The Bright Side escrita por Anna C


Capítulo 6
Gratidão


Notas iniciais do capítulo

Quase um mês depois, cá estou com o mais novo capítulo! Este está bem longo, espero que me perdoem por isso '-' (Apesar de que a tendência é que os próximos sejam mais ou menos assim...)Desta vez, recebi ajuda da Andie (do FF.net) e agradeço profundamente ^^ Acho que "trollei" algumas pessoas com a prévia e assim que lerem vão entender... Hahah, não me odeiem, mas eu adoro fazer o Scorpius passar por apertos *-* /guilty pleasureAinda tem muita coisa pela frente, então, sem tempo a perder, né? GO GO GO!Bom chá com biscoitos!



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Rose bateu com a palma da mão sobre a bancada do caixa, sobressaltando o loiro que ali lia, tranquilo.

— Venha almoçar comigo!

Scorpius gastou os primeiros segundos de aturdimento questionando a sanidade mental da ruiva. Depois disso, ergueu uma sobrancelha.

— Não.

— Por que não?

— E por que sim?

Ela deu um suspiro.

— Eles estarão dando bebidas grátis hoje no Caldeirão Furado para cada pedido acima de 2 galeões e 10 sicles. Nunca vou gastar tudo isso numa refeição sozinha.

— E por que você simplesmente não paga sua bebida?

Rose deu um grunhido, irritada.

— Qual é o propósito da promoção se eu pagar pelo que beber?

— Bom, obviamente os alvos dessa promoção são pessoas com companhia pra almoçar. Já que esse não é o seu caso, parece que você não tem escolha – ele deu os ombros, fingindo se distrair com a capa de seu livro.

— Ah vamos, justo hoje que o Austin não veio... E você sempre vai comer sozinho.

— Deve ter algo a ver com o fato de eu gostar de ficar sozinho.

— Você vai se sentir muito mal se eu não for almoçar só porque não me acompanhou... – Rose tentou apelar.

— Ha, quer apostar?

Rose cruzou os braços, sua fisionomia tornando-se incrivelmente séria.

— Escute, Malfoy. Se você não passar uma mísera hora de almoço comigo, vou ficar atormentando você pelo resto do dia. Se já me acha irritante, imagine se eu me esforçar pra isso. Você estará erguendo a bandeira branca antes das quatro da tarde.

Eles se fitaram de maneira desafiadora pelo que pareceram minutos. Rose semicerrou os olhos, Scorpius fechou os punhos, os dois apenas vendo até onde o outro conseguia chegar.

Sentindo-se quase suar frio, o garoto bufou, derrotado.

— Eu vou.

— Isso!

"Ela realmente sabe negociar. Mas foi golpe baixo."

x-x-x-x

— Quantos anos você tem? Cinco? – questionou Scorpius.

Suas bebidas haviam acabado de chegar à mesa. Scorpius pedira água. Já Rose pedira a bebida mais esdrúxula do cardápio, que possuía cores bem artificiais, frutas que o loiro desconhecia em sua composição, além de vir em um recipiente que devia comportar praticamente um litro.

— O que foi? – ela perguntou, não entendendo.

— Esse negócio vitaminado-qualquer-coisa que você pediu. Humanos não deviam ingerir esse tipo de veneno.

— Você só poderia compreender se experimentasse. É uma bebida dos deuses.

— Só se forem deuses do submundo.

— Ah, e você e essa água de nada? Qualquer bebida por conta da casa e você escolhe justamente a que já era quase de graça?

— Bom, observando o seu gosto pra bebidas, eu não espero que entenda...

Rose deu um longo gole e depois encarou Scorpius.

— Olha, eu estou quase, quase arrependida de ter te chamado. Mas essa bebida divina não permite que eu me aborreça.

Ele a ignorou, dando atenção ao seu prato.

— Ei Malfoy, aonde é que você vai todo dia nesse mesmo horário?

