The Bright Side escrita por Anna C


Capítulo 12
Coisas Aleatórias


Notas iniciais do capítulo

Ihul, a fic completou um aninho, que coisa linda! Parabéns a TBS, yaaaay :D Gostaria de dedicar o capítulo a Caramelkitty, pela recomendação adorável da fanfic! Agradeço de coração *-* Bom, não tenho muito que comentar, por isso, vamos logo ao que interessa. Bom chá com biscoitos!



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A Goles parecia um pouco mais leve hoje. Seus movimentos estavam mais fluidos também. Scorpius imaginava se não havia algo de estranho acontecendo, se talvez algum feitiço tivesse ricocheteado e lhe atingido por acidente. Afinal, aquela sensação era completamente incomum.

— Passa pra cá, Malfoy! – uma companheira de equipe gritou.

Scorpius fez como lhe foi pedido após alguns segundos de hesitação, pois ainda era difícil adquirir o hábito de compartilhar. Ele estava aprendendo, uma hora dominaria a arte do jogo em equipe, estava certo disso. Ou, ao menos, estranhamente otimista.

Scorpius voava pelo campo, fazendo suas jogadas e suas reclamações costumeiras – sim, ele já era facilmente reconhecido como aquele que mais atormentava o time com críticas, mesmo sendo apenas seu terceiro treino oficial –, e, ainda assim, havia algo anormal acontecendo dentro dele. Não era ruim, nem bom. Mas incomodava não poder simplesmente “desligar” tal sensação quando bem entendesse.

Quando o treino chegou ao fim e todos haviam pousado suas vassouras, Scorpius viu a capitã Francesca lhe mandando um sinal positivo com o polegar enquanto sorria. Não estando exatamente preparado para aquilo, ele a encarou por alguns segundos e foi para o vestiário.

— Ah, então era apenas um elogio inocente – dizia Scorpius, irônico.

— É claro que sim, por qual outra razão alguém faria um elogio?”

O sonserino se lembrava das palavras que Rose dissera já há várias semanas. Ainda que as pessoas pudessem ser legais por razões de fato altruístas, não significava que ele de repente viesse a gostar de receber elogios. Era desconcertante. O que devia fazer quando acontecia? Agradecer ou sorrir definitivamente não eram opções. Quer dizer, no dia em que Scorpius Malfoy fizesse alguma das duas coisas, achariam que fosse apenas de forma sarcástica, ou, mais provavelmente, o fim dos tempos.

Se elogios já o perturbavam de modo considerável, imagine então a recente descoberta de que ele agora tinha uma... Amiga. Por mais absurda que a afirmação soasse, era real. Como poderia não ser a essa altura? Nem mesmo Scorpius, o mesmo garoto que sempre declarou que amizades eram estorvos e que jamais se comprometeria a tal ponto com alguém, poderia negar que Rose Weasley o alcançara. Ele nem sabia como ela havia feito tal façanha. E a ruiva precisara de somente três meses – ninguém conseguira em todos os seus dezessete anos de vida, logo, isso era significante. Porém, de forma amarga.

Um certo sentimento de hipocrisia o assolava. Nunca havia retirado algo que declarara, não de maneira tão pública. Era quase vergonhoso. Após tanto tempo pregando contra algo, essa coisa devia lhe ser proibida. Contudo, ali estava ele, há pouco menos de uma semana, sentado à mesma mesa que Rose e seus convidados, comemorando o aniversário da garota. Ele não participara muito da ocasião em si, passara boa parte do tempo calado, contando os minutos para sair novamente. Mas isso de nada importava, uma vez que sua simples presença, o fato de estar entre aquelas pessoas e, mais especificamente, por causa de uma delas, representava sua derrota.

Naquele momento, Scorpius se tornara o maior hipócrita de, bom, no mínimo, Hogwarts.

Quase riu, enquanto saía do chuveiro, imaginando o início de uma carta extremamente patética que mandaria para sua mãe.

“Querida mamãe,

Adivinhe? Fiz minha primeira amizade na escola! A senhora não fica feliz e orgulhosa em ouvir isso?”

Conhecendo Astoria Malfoy como conhecia, era bem capaz que esta exigisse uma segunda carta com todas as informações sobre a pessoa em questão, perguntando também como aquele milagre, ou melhor, evento muito oportuno acontecera e se não era apenas uma piada de 1º de Abril adiantada. Ela sabia melhor que ninguém que o filho não era de fazer brincadeiras espontâneas, porém que sarcasmo era uma língua em que ele possuía fluência, portanto era sempre válido confirmar. Em todo caso, no fim, Scorpius não tinha dúvidas de que ela aprovaria e ainda o encorajaria – como fazia com basicamente tudo que ele demonstrava algum entusiasmo ou interesse.

