The Bright Side escrita por Anna C


Capítulo 3
Que As Férias Comecem!


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, um obrigada especial a Mahchan, Reky, Babi Black e LOliveira por favoritarem a história, mesmo ela estando ainda no comecinho *-* Agradeço também a Dreamy por mais algumas dicas divinas! Amei todos os comentários do capítulo anterior, espero que este daqui não decepcione apesar de ser mais curtinho e parado.

Bom chá com biscoitos! (sim, resolvi que vou dizer isso todo início de capítulo u.u)



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A sala de aula estava bem barulhenta. Scorpius observava a movimentação – a qual ele considerava desnecessária – de seus colegas. O grupo que pesquisara sobre a maldição Cruciatus havia acabado de terminar sua apresentação e os outros alunos conversavam entre si sobre o que haviam acabado de ver e aprender. O loiro, porém, estava à beira do tédio, já não vendo a hora daquilo tudo ter fim. Por sinal, ele e Rose eram os próximos.

Scorpius reparou que, a algumas carteiras de distância, Rose encarava um ponto fixo da mesa, enquanto segurava a barra da saia com força, tentando controlar sua respiração ligeiramente ofegante.

“Ela está quase hiperventilando ali.” Ele pensou, temendo que a parceira desmaiasse antes de se apresentarem. Sabia que até daria conta de fazer tudo sozinho, mas então teria sido um desperdício todo aquele tempo que passara estudando na biblioteca – que, aliás, fora contra sua vontade.

Quando o professor os chamou, ambos se levantaram. Enquanto o loiro andava despreocupado até a frente da sala, os movimentos de Rose eram tão rígidos que pareciam mecânicos. Com a mão trêmula, ela pegou um giz e tentou escrever seu tema no quadro negro. Scorpius, vendo aquela caligrafia completamente irregular e ilegível, revirou os olhos e pegou outro pedaço de giz, fazendo aquela tarefa ele mesmo.

— D-desculpe – Rose disse em uma voz fraca, com o olhar baixo.

O som dos cochichos começou a atormentar o sonserino. Ele podia ouvir os discretos, mas nada gentis comentários de alguns colegas em relação a sua parceira. Aquilo com certeza não estava ajudando em nada a acalmar os nervos daquela ruiva.

Suspirou em leve exasperação.

— Professor Butler, será que poderia nos dar um minuto? – Scorpius perguntou.

O professor olhou o seu relógio de pulso e, em seguida, ajeitou a gravata borboleta.

— Tudo bem, mas sejam rápidos.

Scorpius agarrou o pulso de Rose e a guiou com pouca delicadeza para o lado de fora da sala. A garota deixou-se levar, aos tropeços, apesar de ter ficado surpresa com a ação repentina.

— Afinal – ele iniciou, fechando a porta atrás de si e mirando a grifinória seriamente. –, qual é o problema agora? Você parecia bem mais determinada no domingo.

— B-bem, eu estava mesmo. Acho que poderia dizer que estava até confiante, mas...

— Mas?

— Você não viu as apresentações durante a semana? A maioria foi impecável! Mesmo com o tempo reduzido de algumas delas, por terem sido feitas com o tempo cedido das aulas de outros professores, eles não falharam nem gaguejaram. E, agora, somos justamente os últimos! Isso é pressão demais...

“Eu devo ter sido inimigo de Merlin na outra vida...” Scorpius não acreditava que a garota teria uma crise bem naquele momento. Tinha que pensar na melhor maneira de lidar com aquilo, ainda que suas opções fossem escassas.

“Eu prometi que nunca mais seria legal... Mas estou ficando sem escolhas... Droga.”

— Tudo bem, escute, Weasley. Não vai levar mais que dez minutos. Nós dois dominamos o conteúdo e definimos exatamente o momento em que cada um deve falar. Se, por um acaso, alguém esquecer alguma parte, o outro pode muito bem cobri-lo. Eu trouxe alguns recortes com fotos, posso prega-los na lousa, se quiser. Tenho certeza de que o pessoal é tão tapado que vai ficar apenas olhando para as figuras se mexendo enquanto só escuta, ou seja, ninguém vai ficar te encarando ou algo do tipo.

Rose ainda parecia hesitante, mas ergueu seus olhos azuis para mirar o garoto.

