– Eu já te disse um milhão de vezes – me esforcei em não ser grossa com o policial que estava na minha frente. –, eu não vi o rosto dele.

 – Vamos analisar sua ficha de novo, tudo bem? – falou em uma imitação de tom gentil. – Você é uma menina que tem problemas psiquiátricos e, de repente, é encontrada numa floresta com o sangue da sua amiga que, por sorte sobreviveu aos dois tiros que levou, mas você não sofreu um arranhão, enquanto ela parece ter se esfolado toda... Se estiver mentindo, é melhor admitir antes de ela acordar e nos contar o que houve.

 Olhei para meu vestido sujo de terra, meu braço cheio de arranhões das arvores e quase ri. Eu não sofri um arranhão? Em que mundo esse policial vivia? Será que eu ia ter que repassar o dia inteiro até ele entender que eu não tentei mata-la?

 – Eu não atirei nela – falei e olhei para o chão, frustrada.

 – Não se lembra de nada que possa nos indicar quem fez? – ele perguntou ainda com a desconfiança irritante na voz.

 – Eu não sei, foi um longo dia – falei demonstrando minha irritação.

 Ouvi alguém chama-lo e ele se virou e assentiu.

 – Tente se lembrar – ele pediu e saiu.

 Suspirei, cansada, o dia realmente havia sido longo...

23 horas antes.

 A loja dos pais de Thalia era incrível, tenho certeza de que vi mais de um vestido incrível, mas ainda assim, nada que pudesse superar Reyna, eu sabia que ela iria de algum jeito, chamar muita atenção no baile de máscaras e por isso, precisava do azul perfeito.

 – Thalia, é uma da manhã, vocês tem tanta disposição uma da manhã? – perguntou Percy sonolento. – Escolham logo.

 – As roupas da party já foram escolhidas, só faltam os vestidos longos, calma! – reclamou Rachel.

 – Ele está certo – falei pegando um vestido azul do meu tamanho. –, está tarde e já deu dessa loja, ri tanto nela que nem aguento mais olhar.

 Isso era verdade, mais cedo tínhamos jogado vários jogos, desfilado, brincado de pique esconde. Mas meu pique já tinha acabado e o dos meninos também. Fui me sentar ao lado de Percy e encostei minha cabeça o ombro dele.

 – Quanto tempo acha que elas ainda aguentam? – perguntou Percy.

 – A Thalia eu não sei – admiti. –, mas acho que a Rachel ficaria aqui até a hora da festa se necessário.

 Percy riu e me abraçou. Era estranho estar assim com ele depois do dia anterior.

 – Sabe... O Nico me explicou sobre o porquê de você ter ficado na defensiva – comentou Percy, me irritando.

 – Eu não estava na defensiva – tentei soar irritada, mas o cansaço em minha voz não deixou.

 – Ok, ok – ele fez. –, só que eu e a Reyna temos um passado e é difícil superar assim, então vai precisar ter paciência comigo.

 – Eu não ligo para você e Reyna, ok? – me soltei do abraço dele. – Não preciso saber disso Percy, até por que magoa mais saber que é possível que você tenha estado comigo amando outra garota. Será que você não nota que é muito mais complicado para mim? Eu nunca lidei com esses sentimentos antes e você brincou comigo. Se você ainda gostava dela então por que correr atrás de mim? Por que se declarar?

 Lágrimas escorriam pelo meu rosto e passei a mão nas minhas bochechas, tentando contalas, mas continuavam a cair. Eu não mudei minha expressão ou solucei como normalmente, apenas não consegui deter as lágrimas.

 – Annabeth, o que eu falei sobre você... Sobre nós dois... Foi real, eu esperava que soubesse disso – ele falou em um tom magoado.

 – E eu devia descobrir isso enquanto você babava pela Reyna na convenção ou a um minuto atrás, quando você disse que não superou ela? – finalmente contive as lágrimas e sorri.

 – Eu...

 – Percy, quando você disse aquilo no hospital, não me fez nenhuma promessa – eu falei, mudando de ideia. –, eu não tenho motivos e nem direito de te cobrar nada, me desculpe, eu só... Fiquei chateada quando você falou de Reyna, por que eu não pedi um tempo por causa dela – menti, apenas para não me passar por ciumenta e pegajosa. –, só repensei se era uma boa ideia... Nós dois e os seus amigos juntos.

 Percy pareceu surpreso e eu também estava. Desde quando você se tornou uma mentirosa, Annabeth?

