The Bright Side escrita por Anna C


Capítulo 4
Sorry's Not Good Enough


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente? Com vocês têm passado? Mais chá com biscoitos para vocês, espero que gostem dessa fase nova da fic, em que nossos queridíssimos terão que aturar seus dias de férias um ao lado do outro. Ai, que dureza, não? Já disse, sou má com esses dois.Bom chá com biscoitos!



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Talvez, ele só estivesse muito mal acostumado. Isso, ou aquele trabalho era na verdade alguma espécie de provação.

— Eu fui mandado até aqui, posso ajudar a senhora em algum-...

Scorpius, de repente, recebeu o que pareceu uma tonelada de livros para carregar da mulher que fora auxiliar.

— Ah, que bom que você apareceu! Achei que teria que segurar esses livros para sempre!

— Senhora... – Scorpius tentava falar, apesar do peso que quase superava sua força. – Temos... Cestas... Para essa quantidade de... Livros...

— Por Merlin, é mesmo? Ah, mas agora você já está aqui! Me diga, onde fica a seção de Astronomia?

Se sua varinha estivesse ao alcance, o loiro poderia jurar que teria azarado a cliente naquele mesmo instante.

Além de clientes inconvenientes, Scorpius precisava lidar com as entregas de novos lotes.

— Por favor, assine aqui – um homem com a barba por fazer e uma expressão de pouco caso lhe estendia um pedaço amassado de pergaminho.

Antes de qualquer coisa, o garoto foi verificar o conteúdo das caixas.

— Mas... Mas o que é isso?! É algum tipo de piada? Esses livros estão encharcados e manchados! Magia nenhuma pode conserta-los nesse estado!

— Oh – o homem da entrega olhou para as caixas por um tempo, pensativo. – Ah é, a carruagem voadora passou por uma área chuvosa quando sobrevoou Newtown, no País de Gales. Acho que me esqueci de colocar a proteção para esse tipo de ocasião. Foi mal.

Scorpius lançou um olhar mortífero ao homem.

— Foi mal...? Foi mal?!

Felizmente, o colega de trabalho de Scorpius, Austin Hover, chegou a tempo de impedir um homicídio. Porém, o entregador saiu com meia sobrancelha faltando ("Nossa, a sua mira é boa mesmo, hein Malfoy?" Austin precisou comentar).

Como se não bastasse, Scorpius ainda tinha de cuidar para que Rose não destruísse a loja.

— O que você está fazendo? – ele perguntou incisivamente ao ver a garota limpando as estantes com algum produto.

— Hã? – ela se virou, surpresa. – Ora, só estou lustrando as estantes com uma solução à base de oliva.

— Como é? – o loiro tomou das mãos da garota o borrifador. – Ficou louca? Isso é repelente de chizácaro, o Sr. Miller disse para não tocar nisso! E, por sinal, fede muito! – cobriu as vias respiratórias, agora notando o odor repugnante impregnado no ambiente.

— Caramba, você tem razão! – Rose arregalou os olhos. – Bem que eu estava estranhando esse cheiro, afinal, eu tomei banho de manhã...

"Não é possível que seja tão distraída..." o rapaz olhava descrente para a ruiva, que começara a fazer uma expressão pensativa.

— Agora que você falou, acho que me lembro do Sr. Miller ter comentado algo assim... Ai, espero que ele não fique muito zangado.

Com isso, Rose se foi para pedir desculpas ao dono da loja.

Como ela fora contratada? Em apenas três dias, Scorpius estava certo de que o Sr. Miller teria notado o talento para desastres da garota e, então, a dispensado. Na verdade, ela parecia até que bem familiarizada com Austin e o Sr. Miller, chegava a dar a impressão de que já trabalhava ali havia algum tempo... Desde quando Rose estava lá? Obviamente, ela só poderia trabalhar durante o verão, mas Austin poderia facilmente dar conta do lugar com o movimento mais modesto do restante do ano.

Não importava. Aquele interesse em Rose e sua história fora passageiro, e ele logo foi tratar de seus outros afazeres.

É, trabalhar era realmente cansativo. Scorpius começava a se questionar se havia mesmo alguma razão para não desistir.

