The Bright Side escrita por Anna C


Capítulo 9
Desprezo


Notas iniciais do capítulo

Eu menti *-*
Programei o capítulo duas semanas antes, HA! Eu sei, é muita emoção, as lágrimas até embaçam a visão... (rimou sem querer, ok?)
Bom chá com biscoitos, everyone.



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O mundo ficou estático por um instante. Rose olhava para cada uma de suas colegas de dormitório, enquanto seu rosto perdia a cor.

Não importava quão boas as últimas semanas tivessem sido, ela não podia evitar aquele momento. Na verdade, ela sequer esteve evitando, apenas se esquecera brevemente da realidade.

Sem problemas, pois a realidade estava ali para lembrá-la de que quanto melhor tudo parece, mais se deve desconfiar.

— O...Oi – murmurou Rose.

Os lábios de Lena se contorceram num sorriso ainda maior.

— Achei até que tinha perdido a fala. E, então – ela cruzou os braços, encarando Rose. –, como foi de férias?

Rose sentiu a boca secar. Ela mal podia piscar, tampouco se mover. Seu maxilar ficava tão rígido, que ela começava a duvidar de sua capacidade para responder.

— Está tremendo? Está com frio? – perguntou Lena.

Olivia parecia em um conflito interno, olhando de uma garota para a outra. Lauren meramente semicerrou os olhos, como se quisesse prestar melhor atenção na cena.

Rose sabia que de nada adiantava ficar tensa, porém não conseguia se fazer relaxar. Precisava reagir, precisava dar uma resposta...

— Não – ela de alguma forma conseguiu proferir.

Os cantos da boca de Lena recuaram um pouco.

— Realmente, seria estranho em pleno verão. Enfim, será que vou ter que perguntar pela terceira vez? Como foram as-...

— Foram boas! – Rose disse de repente, num volume mais alto que o necessário. – As minhas férias foram boas, obrigada.

— É, foi o que eu ouvi dizer – Lena agora parecia bem mais séria que a princípio. – Podia ter pelo menos se lembrado das amigas. O seu primo é popular, mas não precisa ignorar os outros por causa disso.

— Lena... – Olivia deu um passo à frente, temerosa, erguendo a mão, porém logo recolhendo o braço junto ao corpo.

— É verdade, não é? Isso é tão egoísta, Rose, especialmente vindo de você. Esperava que tivesse um pouco mais de consideração.

“Sim, eu deveria ter...” quando estava prestes a se condenar, Rose caiu em si. Ela havia sim se lembrado das garotas. O que dizer sobre as vezes em que conversara com Malfoy sobre elas? Ou então dos constantes convites para sair, e...

— Isso não é justo – falou Rose para a surpresa das três, franzindo a testa em profunda irritação. – Eu enviei cartas para cada uma praticamente uma vez por semana. Mas nunca recebi resposta.

— Lena – Olivia chamou mais uma vez.

Lena ergueu uma sobrancelha, impressionada com a firmeza na voz da ruiva.

— Tudo isso? Bom, eu andei muito ocupada, talvez não tenha sobrado tempo pra escrever...

— Você quer dizer que não tinha nem cinco minutos pra redigir uma carta de meia dúzia de linhas? É isso mesmo?

— E daí? Você de repente liga se respondemos ou não? Nunca pareceu importante antes.

— Sempre foi importante! Eu só não sabia como dizer, mas... Bem, agora, vocês sabem!

Lena perdia a pose e a expressão arrogante conforme o silêncio engolia o dormitório. Ela desviou seu olhar, já não tendo condições de encarar Rose.

Por mais estranho que parecesse, Rose poderia jurar que viu um pouco de arrependimento genuíno nos olhos da garota.

— Ok, desculpe, tá legal? Eu não achei que você se incomodasse tanto assim.

Olivia começou a encarar os pés.

— E, bom, sabe, eu achei que não tivesse permissão pra responder, e... – Olivia notou o olhar de repreensão de Lena e se calou de imediato.

— Permissão? – Rose estranhou, mirando a garota Creevey.

