeus e peça para irem embora. Virar as costas sem explicação não é uma opção."

Não aguentava mais. Não pela bronca, mas por raiva. Raiva de si mesma. Haru se virou para subir para o quarto.

Apesar de ter vencido, sua mãe continuava falando.

"Está na hora de crescer. De tomar decisões e além disso tomar a responsabilidade por elas, sejam boas ou sejam ruins. Você vai encará-las e superá-las todas, como é certo fazer."

ooo

Era ainda bem cedo, bem cedo mesmo, e Gokudera havia acabado de chegar em casa para pegar Uri e alimentá-lo antes que o bichano ficasse de mau-humor quando...

"HA-YA-TOOOO~!" Ela nem hesita em derrubar sua porta, os braços ameaçadoramente abertos para um abraço, "ESTOU TÃO ORGULHOSA! TEMOS QUE COMEMORAR!" e sem os malditos óculos!

"A-ANEKI!" estava morrendo sufocado pelo abraço, estava morrendo de dor pela ausência das lentes e previa que aquela visita não terminaria logo. "os...óculos..."

"Hm? Não preciso mais deles, você já não está mais tão doente assim pra me dar repulsa."

E entre protestos e xingamentos ela continuou apertando-o e tagarelando até ele quase cair inconsciente.

De repente, o tom mudou.

"Mas eu queria perguntar... E AS FLORES? OS POEMAS, PASSEIO NO PARQUE DE MÃOS DADAS, BEIJO DEBAIXO DE FOGOS DE ARTIFÍCIO?!"

Ele sabia! Gokudera sabia que a morena havia tirado aquela ideia absurda de sua irmã mais absurda ainda!

"Hayato, eu estou muito feliz por vocês dois..." agora ela ia retomar aquela história do casamento. Céus, Hayato nunca odiara tanto ter a língua maior que a boca. "...mas não acha que casar é um pouco extremo demais?"

"Não!" puro, simples, convicto... e agora bem mal humorado.

Ainda assim... Bianchi não o soltou. Pior: fazia carinhos em seu cabelo com se fosse uma criancinha birrenta, mas inofensiva.

"Eu sei que você tem que compensar o tempo que perdeu enrolando e que quer afastar logo qualquer outro pretendente... sim, eu entendo" Hayato ergue a sobrancelha. do que é que ela estava falando? "Mas casamento... é algo seríssimo. é um passo importante demais para ser dado às pressas. é um passo que precisa ser aproveitado. Entende?"

Aquele papo já havia cansado. Não era problema dela e não tinha que dar satisfações só por causa de meio parentesco sanguíneo.Só que antes que pudesse protestar, a mais velha continuou.

"Lembra quando meu eu do futuro lhe entregou aquela bolsa cheia de cartas...?" seu tom era agora baixo. Agora o abraçava de modo que não pudesse ver seu rosto. Pouco a Pouco, o enjoo passava. "Ela também te disse que você podia estar bravo... mas precisava acreditar nela quando garantiu que você nasceu neste mundo sendo amado por seus dois pais. Eles nunca se casaram, mas nunca deixaram de amar um ao outro como tal... Sabe como eu sei disso...?" de repente não havia qualquer aperto. Nem força, nem enjoo. Ela o abraçava simplesmente. De leve, com carinho, como se a Escorpião Venenosa a quem tanto temera... fosse na verdade bem mais frágil do que demonstrava. "Porque sou filha da esposa legitima dele. e eu sei que com meus pais não foi assim."

"Aneki..."

"Eu sei que você é só um moleque meio retardado que fala demais" não dava pra se comover muito tempo. Não com Bianchi. "Mas só por desencargo de consciência, vou te dizer que casamento não é nem prova nem garantia de amor. Se gosta mesmo dela, como se que gosta, vai ter que provar tanto ra ela quanto para os pais dela antes de planejar qualquer outra coisa." e fez um gesto de zíper fechando a boca, indicando que não falaria mais nada sobre o assunto.