Já Draco, seu pai, normalmente agiria da mesma maneira, porém o fato de sua amiga ser uma Weasley poderia causar uma reação diferente. Scorpius não estava certo, mas aquele sobrenome não devia passar despercebido.

Não. Nunca haveria uma carta com tal novidade. Ele não era tolo o suficiente para se expor ao fogo tão displicentemente. Amigos ou não, o que Scorpius e Rose tinham era novo e frágil demais para que assumisse aquela responsabilidade. Até onde sabia, poderiam voltar a ser estranhos dentro de alguns dias. Quem poderia dizer o futuro?

Tentou afastar aqueles pensamentos de sua mente, mais uma vez vestido e caminhando de volta ao castelo.

x-x-x-x

Scorpius não era o único se sentindo diferente. Rose sentia uma incomum euforia digna de Lily Luna Potter, algo que a tornava uma candidata ainda mais provável a acidentes. Era mais difícil se concentrar em meros detalhes como alunos passando ou até mesmo grandes colunas de pedra de 5 metros à sua frente, mas felizmente, ela tinha sido capaz de desviar de tudo e todos bem no último instante. Até o momento.

A vida estava sendo muito boa para ela. O auge fora seu aniversário. Todas aquelas pessoas reunidas por sua causa, rindo e se divertindo... Era a lembrança mais feliz dos últimos anos que tinha. A melhor parte era que, não importava o que acontecesse dali em diante, ninguém poderia tomar de suas memórias o calor aconchegante daquele momento. Rose sempre se recordaria com ternura daquele dia.

Arrancada de suas alegres divagações, Rose percebeu o segundo em que pisou de mau jeito e seu corpo se projetou para frente. Ainda pior que um simples tropeço, ela estava nos primeiros degraus de uma longa escadaria. A queda iminente era, na visão de qualquer um, um passe certo para a enfermaria.

Rose sequer teve tempo de entrar em pânico. Um par de braços a segurou por trás em tempo, ela agora mirava o restante das escadas de um ângulo estranho e torto. Espantada demais para simplesmente se endireitar, ela agarrou os braços de seu salvador com um desespero um tanto óbvio. Foi puxada de volta ao topo da escada e encostada contra uma parede. Só então soltou um suspiro de alívio.

— Obrigada – Rose só conseguia olhar para o chão, talvez grata em demasia por estar numa superfície mais segura.

— Teria sido uma queda feia, não é? – uma voz grave, mas doce lhe dizia. Era uma voz que não reconhecia só por escutar, por isso, ficou curiosa para saber quem era seu dono.

Rose ergueu a cabeça e, logo em seguida, sentiu o rosto queimar.

— É-É, teria s-sim – gaguejou ela. Por sorte, tinha a desculpa de quase ter quebrado o pescoço para aquela gagueira.

Ela o conhecia sim, porém só de vista. Bom, um pouco mais que isso. Eram do mesmo ano, mas deviam ter tido meia dúzia de aulas juntos naqueles anos todos. Rose sabia que seu nome era Eric Hewitt. E isso era tudo.

Eric não era conhecido por se sobressair nas aulas, tampouco tinha algum título de destaque. Porém, Rose tinha que admitir, o garoto possuía os olhos do mais incrível tom de verde que já vira.

Eric deu um sorriso. Um sorriso que era familiar. “Que estranho isso”, pensou Rose.

— Você está bem?

Rose assentiu prontamente. Eric olhou para seu pé esquerdo.

— Eu vi quando você torceu. Acho melhor dar uma olhada.

— N-Não! Tudo bem, não está nem doendo – Rose começou a andar, mas seu tornozelo a traiu, dando uma fisgada intensa de dor que a forçou a se apoiar na parede.

Ele deu uma leve risada.

— Não parece muito bom. Vamos, eu te ajudo a chegar a Ala Hospitalar – Eric passou o braço de Rose ao redor de seu pescoço, precisando se curvar para ficarem no mesmo nível.

Rose apenas rezava para que seu rosto não estivesse tão corado quanto imaginava. Felizmente, a enfermaria era naquele andar.

— Então – Eric falava. –, Weasley, certo?

— Isso – ela fitava o chão. – Rose Weasley.

— Meu nome é Eric Hewitt.