 – Você não estava chateada por causa da Reyna...? – ele perguntou.

 – Não, mas, pelo visto, devia estar – falei e ri. – Acho melhor ir apressar as meninas.

 – Annie – ele me chamou, quando eu já estava de pé, olhei para baixo. –, eu não mudo nada do que eu te disse no hospital e fora dele. Eu realmente gosto muito de você.

 – Eu também gosto muito de você – falei. –, e é por isso que você tem que ficar livre agora, perto da Reyna, para decidir o que quer.

 Só notei que era verdade quando falei. Eu queria que ele decidisse sem atrapalhar ou se prender a mim por que achava que me devia isso, por estarmos tecnicamente juntos.

 – Eu quero que saiba que eu nunca quis te magoar – ele disse. – e por isso vou aceitar o tempo que você está me dando, mas só por isso.

 Assenti, triste e fui para perto de Thalia, enfiando um vestido preto com dourado na cara dela.

 – Pronto? – perguntei.

 – Annie, onde você achou isso? – ela perguntou maravilhada com a peça.

 – Não sei, enfiei a mão numa arara com seu número e o sorteado foi esse – falei, já sem muita paciência, ela riu.

 – A Rachel está logo ali – ela disse. –, se pretende apressar ela, acho que vai dar mais trabalho.

 Fui até a Rachel que estava se decidindo entre um azul acinzentado claro tomara que caia e um rosa cheio de babados.

 – Eu iria com o azul – falei fingindo interesse. –, totalmente destaca os seus cabelos ruivos e seus olhos também, além de que o rosa cheio de babados tá meio princesinha demais, não acho que o Luke ai curtir muito, ele ia gostar mais de algo que te fizesse ficar única, não? E aposto que já vão muitas princesinhas do Mario.

 Deuses, que ela entenda o que eu falei, por que eu não entendi nada!

 – Verdade Annie! – ela vibrou. – Além de tudo, eles são perfeitos para o sapato estilo cinderela que encontrei, você é uma anja!

 – Obrigada – sorri. –, pega as coisas e vamos, então?

 Por um momento achei que ela ia inventar algum apetrecho que eu desconhecia para escolher, mas ela apenas assentiu e pegou as coisas.

 Já no carro, todos quase dormiam, imagina no apartamento, capotamos até meio dia do dia seguinte. Na verdade, eu só acordei por que Thalia me derrubou da cama.

 – Isso doeu – reclamei.

 – Ninguém mandou ter o sono pesado – ela reclamou.

 – Eu não tenho sono pesado – falei. –, só estava cansada.

 – Você vai ir acordar o Percy – ela disse. –, ninguém conseguiu.

 – Duvido que eu consiga – falei. –, não sou a maior motivação para ele sair da cama hoje, talvez a Reyna seja.

 – Anh? – ela perguntou.

 – Demos um tempo e ele admitiu não ter superado a Reyna – falei. –, porééém eu vou lá, ainda gosto dele e quem sabe ele dorme só de cueca – sorri maliciosa de brincadeira.

 – Você é de outro mundo, Annie – ela gargalhou.

 Depois da higiene matinal, fui para o quarto dos meninos e estava vazio, a não ser por Percy, que dormia com uma almofada na cara. Cheguei perto da cama dele e tirei a almofada cuidadosamente. Aproximei-me do ouvido dele e tentei não rir da baba no travesseiro abaixo dele.

 – Hora de acordar, bela adormecida – sussurrei e fiz cosquinha na barriga dele.

 De repente senti um puxão, Percy acordou e me puxou para a cama dele, as gargalhadas, foi tudo tão rápido que mal consegui entender o que houve, mas, de repente eu estava rindo também.

 – Ah, Percy, vai limpar essa baba – falei tacando a almofada nele.

 – Só se você prometer não sair daqui enquanto eu vou.

 Pensei por um minuto e aceitei, entre risos. Enquanto ele ia, deitei na cama e fiquei olhando para o teto, pensando no jeito maravilhoso que o dia começou. Percy despertava um lado meu que nem eu sabia que existia e isso ao mesmo tempo me assustava e encantava, em medidas bem irregulares.

 Percy voltou e correu para a cama, praticamente pulando em cima de mim.

 – Ai, isso doeu – reclamei.

 – Ah, desculpa – ele falou chegando mais perto de mim. – Não seria melhor se...?

 – Se...? – perguntei tensa.

 – Eu fizesse você gargalhar em compensação? – ele gritou e começou a faze cosquinha em mim.