Gokudera respirou bem fundo, colocando a mão sobre os olhos enquanto assentia, devagar, relutante, com a cabeça.

"Imagino que você já tenha algo em mente..." touchè!

"Que bom que mencionou!"

ooo

"Acha que peguei pesado demais?" de manhã, lavando a louça e a cozinha feito uma pessoa com TOC, os pais de uma certa morena conversavam. "Não que estivesse errada, longe disso, mas... sei lá. Podia ter usado palavras menos duras..."

"Não, claro que não. " e vira a página de seu jornal aproveitando seu café. Logo ele saiiía para o trabalho e voltaria durante o almoço para ver como o garoto e suas meninas estavam se ajeitando com o dever de graduação da Haru. "Foi sua delicadeza que me impressionou." e ao ver o rostinho sorridente da esposa brotando no meio da limpeza Sr. Miura completa "Elegante como um elefante sapateando em um teto de vidro."

A Sra. Miura tacou o pano molhado bem em sua testa.

Acima deles, em seu quarto, Haru se preparava para um momento bem delicado.

Estava em sua cama e fitava o celular havia pelo menos uns trinta minutos. Só olhando. Só encarando e repetindo:

"Agora eu ligo." e bastava ascender a telinha com o plano de fundo a fitá-la que Haru desista. "Talvez daqui a pouco."

Eu não criei uma filha covarde.

Não! Chega de fugir! Ela era uma Miura! Ela ia pegar aquele celular, ia ligar pra ele e- HAHI! Ele a estava ligando! O que fazer? O que fazer? O que fazer?!

"Moshi mo-"

"Tá, sou eu. Liga logo a chamada em vídeo."

ooo

7:00am indicava seu relógio de Namahage, feito com papel marchet pela própria garota Hahi quando ela estava na quinta série.

"Acha que o garoto vem?"

"Como foi que você disse? Não fazem mais punks como antigamente...!" e começara a imitar a voz que ela fizera. "Huhuhu, ele teve gana de levantar a voz pra você o garoto volta sim."

E a Sra. Miura bufa, contrariada.

"Eu já fui melhor e meter medo..."

"É, mas na época você usava uma arma de choque e um distintivo." estava pensativo

ooo

Estavam se encarando pela tela havia um tempinho. Haviam acabado de tentar falar pela terceira vez e pela terceira vez falaram juntos sem conseguir se entenderem. Depois de uma rápida partida de Jan-ken-po, fica estabelecido que Haru falaria primeiro.

"Haru..." não. Aquele não era momento para usar a terceira pessoa. "Eu te devo desculpas."

E olha para a tela., ainda incerta do que esperar dele

"Estou ouvindo..."

"Hahi! Eu sei, já vou falar!" idiota. "Eu... sinto muito... por ficar..." e mexe os braços, tentando fazer as palavras saírem "...por ficar te enrolando. Isso não foi justo. Desculpe."

"Desculpas aceitas." e antes que pudesse sentir que já estava tudo resolvido ele diz "Minha vez..."

ooo

"Nove horas em ponto. Acha que se adianta, se atrasa ou falta?"

"Não sei..." e suspira, finalmente terminando de limpar e guardar os pratos. "Espero que pelo menos venha."

ooo

"Haru, eu não sou romântico. Eu não vou ficar te bajulando, te seguindo e, na verdade, acho que você vai passar mais tempo brigando comigo por te chamar de idiota ou estúpida do que com vontade de sair ou qualquer coisa assim..." e finalmente "...mas gosto de você... e se pra você estar comigo eu precisar... argh!" Hayato remexeu o cabelo com agonia. Ela podia apostar que ate arrepiado ele estava "...precisar ser aprovado pelo seus pais e tudo o que isso implica..." e respira fundo.

"Se for importante pra você... eu faço."