— E-então... Isso quer dizer que... – ela falava, incerta. – Você está confiando em mim, Malfoy?

Ele recuou um passo diante da pergunta. Confiança? O que aquilo tinha a ver? Não havia espaço para tal coisa, era apenas um estúpido trabalho obrigatório, não? Porém, pelo olhar aflito e sério de Rose, devia significar algo realmente importante para ela. Não que o loiro de fato entendesse, pois a pergunta soara bastante tola para ele.

Mas, aparentemente, era isso que ela precisava escutar.

“Não temos tempo para mais drama, vou acabar logo com isso...”

— Sim, Weasley – ele disse no tom mais convincente possível. – Estou confiando em você e sei que vai dar o seu melhor.

“Argh, soa ainda pior quando sai da minha boca...” Scorpius se segurou para não comprimir as feições numa careta de desgosto.

Mas, para sua sorte, tinha razão: era exatamente do que a ruiva precisava.

Os olhos de Rose adquiriram um incrível brilho e seus lábios formaram um enorme e sincero sorriso.

— Ah, é mesmo? Está falando sério? T-tudo bem, então! Vou mostrar que sou digna! – ela disse, decidida, e simplesmente adentrou a sala.

— Ela fica tão assustadora quando fica animada... – Scorpius murmurou antes de também entrar.

Assim como dissera que faria, Scorpius fixou no quadro negro algumas fotos que havia obtido durante a pesquisa e que guardara na mochila. Sem mais um segundo a perder, ele se postou em seu lugar e começou a falar.

Rose ficara impressionada com a fluidez daquela explicação, ainda que às vezes parecesse um pouco frio e direto demais. De todo modo, ele era incrivelmente seguro de suas palavras, algo que ela podia apenas admirar.

No momento em que o garoto terminara de falar sobre o aspecto físico dos dementadores, Rose soube que sua vez havia chegado. Respirou fundo, fechando os olhos.

“Eu consigo!”

Como se fosse uma pessoa totalmente diferente de pouco mais de cinco minutos atrás, Rose foi concisa por completo, não vacilando em nem uma sílaba. Scorpius precisava admitir uma ligeira surpresa, mas, afinal, aquilo era o mínimo, certo? Não fazia mais do que a obrigação, oras...

Captando sua deixa, Scorpius prosseguiu.

— Atualmente, os dementadores estão em bem menor número, aparecendo em localidades mais específicas. E isso se deve... – cortou sua fala no meio ao dirigir um rápido olhar a Rose.

Ela parecia contente de verdade, quase orgulhosa de si. Scorpius sentiu-se estranho ao ver aquela expressão da grifinória, como se sentisse parcialmente responsável por aquele sorriso no rosto dela. Suas palavras não haviam sido inteiramente sinceras naquela hora, mas ela acreditara tanto que havia de fato se esforçado ao máximo para não decepciona-lo.

“Eu trapaceei, mas mesmo assim...” e, sem aviso prévio, outro sentimento que ele ainda não experimentara até então o invadiu.

“Será que isso é o que chamam de... Remorso?”

Talvez, desta vez, ele devesse realmente dar a Rose seu voto de confiança. Ela havia feito por merecer e, pelo jeito, aquele tipo de coisa tinha uma importância para a ruiva.

“Por que estou fazendo isso? Vou parecer um idiota...” mesmo com tal pensamento, Scorpius pigarreou e acenou com a cabeça para a parceira.

Ela, estranhando tanto sua ação como seu silêncio repentino, o olhou confusa.

— O que foi? – perguntou num sussurro.

O loiro desviou o olhar e pigarreou mais vez, mas mais alto. Levaram alguns segundos para Rose compreender, porém ela logo deu uma leve risada descontraída.

— Ah, entendi, er, quer dizer... Como dizíamos, isso acontece, pois eles podem apenas surgir se o local tiver as condições mínimas necessárias, algo que agora é mais inconstante graças ao banimento de seu uso pelo Ministério. Enfim... Com isso, concluímos a nossa apresentação. Obrigada pela atenção.

Então, a classe os aplaudiu.

Rose nem sabia como reagir. Seu olhar ficou vagueando de rosto para rosto, sem se concentrar, um misto intenso de emoções a confundindo. Ela levou as mãos à face, sentindo suas bochechas extremamente quentes.