"— Para ter um emprego, é necessário responsabilidade, competência e comprometimento."

Não. Não podia dar para trás agora que havia ido tão longe. Outras coisas estavam em jogo.

— Então, como foi o primeiro dia? – sua mãe, Astoria, perguntou com pitada de ansiedade durante o jantar. Draco parecia igualmente curioso.

Tentando não entregar a verdade apenas com uma expressão de desagrado, Scorpius deu um gole em sua taça de água para encobrir as feições.

— Scorpius?

— Ah, foi bom – o garoto sentiu uma distinta queimação na garganta graças à mentira. Nunca mentia para os pais.

— Mesmo? Que alívio. Seus colegas são boas pessoas?

"Ugh, eu definitivamente vou perder meu apetite antes dessa conversa chegar ao fim..."

— É, eles são... Legais.

Astoria trocou um rápido olhar com o marido. Este assentiu levemente, sem que o filho notasse.

— Sabe, Scorpius – Draco iniciou. – Estamos muito orgulhosos de você por tomar essa iniciativa.

E esse era seu ponto fraco.

— Estão? – ergueu o rosto, pego de surpresa.

— Claro que estamos, querido – Astoria deu um sorriso carinhoso. – Você está se esforçando tanto, é um garoto tão dedicado.

Definitivamente, não havia mais volta. Ele teria que ir até o fim.

x-x-x-x

Rose esteve observando Scorpius durante toda aquela semana. Talvez não fosse o mais gentil com os clientes, mas certamente era muito eficiente em outras áreas. Ela havia ficado impressionada com a rapidez com que ele catalogara todos os livros da parte superior da loja – ele levara apenas dois dias para fazer tudo! Era nítido que, quanto menos contato com outras pessoas a tarefa exigisse, melhor o rapaz se saía nela.

Desde as pequenas demonstrações de gentileza de Scorpius antes do período de férias, Rose não conseguia mais enxerga-lo como um ser completamente insensível. Podia até não gostar de ter companhia, mas foram suas ações e palavras que deram a ela uma esperança que há muito já tinha perdido. Uma pessoa que pudesse fazer tal coisa não poderia ser de todo mal.

— Você está colocando no lugar errado – Scorpius a interrompeu enquanto guardava alguns livros. Ele suspirou. – De novo.

Rose olhou os livros em seu colo com mais atenção e percebeu que ele estava certo.

— Tem razão, desculpe. É que eu estava meio avoada, pensando em algumas coisas...

Ele bufou, impaciente, pegando os livros que ela carregava.

— Ei! Eu posso fazer isso sozinha! – ela protestou, seguindo o garoto, que começara a andar.

— Bom, aparentemente não. E, de qualquer forma, eu termino mais rápido.

— Será que vamos ter mais problemas sobre a divisão das tarefas? – Rose disse sem pensar, trazendo à tona o acontecimento de três semanas atrás.

Scorpius parou abruptamente de caminhar, ainda voltado de costas para a ruiva.

Ela sabia que havia tocado em um ponto delicado. Ainda agora, estava curiosa para saber o que o fizera mudar de ideia sobre a apresentação, porém, assim como antes, a única coisa que a impedia de perguntar era o receio de constrangê-lo. Algumas coisas não deviam ser questionadas, afinal. A gentileza era uma delas.

— D-desculpe, eu...

— Dá pra você parar? – o tom de Scorpius fora quase agressivo. Rose se espantou.

— M-mas o que eu...?

— Você está sempre se desculpando por tudo. Não vê que isso é irritante?

Encarando as costas rígidas do garoto, Rose ficou aflita, não sabendo se dizia algo ou não. Preferiu a segunda opção, visto que sabia que, se falasse, acabaria em outro pedido de desculpas.

Após alguns segundos de um silêncio embaraçoso, Scorpius continuou com o dever que tomara de Rose.

Na hora do intervalo para o almoço, o loiro sempre sumia. Rose normalmente o seguia com o olhar quando saía da loja, curiosa, mas desta vez não ficou interessada. Estava um pouco ressentida graças ao tom de voz nada suave que ele utilizara mais cedo.

