The Bright Side escrita por Anna C


Capítulo 13
Dizer Ou Não Dizer?


Notas iniciais do capítulo

Postando só em junho, que coisa feia, Anna... Mal aí, pessoal!
Ih, não consigo pensar em nada para por aqui em cima, deprimente. Mas compenso com as notas finais!
Ai, ai, pobre e indecisa Rose. /semi spoiler (not really)
Bom chá com biscoitos!



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A aula de Aritmância era uma das que contava com menos alunos, e era mais uma aula que Rose e Scorpius compartilhavam. Talvez o pouco interesse na disciplina se devesse ao fato de lidar com números, porém era justamente isso que fazia dela fascinante, ou ao menos, era o que Rose explicava a Scorpius na saída.

— Digo, é muito mais interessante prever o futuro através da numerologia. Sou um pouco suspeita, já que não sou muito boa em Adivinhação, mas acho que usar os números torna a previsão mais precisa — a ruiva dizia.

— É, mas você não vai convencer muita gente a fazer essa matéria com esse argumento. Adivinhação é muito mais simples que ficar fazendo gráficos complexos com números. A maioria só quer passar de ano fácil, então prefere fingir que enxerga alguma coisa num borrão de café — falava Scorpius num tom de descrença. — Com tanta gente folgada, a humanidade está perdida mesmo.

Rose sorriu.

— Uma conclusão e tanto. Mas vindo de você, não me surpreende. Será que não há nem uma ínfima esperança para nós? Será que todos vão aderir à Adivinhação, abandonando a arte da Aritmância para todo sempre? Oh, que lástima!

— Será que Rose Weasley precisa ser tão trágica? — ele rebateu, fazendo-a rir.

— Claro que preciso! Afinal, isso irrita você — Rose piscou um olho.

— Você está certa, irrita mesmo.

— Exato, e alguém precisa mantê-lo de mau humor, caso contrário, ficaria irreconhecível.

Apesar do que haviam acabado de dizer, Scorpius já enfrentava dificuldades para não relaxar perto de Rose. Havia algo no jeito com que ela falava ou se comportava que inspirava um sorriso vez ou outra. Mas tal inspiração às vezes vinha com tanto impulso, que seus lábios quase cediam. Não que ele fosse permitir tal deslize, pois...

— Malfoy — Rose o chamou de repente. Ele notou que ela parecia impressionada, seus olhos azuis luzindo. — Você tem um belo sorriso.

— O quê...? — Scorpius cobriu a boca com uma mão. Como podia ser? Ele sempre se policiava, era impossível que justamente hoje tivesse se descuidado. “Maldição, Weasley.” — E por que ainda está me encarando?

Não devia ter comentado nada, pensou Rose, assim poderia ter apreciado o momento um pouco mais.

— Eu só estava dizendo... Fica bem melhor quando parece feliz.

— Eu não estava feliz.

— Certo, certo...

— Weasley! — alguém a chamou.

Os dois ergueram os olhos para um rapaz, que estava junto de alguns amigos naquele corredor. Era Eric Hewitt, e ele sorria para Rose. Ela sentiu o rosto queimar.

— Oi, Hewitt! — Acenou para o sonserino alegremente.

Eric deu um leve aceno de volta e recomeçou a conversa com seu grupo. Scorpius e Rose continuaram a caminhar, porém agora o loiro olhava do grupo logo atrás para a garota ao seu lado repetidamente.

— Como você...? Você agora conversa com Eric Hewitt também? — perguntou Scorpius em ligeira suspeita.

Rose corou um pouco mais.

— Na verdade, mais ou menos. Ele me ajudou outro dia. Foi muito legal da parte dele.

— Ah. — Scorpius balançou a cabeça lentamente, compreendendo.

— Por quê?

— Por nada — Scorpius disse com descaso.

— Ah, é claro. Ele é seu colega de quarto, certo? — Rose se lembrou.

— Sim, é.

Rose ia completar o assunto com mais algum comentário, porém viu Albus andando em sua direção com uma expressão conflituosa. Ficou preocupada de imediato.

— Albus. — Rose repousou uma mão sobre o ombro do primo. — Você está legal? Está um pouco abatido.

— Eu queria conversar com você, se não for um problema — admitiu Albus.

Scorpius percebeu que não havia mais espaço para si ali, por isso, disse:

— Já vou indo.

— Malfoy — Albus chamou.

Scorpius já estava alguns passos à frente dos primos, mas parou. Estava de costas para os dois, porém com a cabeça erguida, sinal de que ouvia. O grifinório prosseguiu.

— Eu... Eu sinto muito por tê-lo enganado. O time da Sonserina só tem a ganhar com você lá, mas a escolha devia partir de você... Me desculpe se forcei as coisas — Albus soava realmente arrependido. Ter adiado o pedido de desculpas provavelmente não contribuía para que fosse perdoado.

O silêncio durou alguns segundos, segundos agoniantes. Enfim, Scorpius virou minimamente a cabeça e assentiu. Feito isso, recomeçou a andar. Albus e Rose sorriram um para outro, surpresos, enquanto o sonserino ia mais uma vez se distanciando.

— Isso me deixa um pouco mais aliviado — confessou Albus.

— Aquele ali está mudando tanto que até fico admirada. Às vezes, penso que ele vai acordar um dia e se esquecer de tudo que aconteceu, e... — Rose começou a divagar, um pensamento incômodo querendo perturbá-la. “Por que estou pensando nisso agora? Que bobagem...” — Bom, não importa! Mas, Albus, você queria conversar comigo sobre algo?

A aflição voltou ao rosto de Albus.

