No Olho Da Tempestade escrita por P r i s c a


Capítulo 14
Verdade Revelada


Notas iniciais do capítulo

Huhuhuhuhuhu... tive que partir o capitulo em dois, mas espero que gostem do resultado!!!!



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Os conhecidos corredores passavam por seus olhos feito um filme que vira havia bastante tempo. Lembrava o caminho, mas, ocasionalmente, quando insistia em andar por aí sem qualquer guia, a morena se perdia.

Era exatamente seu caso naquela hora.

Mas, de verdade, Haru não se importava de se perder um pouquinho... deixar seus passos vagando à deriva, imitando tão perfeitamente seus pensamentos. E havia muitos pensamentos dispersos no momento.

Ela meio que estava fugindo...

Um distante ronronar alcançou seus ouvidos. Uri devia estar por perto. Não via a pequena Box desde que Gokudera a soltara no primeiro dia naquele tempo. Haru fez a curva no corredor onde achou o som mais alto.

Não que tivesse acontecido algo grave... Não, longe disso! Ela e seu “marido” estavam muito bem... até demais. Haru sabia que era culpa dela ter provocado o rapaz de cabelos prata... sabia que todo mundo tem limite e o próprio Gokudera ultrapassaria os dele cedo ou tarde... só não esperava que fosse daquela forma.

E definitivamente não contava com a reação de seu próprio coração.

Achara que... achara que o tinha sobre controle. Mas, claro... logo quando vira a Tsuna ela percebeu que estava enganada. Muito enganada.

Bufou.

Esperava que Kyoko a perdoasse um dia... Mas ela, Miura Haru, sua dita melhor amiga ainda não estava pronta... sequer para ficar genuinamente feliz por eles.

Então Gokudera voltou à sua mente, como vinha fazendo desde que ligara pra ela pela primeira vez, tanto tempo atrás (cerca de dois anos e um ou dois meses, mas seriam só os meses se tudo o mais desse certo). Lembrou da noite anterior. Se parasse pra pensar... só um pouco, um relance da proximidade, do clima, as palavras roucas e ambíguas.... Hahi! Ela já sentia o rosto queimando e seu coração amotinado tentando abandonar o navio pela boca!

“Quer que eu aja como marido?” perguntaram-lhe as quentes orbes verdes.

Uuuurrrrrrr... Dava até arrepios!

Quando saíra do quarto naquela, ahn, hmm... hora (ela mal sabia dizer se era manhã, tarde ou noite) deixando pra trás, roncando, um Hayato de raro sono pesado, estava determinada a encontrar Chrome para um papo de mulher. Queria conselhos. Sabia que a menina do tapa-olho, mesmo dois anos depois, não seria a pessoa ideal para questões daquelas...

...Mas Bianchi não estava por perto.

Hm...

Haru se perguntava se sua cunhada de mentirinha seria a melhor opção para desabafar justamente sobre Hayato.

Chegou a uma porta fechada. Os ronronos de Uri se assemelhavam muito mais aos de um carro que de um gatinho... Como se Uri de repente tivesse virado uma onça enorme. Mas aquilo seria ridículo. Grandes felinos não ronronam, só rugem.

Abriu devagar, temendo encontrar também com o dono da adorável arma Box.

Havia ainda a exceção dos Leopardos-das-Neves. Esses ronronam e rugem.

“Hahi!” seria a primeira exclamação da morena, não fosse o medo barrando-a à beira da garganta, na qual também travara sua respiração. Não era Uri a ronronar quem estava atrás da porta.

Era o Ligre do Céu de Xancus...

... e ele estava rosnando.

Ooo

Ele sinceramente já esperava não encontrá-la no quarto quando acordasse.

Depois de meia discussão extremamente desconcertada e de fazê-lo trazer da sala reuniões um sofá de verdade no qual o rapaz de cabelos prata fora obrigado a dormir, Hayato apagou na mais profunda e preciosa noite de sono que já tivera em muito tempo. Sentia falta de dormir com Haru (SEM QUALQUER DUPLO SENTIDO), mas a satisfação de virar a mesa no próprio jogo da morena era por demais satisfatória.

O delicioso e gelado saborear de seu prato de vingança.

Era como se tivesse acabado de ganhar um cartão verde para fazer tudo o que tinha vontade sem se deixar cair do despenhadeiro do romantismo e do maldito lovey-dovey.

Sim... Gokudera agora se sentia livre para, por exemplo e apenas um exemplo, flertar e encurralar a morena tanto quanto lhe agradasse que tudo ficaria bem... enquanto ele quebrasse o clima no final evitando assim uma crise alérgica.

