No Olho Da Tempestade escrita por P r i s c a


Capítulo 20
Irmã Caçula


Notas iniciais do capítulo

O que dizer deste capítulo?
...
isso: xD



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Ela caiu no sono deitada no chão do quarto. Acordou alarmada, achando que havia perdido a hora quando uma súbita realização atingiu seu pequeno louco ser...

O dia anterior fora sábado.

Haru não tinha aula de geografia até terça feira...

!

"HA-YA-TOOOOOOOO!" rugiu a enfurecida criaturinha, só pra perceber que o dito cujo não estava mais em sua cama.

Antes que tivesse tempo de xingá-lo pelo susto por celular, sua campainha toca. No minuto seguinte, uma geralmente grave, mas agora afinada e trêmula voz masculina a chamava para receber uma visita.

Sua fúria escorreu para fora de si e ainda levou um pouco da coragem.

Não... não podia ser, certo?!

Claro que ela queria que o rapaz a visitasse oficialmente... que conhecesse seus pais e pouco a pouco os deixassem se acostumar com sua presença (que não costuma ser fácil de ignorar) como Bianchi já começara a fazer, mas não imaginou que seria tão... cedo. Nem era nada demais, claro, mas a verdade é que os pais dela nunca a viram com alguém mais intimidante e ameaçador que Tsuna ou Yamamoto... E ela já tivera até que se explicar por causa do mais alto!

E isso quando ela ia vê-los... Nenhum rapaz a visitara em sua casa, mas já podia prever que a dinâmica seria outra!

...

A morena esqueceu a raiva e se arrepiou de cima à baixo... Ela já até podia imaginar as perguntas que sua mãe faria!

"Ha-ha-haru-chan!" voltou a chamar seu pai. Havia ali um certo desespero a voz do mais velho? "V-vi-visita!"

Descera as escadas em um único fôlego. Esquecera até de arrumar o cabelo, lavar o rosto, escovar os dentes ou o que quer que costumava preencher sua rotina matinal... Seus olhos simplesmente pairaram até cravar no olhar verde e permanentemente irritado de Gokudera à sua porta.

"Chamou?" ainda tivera a audácia de perguntar. Ele não percebia a necessidade de explicações emanando de seu pai?!

"Oto-san..." começou, devagar. "Esse é um dos amigos de Tsuna-san que eu falei..."

"O-o-o punk?" ah, não, ele ia mesmo reproduzir a descrição? "O neandertal estressado, maltratante de criancinhas e obcecado pelo menino Sawada?"

O queixo lindo e modelado de Hayato foi ao chão. Gokudera a encarou ofendido e furioso.

"O próprio." ah, o olhar desacreditado dele era maravilhoso "Mas lembra que tinha um gênio da matemática? O que está me ajudando com o trabalho de graduação?"

"S-sim, o que pedi pra me apresentar..."

"Pai, Gokudera, Gokudera, pai." e puxou o rapaz pelo pulso, forçando-o a entrar antes que a situação ficasse ainda mais desconfortável. Os olhos do mais velho se estreitaram horrorizados.

Bom... acreditando ou não, pelo menos Sr. Miura não o impediu de entrar.

Não havia nem terminado de subir quando aquela voz ofendida se fez ouvir

"Falou de mim pro seu pai?"

"Sem comentários."

Chegaram ao quarto e Haru só encostou a porta. Trancá-la pegaria mal e estava completamente fora de questão.

"Falou de mim?" repetiu. Parando para reparar o tom era mais surpreso do que ofendido.

"Falo de todos pro meus pais"

"...Mas falou de mim?"

Haru o encara seca.

"Neandertal...? Sério, Haru?"

"Agradece por eu ter lembrado que você é bom em matemática." pegou os livros, já completamente drenada demais para brigar por causa do susto da lição de geografia. Pelo menos só faltava o trabalho e estaria livre. "Eu devia era ter dito mais, seu bruto. To com torcicolo até agra por você ter me largado aqui no chão."

"A culpa é desse bolo todo que você consome. Quando quer parece que pesa mais de uma tonelada!"