— Então – o Sr. Miller perguntou a ela e Austin. –, o que acham do novo garoto?

Austin coçou o queixo, pensativo.

— Hum, bom... Eu acho que ele me odeia, mas fora isso, é gente fina.

"Ele está falando sério?" Rose se indagou, vendo a expressão despreocupada e sincera do moreno ao seu lado.

— E você, Rose? Já o conhecia, pelo que notei.

Rose deu um suspiro cansado.

— É, ele estuda no mesmo ano que eu em Hogwarts. Não posso dizer que faz o tipo "sociável", mas como funcionário aqui da loja ele é útil, ainda que espante alguns clientes com aquela cara de mau humor permanente dele.

O Sr. Miller riu levemente.

— Percebi que ele não gosta muito de estar na presença dos outros, mas acho que está até que se esforçando.

Estaria mesmo Scorpius se esforçando? Rose achava que ele continuava como sempre. Se era verdade, imagine só se não estivesse...

— Bom, estou com fome. Com licença, Sr. Miller, vou almoçar. Você vem, Austin?

— Ah, claro! Me deixe só pegar a carteira na sala dos funcionários...

Tudo bem, talvez Rose estivesse um pouco zangada.

"— Não vê que isso é irritante?"

Irritante? Quem aquele garoto estava chamando de irritante? Logo ele, que poderia escrever um manual sobre como se tornar o ser mais desagradável do planeta.

— Tudo bem aí, Rose? – perguntou Austin, enquanto estavam a caminho do Caldeirão Furado.

— Como? Ah, sim, tudo bem – disse, forçando um sorriso.

— Você não parece muito contente.

Ela deu os ombros.

— Não é nada, por favor, não se preocupe.

Obedientemente, Austin não tocou mais no assunto, e Rose agradeceu internamente por isso.

E era assim que Austin Hover era: um jovem alto, educado e bem-humorado. Ele já trabalhava na Floreios & Borrões quando Rose chegou, porém, seu sonho desde aquela época era estudar sobre magia antiga no Egito. Em seus plenos vinte e dois anos, o rapaz aguardava ansiosamente pelo dia em que conseguiria juntar dinheiro o suficiente para fazer a viagem.

Rose não poderia dar uma previsão exata, mas sentia que o tão esperado dia em breve chegaria. O simples pensamento a preocupava. Quer dizer, ela estaria contente pelo colega, entretanto, temia que o Sr. Miller ficasse só na loja. Ela se importava muito com aquele velho senhor. Bom, porém essa já era outra história.

Após cerca de quarenta minutos, os dois estavam de volta. Rose logo constatou que Scorpius também havia retornado, tendo-o avistado a alguns metros, falhando miseravelmente em atender com delicadeza uma garotinha.

— Escuta, é uma pergunta simples. Você quer esse livro ou não? Pessoalmente, eu o acho péssimo, mas acredito que se você quer desperdiçar a sua grana, o problema é todo seu.

Rose encarava a cena, perplexa. A menina de cabelos curtos estava a ponto de chorar e o loiro não poderia estar menos consciente de seu tom rude.

"Ele está mesmo tentando vender alguma coisa dessa forma?"

— Er, com licença – a ruiva não se conteve e se introduziu na situação. – Vejamos, o que temos aqui? – tomou o livro de Scorpius e o examinou.

— Você acabou de arrancar isso de mim, sem sequer pedir? – Scorpius a mirava furiosamente.

— O quê? Ficou chateado? – perguntou Rose ironicamente. Antes que recebesse uma resposta, prosseguiu. – Como é? "O Bosque dos Encantamentos"? Esse livro é lindo! Acho que toda criança deveria ler pelo menos uma vez durante a infância...

A menina pareceu um pouco mais tranquila, os olhos verdes brilhantes encarando Rose esperançosamente.

— M-mesmo?

— Com certeza! Eu recomendo sinceramente. Há muitas mensagens valiosas e personagens inspiradores. Além disso, fica realmente emocionante a partir do meio. Acho que vale a pena você conferir.