Lena deu um suspiro de exaustão.

— Ela não respondeu para eu não parecer tão...

— Negligente? – a ruiva arriscou, cruzando os braços.

— É, é, isso mesmo. Negligente, desleixada, que seja... Certo, já assumi a culpa, podemos deixar esse assunto de lado?

As atitudes de Lena impressionavam Rose mais a cada dia, a postura submissa de Olivia também. Ela ainda estava chocada demais para definir se acreditava completamente nas duas, mas, ao mesmo tempo, achava que faria sentido se fosse de fato verdade. Dentre todos os sentimentos, a decepção se sobressaía.

— Eu... Me desculpe, Rose! – Olivia baixou a cabeça, evitando mostrar sua face.

— Essa conversa está me cansando – Lena batia o pé com impaciência contra o chão.

Respirando fundo, Rose ergueu o rosto.

— Tudo bem, estão perdoadas.

— Nossa, que maravilha. Agora, posso dormir tranquila – Lena revirou os olhos, indo em direção à sua cama.

No entanto, Rose ainda não podia descansar. Olhou para a única colega que não havia se manifestado, esperando então que esta enfim se pronunciasse. Lauren correspondeu seu olhar por alguns instantes, mas simplesmente pegou uma toalha e entrou no banheiro.

Como se lesse os pensamentos da ruiva, Lena riu com escárnio.

— Não espere uma explicação da Lauren. Eu duvido até que ela responda as cartas do próprio namorado...

Se até Lena McLaggen pensava de tal forma, talvez Rose não devesse mesmo contar com um esclarecimento. Bom, ela apenas pensara que dada a onda de sinceridade, Lauren talvez resolvesse se abrir também. Fora provavelmente otimista demais, é claro.

Mas, afinal... E agora? Estava ressentida, e, ao mesmo tempo, sabia que pela manhã voltaria a agir normalmente com as outras.

“Só que não como antes.” Era necessário enfatizar. Pois não desejava retornar à sua velha rotina. Agora, não se sentia mais solitária e sem escolha, tinha quem a apoiasse ao lado. Lena e Olivia – e até mesmo, Lauren – poderiam ser suas amigas de novo, contudo, deveriam mostrar um diferença na atitude desta vez. Se havia algo que Rose aprendera nas férias, era que uma amizade verdadeira valia muito mais que apenas ter companhia durante os intervalos entre as aulas. Se era para ter amigos somente por conveniência, ainda que a solidão fosse amedrontadora... Rose preferia não ter amigo algum.

Ao menos, tirara aquilo do peito, aqueles sentimentos acumulados há anos. A sensação de alívio ajudava a acalmá-la.

x-x-x-x

Era apenas o primeiro dia de aula, porém Louis já podia notar pelo menos uma dúzia de diferenças marcantes entre Hogwarts e sua antiga escola. Desde a maneira como as aulas eram ministradas até a postura dos alunos, muitas coisas divergiam do que estava acostumado. Secretamente, ele adorava as mudanças, mas por enquanto se divertia ao discursar sobre elas para quem estivesse interessado em ouvir.

Na verdade, até que ele possuía um público razoável.

— Quer dizer, a comida daqui é boa, mas lá na França... Não vou mentir, temos opções mais requintadas. Não é mesmo, Coline? – ele pediu o apoio da amiga.

Pelo menos quinze alunas e alunos de diferentes casas se aglomeravam em volta do loiro, enquanto este almoçava e falava num tom bastante audível. Ao seu lado, estava Coline Chevalier, olhando desconfiada para todos ali presentes, como se não pudesse ter total confiança em nenhum deles.

— Coline? – Louis a chamou quando ela não respondeu.

A garota tentou suavizar as feições.

— Sim, é isso mesmo, Louis.

Louis sorriu, convencido.

— Viram só? Mas, em compensação, os professores são mais legais por aqui. Em Beauxbatons, eles são todos bem severos, sabe...

A alguns lugares de distância, Rose e Albus também almoçavam, observando o primo falar.

— Ele ficou popular rapidinho, não foi? – Rose riu, levando um pedaço de batata corada à boca.