— Quero sim. Podemos ir para a sala comunal? Lá não vão nos incomodar.

x-x-x-x

Os cinco estudantes do quinto ano rumavam para o Salão Principal, devido ao horário de almoço. Já fazia algum tempo desde o aniversário de Rose, porém ninguém ainda havia discutido um assunto extremamente pertinente na opinião de Lily. Ela não sabia por que ninguém havia abordado aquele tópico até então, e talvez nem fosse mesmo de sua conta — ela sabia que beirava a fofoca —, porém estava certa de que aquilo vinha transtornando a mente de cada um ali.

“Tudo bem, transtornando a minha mente. Mas por que ninguém falou disso ainda?! Rose faz amizade com um Malfoy e ninguém liga?” Não fazia sentido.

— Tenho que admitir que ainda estou chocada por eles serem amigos — começou Lily. — Quer dizer, algum de vocês sabia de algo?

— Eu, não — respondeu Hugo, já entendendo do que se tratava, o que provava que também vinha pensando naquilo. — E ainda não sei se gosto disso. Normalmente, o Malfoy é meio mal-encarado, não é?

— Quem sabe, isso seja uma fachada. Além disso, Rose costuma enxergar o potencial nas pessoas — falou Lily.

Hugo suspirou, preocupado.

— O problema é que ela sempre se encrenca por isso. Nem todo mundo tem um lado bom. Tem pessoas que não tem amigos, porque não são legais. Fim de história.

— Credo, não precisa ser tão cruel!

Judy fez uma pose de reflexão.

— Ele não parecia tão ruim. Sabem, eu achei que ele estava bem confortável perto da Rose, talvez seja por isso que estava diferente do habitual. Não acharam? Tinha um ar mais leve — comentou ela, nem tão inocentemente.

Lily ficou pensando no que isso poderia significar. Hugo já estava quase com os cabelos em pé.

— Mas nem morto! Isso não, Judy Nyce!

— O quê? — Lily estava confusa.

— Pois eu aprovo — Louis se pronunciou. — Caso Rose decida namorar um Malfoy, eu a defenderei se a família se opuser. É tão trágico, que eu preciso apoiar... E, além do mais, vocês têm que admitir que aquela cara de mau dele tem seu charme.

— COMO É?! — berraram Hugo e Coline, arregalando seus olhos para o loiro.

— Verdade, ele até que é charmoso — disse Judy, se perdendo em um devaneio.

Louis deu uma risada maliciosa.

— Por que tanto alarde? Hugo, não seja tão ciumento. E, Coline, você ainda é a mais bela — ele fingiu fazer uma reverência para a francesa e beijou sua mão.

Coline não pareceu gostar da brincadeira e ficou ainda mais protetora que de costume, agarrando-se ao braço de Louis.

— Isso tudo é estúpido. Rose não tem nada desse tipo com o Malfoy e nem terá. E você é um idiota, Louis — disse Hugo, irritado.

Ninguém ali realmente parecia considerar a ideia, porém Lily não gostava de descartar hipóteses tão depressa. Se, por ventura, Rose se apaixonasse por Malfoy, seria algo que geraria grande repercussão. Na verdade, o simples fato de terem se tornado amigos deveria chegar aos ouvidos alheios em breve e ela estava certa de que não fariam vista grossa. Não que houvesse algo de mau naquela amizade, talvez Malfoy não fosse um cara ruim, mas a verdade é que a família do garoto tinha uma fama que a precedia. E do tipo negativa.

“Melhor não me preocupar com antecipação. Pode ser que nem se importem.” Considerava ela. Contudo, caso precisasse tomar partido, estaria ao lado da prima. Era tudo que sabia.

— Você está mais alto — disse Hugo repentinamente, olhando para Louis.

— Acha mesmo? — Louis se analisou, distraído.

Lily resolveu observar o primo com mais atenção.

— É, Hugo tem razão. Você cresceu desde o início do ano letivo e acho que foram uns bons centímetros — disse Lily.

— Você nem batia no meu ombro antes — Hugo sorria em deboche.

— Isso é porque você é anormalmente alto. Parece um poste — provocou Lily.

Louis refletiu um pouco.

— Pode ser que eu tenha chegado àquela idade. Minha mãe disse que, na família dela, costumam demorar a desabrochar.

— “Desabrochar”? — Hugo fez uma careta, reprovando o termo. — Ora, isso deve ser bom, não é? Quem sabe, você perde essa cara de menina.

Hugo começava a rir, mas Coline sacou a varinha e apontou em sua direção.

Trip Jinx!

Um segundo depois, Hugo estava caído no chão.

— Você o fez tropeçar? — Louis lançou um olhar de censura a Coline. A garota pareceu arrependida por seu feito, entretanto, Louis sorriu para ela em seguida. — Muito bem, Coline. Dez pontos para a Lufa-Lufa.

A morena sorriu, olhando de esguelha para Hugo, que se erguia.

— Você sonha em ter metade da “cara de menina” do Louis.

Hugo parecia enfurecido, prestes a retrucar, quando Lily o segurou pelo braço.

— Não, Hugo — a prima fez uma expressão de pesar, mas sua voz cheia de deboche a entregava. — Você sabe que ela tem razão.

Agora, quem se divertia era Judy, preenchendo o corredor com sua risada.

— Cara, por que eu ando com vocês? — questionou Hugo.

x-x-x-x

A sala comunal da Grifinória estava quente e aconchegante, especialmente agora que os dias ficavam mais frios. Havia dois alunos jogando xadrez perto da janela, outros fazendo lição na única mesa do local. Porém, a maioria estava ali para conversar, em pequenos grupos espalhados pela sala. Albus supôs que aquilo era bom, pois seria difícil ouvir o que ele dizia a Rose. Pedindo conselhos amorosos, que constrangedor. Ele sabia que era algo bobo e que deveria tentar resolver o problema sozinho, mas sentia que uma opinião feminina, mais especificamente a de Rose, poderia ajudar a tomar a melhor decisão.