Rose entregou o livro para a garotinha, sorrindo. Esta abraçou-o, sentindo-se muito mais animada.

— Obrigada, moça!

— Imagine. Ah, e isto – a ruiva revirou o bolso da calça e retirou dele algumas balas. – é por minha conta.

— Muito obrigada! – a menina se foi saltitante. – Mamãe, olha o que a moça da loja me deu!

Rose se virou para Scorpius com seu sorriso triunfal. Ele revirou os olhos, cruzando os braços.

— Será que ela nunca ouviu falar para nunca aceitar doces de estranhos?

— Bom, depois de tê-la traumatizado, é bem fácil dizer. Não tem o mínimo de tato, Malfoy?

— O que é? Aquele livro é uma droga mesmo.

— Primeiro de tudo, não, não é. Segundo, ela era uma menininha de nem oito anos! Já é difícil ter interesse em ler nessa idade e você estava a desestimulando, que tipo de vendedor de livros é você? Além disso, aquele título é adequado para a faixa etária dela, não espere que ela se interesse por alta literatura bruxa ou qualquer coisa.

— Tanto faz. Você ficou com a minha venda. Está contente? – ele perguntou com desdém.

— Não mesmo. Acho que devia se desculpar com ela.

— Como é? Nem em sonho! Fiz o que tinha que fazer. Se não gosta do meu atendimento, que vá procurar outro funcionário.

Rose boquiabriu-se, pensando ter ouvido mal por um instante.

— Por Merlin, essa é a coisa mais egoísta que disse essa semana, e olha que você falou muitas barbaridades! Será que sequer consegue se importar com alguém que não seja você mesmo e a sua própria comodidade?

— Espere, esse era o momento em que eu deveria ter uma crise de consciência e implorar por perdão?

— Ugh! Eu vou-...

— Está tudo bem por aqui?

Ambos se viraram surpresos para o dono da loja. O Sr. Miller os observava, sério e intrigado.

— Haha! – Scorpius riu com ironia. – Está tudo incrível! Na verdade, está tudo tão bem, que acho que vou extravasar minha alegria espanando os livros sobre pragas mágicas. Com sua licença...

Rose apenas assistiu ao loiro se retirar, ficando ainda mais incrédula.

— Meu Deus, sinto muito pelo comportamento terrível dele, Sr. Miller! Aliás, sinto muito também pela confusão dentro da sua loja. Eu não deveria revidar, só causei ainda mais tumulto...

O Sr. Miller acenou positivamente, parecendo bem calmo.

— Tudo bem, discussões acontecem, principalmente entre pessoas com pontos de vista tão diferentes. Mas por favor, Rose, não se condene tanto por qualquer bobagem. Todos tem permissão para errar.

— M-mas...

A ruiva deixou o argumento morrer. "O que há de errado em pedir desculpas? E... Ei! No fim, eu quem levei a bronca?"

x-x-x-x

Com isso, a primeira semana de trabalho de Scorpius chegara ao fim. Aqueles dias torturantes apenas confirmaram: pessoas lhe davam nos nervos. O lado positivo daquilo tudo era que, após cinco dias seguidos de tormento, suas atividades e hobbies de férias voltaram a ser proveitosos. Scorpius agora começava a entender porque o fim de semana era tão prezado por seus pais; aquele período podia ser incrivelmente relaxante.

Pena que era breve.

"Eu mal pude aproveitar esses últimos dois dias, não acredito que já seja segunda-feira e eu esteja aqui trabalhando de novo..." Scorpius se queixava silenciosamente, esperando pelos primeiros clientes da manhã. O sino sobre a porta tocou e, em vez de um cliente, quem entrou pela porta foi a ruiva que ele menos queria ver, com a respiração descompassada e pesada. "Ela está sempre atrasada." Ele reparara que Rose havia chegado ao menos três vezes após o início do expediente na semana anterior. Não que ele estivesse muito surpreso, é claro.

Rose o notou ali de pé e, depois de encara-lo por alguns segundos, virou o rosto emburrada, indo se arrumar na sala dos funcionários.

— Que infantil – Scorpius rolou os olhos, estando certo de que não poderia ligar menos se a garota estava zangada com ele ou não.