— Ficou mesmo. – Albus assentiu.

— Isso é bom, afinal, não é fácil ser o aluno novo.

— Talvez para a maioria, mas, para o Louis, não é exatamente difícil se quer minha opinião...

— É, ele não parece estar tendo problemas.

O ano escolar havia começado há poucas horas e até o momento estava tudo ocorrendo perfeitamente. Aquilo dava confiança a Rose, aquele ano realmente parecia que seria diferente – e de forma positiva. Era o que esperava, pelo menos.

Na mesa da Sonserina, Scorpius estava lendo alguma coisa enquanto fazia sua refeição. Rose ainda não tivera oportunidade de falar com o garoto desde que haviam chegado à escola, pois não tiveram aulas juntos. Ele parecia concentrado em sua leitura, sozinho como sempre. A ruiva sabia que ele apreciava a solidão, porém se perguntava se faria muito mal ir até ali.

“Bom, seria apenas para manter o hábito.” Afinal, haviam se visto quase todos os dias durante as férias.

Certo, quem sabe não fosse somente pelo hábito. Rose não só se acostumara à presença de Scorpius em seu dia-a-dia, como também começara a gostar de tê-lo por perto. Em algum lugar bem dentro de si, esperava que aquilo fosse um pouquinho recíproco.

— Por que não? – ela lançou a pergunta ao ar.

— O quê? – Albus a olhou, não entendendo.

— Ei, Al, acho que vou cumprimentar o Malfoy ali. Tudo bem?

Albus mirou o sonserino a alguns metros dos dois.

Scorpius Malfoy. O que havia com aquele garoto? Já fazia uma semana desde o jogo de Quadribol que foram juntos, e ele continuava a deixar Albus intrigado. É claro que havia pessoas que não tinham o menor interesse em fazer amigos ou ser agradáveis, contudo, não era o caso de Scorpius. Apesar do esforço constante em repelir os demais, certas ações do loiro não condiziam com as de alguém que efetivamente queria ficar só. Ao menos, era o que concluía após relatos mais recentes de Rose.

Para Albus, muito do que Scorpius transparecia era apenas o que ele gostaria que vissem – não necessariamente a verdade. Mas até que ponto?

E mais importante: seria possível ultrapassar a barreira que o sonserino construíra ao redor de si ao longo de todos aqueles anos? Em sua opinião, a resposta era sim. A prima vinha conseguindo grandes avanços nesse quesito, não?

“Eu também posso.”

Albus pôs-se de pé, sorrindo.

— Vou com você – declarou.

— É sério? Que ótimo! – ela o puxou pela mão, contornando a mesa de sua casa. – Mas, só para avisar, eu não sei como será a reação dele depois daquele fiasco de almoço. – Recordou-se, preocupada. – Ele tem um comportamento meio imprevisível.

Seria má ideia admitir que havia falado com Scorpius após aquele almoço, principalmente sendo ela o motivo de ele ter procurado o loiro. Era melhor manter aquilo um segredo, Rose tinha mania de se considerar um estorvo pelas menores coisas.

Ao chegarem à mesa da Sonserina, alguns alunos da casa os encararam em suspeita. Não era com muita frequência que grifinórios se aproximavam, muito menos com aqueles sorrisos em seus rostos. É, era uma cena digna de desconfiança.

Se aquilo já gerava suspeita, o fato de os dois irem diretamente falar com Scorpius Malfoy com certeza foi um choque para vários.

— Boa tarde, Malfoy! – Rose saudou o loiro.

Este baixou o livro que lia, pego de surpresa.

— Weasley? O que faz aqui?

Ela olhou para os lados, incerta.

— Er, bom, só vim dar um “oi”.

Scorpius ergueu uma sobrancelha.

— Ah. Oi – ele disse sem entusiasmo, voltando ao livro.

Rose ocupou um lugar em frente ao garoto, apoiando os braços sobre a mesa e se debruçando para ver melhor a capa do livro.

— O que você está lendo?