Rose conseguiu lugares no sofá em frente à lareira e fez sinal para que Albus se juntasse a ela.

— Então... — iniciava Rose. — O que tinha para me contar?

— Lembra-se da Tracy?

— Tracy Shallow? Sua amiga?

— Exato. Bom, ela... Ela meio que se declarou para mim ontem.

Rose ergueu as sobrancelhas.

— É mesmo? — ela não soava muito surpresa.

“Talvez eu devesse pelo menos fingir que não sabia, mas estava bem óbvio desde o início que ela tinha uma queda pelo Al.” Refletia Rose.

— É. Na verdade, ela me beijou! E eu não estava esperando por isso, achei que éramos só amigos, então, hã... O que você acha que eu devo fazer? — Albus inquiriu.

Rose ficou momentaneamente sem palavras. Só agora sua ficha caía. Era a primeira vez que alguém lhe pedia aconselhamento romântico. Ela não sabia o que responder, nunca fizera isso antes. Lena, Olivia e Lauren obviamente nunca precisaram da sua ajuda nesses assuntos.

Todavia, esse sequer era o maior de seus problemas. A garota em questão era Tracy Shallow, a mesma garota que Rose ouvira conversando com os outros amigos de Albus de maneira suspeita no festival de verão.

“— Ele disse que nos convidaria para a casa dele um dia desses — dizia Ben. — Acham que ele se esqueceu?

— Não sei... Mas por que você quer tanto ir lá?

— Ah, sei lá. Quem sabe o pai dele esteja por perto?

— Oh, imagine só conhecer o incrível Harry Potter! — Tracy Shallow vibrou em expectativa.”

“Não tire conclusões precipitadas, não tire conclusões precipitadas...” Rose ficava repetindo mentalmente como se fosse um mantra. Ela não tinha escutado nada de mais, afinal, todos ficavam curiosos com o seu tio, podia ser injusto condená-los. “Eles gostam do Albus de verdade. Apenas... Ficaram deslumbrados por ele ter um pai tão conhecido.” Devia ser isso, tinha que ser.

— Você está me ouvindo, Rose? — Albus perguntou, inquieto.

A grifinória se endireitou no lugar.

— E por que procurou a mim? — Ela tentaria evadir do assunto principal enquanto pudesse.

— Bom, é que Tracy é amiga de todos os meus outros amigos. Se eu fosse perguntar o que eles acham, a opinião não seria tão imparcial, entende?

Ela assentiu, suando frio. “Meu ponto de vista também não é exatamente imaculado.”

— E aí? — Albus desejava algum pronunciamento por parte dela.

Rose respirou fundo.

Imparcialidade. Certo, ela podia fazer isso. Livrar-se de todo pensamento dúbio ou pré-julgamento.

— Que tal me dizer como você se sentiu quando ela te beijou?

— Basicamente, em choque — Albus disse. — Eu não fazia ideia de que ela gostava de mim! Se uma garota se declara para mim, normalmente, sei lidar com isso. Algumas das garotas que namorei foram assim, mas... Ela é minha amiga, o que torna tudo mais confuso.

— Podia acontecer. — Rose deu de ombros. — Mas, afinal, você acha que foi um episódio que deve ser esquecido ou sente algo mais por ela?

— Eu...

— Só diga se tiver certeza — avisou Rose.

Ela precisava estar certa de que Albus não se arrependeria de suas escolhas mais tarde. Principalmente, se ela pudesse ter evitado tal decepção.

Albus parecia em dúvida.

— Eu não posso te dar essa certeza. Eu gosto dela, mas não sei até que ponto um relacionamento entre nós poderia funcionar.

— Acho que — Rose, lá no fundo, não queria dizer aquelas palavras, porém precisava agir de forma neutra. Só assim seria justo com todos. — você poderia arriscar e, se vocês se derem bem, melhor para todo mundo... Não é?

— Mesmo?

“Por Merlin, Albus. Não me torture ainda mais.”

Rose, com muito esforço, conseguiu dar um meio sorriso.

— É, mesmo.

Albus sorriu, mais tranquilo.

— Dar uma chance não pode fazer mal... Nossa, sinto que tirei um peso das costas. Sim, farei isso que você disse. Obrigado — ele se inclinou para abraçá-la.

Nunca um abraço a fez se sentir tão cheia de culpa.

— Por... Nada? — Rose sinceramente esperava que tivesse feito algo digno de agradecimento.

Então, Albus se despediu, prometendo ir procurar Tracy — aparentemente, sua mais nova namorada.

“Eu devia ter dito algo... Mas o que eu poderia dizer?”

x-x-x-x

“Eu menti para um amigo. Não fui sincera.” Rose subia para o quarto, tendo resolvido se deitar pelo resto do tempo de almoço. Um cochilo pouco amenizaria o conflito interno em que ela se encontrava, mas ao menos a faria se esquecer dele. Isso se ela conseguisse pregar os olhos.

Ao abrir a porta, deu de cara com outra colega de quarto prestes a sair.

Olivia Creevey.

Elas se encararam por alguns instantes até Rose decidir cumprimentá-la.

— Oi, Olivia — Rose estava um pouco triste, mas ainda conseguia dar um sorriso gentil.

— Rose, olá. — A frágil garota Creevey também sorria para ela.

— Como tem passado?

— Estou bem, só vim buscar um caderno da Lena. — Olivia mostrava um caderno em seus braços. — E você?

Certamente, a confusão íntima de Rose não seria do interesse de Olivia. Para todos os efeitos, tudo continuava bem.

— Está tudo ótimo, mas estava um pouco cansada, por isso, vim me deitar um pouquinho.