Ele era capaz de perder a garota, mas não perderia a piada.

Imaginava que Bianchi não ficaria muito contente com sua nova visão de relacionamento... mas aquilo era um problema dela. Sua irmã não podia culpá-lo por nascer com o que parecia ser o exato equivalente contrário (oposto e inverso) da doença dela. O jeito típico de amar alguém, bom... digamos que não era pra ele. Urrrgh... Ainda se arrepiava só de imaginar-se sendo meigo, romântico e perdidamente apaixonada pela garota Hahi. Uma visão dos mais profundos infernos.

Não, Gokudera estava muito bem com seu próprio jeito de gostar dela, muito obrigado.

...Até admitir aquilo para si próprio ficava mais fácil quando se imaginava fazendo-a tremer um pouco na base só pra depois debochar da Miura até sua barriga doer de tanto rir.

Pensando com calma, podia-se dizer que, se seu mestre idiota (sim, ele mesmo: Dr. Shamal) usasse um de seus insetos para absorver o doentia obsessão de Bianchi pelo Amor e o romance novelístico, ele não precisaria ir muito longe para achar a doença que anularia os efeitos do seu corpo.

Não, ele só precisava ir até Hayato para encontrar o perfeito contra-ataque. Uma elaborada, autoconsciente e ambulante arma anti-romantices.

...

Huhuhuhuhu...!

Andando pelos corredores rumo à cozinha e assobiando uma melodia sinistra, o jovem guardião nunca se sentira tão perversamente contente por brincar de casinha.

Ainda bem que voltariam logo para seu tempo... Ele agora tinha muitos planos para colocar em prática e preferia fazê-lo logo.

E pensar que sequer viram a Xanxus.

Bom... Menos mal.

Ooo

Orgulho. Era essa a palavra chave.

Se uma pessoa normal, vagueando pelos corredores de um abrigo da Mafia mais poderosa (nem vamos considerar os paradoxos tempo-espaço para não tornar a hipótese um completo absurdo), abre uma porta e, dentro do quarto escuro, se depara com um ligre branco do porte de Besta, com certeza suas primeiras e últimas palavras seriam um grito ininteligível e um rastro de arrependimento por xeretar onde não devia.

Mas aquela era Miura Haru.

“Você... É A COISA MAIS LINDA QUE HARU JÁ VIU NA VIDA DESUUU~!” e esse era o mais próximo do normal que seu modesto ser era capaz de chegar.

Até o ligre a encarava como se o mini pedaço de lixo ambulante tivesse perdido o juízo.

E o pior é que a morena continua, total ou parcialmente ciente de que as armas Box de fato compreendem o que dizem os humanos...

“Haru sabe tudo sobre animais e seres mitológicos!” suas duas grandes paixões sendo golfinhos e Namahages “Ligres são atualmente os maiores felinos do mundo, chegando até 4 metros de comprimento!”

Besta, o ligre, não se impressionou com a tentativa patética de elogiá-lo. Se muito, estava completamente aborrecido com a falta de noção. Mas parou de rosnar para que a menina continuasse tentando.

“Nascem da união de um leão com uma tigresa, mas encantam sendo maiores, mais fortes, mais ágeis e mais espertos que ambas as espécies! São incríveis desu~!”

Se pudesse ouvir os pensamentos da arma box, a única resposta que Haru ouviria à sua onda de elogios seria um entediado “Lixo.”

Besta arreganhou as poderosas (maiores e mais fortes do que de tigres ou leões, lembram?) presas em um casual e impecavelmente amostrado bocejo e se sentou sobre as patas traseiras. Sentado, sua cabeça ficava praticamente na altura dos olhos de Haru, fora a juba.

A Box perdera o apetite.

“Haru só nunca vira...” dizia, chegando mais perto quase que hipnotizadamente. “Que ligres podiam ter também uma juba majestosa...”

Majestosa seria sempre uma palavra muito agradável de ouvir. Seja você um tigre, um leão, um ligre ou uma arma desenvolvida por cientistas loucos, bebês amaldiçoados e mafiosos com a forma de um desses.

“Mas ligres normais não podem não é mesmo, desu~?” de repente ela pára. Não estende a mão para acariciá-lo. Um plebeu não deve tocar nunca na coroa de um rei... “Você então deve ser absolutamente único!”

...sem sua prévia permissão.

E Besta se deitou fogosamente, deixando a barriga à mostra para anunciar que aquele pedaço de lixo humano e feminino estava bem longe de ser ameaçador. Na verdade... estava tão anos luz longe de ser uma ameaça, que lhe permitira tocá-lo... apenas para ter uma vaga noção de sua majestosa estrutura.