Scorpius lhe lançou um olhar de descrença, talvez não acreditando que ela estivesse puxando assunto sem propósito em meio ao Salão Principal. “Mas estamos falando da Weasley. Ela não é exatamente normal.” Lembrou-se.

Deu um suspiro. A essa altura, não podia dizer que adiantaria ignorá-la. Era mais fácil responder até que ela se cansasse.

— É uma biografia de Gwendolyn Morgan.

— Ah, eu sei quem é! Ela jogou para o Holyhead Harpies nos anos 50, não foi? Não sabia que ela tinha uma biografia... Sabe, minha tia Ginny também jogou nesse time. Ela era ótima, não é, Al? – Rose se virou para o primo, tentando integrá-lo à conversa.

— Sim, com certeza. Levou o time à vitória muitas vezes. – Albus comentou, dando um passo à frente.

Foi quando Scorpius enfim notou sua presença. Não pôde conter a expressão de desgosto que adquiriu.

— Por que ele está aqui? – perguntou à Rose, porém encarando o moreno.

— O Albus? Bem, ele apenas quis se juntar a mim, tinha problema? Nós três certamente podemos conversar sobre algum assunto em comum e...

Scorpius fechou seu livro e se levantou.

— Vou para o meu quarto.

Os primos arregalaram os olhos.

— O quê?! – a voz de Rose pareceu sair engasgada. – Mas você nem comeu tudo ainda! – ela apontou para o prato que ainda continha um pouco de alimento.

— Estou sem fome.

Dito aquilo, Scorpius partiu, deixando a todos abismados (não só Rose e Albus, como todos aqueles que haviam presenciado aquela cena, no mínimo, inusitada).

A ruiva escondeu o rosto com uma das mãos, constrangida.

— Meu Deus, foi mal, Albus. Não achei que ele realmente estivesse ressentido por causa daquilo ainda. Se eu tiver oportunidade, vou falar com ele depois para deixar tudo em pratos limpos.

No entanto, Albus sabia que aquela não era a razão do comportamento de Scorpius. Pois, nesse caso, ambos os primos ainda estariam recebendo seu desprezo.

“Mas sou apenas eu.”

E aí que estava a questão. Albus chegara à conclusão de que ele próprio era o problema. Aquilo era na verdade incrivelmente frustrante.

Para não preocupar a prima, tentou sorrir.

— Não se incomode, Rose, não foi nada. Ele tem mesmo um gênio difícil, não é?

Rose estudou seu rosto e notou algo de errado. Incapaz de retribuir àquele sorriso insincero, ela apenas deu os ombros.

— É, acho que sim.

x-x-x-x

Já era um hábito antigo para o grupo de Albus se reunir nos jardins logo após o término das aulas. Normalmente, eles apenas se sentavam sob alguma árvore e conversavam sobre bobagens, rindo e fazendo brincadeiras sem preocupação.

Hoje não era exceção. O sol ainda iluminava bem os arredores, por isso, a sombra que aquele velho carvalho projetava vinha bem a calhar.

Todos pareciam se divertir, mas assim como antes, Albus estava se forçando para parecer bem. Por vezes, acabava por perder interesse no que os amigos diziam, afundando-se em pensamentos.

Não que valesse a pena refletir sobre aquilo, mas... Como Scorpius Malfoy conseguia desprezá-lo com tanta facilidade? Havia muito tempo que alguém tivera a mesma capacidade. Em geral, Albus conseguia conquistar qualquer pessoa com poucas palavras e um sorriso.

Ele havia se esquecido daquela sensação, da sensação de não importar. Tudo havia mudado depois que chegara a Hogwarts, fora finalmente notado e considerado único.

Então, após sete anos, alguém surgia e era como se dissesse “Quem você pensa que é?”.

Certo, talvez Albus estivesse analisando demais a situação e acrescentando detalhes inexistentes. Mas não importava, pois era bem o que sentia.

“E eu pensei que isso jamais aconteceria de novo.”

— Está se sentindo bem, Al? – Tracy Shallow, deitada sobre o colo do garoto, perguntou. – Ben fez uma piada e você não deu nem um sorrisinho.