— Entendo... Rose, será que posso lhe dizer uma coisa? Juro que não a prenderei por muito tempo. É que é a primeira vez que a vejo sozinha.

A ruiva ficou um pouco surpresa.

— Hã, claro, pode falar.

Olivia pareceu acanhar-se.

— Eu sei que não fui a melhor das amigas nesses últimos anos... E que... Às vezes, não consigo fazer ou dizer as coisas... Mas, por favor, não se sinta atingida pelas minhas ações, porque elas não significaram nada. Se não respondi suas cartas, ou se não estava lá quando você precisava, é porque eu não merecia isso.

— Olivia, o qu—...?

— Sei que as pessoas têm estranhado que você esteja tão amiga do seu primo, mas eu fico feliz que você tenha se entendido com ele, porque você merece muito mais de um amigo. Não posso oferecer o apoio que você necessita, Rose. Mas quero que tenha sucesso.

Rose balançava a cabeça.

— Eu não entendo...

— Você não merecia nada daquilo, e eu queria compensá-la de alguma maneira, mas... Mas já me conformei que não podemos ser amigas de novo. A Lena tem razão, eu teria que ser muito dissimulada para tentar mais uma vez. Fingir que não me lembro da frieza com que a tratei... Seria desumano.

Rose mirava a garota à sua frente, completamente estupefata. Era a primeira vez que via Olivia externar seus sentimentos. Suas palavras saíram tão sinceras, que ela precisaria ter um coração de pedra para não ficar comovida. E os olhos marejados de Olivia apenas salientavam isso. Rose recordava-se de que no início do ano havia jurado apenas retomar a amizade com as meninas se elas tivessem uma mudança de atitude. Entretanto, o que não havia pensado antes era que talvez não fosse tão simples assim.

Talvez não pudessem fazer isso. Talvez tivessem outros motivos que, na verdade, podiam ter resultado na ruína daquela amizade. Olivia claramente não lhe desejava mal, contudo, nunca conseguiu interceder em seu favor. Nem uma vez. Quem sabe não por indiferença ou descaso.

“Então, por que ela vive atrás da Lena? Por que nunca a abandona? Ah, esse não é o ponto aqui...” Ela se identificara com Olivia em um grau suficiente para ao menos compreendê-la em parte. Não sabia bem o que seria melhor dizer à garota, mas havia uma coisa que gostaria de ter ouvido havia alguns meses (talvez até anos) que poderia ter sido de ajuda na época.

— Eu não posso aceitar — Rose falou de repente e Olivia encolheu-se, parecendo ainda menor.

— M-Me desculpe, eu...

— Não, Olivia. Já chega. Não quero mais que fale assim. Você não é pior do que ninguém, está ouvindo? Sei que é difícil absorver isso, pode ser que você nunca acredite nisso totalmente, mas é a verdade e eu direi quantas vezes precisar: você também é relevante, Olivia. Não importa o quanto erre, você é tão digna quanto qualquer um.

Rose inspirou fundo, recuperando o fôlego.

— Mas não posso forçá-la a nada. Você vai entender com o tempo, ainda está presa a algo e precisa resolver isso antes. De qualquer forma, quando você achar que está pronta, nesse dia, me procure e vamos nós duas ao Três Vassouras tomar um chocolate quente e conversar sobre um monte de bobagens. O que acha?

Olivia começou a soluçar.

— E-Eu...

— Ei, Weasley — uma garota do quinto ano subia as escadas. Seu nome era Susie Jones, se estivesse correta, colega de dormitório de Lily. — Tem uma garotinha da Sonserina lá fora querendo falar com você. Ela é a sua cara, por acaso tem uma irmã mais nova?

Rose estranhou.

— Não tenho, não. Quem será que...?

“Ah, Lucy! Só pode ser. Mas será que ela está bem para estar me procurando?” Rose se lembrou então de Olivia, que estava para dizer algo quando foi interrompida.

— Eu já vou vê-la, obrigada — disse Rose para a quintanista. — É que estávamos no meio de algo.

— Não se incomode com isso, Rose — disse Olivia rapidamente, enxugando os olhos e recuando para dentro do quarto. — Além disso, eu me esqueci de pegar uma coisa aqui. Pode ir lá, desculpe por tomar o seu tempo.

— Olivia, precisamos terminar de...

— Obrigada pelo que me disse, mas eu preciso procurar aquela coisa agora. Depois, conversamos — e, com isso, Olivia fechou a porta.

Rose suspirou. Era muito improvável que continuassem aquela conversa com Lena sempre por perto. Uma futura melhoria ficaria por conta da própria Olivia, tudo que Rose podia esperar era que algo do que lhe dissera pudesse servir de apoio.

Desceu as escadas e foi até a passagem do quadro, que dava acesso ao corredor do sétimo andar. Ali fora, encostada contra a parede de pedra, estava Lucy Weasley, pequena em seus onze anos, de braços cruzados e a expressão aborrecida costumeira em seu rosto. Susie tinha razão. Lucy em muito lembrava Rose com a mesma idade. Não pelo jeito, nisso eram bem diferentes, mas em sua aparência. Os cabelos ruivos e um tanto indomesticados emoldurando a face. A mais baixa de sua sala na época. Olhando para a prima agora, Rose quase foi acometida por um ataque de nostalgia.

Quando a viu também, Lucy sobressaltou-se.

— Lucy. — Rose foi se aproximando. — Está com algum problema? O que aconteceu?

Lucy começou a encarar o chão.

— Não é nada disso. Eu vim... Vim, porque... Ontem, na aula de voo...

Claro, a aula de voo. Lucy se zangara com Rose por não tê-la convidado para seu aniversário e, no ápice da raiva, havia pisado em seu pé com certa força.