Scorpius ergueu seus olhos, aborrecido. Ele não conseguiria comer com a mesma tranquilidade de sempre de forma alguma.

— Qualquer lugar com pouca clientela.

Os olhos da ruiva brilharam com desconfiança.

— Tipo a Travessa do Tranco?

— O quê? Acha que eu sou idiota?

— Ora, não consigo pensar em muitos locais vazios no Beco Diagonal.

— Se eu quisesse acabar envenenado, certamente a Travessa seria o primeiro lugar que eu iria. É claro que não, Weasley! E você deve sempre frequentar os mesmos lugares, por isso não consegue expandir muito o seu pensamento. Conheço uns pontos estratégicos com pouca visitação.

— Sei...

— Acredite no que quiser.

Rose riu de leve.

— Calma, eu estava só implicando com você. Não acho que está mentindo.

— Tanto faz.

Ela olhou para o Scorpius, um pouco frustrada. Era realmente difícil descontrair o ambiente. Ele não facilitava nem um pouco, afinal.

Entretanto, a atenção da ruiva foi transferida a um ponto a alguns metros. Luke Longbottom auxiliava sua mãe, dona do Caldeirão Furado, servindo algumas mesas. Seus pensamentos foram direcionados imediatamente para Lauren, fazendo-a comprimir as feições em preocupação.

Scorpius viu a expressão repentina de Rose e deu uma risada de escárnio.

— O que é, Weasley? A bebida não caiu bem?

— Não é isso... Eu... Esqueça.

Ele ergueu uma sobrancelha, ligeiramente intrigado. Mas logo se condenou por aquela curiosidade e tentou se dispersar dela. "Ela sempre começa com esses papos estranhos... Não quero me meter nisso."

Para o seu desprazer, a ruiva prosseguiu.

— Eu não falo com nenhuma delas há semanas. Já estamos em agosto.

De novo, aquela história. Ele não queria ser trazido para o drama pessoal da ruiva, qual era a relação dele com aquilo?

Contudo, Rose se sentia estranhamente à vontade para tocar no assunto. Talvez fosse pelo fato de Scorpius estar ciente do que acontecia, ou talvez fosse porque ele não era como os outros. Ela sabia que o loiro não revelaria nada do que dissesse e a enxergaria sem pena. Não haveria piedade em nenhum de seus comentários, mas ao menos Scorpius era, de sua própria maneira, direto e honesto.

E Rose não precisava de sorrisos complacentes em momentos como aquele.

— Tenho pensado sobre isso. Acho que agora a mensagem está bem clara, só fiquei a ignorando por medo.

— Medo de quê?

— Não sei… De ficar sozinha.

Scorpius revirou os olhos.

— Não há nada de assustador nisso.

Ela franziu a testa.

— O que quer dizer, Malfoy?

— Você me ouviu. As pessoas não precisam de você e nem você delas. Essa sua insegurança faz com que seja a única se remoendo por causa desse conflito. As outras não estão nem aí.

De repente, o estômago de Rose começou a protestar, se recusando a digerir mais alguma coisa. Ela pressionou a mão contra a barriga, tentando inutilmente conter o desconforto.

"É tudo da sua cabeça." Pensou ela.

— Eu sei... – dizia a ruiva com a voz mais fraca. – É isso que mais dói. Só eu que ligo.

Um incômodo silêncio pairou no ar por alguns instantes. Scorpius estranhou aquilo, afinal, dificilmente a ausência de som conseguia lhe ser desagradável.

Então, repentinamente, Rose levantou seu rosto e deu um largo sorriso.

— Quase me esqueci do seu melhor conselho. Nada de me afundar no desânimo e ficar com pena de mim mesma! Vamos falar de coisas mais alegres.

Scorpius semicerrou os olhos.

— E quando é que eu disse isso?

Ela riu.

— Malfoy, você é engraçado.

— Não, é sério, quando é que eu te dei um conselho? Eu estava chapado?

A ruiva acabou rindo ainda mais, tentando abafar seu riso com a mão. Movimento descuidado que fez com que o seu grande copo tombasse.