O tilintar do sino da porta chamou sua atenção novamente. Desta vez, um casal entrou de braços dados.

"Espera, não é um casal qualquer..." Ele logo reconheceu o par como sendo Lauren Finnigan e o filho do professor de Herbologia, que era um ano mais novo e do qual não se recordava do nome. "Ambos são estranhos, então faz total sentido que estejam saindo." Scorpius deu de ombros, resolvido a apenas observar os dois à distância, sem oferecer seus serviços.

Austin estava ocupado com algumas encomendas e o Sr. Miller não estava à vista, porém, mesmo sendo o único ali disponível, preferiu não se manifestar, a menos que fosse requisitado. Bom, isso ele já fazia quase sempre, de todo jeito.

Não levou mais que um minuto até que Rose voltasse, já vestindo seu avental verde-escuro. Assim que avistou Lauren, ficou petrificada como que por um feitiço, seus olhos bem arregalados.

— Lauren! – ela falou repentinamente, atraindo a atenção daqueles presentes.

A garota de cabelos lisos e loiros nos ombros ajeitou os óculos, não alterando sua expressão séria.

— Rose.

A ruiva caminhou até o casal, exalando empolgação.

— Olá também, Luke. Já faz mais de uma semana! Como vocês vão?

Luke Longbottom expôs um gentil sorriso, um pouco acanhado.

— Estou bem, obrigado.

— Eu também – disse Lauren, sem emoção na voz.

— Ah, Lauren, eu te enviei uma carta semana passada. Você chegou a receber? – perguntou Rose.

— Cheguei – foi tudo que obteve em resposta, além do silêncio que se seguiu.

Luke parecia levemente constrangido, assim como Rose. A última deu uma risada para descontrair.

— E o que fazem aqui tão cedo? Procurando por algo em especial?

O garoto de cabelos castanhos corou de repente.

— H-Hã, b-bem, eu...

Antes que ele formulasse alguma frase, Lauren interveio:

— Só estamos dando uma olhada. Podemos nos virar, obrigada.

Rose sentiu como se uma estaca de gelo a atravessasse. Ela estava basicamente sendo dispensada.

— Desculpem-me. Bom, nesse caso, fiquem à vontade. Se precisarem de alguma coisa, basta chamar – a ruiva deu um curto aceno antes de se afastar.

Enquanto isso, Scorpius esteve apenas observando a cena. Aquela não era uma das grifinórias de que Rose estava sempre perto? Para uma amiga, aquela garota era bem fria, até ele pôde notar. Do jeito que Rose era atrapalhada, as duas certamente... "Ei, cadê a Weasley?" o loiro notou que era o único funcionário ali no momento. Teria a ruiva desaparatado? Ela havia sumido com uma rapidez impressionante, afinal.

"Que seja." Decidiu ignorar a questão, tentando se distrair olhando os arredores.

Então, um som estridente chegou aos seus ouvidos. Ao fazer uma ligeira análise, constatou que o barulho vinha da área exclusiva dos funcionários. "Ah, deve ser a 'garota desastre'..." logo pensou, descartando sua dúvida anterior.

O som não cessou.

"O que ela está fazendo lá?" ele se perguntou, começando a se irritar. Aquele ruído todo estava começando a perturba-lo a valer.

Paciência é uma virtude, porém não uma que Scorpius possuía. Hora da investigação.

Scorpius abriu bruscamente a porta da sala para encontrar Rose e vários utensílios metálicos de cozinha no chão. Havia uma pequena área para cozinhar naquele cômodo, apenas equipada o bastante para preparar o básico. Contudo, aquela desorganização toda de agora era totalmente creditada à Rose naqueles poucos minutos que esteve ali.

— Achei! – exclamou ela, erguendo uma chaleira no ar.

— Mas que diabos você está fazendo? – perguntou Scorpius.

— Oh, eu ia apenas preparar um pouco de chá.

— Preparar chá é uma coisa, causar destruição em propriedade alheia é crime.

Rose bufou, irritada.

— Se veio me incomodar, prefiro que vá gritar com o cara da entrega de novo. Não estou com humor para isso agora.