“Meus dedos ficaram formigando até de noite” Rose se lembrava, mas não havia ficado brava com a prima por isso. Ela também havia errado.

— Eu queria pedir... — Lucy parecia se esforçar para dizer aquelas palavras. — Des... Des...

Rose sorriu, tentando encorajá-la.

— Queria pedir des... — Lucy decidiu para olhar Rose e seu constrangimento apenas triplicou. Não dava. Com Rose sorrindo daquela forma, era impossível. — Eu não vim pedir nada para você, ouviu?

Rose piscou os olhos.

— Hã?

— Isso mesmo, você é muito convencida se pensa que eu viria até aqui para te pedir desculpas! E eu ainda não te perdoei por ter se esquecido de me convidar para sua festa! Não fale mais comigo! — a primeiranista saiu batendo o pé.

— Lucy, volte aqui! — Rose gritou, mas de nada adiantou.

“Maravilha. Como fazer as pazes com essa minha prima? Ela é tão difícil, mas também é tão fofa. Digo, ela como uma versão minha mais temperamental e em miniatura.” E Rose fez um lembrete mental para perguntar a Molly em sua próxima carta se era humanamente possível conseguir o perdão de sua irmã caçula.

x-x-x-x

Os resultados da prova teórica de Herbologia acabavam de ser entregues. Louis olhou para a nota nada satisfatória em suas mãos e, até mesmo para ele que nunca se abalava, aquilo era decepcionante. Ele não sabia bem ainda o que faria após terminar seus estudos, porém uma das condições de seus pais para transferi-lo fora de que deveria passar em todas as disciplinas. Não podia dizer que estava cumprindo o trato.

O sinal tocou. Todos já saíam da sala, até chamaram Louis, mas ele os ignorou. Finalmente, ele decidiu que não adiantaria em nada ficar ali sentado se lamentando, por isso, foi se levantando.

— Isso não é nada bom — alguém disse atrás dele. Era Professor Longbottom.

Louis pensou em esconder a prova na bolsa, mas a essa altura seria inútil. Bufou, descontente.

— É, eu estou sabendo. Eu queria ir melhor, mas não estou dando conta.

— Não sei o que estavam tendo ano passado em Beauxbatons, mas precisa correr atrás da matéria que perdeu. Se eu pudesse, ofereceria aulas extras, mas este mês estou com a agenda meio apertada.

— Não tem importância. É só uma nota vermelha.

— É a segunda desde o começo do ano, Sr. Weasley.

Louis jogou sua bolsa na mesa com força. Ele já sabia disso, já tentara se virar por conta própria, mas não havia funcionado. O que mais desejavam dele?

— Não quero pedir ajuda a Hugo, ele zombaria de mim. Lily não é muito boa em guardar segredos, ela acabaria espalhando que eu estou indo mal e meus pais não podem ficar sabendo. Coline, infelizmente, está se saindo tão bem quanto eu, mas para ela não tem problema já que não precisará desse N.O.M.

— Você não tem seus primos mais velhos?

— Albus e Rose? Suponho que não seria tão ruim pedir a eles, sei que seriam legais comigo, mas não quero incomodá-los. Albus é muito ocupado sendo capitão do time e monitor. E Rose parece chateada ultimamente, não quero ser mais um problema para ela. O senhor entende, professor? Estou sem saída!

Neville Longbottom sorriu, tentando acalmá-lo.

— Não é o fim do mundo, Sr. Weasley. Há outros alunos na escola que poderiam ajudá-lo. Digo, não sei se conhece meu filho Luke, mas ele é muito bom em Herbologia. Como acaba de entrar no sexto ano, a matéria do ano anterior ainda deve estar fresca para ele. Se quiser, posso conversar com ele mais tarde e...

Louis começou a rir, deixando o professor confuso.

— Ah não, não é aquele garoto que explodiu um vaso outro dia?

— Er, acidentes acontecem — e não foi uma explosão, nem um vaso —, mas garanto que Luke sabe bem a matéria. Um dos meus maiores orgulhos é ter um filho com tanta aptidão para Herbologia. Ele disse que vai ser auror, mas poderia ocupar meu lugar aqui facilmente no futuro se assim desejasse.

Louis ergueu os ombros, pouco disposto a levar o assunto à frente.

— Tudo bem, pode ser. Mas deixe que eu mesmo peça esse favor a ele, afinal, é o mínimo que posso fazer se ainda me resta algum orgulho.

Professor Longbottom chegou à conclusão de que talvez Louis só não quisesse ter que pedir algo a um conhecido. Para algumas pessoas, a honra era seriamente manchada quando recorriam ao auxílio de outros. O porquê disse era um mistério.

x-x-x-x

“Querida prima,

Estou indo para a África no mês que vem. As pesquisas na Noruega estão progredindo, porém, algumas evidências interessantes surgiram no Cairo e quero estar lá caso algo muito valioso seja encontrado. Não perderia um marco histórico desses por nada!

Além disso, entendo sua preocupação com minha irmãzinha Lucy, mas não se estresse com isso, pois ela é assim meio cabeça-dura. Temo que a iniciativa deva partir de você, uma vez que ela nunca foi muito boa em fazer as pazes quando briga. Ela é uma boa menina, mas é muito teimosa também. Se for uma dica para amolecer o coraçãozinho dela que deseja, eu lhe dou: biscoitos amanteigados! São seus preferidos. Mas agora, sendo sincera, apenas fale com Lucy com jeito e ela irá te desculpar.

Me conte como foi depois, ok?

Afetuosamente,

Molly Weasley.”

Rose dobrou a carta que recebera aquela manhã ao meio. As dicas de Molly deviam ajudar e ela as colocaria em prática assim que visse a oportunidade perfeita. Lucy não poderia ficar zangada com ela para sempre. Ou poderia?