— Ah não!

Antes que Rose lamentasse mais um pouco, Scorpius rapidamente conjurou um feitiço não-verbal que fez com que o copo e seu conteúdo voltassem à posição original.

— Essa passou perto. – Disse ele, aliviado.

— Wow... – Rose estava de olhos arregalados. – Como é que você sacou a varinha tão rápido?

Scorpius ergueu os ombros, sorrindo de lado.

— Estou trabalhando com você há um mês. Acabei desenvolvendo essa habilidade.

A ruiva sentia que aquilo havia sido uma provocação, mas desta vez soara de forma completamente bem humorada. Ela sorriu.

— Malfoy... Você acabou de fazer uma brincadeira comigo?

— ...Como é?

— Meu Deus, você estava brincando! Fez um comentário sem maldade, apenas por graça. Não acredito que chegamos a esse ponto... Tudo bem, admito que estou levemente emocionada.

— D-Do que você está falando? Esse troço tóxico afetou seu cérebro?

A mão de Rose atravessou a mesa e pousou sobre o ombro do garoto.

— Tudo bem, Malfoy, é um choque para mim também.

— O que te faz pensar que tem essa liberdade? – ele encarou a mão da ruiva, indignado. – Ei, por que começou a rir de novo? Pare com isso, não tem graça!

Scorpius sentiu o rosto esquentar e lembrou-se do quanto detestava aquela sensação. Era a segunda vez que acontecia e, na outra ocasião, também fora por causa de Rose.

"Que droga, o que tem de errado com essa garota? Há algo de... contagioso nela."

x-x-x-x

Scorpius não estava acostumado a ter pessoas alegres e risonhas por perto. Ainda que o seu ambiente familiar fosse agradável, os Malfoy não possuíam o costume de serem sorridentes ou muito afetuosos. Eles eram bastante sérios, às vezes, até frios. Tal comportamento tornou-se natural para o loiro, que só então notara a diferença em sua rotina estando agora trabalhando na Floreios & Borrões.

Todos os dias, dezenas de pessoas diferentes apareciam à procura de algo para ler e sempre acabavam por preencher aquele já antigo estabelecimento com conversas acaloradas e risadas.

Naquele dia, após o estranho almoço com Rose, Scorpius percebeu o quanto seu dia-a-dia estava mudado e, principalmente, que talvez estivesse se acostumando à referida mudança.

"— Estou trabalhando com você há um mês. Acabei desenvolvendo essa habilidade."

Seria aquilo verdade? Aqueles pouco mais de trinta dias teriam tido algum efeito sobre ele? Quase soava como uma bobagem. Parecia tão pouco tempo para afetar uma pessoa... Scorpius sentia que seu jeito de pensar e agir continuavam os mesmos. Mas, em todo caso, uma minúscula, mas ainda assim existente dúvida persistia em sua mente. E ela o deixava aflito.

Não, aquilo era provavelmente apenas tolice sua... Scorpius sempre tivera orgulho em afirmar que nunca fora uma pessoa influenciável ou impressionável. Não era agora que aquilo mudaria.

— Malfoy, poderia trocar os livros da vitrine? Coloque os lançamentos que chegaram esta semana, por favor – pediu o Sr. Miller.

— Certo. – Assentiu Scorpius, indo prontamente cumprir seu dever.

Ele agora fazia suas tarefas com um pouco mais de boa vontade, ainda que atender os clientes continuasse a ser desagradável em sua opinião.

"Se acostumar... seria o mesmo que se adaptar? E adaptações não seriam simplesmente mudanças?"

Não havia chance. Ele não havia mudado em nada. Seria impossível... Não é?