— Ele fez? – Albus olhou em volta, quase se esquecendo de onde estava. – Desculpe, eu me distraí.

A garota se sentou, jogando os cabelos negros para trás dos ombros e rindo.

— Às vezes, você é tão avoado. Então... Você estava pensando em algo importante? Ou quem sabe, em alguém... – ela arriscou, agora encarando os próprios joelhos.

Ele sacudiu os ombros.

— É, meio isso.

Tracy o olhou imediatamente, os orbes castanhos faiscando de ciúmes.

— Mesmo? Em quem?

Albus balançou a cabeça, estalando a língua.

— Não ligue pra isso. É besteira.

Ela relaxou um pouco, sorrindo de lado.

— Que bom. Q-Quer dizer, que bom que nada te preocupa tanto assim.

“Suponho que haja momentos em que não adianta se preocupar. Não é como se eu pudesse fazer algo a respeito.” Ele pensou.

“...Será que posso?”

x-x-x-x

Uma vez por semana, ocorria a reunião dos monitores, em geral, durante as tardes de segunda-feira – e aquela era a primeira reunião do ano, dia 11. A monitoria possuía uma sala só para si no segundo andar da escola, com uma decoração bastante modesta, mas também contando com uma grande mesa em formato oval que pudesse acomodar a todos.

Os únicos de pé ali eram os monitores-chefes, que instruíam os demais sobre os horários e turnos de cada um. Albus fazia anotações, prestando máxima atenção.

O monitor-chefe daquele ano era Noah Knight, um setimanista da Lufa-Lufa. Albus não sabia muito sobre ele, apenas que era um dos alunos mais aplicados de seu ano e que seu pai era norte-americano. Noah era grande e forte para alguém de sua idade, principalmente considerando que não fazia esportes.

Ao lado dele, estava Lauren Finnigan com uma expressão apática, e parecia muito menor que de costume. Ela sempre teve uma aparência frágil, lembrava-se Albus, mas, ao mesmo tempo, conseguia ser um tanto intimidadora. “Deve ser aquele olhar” pensou ele. Havia um rumor de que era impossível encará-la por mais de quinze segundos. Pelo menos três pessoas ao mês tentavam – nenhuma conseguia, é claro, dando ainda mais força aos boatos.

Durante toda a reunião, Noah falou e Lauren permaneceu ali calada. Normalmente, os monitores-chefes se revezavam com as instruções, mas ninguém pareceu confuso ou incomodado com aquela ligeira mudança. Ou talvez, ninguém se atrevesse a comentar.

— Muito bem. Alguém tem alguma pergunta? – Noah olhou para o rosto de cada um dos presentes. – Não? Isso é bom. Sei que faremos um ótimo trabalho este ano, conto com vocês!

E essa era a frase de encerramento. Enquanto o restante ia se levantando e aos poucos deixando a sala, Albus observava os monitores-chefes discutindo algo rapidamente, calculando o momento certo para falar com Lauren. Ela com certeza estranharia, levando em conta que nunca conversavam. Bem, o que ele tinha a dizer não era de fato algo inadiável, mas aquela parecia uma boa oportunidade.

Noah falou mais alguma coisa e recolheu seus pergaminhos da mesa, rumando para a saída em seguida. Isso fazia com que Albus e Lauren fossem os últimos dentro da sala.

A princípio, Albus pensou que ela não tivesse dado por sua presença, porém logo viu que estava enganado.

— O que você quer, Potter? – a voz de Lauren cortou o silêncio, quase sobressaltando o grifinório.

Ele riu ligeiramente.

— Notou que eu ainda estava aqui, Finnigan?

Ela ergueu o rosto um pouco.

— É difícil não notar quando há alguém me encarando fixamente nos últimos trinta minutos.

Albus coçou a nuca.

— Desculpe, não queria ser indiscreto.

Dando um suspiro, Lauren tomou nos braços seus pertences.

— Está tudo bem. Mas se não tem nada a dizer, eu já vou indo–...