Scorpius a olhou enquanto conjurava um feitiço para organizar sua bagunça. Ela parecia um pouco... O que seria? Chateada?

— Como conseguiu provocar essa desordem?

A garota inspirou fundo, enchendo a chaleira de água.

— Tentei usar um "Accio", mas acho que pronunciei errado. Quando vi, a frigideira queria me assassinar.

Scorpius riu com escárnio.

— Pelo visto, você é um perigo até na cozinha.

Rose soltou um muxoxo, desanimada.

— É, pois é...

A risada de Scorpius logo se dissipou, notando que o seu alvo de zombaria não estava se incomodando. Ele olhou por cima do ombro loja adentro e depois fechou a porta atrás de si.

— Isso é sobre a Finnigan? É muito antiprofissional deixar que seus problemas pessoais afetem o trabalho.

Rose parou por um instante de colocar as ervas dentro da chaleira, mas logo retomou o que fazia, pegando a seguir uma xícara num pequeno armário.

— Ah, você também quer? – ela perguntou com polidez, fazendo menção de pegar outra xícara.

— Não, eu pretendo viver até amanhã, obrigado.

Ela deu um suspiro de cansaço.

— Sabe, nem tudo que eu toco vira lixo.

Maldição. Ele se sentira um pouco mal com aquilo. "Às vezes, eu gostaria de ser uma pedra. Pedras não têm consciência, logo, não precisam ficar mal por rejeitarem uma xícara de chá. Na verdade, pedras nem bebem chá... Por que estou pensando em pedras, pra começar?! Droga, Weasley."

— Ok, tanto faz, eu quero um pouco – deu-se por vencido, encostando-se contra uma parede.

Rose serviu um pouco da bebida fumegante nos dois recipientes, entregando um deles ao loiro.

— Adoce a gosto. – Rose disse, empurrando de leve o açucareiro do balcão em direção a ele.

— Não há necessidade, eu bebo puro.

— Mesmo? Você quem sabe.

Eles ficaram os próximos minutos em silêncio, apenas bebericando o chá.

"Para falar a verdade, não está tão ruim..." Scorpius jamais admitiria isso em voz alta, entretanto.

— Alguém está tomando conta da loja? – ela questionou de repente. – Melhor a gente voltar.

Rose então pousou a xícara três-quartos vazia ao lado da pia. Porém, antes que pudesse se dirigir à porta, vacilou e precisou se segurar ao balcão de mármore. Scorpius sentiu o impulso de acudi-la, mas resistiu, considerando aquilo não mais que um simples instinto (que levaria a um momento desconfortável para ele, provavelmente). Para sua infelicidade, Rose detectou o movimento e a hesitação que o seguiu, fazendo-a sorrir de lado.

— Estou bem, não precisa se preocupar.

— Como é?! E quem falou em...

— Eu já devia estar mais conformada – a ruiva cortou pela metade a frase do rapaz. – Acho que a única pessoa para quem Lauren demonstra alguma simpatia é o próprio Luke. Mesmo antes dos dois namorarem, há três anos, sempre foi assim. Não é agora que ela me tratará diferente.

"Por que ela está me dizendo essas coisas?"

Rose deu uma risada sem humor.

— E por que será que estou te dizendo essas coisas? – indagou ela, como se lesse a mente do loiro. – Você também não se importa.

Scorpius pôs-se a encarar o chão, cada vez menos certo de como reagir na dada situação.

— Não tem problema. Ah, e Malfoy?

Ele voltou seu olhar para Rose, ainda calado.

— Acho que entendi o que você e o Sr. Miller queriam dizer. De vez em quando, desculpas são inúteis – ela disse, enfim abrindo a porta.

Scorpius ficou alguns milésimos raciocinando, até que "Espere, não foi isso que eu..."

— Você está enganada.

Rose parou no ato, se virando imediatamente.

— O... O que disse?

Era uma boa pergunta. O que ele acabara de dizer?

Sem uma linha muito exata dos pensamentos, Scorpius prosseguiu com seu melhor improviso.