Apesar de fazer parte do trabalho, organizar a vitrine era uma parte divertida para Scorpius e ele gostava de ser responsabilizado por aquilo. De que outra maneira tudo ficaria perfeitamente disposto para que os olhares de fora fossem atraídos? Certamente, ele era o único ali capaz de cumprir o objetivo com maestria. Para não mencionar o acidente ocorrido na última vez que certo alguém resolvera fazer aquela tarefa. Aquelas mãos cobertas de sardas eram um perigo em determinadas ocasiões.

Então, de forma inesperada, um arrepio percorreu a espinha de Scorpius e tornou-se difícil raciocinar com clareza. Sem que desse tal comando aos seus olhos, ambos magneticamente se voltaram para a porta de entrada, repousando sobre os clientes recém-chegados.

"Por Merlin... Quem será ela?" Seu olhar estava totalmente fixo àquela delicada figura que adentrara. Mesmo estando a alguns metros de distância, Scorpius tinha certeza de nunca ter visto algo tão cativante na vida. Andava em passos curtos, mas elegantes. Havia graça em cada um de seus movimentos... E seria aquilo uma estranha aura que lhe envolvia? O rapaz podia jurar que ela emanava uma fraca luz.

E o que era isso agora? De repente, sentiu uma incomum urgência de se aproximar, e falar com ela, e tocá-la, e... Quando deu por si, já havia se posto em frente àquela desconhecida – o que estava acontecendo com ele?!

A mesma piscou seus grandes olhos azuis em aturdimento e depois mexeu desconfortavelmente nos cabelos loiros claros um palmo acima dos ombros.

— Pode dar o fora, espertinho – uma garota morena de um metro e meio de altura apareceu entre os dois, pondo as mãos na cintura.

Confuso, Scorpius sentiu a garganta secar.

— E-eu... É que eu s-simplesmente não pude me...

— Não acredito! Você veio!

Os três se viraram para uma animada Rose que se aproximava em pulinhos.

— Eu tinha ouvido dizer que estava vindo este mês, mas não imaginava que seria tão cedo.

Quando todos caíram em profundo silêncio, Rose ficou intrigada. Por que estava um clima tão estranho e...?

— Ah, mas é claro! Como eu sou distraída... – a ruiva riu sem jeito. – Malfoy, estes são Louis Weasley e Coline Chevalier. Louis e Coline, este é Scorpius Malfoy. Ele está trabalhando aqui agora também.

— Prazer – a dupla recém-chegada falou, mas Louis desviou o olhar.

— E-Espere! – Scorpius disse. – Louis Weasley? Esse nome não é...?

— Ah sim, me esqueci de dizer que Louis é meu primo, por isso o mesmo sobrenome – acrescentou Rose.

— Não, não! Eu quis dizer que Louis é nome de ho-...

Scorpius arregalou os olhos de tal maneira que só lhe faltavam saltar das órbitas. Começou a recuar devagar até que suas costas deram de encontro com uma estante de madeira. Ele se pôs a acenar freneticamente com a cabeça em negação.

— Isso... Isso não é possível... Deve estar de brincadeira comigo... Eu nunca senti isso antes e... É um cara?!

— Ah, agora eu entendi... – Rose até relaxou sua postura, apoiando uma mão no quadril. – Pode se acalmar, Malfoy. Louis possui poderes de veela. São raros os casos conhecidos em que os genes de veela se manifestaram em descendentes do sexo masculino, por isso, poucos sabem de suas características. A verdade é que, por alguma razão, o efeito dos descendentes homens é cerca de dez vezes maior que das mulheres e afeta ambos sexos. Então, é perfeitamente normal que você tenha sentido alguma atração por ele, pois é basicamente culpa da genética.

Scorpius não pôde evitar aquele poderoso constrangimento que o consumiu, mesmo que aquilo significasse corar pela segunda vez no mesmo dia.

Ele queria seriamente desaparecer.

"E eu bem que faria isso, se o Sr. Miller não fosse descontar da minha folha de pagamento..." Além disso, seu orgulho o obrigava a encarar o momento de frente. Seria preciso um pouco mais para que o loiro se refugiasse em sua mansão. Mas essa havia sido bem perto.