— Espera! – Albus a fez parar no ato. – Hã, bom... Parabéns pelo cargo de monitora-chefe.

Lauren ergueu uma sobrancelha e estreitou os olhos.

— Obrigada – respondeu com tom de suspeita. – Escute, se tem algo que quer dizer, eu prefiro que seja direto, não precisa jogar conversa fora para tocar no assunto.

“Ela é tão sutil...” Albus já imaginava que Lauren fosse daquele jeito, mas nunca haviam trocado palavras suficientes para ter certeza.

— Tudo bem, admito que não a esperei aqui para dar os parabéns, apesar de que eles são sinceros... Você já deve ter presumido, mas eu queria falar sobre a minha prima. Rose.

Ainda que a expressão de Lauren fosse difícil de ler, ela pareceu um pouco mais interessada quando o nome de Rose foi mencionado.

— O que tem ela?

— Eu estava só pensando... Por que você e as outras pararam de andar com ela? Nem tentaram conversar para se resolver? Digo, não posso dizer que concordo com o jeito que a amizade de vocês quatro andava até onde soube por ela, mas...

— Como é?

— Ah, eu acho que não estavam exatamente...

— Potter, pode ficar quieto, por favor?

Era espantoso como mesmo numa voz calma, a frase da garota pudesse soar tão autoritária. Quando parou para analisar seu rosto, ele viu algo que ignorara previamente. Por trás das lentes dos óculos, aqueles olhos castanhos eram na verdade bastante expressivos – e, no momento, estavam o desafiando a proferir mais alguma sílaba.

“Agora, eu entendo porque ninguém consegue passar pelos quinze segundos” pensou, ele próprio desviando o olhar um tanto a contragosto.

— Esse assunto só cabe a mim e às outras. Gostaria que não voltasse a mencionar isso.

Sem olhá-la nos olhos, era mais fácil enfrentá-la. Foi assim que Albus adquiriu coragem e prosseguiu.

— Ela gosta de vocês, está bem? Eu só fiquei meio preocupado. Gosto que ela esteja falando mais comigo agora, mas não quero que isso interfira na reconciliação de vocês. Apesar de tudo, vocês são amigas há muito tempo, deviam deixar as bobagens de lado e...

— Isso não é verdade. Nós não éramos e nem somos amigas.

Albus comprimiu as feições, parecendo em dor. Ele estava apenas imaginando a reação de Rose se ouvisse aquelas palavras saindo da boca de Lauren.

— Não acha que isso é um pouco duro, Finnigan?

— Pode até ser, mas são os fatos. Essa amizade de que você fala foi fruto da mente da Rose. Ela queria tanto que nós duas fôssemos amigas que, a partir de um momento, começou realmente a agir como se aquilo fosse real, mas não era.

A compaixão foi substituída por indignação dentro de Albus.

— Isso é mentira, vocês estavam sempre juntas!

Ela ia atrás de mim. Eu apenas levo a minha rotina, sem nada nem ninguém no caminho. Mesmo que não pareça, o mesmo se aplica à Lena e à Olivia. Não tenho nenhum tipo de relação com alguma das três.

— Não faz o menor sentido! Eu já vi você respondendo ao que elas diziam, vocês interagiam sim. Se estava tão incomodada com a companhia, por que simplesmente não as ignorou por completo quando começou?

— Eu tentei, e garanto que nada que eu tenha dito foi significativo. Em todo caso, nesse ponto você tem razão – Lauren pôs-se a encarar os pés. – Posso ter dado falsas esperanças e iludido elas três. Foi irresponsável da minha parte, eu reconheço.

O momento foi interrompido pela abrupta gargalhada de Albus. Lauren mal piscou diante da cena.

— Algo errado?

Tentando recuperar o fôlego e limpando o canto do olho, Albus arriscou olhá-la.

— Você ainda pergunta? Essa deve ter sido a droga mais hilária que eu já ouvi. Você vem com essa conversa toda pra no fim tentar parecer arrependida? Se metade do que disse for realmente verdade, então Finnigan, preciso dizer... Você deve ser a pessoa mais repulsiva que eu já conheci.