“Por Merlin... Será que eu realmente fiz tudo direito? Eu me saí bem de verdade? Não consigo acreditar, deve ser a primeira vez desde...” sua linha de raciocínio parou ao se lembrar de seu parceiro de trabalho, que não parecia muito satisfeito com todos aqueles aplausos. “O Malfoy... Ele me deu a última fala. Por que será que ele fez aquilo? Talvez ele tenha mesmo confiança em mim. Eu... valho a pena?”

Rose não se sentia feliz assim há muito tempo, isso era nítido.

Quando os colegas se acalmaram, Scorpius encontrou uma brecha para retornar à sua carteira. Antes mesmo que a alcançasse, o sinal tocou.

— Finalmente! – ele exclamou, pegando suas coisas e rumando para o lado de fora com rapidez.

Tudo que Rose, que ainda estava em frente à classe, pôde ver foi um veloz borrão passando pela porta.

— Esse daí sempre sai apressado – comentou o Professor Butler, se aproximando da ruiva. – Nem me deixou dar o veredito final.

— O-o quê? O senhor já decidiu a nota?

O professor riu.

— Não, não, estava só brincando. Mas já posso dizer em adiantamento que os dois se saíram muito bem.

Rose sorriu.

— Obrigada.

— E sabe, Srta. Weasley, achei que vocês estavam em ótima sintonia. Digo, para duas pessoas que não queriam trabalhar juntas.

O sorriso de Rose tornou-se mais tímido, mas não menos contente.

— É... No fim, o Malfoy se mostrou bem diferente do que eu imaginava. Só que eu ainda não o entendo de jeito nenhum.

x-x-x-x-x

Enfim, havia acabado. O sexto ano escolar de Scorpius chegara ao seu fim e o garoto sentia que podia finalmente respirar. Ao contrário de seus colegas, o motivo de descanso não eram os estudos, e sim os próprios colegas.

“Este ano foi duro... Principalmente agora no final.” Ele pensava, mirando a mesa da Grifinória no jantar de despedida. Mas que sufoco... Ele passara anos mantendo uma postura rígida e distante, e acabou vacilando logo agora nas últimas semanas. Nada havia mudado, mas ainda assim, parecia que tinha algo de diferente. "Talvez eu só não consiga me perdoar por um comportamento tão desnecessário e, arrisco dizer, altruísta. Afinal, eu não ganhei nada deixando aquela garota feliz. Pelo menos, ela não veio me procurar depois da apresentação... Ainda bem que entendeu que tudo era com o objetivo estritamente acadêmico." Cansado, Scorpius suspirou, cutucando a comida no prato. Não devia ter dado aquela fala para ela. Na hora, sentiu-se mal por ter mentido e achou que ela merecia o seu voto de confiança, mas no fim esse foi seu maior erro. Não havia gentilezas e segundas chances no mundo lá fora. Fora fraco. Tudo que queria era prometer que não faria mais aquilo, porém essa última falha o abalara um pouco... Precisava de foco. Precisava manter a cabeça no lugar.

x-x-x-x-x

— Pai! – Rose abraçou fortemente seu pai quando o avistou na plataforma. Ele a ergueu do chão, entusiasmado.

— Rosie, por favor, nunca mais fique tanto tempo longe – disse Ron, se recusando a soltar a filha.

— Meu Deus, parece que a cada ano fica mais sensível. – Hermione, logo ao lado, usava um tom de reprovação, porém sorria. – Imagino quando ela sair de casa, que escândalo será.

— O quê?! – o homem quase guinchou, largando a ruiva e a encarando em desespero. – Mas a Rose nunca vai deixar a nossa casa, não é, filhinha?

— B-bom, eu n...

— Ei, família.

O trio se virou para encontrar um sorridente Hugo carregando pesadas malas.

— Ah não! Me esqueci de pegar a bagagem! – falou Rose, ao notar as mãos ocupadas de Hugo.

— Calma, maninha. Olhe melhor – ele disse indicando com um aceno o que carregava.

O garoto carregava na verdade quatro malas, duas as quais eram de Rose. Ela suspirou em alívio.

— Ai, que distração a minha... Obrigada, Hugo.

Hugo deu uma piscadela.

— O que você faria sem mim?