— Com o convívio, é possível amenizar o efeito – continuava Rose. – Apesar de que eu não acho que você voltará a vê-lo, mas... Enfim, informação nunca é demais – ela riu, coçando a nuca.

Louis grunhiu, irritado.

— Isso sempre acontece. Será possível eu entrar numa loja sem que um cara aleatório se declare pra mim? Será que eu deixei a França pra esse tipo de coisa acontecer?

Rose então boquiabriu-se, mirando o loiro alguns centímetros mais baixo que ela.

— Como é? Você não está mais morando na França?

Non, mon cher cousin. A partir de setembro, passarei a frequentar a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. A vida em Beauxbatons estava insuportável, eu iria sufocar se ficasse lá por mais três anos... Com alguma negociação e chantagem emocional, consegui convencer meus pais a me transferir – Louis sorriu marotamente.

— Que bom! O Hugo e a Lily ficarão felizes em saber que você estará estudando com eles este ano... Mas espere, a Coline também se transferiu? – a ruiva se lembrou da garota com pele cor de oliva e cabelos ondulados castanhos ali presente.

— É mesmo... Por que você fez isso, Coline? – perguntou Louis, erguendo uma sobrancelha.

Coline colocou o punho fechado sobre o lado esquerdo do peito.

— Eu jurei que sempre o acompanharia e assim farei.

Os primos se entreolharam em silêncio.

— Olha, ela faz isso desde que a conheci no primeiro ano, e eu ainda não sei do que ela está falando – comentou o garoto entredentes.

Rose sorriu, dando os ombros.

— Acredito que ela seja apenas uma amiga muito leal. Você deveria ficar contente por ter alguém assim.

Scorpius percebeu a pequena alteração na voz da ruiva ao dizer aquilo. E ele, mesmo que contra a vontade, sabia muito bem o motivo.

"Por que será que ela leva essas coisas tão a sério?" ele pensou. Aquilo apenas provava seu ponto de que amizades eram muito problemáticas para manter. Era melhor ficar sozinho do que passar por tais aflições.

Vendo que não havia mais nada que pudesse fazer ali, o loiro se retirou discretamente quando teve a oportunidade.

x-x-x-x

"Mas que dia!" Rose acabara de levitar as últimas caixas de uma remessa até o depósito da loja. Ela afastou a franja do rosto e deu um suspiro. "Fazia algum tempo que as coisas ficavam assim agitadas..."

A loja já estava perto de seu fechamento, então Rose foi procurar a chave enfeitiçada que, além de ativar um feitiço de proteção quando usada, trancava o local.

Ao ir para trás do balcão no andar térreo, pôs-se a procurar nos compartimentos internos a pequena chave. Não demorou para que uma onda de desespero a tomasse ao notar que o objeto não se encontrava em lugar algum.

— Droga, droga, droga... – ela falava para si, revirando papéis e gavetas.

— Procurando por isso?

Rose ergueu os olhos para Scorpius, que segurava a chave enferrujada numa das mãos. Ela esperava também encontrar um sorriso zombeteiro em seu rosto, entretanto, ele estava totalmente inexpressivo.

— I-Isso mesmo.

— Dessa vez, não foi descuido seu. Eu só cheguei na frente.

Dito aquilo, Scorpius foi tratar de seus últimos afazeres, enquanto os poucos clientes remanescentes aproveitavam seus últimos minutos ali.

"Ele está estranho..." pensou a ruiva, semicerrando os olhos.

Quando sobraram apenas os dois na Floreios & Borrões, Scorpius foi buscar suas coisas na sala dos funcionários. Rose já havia recolhido sua bolsa e aguardava do lado de fora.

"Talvez eu não devesse perguntar... Seria muita intromissão minha e-"

— O que há com o Sr. Miller, afinal? Por que ele sempre some pouco antes dessa hora?

Rose arregalou os olhos, devido ao susto.

— Caramba, Malfoy! Podia pelo menos avisar quando vai aparecer dessa forma sorrateira!