Por alguns instantes, não disseram nada, apenas se encararam. Albus não continha um sorriso, contando quase quinze segundos mentalmente. Porém, a vitória não fora completa: Lauren se virou para a porta antes que desse o tempo.

— Se é esse o caso – ela dizia. –, não deveria estar aliviado por Rose ter se cansado de mim?

Antes que ele pudesse retrucar, ela se fora. Com mais dúvidas que antes, Albus se jogou numa cadeira, massageando as têmporas.

Aquilo saíra bem diferente do esperado.

x-x-x-x

Bendita fosse a hora do correio. Não era toda semana que Rose recebia cartas, porém normalmente no início do ano elas eram mais frequentes. Após alguns meses, a correspondência ia diminuindo de maneira gradual até maio, quando começava a aumentar mais uma vez. Como ainda era princípio de setembro, ela poderia esperar por algumas cartas naquela semana.

Assim que Rose viu uma coruja mergulhando em sua direção, seus olhos brilharam. Suas expectativas haviam sido correspondidas.

À sua frente, uma carta caiu. Seria de seu pai? De sua mãe? Até mesmo de Molly, para quem escrevia com frequência desde que esta se mudara para a Noruega para fins de pesquisa.

Errado. O remetente dizia “Angus Cenweard Miller” numa caligrafia ligeiramente trêmula, mas caprichosa. Rose sorriu para si, removendo o lacre com rapidez e retirando do envelope o papel.

Suspirou em alívio, ao terminar de ler. De acordo com aquela carta, Austin já havia retornado e estava bem melhor de saúde. Agora, ele e Sr. Miller cuidavam da loja sem dificuldades. O Sr. Miller também lhe desejou um bom início de ano, adicionando que poderia contatá-lo caso precisasse de algo.

Aquelas notícias eram mais que suficientes para animar o dia de Rose. Ela estivera preocupada com aquilo nas últimas semanas, tanto com o estado de Austin como com o Sr. Miller, que teria de encontrar uma maneira de cuidar da loja sem auxílio algum. Felizmente, aqueles problemas estavam resolvidos e ela poderia relaxar.

“Acho que devia comunicar isso ao Malfoy” Rose lembrou-se do seu colega de trabalho durante o verão. Não que ele fosse admitir qualquer preocupação sobre aquele assunto, porém a ruiva achava no mínimo justo que fosse avisado. Ao menos, sua consciência ficaria limpa de uma vez.

Mas onde o sonserino poderia estar? Ela não conhecia seus hábitos para ter uma boa ideia. Decidiu perguntar para alguns alunos da Sonserina.

— O Malfoy? Eu acho que ele está no campo de Quadribol – disse um garoto do sexto ano, a quinta pessoa a quem perguntou. – Eu o vi pedindo o equipamento para o professor de voo.

Campo de Quadribol? Ela não sabia que ele gostava assim do esporte – o fato do garoto estar lendo a biografia de uma jogadora há alguns dias lhe passou brevemente pela mente. Além disso, considerando o mau humor e desdém em relação a tudo, era difícil imaginar o loiro se entusiasmando com qualquer coisa normal.

Rose precisou deixar o conforto do castelo, mas não demorou muito para chegar ao campo. Pôde ter um leve vislumbre do que ocorria lá dentro conforme se aproximava e, de fato, havia alguém ali voando de um lado para o outro.

Assim que adentrou, viu que aquele sextanista estava correto.

— Então, você joga? – ela perguntou ali de baixo, de pé sobre o solo arenoso.

Percebendo que não se encontrava mais sozinho, Scorpius interrompeu a jogada que estava prestes a fazer para confrontar a intrusa.

— O que está fazendo? – perguntou de maneira incisiva, aproximando-se de Rose e do chão.

— Bom, eu... – ela notou o suor em seu rosto e sua respiração ofegante agora que estava mais perto. Ele devia estar jogando já há um bom tempo. – Só queria contar as novidades!

— Novidades? – Scorpius havia finalmente pousado, descendo da vassoura.