Três dos bruxos ali já podiam aparatar, porém, por causa do mais novo dentre eles, tinham que usar o carro para ir para casa. Rose não via problema. Na verdade, ela gostava muito de andar de carro. Adorava abrir a janela e sentir o vento no rosto. Imaginava se a sensação ao voar livremente sobre uma vassoura era semelhante. Sempre quisera saber, mas nunca tivera coragem o bastante para experimentar. Não jogava muito Quadribol quando criança e nem era boa nisso, de qualquer forma. As aulas de voo do primeiro ano foram um completo desastre, sendo que a ruiva só conseguiu planar a pouco mais de um metro e meio do chão. “Ainda bem que aquela matéria não reprovava.” Mas, mesmo depois, o medo da queda sempre superava sua vontade.

“Nessas férias, quem sabe?” pensou, distraída olhando rua afora. Entretanto, em algum canto dentro de si, sabia que ainda não tinha coragem. Ainda não estava pronta.

— Acho que a Rose saiu do ar de novo, mãe – Rose foi despertada dos devaneios pelo comentário do irmão.

Ela imediatamente se endireitou no banco, cruzando os braços.

— Chato.

— Deixe a sua irmã em paz, Hugo – repreendeu Hermione. – Ron, acho que você virou na rua errada.

— Sem chance, eu vi claramente a placa ali atrás.

— Não, aquele era o letreiro do restaurante...

Seus pais continuaram a discutir sobre a rota para casa e Rose escorregou um pouco no assento, voltando aos seus pensamentos.

“Ai, ai, as férias... As últimas pra valer. Vai ser a mesma coisa de sempre. Bom, pode ser que eu leia algo de novo na Floreios & Borrões. Quem sabe, eu e as meninas saiamos com mais frequência, isso seria legal... Vai haver alguns aniversários na família, então irei a algumas festas... Parece que é só.”

Ela logo viu que o melhor seria não criar grandes expectativas.

x-x-x-x-x

— Sienna, acho que vou morrer – disse Scorpius para sua gata de estimação, que o encarava deitada na cama.

O jovem Malfoy estava quase em desespero. O primeiro dia de férias passara lenta e dolorosamente, o que era muito diferente da ideia que o loiro tivera sobre suas férias de verão.

— Deve haver algo de errado – continuou Scorpius, andando de um lado para o outro do quarto. – Tudo bem, tem pouco mais de vinte e quatro horas que estou em casa, mas essa inquietude não é normal. Não consigo fazer minhas atividades de costume, como ler, treinar sozinho no jardim de trás, jogar xadrez, qualquer coisa! Nada está me prendendo e eu não sei por quê...

Ele se jogou de costas na cama e sua gata deu um fraco miado.

— Acho que vou ter recorrer ao meu último recurso. Eu detesto ter que chegar a esses extremos, afinal, eu devia ter competência para me virar, mas... Ugh. Vou ter que pedir ajuda.

Cerca de um minuto depois, Scorpius estava em frente à porta do escritório da mansão. Bateu duas vezes na madeira antes de entrar.

— Pai...?

— Pode entrar, Scorpius – Draco disse.

O garoto adentrou o cômodo em silêncio, se sentando em seguida em uma cadeira em frente à escrivaninha.

Draco organizou rapidamente alguns papéis e os colocou em um monte para o lado.

— A que devo sua visita? Você raramente aparece quando estou trabalhando – disse, dando um sorriso que Scorpius não viu por estar encarando o próprio colo.

— Desculpe por isso, não queria atrapalhar.

— O quê? Não, não precisa se desculpar, eu já estava pensando em dar uma pausa.

Scorpius assentiu, ainda sem encarar o pai. Era difícil para ele, não gostava de importunar o Sr. Malfoy com seus problemas bobos. Precisava ser mais decidido e independente, caso contrário, o que Draco pensaria dele?

Scorpius apertou as mãos com força, adquirindo coragem para começar a falar.

— E então? O que foi? Está com algum problema?

“Eu não quero parecer fraco. Pedir ajuda... Isso é coisa de quem é fraco.”

— Scorpius? – Draco o chamou, ficando um pouco preocupado.

— Pai, eu... Eu não... Estou conseguindo manter meu foco.

— Seu foco?

— É, não sei se aguento mais dois meses se todos os dias forem como hoje.