 – Para Percy – falei entre risos.

 – Tudo bem – ele falou rindo também e se deitou ao meu lado, virado para mim.

 Virei para ele também e sorri.

 – Você acorda de bom humor – elogiei.

 – Na verdade, é meio difícil não acordar de bom humor se te acordam fazendo rir – ele disse.

 – Deve ser – eu ri um pouco e de repente parei, notando que Percy estava me fitando, calado.

 – Que foi? – perguntei.

 – Nada, é só que... – ele mordeu o lábio. – Eu quero muito te beijar agora, só que o tempo e tal.

 – Acho que o tempo pode continuar depois disso – falei sorrindo e ele me beijou.

 O beijo começou lento e calmo, mas de repente, não sabíamos mais controlar nossas reações, começamos a nos beijar com urgência, não nos preocupando com mais nada. Entre as pausas, nas quais eu fitava os olhos verdes de Percy, simplesmente sorriamos.

 Quando voltamos a nos beijar mais uma vez, do nada Percy se separou de mim.

 – Droga, Annabeth – ele falou sem fôlego. –, é mais difícil do que eu pensava... Ficar longe de você.

 – Então em que ponto isso nos deixa? – perguntei, não adivinhando se ele já tinha decidido.

 – Eu não sei, só me dá até o fim do dia – ele pediu, parecendo sofrer por dentro.

 – Tudo bem – falei em um tom calmo. – Ei, tudo bem – abracei-o. –, não precisa ficar assim.

 Ele me abraçou de volta e então se afastou.

 – Eu te magoei, Annie? – ele perguntou. – Na loja...?

 – Não... É claro que não gostei muito de ouvir aquilo, mas... Não fiquei magoada – menti.

 – Obrigado – ele falou.

 Saímos do quarto e fomos tomar café na cozinha com os outros.

 – Hmm – falei, sentindo o cheirinho. –, quem fez?

 – A padaria – admitiu Nico. –, eles fazem entregas.

 Eu e Percy rimos e fomos comer também, logo estávamos todos satisfeitos e outros planejavam o dia, enquanto eu e Percy nos encarávamos sorrindo, parecia que havíamos começado de novo... Não do zero, mas de algum lugar feliz, definitivamente, mas até bater meia-noite, a Cinderela aqui não vai poder descobrir com qual princesa ele quer ficar.

 – Bom, eu vou me trocar, vamos ao cinema mesmo? – perguntei.

 – Aham – disse Thalia.

 – Pera, eu vou com você – falou Rachel e me seguiu.

 Nos arrumamos rapidamente, embora Rachel tenha dado uma alisada no cabelo, e arrumamos também Thalia, que queria chamar a atenção de Nico. Rachel estava meio army hoje (http://www.polyvore.com/titanium/set?id=87673155) , eu estava mais feminina que ficaria em outros dias (http://www.polyvore.com/titanium/set?id=87672149), mas Thalia estava completamente diferente do normal com as peças de roupa que Rachel emprestou (http://www.polyvore.com/titanium/set?id=87674847).

 Os meninos estavam jogando cartas na sala, quando saímos do quarto. Nico ficou sem palavras ao ver Thalia, estava quase babando coitado! 1x0 para Thalia!

 – Que filme vocês querem ver? – perguntou Percy, já no shopping.

 – Monstros S.A dois – pedi.

 – Sério? – perguntou Rachel revirando os olhos.

 – Ah, qual é – falou Luke. –, vai ser legal, Ray.

 – Tá bom, tá bom – ela concordou carrancuda.

 Compramos os ingressos e decidimos ir para a sala de jogos passar o tempo. Percy me ensinou a fazer um strike, ou tentou, já que eu não aprendi.

 – É fácil – ele disse. – Vem, tenta de novo.

 – Tá bom – suspirei. –, mas parecia tão simples vendo na tv!

 Fui até ele e ele me ajudou com a bola de boliche, se posicionando atrás de mim, cobriu meu movimento. Strike.

 – Você é muito bom nisso – falei, sem acreditar, virando para ele.

 Esse movimento nos deixou colados o que fez Percy sorrir e se aproximar – ainda mais. – do meu rosto.

 – Tentando me seduzir, Percy? – perguntei sorrindo.

 – Depende – ele falou. – Tá funcionando?

 – Talvez – respondi.

 – Deuses, você me deixa maluco Annabeth – ele falou a caminho da minha boce.

 Dei um passo para trás e ri.