— Não foi o que eu quis dizer. Só acho que a frequência anormal com que você se desculpa é sem sentido. Digo, às vezes, nem sei se está se desculpando pelo que fez ou se é por simplesmente existir. Tá certo que eu acho muita gente descartável por aí, mas pensar isso de si mesma sequer é digno de pena. Sinto muito, Weasley, mas não tenho dó de você. Então, saiba que eu nunca vou te desculpar se no fundo essa for mesmo a sua razão.

Rose nem mesmo piscava.

"Desculpar-me... Por existir? Será que é isso que eu faço?" ela arregalou ainda mais os olhos já fixos no rosto de Scorpius. "Sempre o incômodo... Então, é por isso que eu...?"

— Ah! Aí estão vocês! – Austin surgiu à porta, sorrindo como sempre. – Ei, Malfoy, pode auxiliar uma senhora que não está encontrando os óculos lá na seção de auto ajuda? Eu estou atolado de coisas já...

— Não acha um pouco contraditório que ela precise de ajuda quando está justamente naquela seção da loja?- Scorpius disse, não muito inclinado a cooperar. Porém, logo deu grunhido de exasperação. – Tudo bem, eu vou! Aff, as velhas são as piores...

Ele foi logo cumprir suas obrigações, deixando Austin e Rose.

— Rose, você está se sentindo bem? Parece até que entrou em estado de choque.

Levou quase um minuto completo para Rose voltar a responder.

— Er, o quê, eu... – ela olhou para Austin, não se lembrando de quando ele havia chegado ali e, então, começou a rir. – Ah, eu estou ótima! Bom, já bebi meu chá, vou voltar ao serviço.

Ela se foi e Austin ficou mais alguns segundos parado e reflexivo, pensando seriamente que havia perdido algum detalhe importante.

x-x-x-x

Talvez ele realmente tivesse um ponto válido. O comportamento e os sentimentos dela eram condizentes àquilo, pelo menos. Rose estava certa de que Scorpius dissera tais coisas sem a menor intenção de confortá-la ou ajudá-la a se entender, porém, ainda assim, haviam feito sentido.

Agora, ela entendia. Não podia se deixar levar por pensamentos tão pessimistas, não devia sempre achar que era apenas um estorvo.

"— Mas pensar isso de si mesma sequer é digno de pena."

"Você tem razão. Estou apenas me fazendo de coitada para mim mesma. Isso é patético." Rose refletia, enquanto escovava os cabelos em frente à penteadeira. "Mas então o que devo fazer? Eu só queria que elas me aceitassem..."

Alguém bateu três vezes na porta. Então, o rosto de Hermione surgiu pela fresta.

— Já está pronta? Seus primos e tios já estão aí.

Rose assentiu, sorrindo.

— Tudo bem, já vou descer.

Sua mãe sorriu de volta e a deixou para terminar de se arrumar.

Rose suspirou.

"Eu quero que elas me aceitem, mas... Como posso esperar que isso aconteça se sempre peço desculpas por ser eu mesma?"

A ruiva decidiu que continuaria a pensar sobre aquilo mais tarde, quando o momento fosse mais apropriado.

"É muita reflexão para digerir antes do jantar."


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Notas finais do capítulo

Estou passando por aqui para deixar o quarto capítulo e, olha, estou até que impressionada com a periodicidade das postagens. Estou conseguindo manter um padrão de duas semanas e isso é bem novidade para mim hahah (se já começou a ler alguma fic minha em andamento, deve saber o que digo...) E é provável que o próximo saia dentro desse prazo.Enfim, sobre a fic, o que estão achando? Bom, eu avisei que as coisas andariam em ritmo lento... Ainda levará algum tempo para termos mudanças mais decisivas, mas aos poucos os personagens devem ir amadurecendo e criando seus laços. No próximo, teremos uma boa dose de Albus! *-* Ele deve aparecer bem mais a partir do cap. 5, não adianta tentarem escapar mwuahahaha! (?) E teremos a breve participação de uma duplinha que eu amo, mas que nesta história não deve fazer muita coisa.Muitíssimo obrigada pelos comentários no capítulo anterior! Espero que a fic continue a agradar ^^Beijooooos!