— Rose!

Um arrepio percorreu a espinha dorsal de Rose. Era a voz de Albus. Seria possível encará-lo após o desastroso aconselhamento amoroso de alguns dias atrás? Ela se virou de qualquer maneira, sorrindo. Seu sorriso quase sumiu quando notou que Albus estava acompanhado.

— Oi, Albus... E Tracy.

O corredor estava meio abafado de repente.

— Olá, Weasley! Dia radiante, não acha? — Tracy disse e Rose olhou pela janela. Estava nublado. — Sabe, estava comentando com Albus o quanto ele tem sorte de ter uma prima tão gente fina. E, nossa! Você perdeu peso? Está ótima, sabia?

Rose estava tão encapotada de casacos e vestes, que seriamente duvidava ser possível fazer tal constatação. Talvez Tracy só quisesse ser gentil.

— Aliás... Albus, posso dar uma palavrinha com sua prima? Você ficaria incomodado? — Tracy batia seus longos cílios para o grifinório.

— Claro que não, fiquem à vontade! — Albus parecia animado com a perspectiva daquelas duas tornando-se amigas. — Eu vou dar uma volta por aí, então. Vejo-as mais tarde.

Albus beijou o rosto de Tracy e foi embora. Rose sentia o gosto do café da manhã voltar à boca. Olhou para a corvinal, receosa.

— E o que tem a tratar comigo, Shallow? — Rose tentava manter o tom cortês.

— Bom, eu só queria me desculpar se andei a tratando de uma forma indelicada. Sabe o que é, eu tinha um certo medo antes que não me deixava gostar de você, mas isso mudou. Por isso, quero que fiquemos em bons termos agora que somos quase parentes.

— Como?

— Ah, Weasley! Não sabe como fiquei aliviada quando o Al me pediu uma chance, parecia até que eu ia sair voando! Ele é tão discreto nesses assuntos, namorou poucas garotas da escola. Achei que eu nem tivesse chances... Mas então, ele me contou que você o ajudou nessa decisão. Obrigada, prima! — Tracy envolveu Rose num abraço repentino.

— Prima?!

Tracy soltou Rose, mas ainda estava eufórica.

— Enfim, Weasley, que bom que estamos numa boa. Pode sempre contar comigo, você é a melhor! Até depois!

E, com isso, Tracy Shallow partiu. Rose estava quase tendo um ataque.

“As coisas estão rápidas demais! Quando eu menos esperar, ela estará assinando seu nome como Tracy Potter e os dois vão viver numa casa de cerca branca, com três cachorros e uma vida supostamente feliz, mas baseada em mentiras. E eu sou a culpada!”

— Por que você está aí no chão?

Rose ergueu os olhos para encontrar Hugo e alguns amigos a olhando com estranheza. Só então percebeu que estava no meio do corredor, sentada e abraçando os joelhos. Uma cena no mínimo peculiar.

— Hã, bom, não é nada — ela ficou de pé com rapidez, desamassando a roupa. — Só digo uma coisa — apontou o dedo indicador para o meio do rosto do irmão. – Nunca, nunca me peça conselhos românticos, está bem? Nunca!

Rose desapareceu de vista e Hugo suspirou.

— Por que a minha família é tão anormal? Apenas... Por quê?

x-x-x-x

— Você sabe onde Luke Longbottom costuma ir? Preciso perguntar uma coisa a ele — dizia Louis a Albus, quando o encontrou no primeiro andar.

Albus não conhecia os hábitos de Luke, mas lembrou-se de tê-lo visto com Lauren Finnigan nas redondezas dos jardins quando ficava lá com seus amigos algumas vezes. Talvez estivesse ali. Tendo aquele período livre e tendo acabado de se despedir de Rose e Tracy, Albus decidiu acompanhar o primo. Fazia tempo que não conversava com o garoto francês de qualquer maneira.

— E o que você quer falar com o Luke? — questionou Albus, enquanto caminhavam.

— Er, nada de mais. Só uma coisa boba.

Louis não esperava que alguém além de Luke tivesse que ouvir seu pedido de ajuda. Agora, com Albus em seu encalço, teria que arrumar uma maneira de fazer aquilo de forma discreta. E discrição era algo quase impraticável para Louis.

— Você disse que já o viu lá com aquela garota de óculos... Qual era o nome dela mesmo? – esqueceu-se Louis.

— Lauren Finnigan — o nome deixou um gosto amargo na boca de Albus. — Se ela estiver lá com ele, nem se incomode em tentar puxar conversa. Ela vai ignorar você.

Louis nunca ouviu Albus falando assim de alguém, normalmente só tinha coisas boas a dizer sobre tudo e todos. A tal garota devia ser realmente intragável.

— Na verdade, dizem ser impossível encará-la por mais de quinze segundos — acrescentou o mais velho.

— Até parece.

— É só um rumor sem importância. — Albus deu os ombros. — Mas, se duvida, apenas tente.

De repente, um grupo de garotas apareceu no caminho dos dois. Deviam ser do quarto ano, Louis supôs, pois nunca as vira na vida, mas não pareciam muito mais novas que ele.

— Ah, meu Deus! Sabíamos que eram parentes, mas não que eram amigos íntimos. Vê-los caminhando lado a lado despreocupadamente... Será uma visão? É bom demais para ser verdade! — disse uma das meninas teatralmente.

— Sim, Felicia, com certeza! Grace, você está com a sua câmera aí?

— Eu quase a deixei no dormitório essa manhã, mas ainda bem que fiquei com ela para ir ao clube de fotografia! Que sorte a nossa, não é, Monica? — A tal Grace tirava da mochila uma câmera fotográfica.