— Então, não seria mais sorrateira, mas isso não importa. Enfim, qual é a dele?

A garota bufou, um pouco irritada.

— Bom, ele já é bem idoso, então deve precisar se deitar cedo. Por isso, sempre tranco a loja com a minha cópia, a qual você pegou mais cedo. Ele só fecha o lugar quando eu não venho.

Scorpius olhou curiosamente para a chave em sua mão e, após alguns segundos a analisando, entregou-a para Rose. Ela prontamente trancou a porta da frente.

— Esse feitiço de proteção é bem legal – comentou Rose. – Quando fecho essa porta, todas as outras possíveis entradas, como janelas ou a porta dos fundos, também são trancadas. Além disso, um sistema antifurto bastante engenhoso do Sr. Miller é ativado. Qualquer dia desses, eu te mostro como funciona – ela sorriu amistosamente. Scorpius demonstrou de pouco a nenhum interesse, deixando-a nervosa. – D-Digo, isso se você desejar ver, é claro. Bom, er...

— Vê se relaxa, Weasley. Se quiser, você mostra e eu vejo. Simples assim – ele disse sem emoção na voz.

— Ok... – a ruiva achou melhor não dizer mais nada. "Estou começando a me embolar com as palavras..."

— O Austin também tem uma cópia dessas? – Scorpius perguntou começando a caminhar. Rose correu até ele para poder acompanhar seu passo.

— Bom, eu acho que não. Ele sempre me pede para trancar, então acredito que só eu e o Sr. Miller temos as chaves.

— E por que isso?

Rose titubeou, evitando o olhar do outro.

— E-Eu não sei dizer. Desde sempre foi assim.

— Você parece ser uma espécie de protegida do Sr. Miller ou algo do tipo. É meio estranho.

A ruiva franziu a testa, incomodada.

— N-Não é isso! Sou muito grata por tudo que ele já me fez, mas de forma alguma eu diria que-...

— Espere aí, como assim? Então tem uma razão para isso tudo?

Rose continuou a desviar seus olhos, agora imersa em lembranças.

— Bem... Como eu dizia, seria muita presunção minha assumir que sou uma protegida dele. O Sr. Miller é apenas extremamente bondoso. Há dois anos, eu...

— Calma, você vai contar uma história, é?

— Ué, não era isso que queria que eu fizesse?

— Não exatamente. Minha curiosidade não é tão grande assim.

Ela revirou os olhos.

— Vai me deixar contar ou não vai?

Scorpius fez uma expressão de desdém, mas acenou para que ela prosseguisse.

— O que eu estava dizendo? Oh sim, lembrei. Há dois anos, eu estava aqui nessas mesmas ruas nesta época do ano...

"Era um dia especialmente quente e agitado. Havia muitas pessoas apinhando o Beco Diagonal, mal dava para se mexer entre a multidão. Nas lojas, não era diferente. Havia muitos bruxos estrangeiros dentro delas, talvez estivesse ocorrendo algum evento em Londres, não me recordo.

E aqui estava eu perambulando sem destino ou companhia. Meus verões não costumavam ser muito animados, então eu passava muito tempo passeando sem uma razão em especial.

Mas se havia um lugar que eu não deixava de frequentar era a Floreios & Borrões. Eu às vezes passava minhas tardes ali lendo ou conversando sobre livros com o dono e o seu único funcionário, que, bem, você sabe quem são.

Contudo, naquele dia especificamente, a loja estava um caos. A demanda era demais para apenas aqueles dois. Ao ver ambos beirando o desespero, eu disse:

— Vou ajudar!

O Sr. Miller, que desde sempre foi muito gentil comigo, me olhou intrigado.

— Tem certeza, jovem? Acredito que haja coisas bem mais interessantes para uma menina da sua idade fazer do que auxiliar este velho.

— Pode até ser que sim, mas eu prefiro ficar aqui e ajudar com o que puder.