Ela abriu a boca para xingá-lo...

"Pera, você tentou carregar a Haru?"

...

"Trabalho. Exercícios. Já." estalou o dedo apontando para as folhas de exercício na mesa. Aquele assunto estava encerrado.

Desde que fora recebido pelo pai da morena, Hayato vinha se segurando para não rir dela. A garota descera as escadas toda espevitada, os cabelos soltos, bagunçados, mas lindos e uma expressão que variava da fúria para a incerteza enquanto uma clara vergonha subia às bochechas. Ela provavelmente estivera tendo outra crise interna por qualquer idiotice que passasse naquela cabeça de vento e fora pega de surpresa pela reação do próprio pai.

Gokudera sabia bem. A cabeça dele funcionava quase que do mesmo jeito e se sentia orgulhoso por ter percebido essa similaridade.

Não é todo dia que se abre a porta de casa para receber o pretendente punk mafioso da única filha biruta. O rapaz tinha certeza de que era algo assim que se passara na mente do Sr. Miura assim que o viu.

Isso porque nem anunciara suas pretensões ainda.

...ainda.

Não enquanto Haru tinha essa fuga estúpida dela.

Sentado no chão do quarto e recostado na cama dela, Hayato já até podia se sentir sendo observado. Huhuhu... os planos em sua cabeça genial e prateada eram tantos... Perguntava-se qual colocaria em prática primeiro. Ele sentiu a boca se curvando em um sorriso. Torceu para não estar rindo alto e sem perceber, como sua irmã vinha fazendo nos últimos dias.

Pra resumir... estava consideravelmente satisfeito com a impressão que deixara.

"Do que Gokudera está rindo?" ah, droga!

"Nada que te interesse por enquanto. Vai estudar."

Dito isso ele prende o cabelo. Não sabia onde estavam os óculos, então voltaria a padecer sem eles.

E começaram os exercícios. Era uma leva de 143 questões dissertativas e 110 de múltipla escolha. Se tudo desse certo de acordo com o cronograma, eles terminariam aquilo hoje!

Heh.

Como se "dar certo" fosse mesmo a rotina deles.

"Ah, antes que esqueça..." ela se estica toda só para alcançar a gaveta da escrivaninha sem se levantar, a abre e retira um familiar embrulho de pano. "Haru encontrou seus óculos!"

"Sério?! Onde estavam?"

"Você os derrubou no quarto da Haru da... daquela última vez... que esteve aqui... desu~" e percebia as bochechas dela ficando vermelhas.

A cara que fizera deveria estar muito distorcida, porque a menina imediatamente mudou de tom para um apressado "Hahi! N-não se preocupe, os pais da Haru sabem que Gokudera estivera aqui antes! Haru explicou que não acontecera nada!"

Ótimo, não acontecera nada, Haru explicou tudo e estava tudo certo e resolvido! Sem problemas, sem estresse... Eles podiam muito bem voltar a estudar e manter tudo na mais perfeita paz...

...mas nããão, Gokudera tinha que perguntar:

"E... como eles reagiram?"

"Hein?"

"Baka!" dera um peteleco bem no meio da testa dela "Como seus pais reagiram? Ficaram bravos com você, fizeram vista grossa, o que?"

Assunto resolvido ou não... Hayato não podia negar que tinha medo de tê-la encrencado.

Haru parou um pouco pra pensar. Colocou a lapiseira de volta na mesa e se recostou na cama, ao lado dele. Não era como se estivesse lembrando... era como se estivesse escolhendo as palavras que usaria com ele.

"Eles entenderam." se ela terminasse por aí, Gokudera entenderia aquilo como "não quero tocar nesse assunto" e respeitaria, mas, por bem ou por mal, Haru já se sentia a vontade o suficiente para continuar. "Mas eu estaria mentindo se dissesse que não ficaram bravos."

Uma mistura de sentimentos subiu ao peito do rapaz. Não sabia o nome de nenhum deles, mas eram todos desconfortáveis.