Quem sabe assim ela não aprendia a temê-lo?

E Haru afundou os braços naquela juba cheia, rindo e massageando as orelhas do ligre como fazia com o pequeno Uri, do jeito que todo felino, grande, pequeno ou imensamente arrogante, gosta.

E também, quem sabe, como gostavam outros seres não-felinos, imensamente arrogantes...

Ooo

Hora do café da manhã (agora sabiam que era ainda cedo).

E talvez... só talvez... por estar tudo bem demais para o gosto dos Vongolas, Xanxus decidira comparecer à mesa.

Se o ambiente estivesse meramente silencioso... já seria menos estranho que a situação atual.

Ao longo da trajetória da Décima Geração Vongola, muitos foram os inimigos que vieram a se se tornar aliados. Desde o violento Hibari, Rokudo Mukuro e sua gangue, Lanchia, a Família Millefiore, até o infame Byakuran... (na verdade, todos os inimigos acabaram por se tornar aliados, com maior ou menos grau de risco de traição)... de todos... até mesmo comparado ao Inimigo declarado da máfia e Guardião da Névoa, o filho adotivo do Nono chefe Vongola seria sempre o mais instável aliado da família.

Aquilo provavelmente contribuía, nem que fosse um pouco, para o clima estranho. Sim, no mínimo o nervosismo geral se dava pela presença do mais mau-humorado mafioso que já pisara em território Vongola.

Só que alguns... não. Aquela criatura parecia não notar ou ignorar por completo a hostilidade que pairava no ar. Porque ninguém além de Haru seria capaz de levantar a voz e começar a discutir com um Príncipe Retalhador na frente do homem a quem o próprio maníaco tinha o bom senso parecia temer.

E tudo começara com um infeliz “Bom Dia, desu~!”

Haru fora a última a chegar à mesa e, enquanto Levi distraía seu precioso chefe com a tagarelice da manhã, e Gokudera se preparava para o momento que Xanxus explodiria e mandaria todos pelos ares, Belphegor se adiantara a implicar com ela.

“Hm... Estamos de bom humor hoje, não? Imagino que você e seu maridinho tenham se divertido um bocado...”

Nem mesmo o famoso Smoking Bomb não tivera tempo de reagir.

Vermelha dos pés à cabeça, primeiro de vergonha, entendendo o que ele quis dizer e assimilando com a brincadeira do Vongola, depois da fúria que só quem muito preserva sua integridade e boa reputação sente com tão baixa insinuação, foi quando Haru bateu as mãos na mesa gritando:

“Você não tem uma tiara para polir? Ou a sujeira é para combinar com seu caráter?”

Se o recinto tivesse ficado em silêncio... podia-se dizer que estava tudo bem. Belphegor provavelmente soltaria o infernal “Shishishi” entraria no jogo de palavras.

Mas não.

Xanxus começara a rir.

Durante anos, o chefe da Varia tolerara os insuportáveis “Porque eu sou um Príncipe” do fedelho que entrara para o esquadrão por estar entediado... Vendo-o agora, calado, pasmo e de queixo caído recuado por causa da petulância do grito de um lixo Vongola, o líder sentia ter presenciado um bom momento de sua vida.

Pela primeira vez ele se sentira bem por ter aceito o fedelho loiro em seu esquadrão.

“O que... você disse?” recuperava as palavras uma a uma. O loiro não ficara repentinamente surdo. Ele sorria, mas não estava achando graça. Aquela era a deixa para retirar. Mas para o desgosto de Gokudera, Haru não a pegou.

“Você ouviu a Haru, Princesa.”

A risada do chefe explodiu em uma gargalhada má e debochante. O sorriso lunático se desfez.

Podia não ser grande coisa, mas para um maníaco retalhador, um com um grave complexo de realeza, a vaga noção de humilhação, na frente do único homem a quem chamaria de “chefe” era, no mínimo, insuportável.

Inaceitável.

No segundo que perdera a compostura e sacara as facas, a intenção era do mais denso desejo de sangue, mas um arrepiante ‘click’ seguido do sombrio “Lixo.” sendo murmurado congelou todos em seus lugares. Xanxus havia sacado uma das pistolas.

Haru finalmente percebera o erro de insultar a um subordinado da encarnação do Orgulho... Agora, um movimento em falso... e a sala inteira queimaria.

“Repita...” dissera o chefe com o rosto sério, como se tivesse sido talhado em pedra.

...

Silêncio. Ninguém entendia com quem Xanxus estava falando.

“Ei, Lixo!” e a garota Hahi volta a si. “Repita.” Mandou o chefe.