Ele provavelmente notou a minha expressão quase tão desesperada quanto a dele, por motivos completamente diferentes. Agora entendo que eu queria mais do que tudo me sentir útil, fazer a diferença em alguma coisa.

Então, ele permitiu que eu trabalhasse lá por um dia. Quando a noite chegou, eu estava bastante entusiasmada, e eles, gratos.

— Muito obrigado por sua ajuda, mocinha. Teríamos sofrido um bocado sem ela – disse o Sr. Miller.

— É, valeu mesmo! – Austin disse, sorrindo.

Apesar disso, quem queria agradecer era eu. Posso não ter feito tudo sem falhas, é provável que tenha me atrapalhado mais do que fiz algo de certo, mas... A sensação de ser necessária era muito gratificante.

Só de pensar que no dia seguinte eu retornaria à minha monótona e solitária rotina... Eu não aguentei.

— Por favor, me deixe trabalhar aqui!

Meu pedido os pegou de surpresa, eu pude ver.

— Trabalhar?

— É sim! Por favor, quero muito fazer isso de novo!

— Bom, agradecemos muito pelo que fez hoje, mas...

— De verdade, não ligo para salário nem nada assim. Só me deixe ajudar novamente amanhã, prometo que vou dar o meu melhor!

Não era mais um pedido, era quase uma súplica. Pensando bem, deve ter soado muito patético, mas não me preocupei com isso na hora.

O Sr. Miller deu um sorriso gentil.

— Tudo bem, você pode ajudar amanhã de novo. E, se desejar continuar, gostaria de falar com seus pais primeiro. A permissão deles é necessária, pois não acredito que seja maior de idade.

Eu fiquei radiante. Mal podia acreditar no que ouvia. Como as palavras me faltaram no momento, tudo que pude fazer foi assentir incansavelmente."

— Fala sério, quem mais chegaria a tal ponto? Agora, observando melhor, percebo que não fiz aquilo para ser legal. Eu fiz aquilo por mim, o que torna uma atitude à primeira vista generosa em algo egoísta. Quase me deixa enojada de tão ridículo.

A fisionomia dura de Rose aos poucos relaxou e ela se permitiu sorrir de lado.

— A verdade é que, com o tempo, deixou de se tratar de mim e passou a ser pelo Sr. Miller. Sei que ele me compreendeu por completo no momento em que bateu os olhos em mim e, mesmo tendo isso em conta, me deu uma chance de me provar. Não sei se eu merecia, mas ele não se importou com isso e o fez mesmo assim. Eu devo muito a ele.

Rose, ao terminar de falar, não tinha muita coragem de encarar o loiro, por isso arriscou apenas observá-lo através de sua visão periférica.

Scorpius bufou, parecendo frustrado. Rose estranhou.

— O que foi? – ela perguntou.

O garoto deu os ombros.

— Ah, nada. É só que eu estava esperando por alguma história mais interessante e, então, você veio com esse papo chato e sentimental. Estou decepcionado.

— Ora, você...! – a revolta de Rose não durou mais que um segundo e ela logo sorria divertida. – Você é mesmo estranho, Malfoy.

Um pouco surpreso com a expressão da ruiva, Scorpius decidiu não incentivar mais aquela conversa e virou seu rosto para outra direção. Por que os diálogos com aquela garota sempre tomavam rumos indesejados? Maldito fosse aquele dia.

"Ele está esquisito desde aquela hora que vimos o Louis e a Coline. Talvez ainda esteja irritado..." pensou Rose, olhando atentamente para o rosto do loiro. Apesar de Scorpius não ser bem um poço de gentileza com as outras pessoas, e de suas habilidades sociais serem inferiores às de uma ameba, a garota reconhecia que aquilo teria sido embaraçoso para qualquer um. "Quem sabe, ele só precise que alguém eleve o seu ânimo?"

— Ei, Malfoy – ela o chamou.

Ainda sem fazer contato visual, Scorpius deu um suspiro de exasperação.