— Garotos, se importam se tirarmos uma foto de recordação? Será para as gerações futuras saberem que estudamos ao lado de duas pessoas tão grandiosas e incríveis!

Albus semicerrou os olhos para as meninas.

— Do que estão falando?

— Só siga a maré, Al — falava Louis, completamente calmo. — E sorria.

— Como é?

Click. Grace acabara de bater uma foto dos outros quatro. Albus estava certo de que sua expressão de total confusão estaria gravada naquela fotografia para as tais futuras gerações contemplarem.

— Obrigada, obrigada! – Felicia quase tinha lágrimas nos olhos.

— Meu Deus, as outras vão morrer de inveja – dizia Monica e as três sumiram de vista.

Albus estava atordoado demais para sequer piscar.

— O que... O que acabou de rolar aqui? — ele indagou, incerto.

— Foram só admiradoras. Beirando a tietagem, verdade, mas nada fora do comum. Já pediram fotografia comigo umas três ou quatro vezes enquanto estava em Beauxbatons. Isso nunca tinha acontecido com você antes? Afinal, era o cara mais popular da escola antes de eu chegar. Agora, estamos empatados.

— É claro que isso nunca tinha acontecido — Albus estava inconformado. Não era óbvio?

— Bom, normalmente, são mais discretas e ficam apenas observando a distância. Talvez a emoção de terem nos visto ao mesmo tempo tenha superado a razão. Mas será que podemos condená-las? Formamos uma dupla rara. É difícil se conter.

Albus não se recordava de ter concordado em participar de um esquema tão singular, ainda que, agora que o primo mencionara, já havia notado que alunos com quem nunca falara comportavam-se de maneira estranha perto dele. Nunca os levou realmente a sério, mas era no mínimo curioso.

E o que Louis queria dizer com “dupla rara”? Louis era dotado de dons veela, que eram extremamente incomuns e o faziam mais belo que o normal. Mas e Albus? O que tinha de especial?

— Ah, ali estão eles! — Louis apontou quando deram os primeiros passos sobre a grama. — Você estava certo, então.

Ainda um pouco zonzo, Albus localizou o casal a alguns metros, num banco de mármore. Luke falava sobre alguma coisa, enquanto Lauren o escutava (ou será que não o ouvia?), com aquela expressão apática que parecia afixada ao seu rosto.

Louis foi correndo até o par e Albus, agora que chegara até ali, se sentiu na obrigação de segui-lo. Porém, teria dispensado olhar para o semblante indiferente de Lauren se pudesse. Começava a lembrar por que sentia aquela antipatia pela grifinória.

Como podia ter se referido a sua prima Rose com tanta frieza? Ela era repulsiva.

— Olá, casal apaixonado! Será que estou interrompendo alguma jura de amor eterno? — Louis era tão sutil quanto um trasgo, pensou Albus.

— N-Não! — Luke negou. — Só estávamos conversando. Ah, oi, Albus!

— Como vai, Luke? — Albus fez um aceno com a cabeça para o batedor de seu time. Luke era tímido, mas sabia rebater um balaço como ninguém.

— O que você quer com o Luke? — perguntou Lauren, olhando para Louis.

“Como é que ela sabe?!” Louis ficou um pouco assustado. Mas agora tinha que dizer o motivo de sua vinda, apesar de Albus estar bem ao lado também. Inspirou fundo. “Tudo bem, ele não vai comentar que estou indo mal e essa daí não fala com mais ninguém, pelo jeito.”

— Bem, eu queria saber se você não poderia me dar uma ajuda com Herbologia um dia desses. Não que eu esteja desesperado, ou qualquer coisa, mas queria aumentar minha nota e o professor falou para procurá-lo.

Luke pareceu surpreso com o pedido, mas assentiu.

— Claro, com certeza. Podemos estudar juntos.

Louis suspirou, aliviado.

— Ótimo.

“Pedir ajuda é tão difícil.”

Albus não esperava que Louis tivesse vindo para pedir a Luke que fosse seu tutor. Não era do feitio do primo recorrer aos outros mesmo que precisasse. Ele mesmo teria se oferecido se soubesse que Louis estava com dificuldades. “Mas ele tinha que ser tão orgulhoso...”

A presença de Lauren impedia que seus pensamentos se focassem em qualquer outra coisa por muito tempo. Como alguém podia ser tão fria? Como alguém poderia agir normalmente depois de ter dito coisas tão terríveis? Ela não sentia vergonha de ficar frente a frente com Albus depois daquele dia? Pois devia. Qualquer um sentiria. Contudo, Lauren não era uma garota qualquer. Ninguém normal jogaria fora uma amizade com tanta displicência.

— Está com dor de estômago, Potter? — inquiriu Lauren, apesar de soar desinteressada.

— O quê? — Ele piscou, lembrando-se de onde estava.

— Essa sua expressão, parece que está com dor. Podia ser de estômago.

Louis e Luke começaram a olhá-lo também.

— Ela está certa, você está com uma cara péssima — falou Louis.

— Talvez devesse falar com a Srta. Price — sugeriu Luke, preocupado.

Maldita Lauren. Agora, fizera com que ele parecesse um idiota. Ele balançou a cabeça em negativa.

— Não, eu estou bem — ele havia corado um pouco, constrangido. — Acho que... Tenho quer ir.

— Ah, eu vou com você — declarou Louis. — Mas antes... Finnigan!

Louis se ajoelhou à frente de Lauren.

— Olhe bem nos meus olhos, se tiver coragem! — desafiou, seu entusiasmo um tanto aterrador.

— O-O quê? — Luke olhava a cena espantado.

Albus beliscou o dorso do nariz. “Eu não acredito que ele levou a sério aquele boato estúpido.”