"Haru... Eu tenho tido alguns problemas pra retornar pro grupo em si. Por você ser o único com quem mantenho contato, é claro que eles estão me questionando. Me perguntaram se estamos namorando escondidos..."

"Ridículo, eu sequer pretendo namorar, pra começo de conversa."

E foi aí que o estudo foi pro brejo.

...

De novo.

"Haru sabe que somos só amigos!" havia um toque ferido na frase. Mas era adorável o modo como inflava as bochechas naquele bico zangado "Não precisa ficar bravo."

"Não, sua tonta, eu gosto de você, só não pretendo passar pela faze de namoro. " alerta! Perigo! Perigo!

"Hahi!" uma erupção de sentimentos subiu até os olhos, sendo imediatamente contida "A-ah! Sim, samos casados, bem lembrado! Haru já tinha se esquecido da Famiglia-chan..."

"Eu não levo meus relacionamentos na brincadeira..." pára, Gokudera! pára! Volta! "Se aceitei casar de mentirinha é porque casaria de verdade."

BUM!

Deixara seus doces e mirabolantes planos escorrerem pelos dedos e serem levados correnteza à fora sem a menor cerimônia. Era pra ele acabar com a fuga dela. Era pra ele mostrar para os pais dela que podiam confiar nele. Era pra ele conquistar a morena, o jeito que havia prometido a Juudaime, fazendo esquecer de seu chefe e então, SÓ DEPOIS ele faria um pedido oficial de casamento. Era questão de bom senso! Ele não podia cortar toda aquele inferno de namoro e pular para a parte que o interessava antes de ter CERTEZA de que a outra pessoa em questão estava disposta a fazer o mesmo, se correspondia!

"Você... está propondo... pra mim?"

Mas não, Gokudera colocou a carroça na frente dos bois e deixou tudo correr ladeira abaixo.

Dane-se, agora era tarde.

"Sim."

A morena parara em choque. fitando-o sem cessar... Antes que pudesse se desesperar mais e recolher suas coisas para ir embora, Gokudera pegou um vislumbre das emoções que ebuliam nela. Ele viu... ele viu um brilho feliz... Um brilho que o fez se sentir completo e remexeu seu interior de expectativa e realização, viu uma confusão e insegurança merecida e justificavel pelo modo como vomitara as palavras e vira também raiva.

E ele não entendia de onde vinha a raiva.

"Então Gokudera quer casar com Haru... Pra valer?" o tom mudava. Incerteza e insegurança se esvaindo, sem querer dar lugar para aquele primeiro brilho feliz que vira nela. Não, Haru parecia ficar mais e mais brava.

"..." era certo responder? Era retórico? Ele estava encrencado? Ela afinal não o correspondia mesmo? "...sim?"

"Mas e o namoro desu~?" e a agora a irritação virava indignação. "E-e-e as flores e passeios no parque de mãos dadas e-e poemas e promessas ao pôr do sol?! Não vai ter nada, vai querer pular tudo isso?!"

"É COM ISSO QUE VOCÊ ESTÁ PREOCUPADA?! EU QUASE TIVE UM ENFARTO ACHANDO QUE.. Ah! Mulher Idiota! ACHEI QUE ESTAVA BRAVA POR NÃO SENTIR O MESMO!" Pronto, ele falou.

"I-isso! Tem isso t-t-também! Haru ainda tem Tsuna-san como o primeiro lugar!" embora não tanto quanto antes "Gokudera deveria levar Haru pra sair e fazê-la esquecer Tsuna antes de propor desu~!"

SIM! AQUELE ERA O PLANO! PORQUE ELA SUGERIA ALGO QUE NÃO DEIXAVA PÔR EM PRÁTICA?!

"NEM PENSAR! ESSAS FRESCURAS NÃO TÊM NADA A VER COM O QUE É NECESSÁRIO PRA SE CASAR E NÃO VOU ADERIR A NENHUMA DELAS!"

"Não são frescuras!" ah, céus, agora ela estava brilhando no modo 'sonhadora' "É o romance desu~!"

"Eu não preciso de bobeiras românticas!"