— Como assim? Alguma coisa aconteceu? – o homem perguntou, franzindo o cenho.

— Nada! Exatamente isso!

— Espere, está tentando me dizer que... Está entediado?

— Não, não é isso. Eu só não estou satisfeito fazendo o que costumo fazer.

— Bom... – Draco se inclinou para frente, pousando os braços na superfície da escrivaninha. – E por que não tenta fazer algo novo?

Scorpius semicerrou os olhos, finalmente encarando o pai.

— Algo novo? Como o quê? Todas as coisas de que eu gosto posso fazer aqui, não tem praticamente mais nada que seja do meu interesse.

Draco balançou a cabeça negativamente, sorrindo mais uma vez.

— Agora, Scorpius, você está soando bem arrogante.

“Ai. Essa doeu.”

— Filho, você está excluindo literalmente um mundo de coisas. Não precisa se limitar só àquilo que você já conhece. Tem que haver algo lá fora que lhe interesse.

Scorpius bufou em frustração.

— Você não está entendendo... Do jeito que estou, vou acabar desandando. Só de estar aqui falando, me sinto tão... Tão dependente. Queria poder resolver meus conflitos eu mesmo.

Draco observou o desanimado filho por alguns instantes, pensativo. Enquanto isso, Scorpius sentia-se quase embaraçado por ter dito aquilo tudo, quem sabe tivesse sido franco até demais. Talvez tivesse exposto inconsistência e incapacidade. Seus pais não podiam ver aquele seu lado, ele sequer deveria ter um lado como aquele na verdade.

— Bom, eu tenho uma ideia do que você pode fazer. Se forem independência e foco de que precisa...

Scorpius começou a mira-lo, esperançoso, enquanto Draco procurava algo em suas gavetas.

— Isto! – então, o mais novo recebeu um pedaço de papel meio amassado.

— Mas o quê...? “Necessita-se de ajudantes, 12 galeões por semana”... Espera aí, um emprego de verão?

— Sim, recebi esse folheto enquanto andava pelo Beco Diagonal outro dia. Ia jogar fora, mas acabei me esquecendo.

— Certo, mas como um emprego vai me ajudar?

— Como assim como vai ajuda-lo? Para ter um emprego, é necessário responsabilidade, competência e comprometimento. Além disso, iria certamente ocupar seu tempo.

“Será mesmo? Trabalhar durante as férias? Tecnicamente, eu não preciso do dinheiro, apesar de não gostar de ter meus pais bancando todas as minhas despesas. Não que uns 50 galeões por mês seja muita coisa, mas eu me sentiria um pouco melhor em relação aos meus gastos, eu acho." Pensando bem, um emprego lhe renderia uma imagem mais esforçada e dedicada, além de também madura e independente. Enquanto todos desperdiçariam seus dias com festas e outras bobagens, ele estaria dando duro e sendo um adulto. "Ha! Isso sim é brilhante. Vou estar com certeza em vantagem..."

— Tudo bem, acho que um pouco de experiência profissional não vai fazer mal – disse Scorpius, tentando soar mais sério.

x-x-x-x-x

Na manhã seguinte, uma segunda-feira, Scorpius foi ao Beco Diagonal reivindicar a vaga de ajudante na Floreios & Borrões. Aquela livraria era um dos lugares os quais ele visitava de vez em quando em seu tempo livre, quando se cansava dos livros que tinha em casa. Jamais teria pensado que iria até lá para pedir um emprego, porém.

— Com licença – disse ao entrar. Podia não ser a pessoa mais simpática do mundo, mas recebera uma educação exemplar na infância.

A loja devia ter aberto há pouco tempo, então estava praticamente vazia. Um homem bem idoso e um pouco corcunda veio saudá-lo. Possuía uma barba branca que chegava ao meio do peito e usava vestes longas e puídas.

— Bem-vindo, meu jovem. No que posso ajuda-lo?

— Eu vim por causa disso – Scorpius retirou do bolso o folheto e entregou-o ao senhor.

— Vejamos... Ah, está interessado na vaga de vendedor?

Scorpius engoliu à seco. “Vendedor” ele dissera?

— B-bem, eu estava esperando por algo que envolvesse menos contato com as pessoas, como alguém que confere o estoque ou...