Louis começou a fitar Lauren, tão determinado que nada poderia impedi-lo. Até, é claro, virar o rosto, parecendo em absoluto pânico.

— É impossível! Eu senti a vida sendo drenada do meu corpo — Louis agarrava a manga das vestes de Albus.

— Isso foi grosseria, Louis — Albus o repreendeu, apesar de não achar que Lauren merecia um pedido de desculpa.

— Eu preciso achar Coline, ou alguém... Está tão frio...

— Mas que droga você está falando?!

Lauren e Luke observavam os primos irem embora, até ela se voltar para o garoto.

— O que foi isso?

Luke engoliu em seco. Ele também conhecia os boatos sobre os quinze segundos.

— Acho que a dor de estômago é contagiosa... — ele deu um riso nervoso. — O que eu estava dizendo antes? Ah sim! Então, já que o jogo contra a Sonserina é só em dia 11 do mês que vem e vencemos contra a Corvinal da última vez...

Lauren não insistiu, apesar de não ter se convencido. Todos naquela escola pareciam lunáticos de vez em quando.

x-x-x-x

— Tem certeza de que está bem? — Eric perguntava a Rose.

Ela fez que sim.

— De verdade, não se preocupe.

A grifinória estava apenas caminhando por aí, sentindo-se responsável por um acontecimento infeliz que nem havia ocorrido ainda, quando aquele rapaz veio ao seu encontro, preocupando-se com seu bem estar. Havia falado tão pouco com Eric Hewitt até então, mas sua demonstração de preocupação a tocou.

— Se quiser falar sobre o que houve, eu sou todo ouvidos — ofereceu-se Eric.

— É um pouco complicado de explicar. Mas, em resumo, eu não falei algo que estava pensando e que poderia ter mudado o curso de algumas coisas. Tenho medo que meu silêncio resulte numa catástrofe, entende?

Eric assentiu, assimilando o que ouvira.

— Bom, você deve ter tido um motivo para não ter dito, não é?

— Sim, mas...

— Às vezes, não omitimos as coisas por mal, apenas achamos melhor poupar as pessoas de algum fato que poderia ofendê-las ou magoá-las. Além disso, o seu próprio pensamento podia ser precipitado. E se tivesse dito algo que não era totalmente verdade? E se você também se enganou? Não devia se sentir mal por uma coisa tão relativa assim. Nenhuma parte é inocente ou culpada.

Rose refletiu por alguns instantes. De alguma maneira, Eric conseguia apresentar as coisas de uma forma que justificava sua ação.

— Então, está me dizendo que... Nem sempre a honestidade é o que importa?

— Não se preocupe, Weasley. Isso não se aplica a qualquer coisa. Se puder, diga a verdade. Se ficar em dúvida, reflita primeiro. É só o que eu quero dizer. Apenas tente não ficar chateada.

Rose sentia as bochechas esquentarem.

— E por que isso? Quero dizer, isso tudo é um pouco repentino — admitiu Rose, encarando o chão.

— O quê exatamente? — ele questionou.

— Por favor, não estou duvidando das suas intenções, não entenda mal, er, eu só...

Eric riu ligeiramente.

— Foi mal, a culpa é minha. Sempre dizem que eu sou um pouco sem noção. É que desde aquele dia em que você quase caiu das escadas, começou a me chamar a atenção. Achei que você pudesse ser interessante e que talvez conseguíssemos encontrar algo para conversar.

“Ele acha que eu sou interessante?” Rose ficou devidamente surpresa.

— Você é realmente sem noção... — falou ela. Então se deu conta do que havia dito. — Quer dizer, não, eu...!

Ele riu de novo, dessa vez por mais tempo.

— Viu só? Eu sabia. Você é divertida, Rose Weasley.

— Não de propósito — a ruiva comentou. — Mas acho que podemos conversar às vezes, se você tiver vontade. Por mim, tudo bem.

— Combinado — Eric começava a se afastar, indo em direção a uma sala onde outros alunos entravam. — Vê se melhora.

Rose deu um pequeno sorriso e acenou um adeus, vendo o garoto desaparecer sala adentro. Ainda não estava animada, mas estava um pouco contente que seu desânimo tivesse feito Eric falar com ela. Será que poderiam ser amigos? E o que Scorpius sabia sobre ele? Não custava perguntar.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, o tamanho do capítulo engana. A pessoa vê 6,000 palavras e pensa: "Wow, esse vai ser dos bons". E quando (apesar de ser um tópico sujeito a debate) o capítulo mostra pouco avanço na história... É um tanto frustrante! Mas precisei fazer isso. Para falar a verdade, eram dois capítulos separados. No fim, ficou só um e, por mais que eu tentasse, isso foi o máximo que pude resumi-lo. Foquei um pouco mais nos personagens secundários como devem ter percebido, mas não se preocupem que o enredo principal não foi deixado de lado.

Não sei muito o que dizer sobre o próximo capítulo, apenas que será Halloween (para quem leu Hesitate to Fall, não, não será nada parecido com aquele Halloween hahah). /start of spoilers/ Acho mais do que justo haver uma interação entre o Scorpius e o Albus, já que faz séculos que eles não conversam decentemente, além de ter também a Lucy sendo uma criança adorável e Luke provavelmente decidindo nunca seguir a carreira educacional. /end of spoilers/

Estou me preparando psicologicamente para a Copa, mais para o caos que enfrentarei na rua do que para os jogos em si. Mas estou confiante de que vou sobreviver para postar novos capítulos nesses meses de férias! Yay! Estou especialmente animada com o capítulo 15 (antes conhecido como 16). Nossa, unir o 13 e o 14 embaralhou minha cabeça.

Ok, já estou viajando aqui. Bom início de férias, gente! Nos veremos em algumas semanas ;)

Beijooos!