Haru sentiu que ia morrer. Era rude, era por vídeo e ele parecia estar mais sofrendo em uma cama de hospital do que fazendo uma declaração ou um pedido oficial de namro... mas fora a coisa mais linda que já fizera por ela.

"I-i-isso é... se você quiser namorar comigo. Não precisa se for só porque sua mãe mandou n-em...-"

E Haru ela não ia desperdiçar uma raridade daquelas.

"Me leva no parque?"

"..." o olhar contrariado parou um instante e se fixou nela."Hm."

"E me compra flores?"

"Tá."

"Beijo sob fogos de artifício...?"

"Não força a barra."

Agora ela ria, antes tão furiosa, depois tão triste e envergonhada... tudo fora embora. Em seu peito só havia uma alegria bizarra e uma crescente vontade de fazê-lo mais e mais irritado como sempre gostara de ver. Ia ser difícil, mas... quem sabe... pouco a pouco, Haru não conseguia curá-lo?

E ele curar a ela?

"Oi.. Você tá com uma cara estranha."

"Hahi, não é estranha, Haru só está sorrindo desu..."

"É, mas quando a pessoa sorri feito pervertida, ela fica estranha"

"HARU NÃO É PERVERTIDA!"

"Ah, não? E no que você estava pensando?"

As bochechas claras começaram a queimar, certamente vermelhas. Ela estivera pensando no beijo.

"Haru estava pensando..." aquilo seria embaraçoso, mas, ei... era seu namorado ela podia falar aquilo, não podia? "Gokudera tem gosto de bolo..."

"E DE QUEM VOCÊ ACHA QUE É A CULPA?!" depois de alguns segundos o tom que ela não achou que podia ficar mais vermelho se intensifica "Se não tiver ninguém olhando... eu repenso sobre o lance dos fogos."

Ela precisou de todas as forças que tinha no corpo e mais algumas invocadas do além para não soltar um gritinho. Só conseguiu porque lembrou de algo... algo de suma importância que, agora que estavam mesmo juntos, não podiam deixar de lembrar.

"Gokudera, me escute com atenção... Antes de terminarmos meu trabalho preciso que você grave algo em sua cabeça e não esqueça nunca..."

ooo

"Nove da manhã." repetia sonhadoramente. Faltava pouco. Havia um tom descontraído, mas sutilmente sinistro no ar.

"Sim, finalmente vai ser amanhã..."

Parado de pé e eclipsando quase toda a janela da residência dos Miura, a robusta forma do chefe da casa observava o breu da manhã em contemplativo silêncio.

Durante anos planejara aquilo... durante anos aguardara pacientemente o momento que sua filhinha cresceria e começaria a atrair os abutres. E agora... sua espera compensaria.

"Querido... está rindo megalomaníacamente de novo sem mim?!"

"A-ah, desculpe! Desculpe!" e limpa a garganta. "No três então..."

"Um, dois..."

ooo

Gokudera até recuou um pouco da tela. Ele nunca vira a Mulher falando daquele jeito.

"E sei que minha mãe intimida. Mas não se engane... Entre leões é mesmo a fêmea que caça e abate... mas o Rei continua sendo o leão."

ooo

E o casal torna a rir feito uma dupla de psicopatas ansiosos para, pelo menos uma vez, testar os limites humanos de um pretendente de sua filha única.


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Notas finais do capítulo

eu sei que foi longo e teve MUITAS, AMS MUITAS falas de desabafo, mas foi necessário xDDDDDDD

Próximo capitulo é loucura do começo ao fim 8DDDDDDDDDDDD

OBRIGADÍSSIMA a todos que vem acompanhando, comentando e recomendando!
Metade dessa história não existiria não fosse às ideias que me jogam pelos comentários (querendo ou não xDDDDDDDD)

Não vou demorar pra postar o próximo! Capitulo novo semana que vem! [quarta feira provavelmente]



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