— O que é?

— Você tem sido de grande ajuda lá na loja. Eu estou certa de que todo mundo concorda comigo.

— E por que você está me dizendo isso? Está tentando me bajular, por acaso? Saiba que é quase impossível cair nas minhas graças, então não perca tempo.

— O-O quê? Nã-Não é nada disso! – Rose respondeu, sentindo um rubor nas bochechas. – Meu Deus, Malfoy! Você não sabe aceitar um elogio?

— Ah, então era apenas um elogio inocente – dizia Scorpius, irônico.

— É claro que sim, por qual outra razão alguém faria um elogio?

Ele podia pensar em mil motivos pelos quais alguém o elogiaria, e todos eram repletos de segundas intenções. Porém, olhando para a expressão aflita, mas ao mesmo tempo inofensiva de Rose, ele não conseguia enxergar um objetivo oculto naquele elogio.

Ainda que fosse duro de acreditar, talvez algumas pessoas apenas fossem gentis sem querer nada em troca.

"Isso é... Realmente difícil de crer."

— Bom, que seja. Mas não fique mais dizendo coisas desse tipo...

Rose não tinha certeza, mas acreditava que aquela era a maneira de Scorpius aceitar seu elogio. "Acho que isso já basta pra mim." Ela sorriu, um sentimento de contentamento brotando dentro de si.

"Será minha impressão... ou estamos nos tornando amigos?" aquele pensamento lhe ocorreu. "É só que... Eu nunca o vi mostrando esse lado antes. Isso deve significar algo."

—x-x-x-x-

Prévia do Capítulo 7

— Cheguei a uma conclusão – ela disse de repente. – Eu devo ser masoquista para te aguentar.

— Bom, eu já pensei nessa possibilidade pela maneira como você vive caindo de escadas e tropeçando... É, suponho que a única explicação seja que você gosta de dor.

— Esses daí foram acidentes!

x-x-x-x

Rose agarrou a manga de Scorpius e começou a puxá-lo para a mesa. Já estando na metade do caminho, o rapaz precisou pesar suas opções. Ele não poderia simplesmente sair dali, pois se sentiria um covarde. Além disso, causar um alarde também seria indesejado.

Ao se dar por si, havia chegado à beira da mesa.

— Não vai se sentar, Malfoy?

x-x-x-x

Então, alguém apareceu na entrada do cômodo. Ron Weasley espiou o local com um olhar de suspeita.

— Está tudo bem aqui? Eu achei que estava falando com alguém...

— Ah, não se preocupe, pai. Era apenas o som de uma garota contemplando as melhores maneiras de não precisar nunca mais mostrar o rosto em público!

x-x-x-x

Albus se virou para o loiro e arregalou os olhos em surpresa, sorrindo em seguida.

— Ah, você também veio ao Ministério hoje, Malfoy?

O que você faz aqui?

x-x-x-x


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Notas finais do capítulo

Espero que a relação da Rose com o Sr. Miller (com a loja e até mesmo com o Austin) tenha ficado mais clara agora. Scorpius às vezes não merece a Rose, como ele é mau TT-TT Mas faz parte do desenvolvimento dele, então não o odeiem (muito) ainda. Prometi mais Albus e ele nem apareceu nesse capítulo, né? MAAAS nada temam, pois no próximo o lindo do Potter terá bastante participação. Meio atrapalhado, mas... ele estará lá!Ah sim, lembrando que o 7 será o último capítulo se passando durante as férias. É, Hogwarts está à espera ;)Repetindo, todos os comentários e sugestões são levados em conta. A menos que a ideia interfira de alguma maneira no enredo principal (o qual já foi em grande parte decidido), podem ter certeza de que eu estarei considerando ^^No mais, nada de novo. Estou um pouco empacada com o capítulo 9, mas é só a inspiração aparecer que a coisa melhora heheh Para o pessoal que estuda, como foi a volta às aulas? É ruim recuperar o ritmo, né? .-.Beijoooos!