Ela se virou para Bel imobilizado. A pistola negra apontada para o nobre rosto.

“P... Prince..”

“ALTO, LIXO!”

“PRINCESA DESU~!”

E o chefe saca a outra pistola, destravando-a. Como se uma não fosse ameaça o bastante.

“Agora... Bel...” e o rosto de pedra teve a seriedade rasgada por um cruel sorriso. “O que você é?”

Não. NÃO! Belphegor preferia morrer... Os dentes brancos estariam a chocar-se não tivesse trincado a mandíbula com força o bastante para sentir dor.

“Princesa...” resmungou o loiro, contorcendo os lábios em uma mistura estranha de ódio e medo. Xanxus gira o pulso, incentivando-o a prosseguir. Aquilo lhe era divertido e queria ouvir até o fim.

“...Desu...” e a careta se dissolveu quando o chefe guardou as pistolas e se levantou rindo.

“E não se esqueça disso.”

Então o líder da Varia se retira, ainda gargalhando assustadoramente alto.

Gokudera decidiu que gostava de Xanxus. Não muito. Apenas o suficiente para parar de reclamar com Juudaime quanto a necessidade do esquadrão como aliados da família.

Mas não pensaria naquilo agora.

Não...

Enquanto Lussuria abanava um chocado Belphegor e Levi corria atrás do chefe para levar o resto do café largado na mesa, o rapaz de cabelos prata procura os assustados orbes cor de chocolate... e os encara reprovadoramente. Ao perceber o olhar, Haru abre a boca e fecha varias vezes, encolhendo os ombros como se também não conseguisse explicar. Hayato estreita os olhos batendo os dedos na mesa ritmicamente até ela reclamar que não fez nada com nervosos “Eu juro desu~!”

Gokudera vira a cara feito uma namorada enciumada enquanto a morena choraminga.

E a interação deles não passara despercebida pelo agora “Princesa” Retalhador. Bel afasta Lussuria de si com um tapa e finca suas facas na mesa grunhindo, retirando-se da mesa decidido a se vingar.

Estava, oficialmente, cansado de esperar o cérebro do Guardião Vongola encaixar as peças por conta própria.

Ao vê-lo sair, apesar de todos os seus recentes instintos pseudo-conjugais gritarem a certeza de perigo, a satisfação de ver o loiro ser derrotado tão comicamente mantinham sua guarda um tanto baixa.

De repente, Gokudera tinha certeza de que, não importava o que seu eu do futuro tivesse feito... A situação de Belphegor e Haru nunca seria tão grave quanto seu cérebro fazia parecer.

Isso era uma certeza.

ooo

Pior.

A situação era MUITO pior do que o quadro que Hayato imaginara.

Gokudera, Haru, Lussuria, Squalo, Levi e agora te mesmo Chrome e Mamon presentes na sala pouco antes do almoço, estavam todos de queixo caído. E Xanxus... pasmem! Xanxus ergueu uma sobrancelha. O assunto em questão era o mesmo: O que havia acontecido/ia acontecer para Gokudera ter que se manter longe “dos Miuras”. Ao ouvir a, antes tão derrotada, Unidade da Tempestade da Varia, agora cantarolando feliz feito uma menininha maníaca entrar no recinto com um rolo de papel, Gokudera sentira que aquilo não ia ser bom.

O loiro retardado os cumprimenta com um “Sabem o que eu trouxe comigo?”... e desenrolou o papel... lendo-o em alta voz.

Aquilo era uma carta oficial do conselho de seu Reino.

“...e, por meio desta, fica declarado que...” Bel prosseguia com a leitura da carta que chegara à varia no ano anterior “para ser eleito o Rei e o Soberano de, tá, até aprece que vou dizer o nome para plebeus simplórios como vocês...” e continua de onde parara “ Belphegor, legítimo PRÍN-CI-PE” e isso fora, claramente, para Haru. “...deve encontrar uma esposa.”

Algo... em algum lugar no fundo da mente de Gokudera parecera se quebrar.

As insinuações, as datas, sua ida para a Itália e o retorno desesperado ao ponto de contrariar a vontade de seu próprio chefe e as ameaças da Vaira...

Tudo se encaixava de um jeito muito pior do que estivera se preparando para acreditar.

Bel então se aproxima... e põe um preguiçoso braço sobre os ombros de Haru, possessiva e provocantemente dizendo:

“Perguntas?”


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Notas finais do capítulo

O tempo deles no futuro acaba no capitulo seguinte... O que vai ou não vai ficar decidido nessa confusão... bom... isso voc~e só descobrem semana que vem 8DDDDDDDDDDDD//