 – Essa é a intenção.

 Fui trocar meus sapatos e vi Thalia falando com alguém no celular.

 – Não... – ela disse. – As máscaras já deveriam estar prontas... Ok, ok – ela disse. – Não, eu passo aí mais tarde... Tudo bem... É, a minha é a dourada... Ah, obrigada... Tchau – ela desligou sorrindo.

 – Quem era? – perguntei.

 – Ninguém, só o cara das máscaras – ela respondeu.

 – Você parecia muito feliz para ser só o cara das máscaras – Mia falou, mas Thalia nem olhou para ela, era como se não tivesse ouvido.

 – O que você está fazendo aqui? – perguntei para Mia.

 – O que eu estou fazendo aqui? – perguntou Thalia, estranhando.

 – Achei que precisava de ajuda – falou Mia com um sorriso irônico no rosto (http://www.polyvore.com/titanium/set?id=85391519). – Você tem melhorado muito graças a mim, então agradeça depois.

 – Agradecer...? – ia começar, mas Thalia me olhou de novo. – Agradeceria se me desse licença, Thalia, acho que vi uma conhecida entrar no banheiro feminino.

 – Anh... Tá – ela falou.

 Fui até o banheiro que por sorte estava vazio.

 – Você não me contou que era coisa da minha cabeça – falei. – Saí! Agora!

 – Eu não, mandona – ela falou. –, acho que vou ficar mais um pouquinho...

 – Droga, Mia – esbravejei e entrou uma menina no banheiro, assustada.

 Decidi não ligar para Mia e ignora-la.

 – Você pode tentar, mas ainda vai me ouvir – ela falou.

 Droga, droga, droga.

 – Aí está você – sorriu Percy.

 – E aí está o seu shark boy – Mia apontou para o zíper dele.

 Comecei a rir, mas lembrei de manter a pose.

 – Do que você está rindo? – ele perguntou.

 – Nada, só lembrei de uma coisa realmente engraçada – falei.

 – O quê? – ele perguntou.

 – O tamanho do... – começou Mia.

 – Vamos patinar no gelo? – perguntei alto, para interrompê-la.

 – Tá – ele riu da minha reação.

 Fomos para a pista de patinação, que estava bem animada, começando a tocar Still Into You do Paramore.

 Colocamos os patins e brincamos de corrida, mas era meio difícil com Mia fazendo dancinhas do meio da pista e entrando na minha frente para me assustar.

 – Você patina bem – elogiou Percy.

 – Você beija bem – elogiou Mia.

 – Obrigada – sorri, tentando ignorar Mia.

 – Sério, esse garoto é muito lindo, mas o Luke ali está bem mais lindo e parece chateado – falou Mia, fazendo biquinho.

 – Ah, qual é? – reclamei de Mia.

 – Que foi? – perguntou Percy.

 – Nada – falei. –, eu estou um pouco maluca hoje.

 – Umas pessoas dizem que você sempre foi maluca – ele brincou, mas não soube o quanto isso magoou na hora, mas notou depois pelo desmoronar da minha expressão. – Desculpa, Annie, eu não quis...

 – Tudo bem – falei e patinei para o lado do Luke.

 – Oi – ele falou. – Cadê o Percy?

 – Bem ali – apontei e vi que a Mia estava lá patinando ao lado dele, fazendo o movimento do créu. Cena bizarra. – Tá tudo bem?

 – Sim, por quê? – ele perguntou.

 – Não sei, você parecia chateado – falei.

 – Eu e Rachel brigamos, mas nada demais – ele falou.

 – Não é o que parece – discordei.

  Nesse momento, The Only Exception começou a tocar e vários casais começaram a patinar juntos, os mais profissionais até dançavam.

 – Acho que eu vou, err... – eu disse. – falar com o Percy.

 Patinei para onde o Percy estava e ele me girou, me fazendo rir.

 – You are the only exception – murmurou Percy, me puxando para junto de si.

 Me senti única e encarei ele, mas eu sabia que era mentira. Reyna também era a exceção dele.

 – Fala sério – reclamou Mia. –, o loirinho está babando por você e você querendo o que nem se decidiu ainda.

 – Do que você está falando? – perguntei para Mia, mas Percy achou que era com ele.

 – Ah, desculpa eu... – ele começou.

 – Não, desculpa, é que eu não tinha entendido o que você disse – falei, tentando disfarçar.

 Ok, foi bastante idiota e completamente quebrou o clima, o que eu podia fazer?