"HARU PRECISA! E SE TEM MESMO UM MÍNIMO DE VONTADE DE SE CASAR COM ELA VAI TER QUE LUTAR CONTRA ESSA SUA ALERGIA ESTÚPIDA!"

E continuava se sentindo observado. Podia ouvir com um resquício de atenção a movimentação vinda do sala, mas relevou. O calor da discussão fazia seu sangue ferver e por mais que aquele não fosse um de seus tópicos prediletos, Gokudera não ia perder o foco da discussão! Era um absurdo se referir à sua sensatez como alergia sendo que era aquela obsessão da morena e de sua irmã pelo lovey-dovey que deveria ser considerado como uma enfermidade!

"É o que você quer!?"

"É sim, desu~!"

"Então se eu conseguir ser romântico você pára de enrolar e aceita casar comigo?!"

"SIM!" grita, erguendo os braços. Então pára, pensa "D-digo..."

"Desafio aceito."

E sem mais planos, sem mais para onde fugir ou o que discutir, Gokudera a segura pelo rosto com ambas as mãos e a beija com toda a vontade que guardara desde tempos. Desde os telefonemas e os vídeos, as brigas e os carinhos... desde dois anos no futuro e voltando, em lapsos de tempo, espaço dos quais até eles duvidavam, até aquele confuso momento em que não pôde segurar mais. O primeiro beijo deles um com o outro, também o primeiro com qualquer um. Faminto no começo... depois hesitante e um pouco inseguro, com gostinho de felicidade e do que era certo de se acontecer. Como um inocente teste, cheio de empolgação. Adaptavam-se um ao toque do outro, ao sabor, à sensação do coração latindo e de realização. Confusa realização.

Depois veio um limpar de garganta.

Gokudera percebeu o inconveniente e cessara o beijo, deixando a morena escorregar mole por seus dedos até cair sentada no chão tão logo soltara seu quente, macio e avermelhado rosto.

Da porta já aberta do quarto, uma pequena criatura de grandes olhos chocolates os fitava intensamente.

"Haru... você tem uma irmã caçula?"

A menina parecia ter dificuldades de responder.

"Hhm...?" e sacudiu a cabeça ainda sentindo seu corpo inteiro flutuar "N-não, p-po-por que?" E vira o rosto para a entrada do quarto.

"Kaa-san...? O que esta fazendo?!"

KAA-SAN?!

A pequeníssima mulher e o pai de Haru (que por qualquer motivo tinha fita isolante cobrindo a boca) estavam observando-os. Tinha os cabelos curtos e castanhos e era ligeiramente mais encorpada que a menina, com blusa social branca e uma calça sarja preta que facilmente serviria de bermudão para sua irmã. A Sr. Miura conseguia ser quase uma cabeça mais baixa que a própria filha. Ao entrar no quarto ela agia como um gato arisco e dominante, investigando quem era aquele estranho sujeito que perambulava em seus domínios. Gokudera tinha a sensação de não ter causado uma boa impressão.

O esperado inclusive, seria que ele fizesse uma reverencia e se apresentasse, mas... bom, Hayato simplesmente sentia que já havia perdido a chance disso.

"Almoço. Cinco minutos." a voz era quase a da Haru, mas ligeiramente menos aguda. Com certeza a voz que a morena teria ao chegar a maturidade.

Era a chance. Não havia estragado tudo. Gokudera podia não ter mais os planos em ordem, mas ainda havia a lista de itens a cortar para que cumprisse sua missão e conquistar os pais da menina com certeza estava dentro dela.

"Já é tarde assim?" Teriam que terminar o trabalho outro dia "Bom, Haru, eu já..." COVARDE!

A Sra. Miura fora mais rápida.

"Você fica para o almoço." não havia interrogação.

"Não, obrigado eu..." CO-VAR-DE!

"Você fica." havia uma intimação.

Atrás da mulher o pai de Haru e a própria morena, lhe faziam gestos urgentes, cortantes, alertando-o para não contrariar.

Gokudera ficou.


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Notas finais do capítulo

xD

Sem comentários. [meus. Quero que você me digam o que estão pensando]