O velho deu uma risada que assustou o loiro.

— Ah, garoto, você é engraçado. Bom, você também teria que conferir o estoque de vez em quando, mas sua função principal é vender os livros e ajudar os clientes.

“Isso significa falar diretamente com clientes? Argh, não sei se terei paciência...”

— Não é um trabalho difícil, nem muito cansativo. Quer dizer, para esses velhos ossos já não dá... – o idoso riu de novo e Scorpius se forçou a dar um meio sorriso. – Normalmente, só um ou dois ajudantes já me bastam, porém no último verão meus funcionários quase não deram conta, tamanha a demanda. Então, para evitar que aconteça de novo, resolvi contratar mais alguém. Dividido por três, o trabalho deve ser razoável.

“É, agora já estou aqui mesmo. Vou ter que lidar com pessoas quando tiver um emprego de verdade no Ministério, gostando ou não. É melhor ir treinando para que, quando chegar o momento, não seja tão estressante.” Scorpius tentava se convencer, lembrando-se de algo que sua mãe certa vez dissera.

— Então, preciso fazer uma entrevista? Preencher algum formulário?

— Oh não, meu jovem, não precisamos dessa burocracia. Se quiser, pode começar agora mesmo. É só pôr o avental do uniforme e mãos à obra!

“Como as coisas podem ser tão simples assim? Esse velho deve ter algum parafuso solto...”

— Ah, mas é claro, tem um detalhe crucial. Qual é o seu nome, rapaz?

— Scorpius Malfoy.

— Muito prazer, Malfoy. Eu sou Angus Miller.

— Prazer.

Após aquela breve introdução, Scorpius foi vestir o avental. Parecia mais um trapo verde antigo e empoeirado. Ele fez uma nota mental para se lembrar de lavar mais tarde.

— Quase me esqueci! – o Sr. Miller disse quando viu o garoto deixando a sala dos funcionários. – Você devia conhecer os seus colegas...

— O quê? Gente? Ah não, eu dispenso...

— Ora, deixe de cerimônia, eu vou chama-los. Devem estar no andar de cima repondo os livros de Alquimia do lote que chegou...

Scorpius revirou os olhos, impaciente, enquanto o idoso ia a passos de tartaruga chamar os outros. Não havia necessidade para aquilo. Ele saberia distinguir quem era funcionário de quem era cliente apenas de olhar o avental, não precisavam trocar uma frase sequer.

“Eu detesto mesmo pessoas.”

O que pareceu para ele um século depois, o Sr. Miller retornou com um par de pessoas atrás de si.

— Scorpius Malfoy, este é Austin Hover – ele apontou para um jovem alto de cabelos e olhos castanhos, que devia já ter seus vinte e poucos.

— E aí, cara! Vamos ser colegas de trabalho? Que demais! – Austin deu um soco camarada no ombro do loiro, que apenas massageou o local do impacto com uma carranca.

“Por que eu? Tinha que ser um idiota desses, é a minha sina.”

— Bom, e esta é a...

“Não...”

— NÃO PODE SER! – as duas vozes berraram em uníssono.

— Rose, está tudo bem? – perguntou o Sr. Miller.

“De todos os lugares... Vim parar justamente no que ela trabalha nas férias!? Realmente só pode ser a minha sina!”


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Notas finais do capítulo

Tan tan tan taaaan.... tan. Bom, quando tive a ideia da fic, uma das coisas que sempre mantive em mente foi fazê-los trabalharem juntos durante as férias. Mesmo antes de ajeitar e criar todos os outros detalhes, minha ideia fixa era "cara, esses dois vão ter que ter o mesmo emprego de verão, isso vai ser impagável!". Ainda não cruzei com uma fic com tal trama, mas gosto muito dela :) E é uma boa oportunidade para se conhecerem melhor, não é? Também para as belas patadas do Scorpius e as trapalhadas da Rosita heheAi ai, estou cheia de ideias para essas férias deles, apenas aguardem! Preciso também dizer que, a partir desse período, outros personagens começarão a receber mais destaque. Meu foco ainda será Scorose, mas uma boa fic também precisa dar a devida atenção aos seus personagens secundários! ;DIh, tagarelei. Lo siento. Bom, fico por aqui! Leitores lindos, agora que a história começa pra valer!Beijooooos!