— Achei que gostaria de saber que o Austin se recuperou e voltou a trabalhar lá na loja. Ainda bem que o Sr. Miller não precisará tomar conta de tudo sozinho.

Scorpius ergueu as sobrancelhas.

— É, isso deve ser bom. Principalmente, porque você reclamou várias vezes sobre isso no nosso último mês lá, então acho que agora vai parar de me incomodar.

Ela meneou a cabeça em negação.

— Tsc. Você não muda. Mas sei que lá no fundo até que ficou feliz com a notícia.

— Se pensar assim vai te ajudar a dormir à noite...

Rose sorriu, satisfeita.

Agora que observava com mais atenção, via que o garoto não usava o uniforme habitual, ele estava com um uniforme do Ballycastle Bats. Os trajes eram pretos com detalhes em vermelho, ostentando um morcego na região do peito.

Então, Scorpius era mesmo fã de Quadribol.

O sonserino pigarreou.

— Veio aqui para isso, ou...?

— Sim, para contar a novidade, e claro, para perturbar você. Estou conseguindo?

Ele revirou os olhos.

— Você sabe que é melhor nisso que qualquer um.

Rose bateu palmas, comemorando.

— O primeiro lugar ainda é meu!

Scorpius comprimiu os lábios para não sorrir. Aquela garota era estranha demais.

— Em que posição você joga, afinal? – Rose questionou.

— O que acha? – ele jogou a Goles para cima e depois a pegou. – Artilheiro, é óbvio.

— Mas você é um bom artilheiro? Há uma grande diferença entre jogar e ter jeito para a coisa, sabe...

— E você ainda tem dúvidas?

— Bom, eu só o vi jogando de relance, não posso dar opiniões muito concretas.

— Confie em mim, sou ótimo.

Rose cruzou os braços, fingindo uma expressão de espanto.

— Você é mesmo tudo isso? E como um talento nato desses não está no time oficial da escola?

— Bom, prefiro não desperdiçar meu tempo com equipes escolares sem futuro.

Ela deu de ombros.

— Não consigo ver a graça em jogar sozinho.

Scorpius arqueou uma sobrancelha.

— O que foi? Está se oferecendo para jogar comigo?

Rose balançou a cabeça veementemente, seu rosto corando.

— Não! Não é isso! Jogando bem ou mal, sei que você acabaria comigo. Eu mal consigo me equilibrar na vassoura e...

— Ah, é isso mesmo, já lembrei... Aqueles dois pirralhos idênticos me disseram que você tem medo de altura.

Se o rosto de Rose já estava corado, agora estava escarlate.

— Não é medo de altura! É mais... Medo de cair.

— E não dá na mesma?

— Não, é diferente. Fico bem quando estou em lugares altos, é a vassoura que me deixa insegura. Não tem apoio, nem nada. É como se o movimento errado pudesse provocar uma queda terrível.

Scorpius pensou por alguns instantes.

— É, eu diria que é isso.

Rose boquiabriu-se, mas depois encolheu as feições em irritação.

— Está só fazendo terrorismo comigo.

O loiro então subiu na vassoura e se distanciou no ar. Quando já havia pelo menos cinco metros entre os dois, ele se virou.

— Um pouco – admitiu com uma fisionomia impassível.

Rose abriu a boca como quem ia dizer algo, mas fechou em seguida. Deixou um sorriso curioso tomar seus lábios. “Acho que ele está pegando o jeito dessa coisa de ‘senso de humor’, afinal.”


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Notas finais do capítulo

Acabei focando bastante no Al desta vez, hein? Alguns estavam curiosos com o papel dele na fic, então comecei desde já a dar a ele algum destaque. No próximo capítulo, ele fará um plano do mal *o* Certo, não é do mal, mas vai um pouco contra os princípios de garoto certinho que vimos até agora. E também coloquei uma pitada de Lily, que terá mais participação do que eu estava prevendo.
É isso aí. Espero que estejam gostando! Esse início de ano está tão corrido pra vocês quanto pra mim? Ai ai, é dose, viu... hahah
Beijooos!