 – Beija ele – falou Mia. – eu sei que você quer.

 Obedeci e o beijei do nada, senti meu coração quentinho de novo, como se eu não estivesse enlouquecendo.

 – Me desculpa – falei me afastando. –, eu disse que ia te dar espaço e isso não é espaço.

 – Sério? – perguntou Mia. – Acho que ele percebeu isso enquanto estava com a língua na sua boca.

 – Tudo bem, quer dizer, não é justo eu falar aquilo com esse espaço todo – ele falou, parecendo envergonhado.

 – Eu deveria ir embora daqui agora – falei e me virei, indo embora, deixando Percy para trás.

 Arranquei os patins e enfiei meu sapato o mais rápido que pude, indo para os bancos, sentei e não consegui evitar.

 – Sua idiota – murmurei irritada.

 – Anh, eu não acho, mas pode se xingar mais um pouco, eu espero – falou Luke.

 – Não, pode sentar – falei.

 – Eu vi você fugindo do Percy – ele falou. – O que houve?

 – No dia em que eu te conheci esse era o seu maior desejo – falei. –, foi realizado.

 – As coisas mudam – ele murmurou e depois falou mais alto: – Vai me contar?

 – Demos um tempo e eu violei o acordo – falei.

 – Por causa da Reyna – ele concluiu.

 – É, por causa da Reyna, em tese – concordei.

 – Sabe como é – ele falou. – É difícil esquecer o primeiro amor.

 – E as coisas só melhoram – bufei. – Ela é o primeiro amor dele?

 – Ela foi – ele disse. –, já faz bastante tempo.

 – Quanto tempo? – perguntei.

 – Isso não importa – ele falou. –, o Percy está com você.

 – Estava – falei. –, ele disse que tinha que escolher.

 – Pelo que eu vi de vocês hoje – ele falou. –, ele já escolheu, mas não sabe disso ainda.

 Sorri.

 – Espero que tudo fique bem entre você e a Rachel – fui sincera.

 – Eu não sei se gosto da Rachel – ele falou.

 – Bom... Acho melhor não magoar ela – eu disse em tom de ameaça.

 – Pode deixar – ele riu.

 Olhei para o nada e pensei nas possibilidades caso Percy dissesse não para mim. Eu podia voltar para casa mais cedo e nunca mais falar com ele, para evitar meus sentimentos, ou eu poderia ficar de nariz em pé e fingir que nada aconteceu.

 Suspirei, pelo menos Mia tinha sumido temporariamente.

 – Queria poder ter certeza do que ele sente – sussurrei.

 – Infelizmente, essa é a graça – disse ele.

 – Vocês tem uma ideia de humor um pouco sombria – inclinei a cabeça. – Primeiro a aposta...

 – Eu ganhei – ele falou. –, enviei o meu vídeo te dando o fora.

 – Consolador – respondi e me levantei, indo procurar Thalia.

 Quando estava quase desistindo de achar ela no meio da muvuca da sala de jogos, ela ligou no meu telefone.

 – Oi Thalia – falei. – Cadê você?

 – Eu estou na entrada da sala de jogos, vem para cá – ela pediu.

 – Tudo bem – falei. –, já vou.

 – Ok – ela fez e desligou.

 O que Thalia queria? Achei por um momento enquanto procurava ela que ela estava com o Nico em algum lugar, mas pelo jeito não... Então onde estava o Nico? Eu não vi ele ou Rachel na sala de jogos.

 – Oi – falei ao alcançar Thalia. –, que foi?

 – Vamos à loja de máscaras comigo? – ela pediu.

 – Daqui a uma hora o filme começa – falei.

 – É aqui perto e vamos de táxi – ela disse. –, voltamos antes.

 – Bom, tudo bem – falei, estranhando ela querer companhia para ir pegar as máscaras, Thalia não era muito de andar em bando todo minuto.

 Descemos as escadas rolantes e fomos para a porta do shopping, onde tinham vários táxis, pegamos um e Thalia foi guiando o motorista. A loja realmente não era longe. Thalia pediu para o taxista esperar enquanto íamos lá dentro e voltávamos.

 Era mais uma casa do que uma loja. Tinham umas bonecas chuck assustadoras numa vitrine imunda e a porta estava aberta. Entramos, mas não tinha ninguém, enquanto Thalia gritava por um tal de “Lê”, eu ia olhando as máscaras e bonecas – assustadoras. – que tinham naquele lugar e, de repente, uma das mascaras se mexeu e falou.