— Eu sei – Rose disse, e em seguida o olhou de maneira arregalada, profundamente arrependida. – Qu-Quer dizer, sei, pois nós somos do mesmo ano.

Ele lhe sorriu mais uma vez.

— É verdade. Mas nunca nos falamos.

Rose apenas tentou devolver o sorriso como pôde. Ele prosseguiu:

— Mas quais as chances, hein? Casas e horários diferentes...

— Um castelo gigantesco... – ela adicionou, incerta.

Eric riu.

— Você é amiga da McLaggen, não é?

Rose franziu o cenho, reflexiva. Lena e ela não estavam exatamente se falando desde o início do ano letivo.

— Bom, nós...

Rose foi interrompida pelo som de uma explosão a alguns metros dos dois. Era Pirraça, o poltergeist, que havia feito de alguns segundanistas suas vítimas do dia jogando sobre eles uma bomba de bosta. O cheiro repulsivo rapidamente se espalhou e Rose começou a tossir.

— Se importa se apressarmos o passo? – Eric pediu. – Eu sei que está doendo, mas...

— Tudo bem, acho melhor – ela concordou, ambos desesperados para sair daquele ambiente empesteado.

Chegaram ao destino antes do previsto. Srta. Price, a enfermeira responsável, que não devia ter nem trinta anos de idade, foi até a porta atendê-los.

— O que aconteceu? Os dois estão muito pálidos – ela disse, preocupada.

— Não se incomode com isso. Foi apenas um contratempo no caminho, logo passa – Eric assegurou, e Srta. Price pareceu de alguma forma convencida.

— Muito bem, então qual é o problema?

— Meu tornozelo, Srta. Price – falou Rose.

A enfermeira ajudou a conduzi-la até uma das camas para que se sentasse. Quando ia começar a examinar, se voltou para Eric.

— Obrigada por trazê-la, Sr. Hewitt. Isso é tudo por enquanto – ela lhe deu um sorriso educado.

Eric acenou com a cabeça positivamente. Olhou para Rose, logo depois.

— Tome cuidado com essas escadas.

Rose riu, um pouco sem graça.

— Vou tentar.

Ele lhe lançou um último sorriso e deixou a Ala Hospitalar. Rose sentiu as orelhas fervendo.

x-x-x-x

Coline Chevalier deixava a sala da detenção, onde passara as últimas duas horas ajudando a Professora Wells de Estudo dos Trouxas com algumas tarefas. Não era muito trabalhoso, mas ficar ali trancada com certeza era inquietante. Quando finalmente saiu e achou que teria um pouco de paz para procurar Louis, foi impedida.

— Chevalier – alguém a chamou num tom severo.

Ela se virou, um tanto desconfiada. Suspirou sem ânimo ao ver que se tratava de Noah Knight, monitor-chefe e também membro da Lufa-Lufa. Ele não parecia muito contente.

C’est moi. O que você quer?

— Muita coragem sua falar assim, após ter perdido mais vinte pontos da nossa casa – Noah cruzava os braços. Era possível detectar seu sotaque norte-americano. – Essa já é a terceira vez desde que chegou que tenta invadir a torre da Grifinória! Você tem noção de como isso é sério?

Ela revirou os olhos.

— De que outra maneira eu poderia falar com o Louis? Ele passa muito tempo lá!

— Bom, você poderia pedir para alguém entrar e chamá-lo, ao invés de ameaçar alunos do primeiro ano para que te digam a senha.

— Não quero que Louis pense que estou desesperada... – Coline fez uma careta de desdém.

Noah beslicou o dorso do nariz. A morena estava testando sua paciência.

— Bom, Chevalier, esse é meu último aviso. Não quero saber de ameaças aos menores ou de invasão a outras casas. Estamos entendidos?

Je m’en fou — “Não me importo” ela deu de ombros, fazendo pouco caso.

Noah deu um passo à frente, visivelmente irritado e tentando se conter.

— Repita isso, Chevalier. Desta vez, na minha língua – desafiou ele, certo de que a garota o tinha respondido de maneira rude em francês.

Coline sentiu-se um pouco intimidada pelo tom do rapaz. Apesar de ser algo muito pouco frequente, ela sabia que só se sentira acuada porque estava, de uma forma ou de outra, errada.

— Eu entendi a mensagem. Vou parar com isso – ela disse, sem encará-lo.

Noah se arrependeu do tom que usara, descruzando os braços. Ele entendia os motivos da quintanista.

— Olhe, eu sei que não é coisa fácil ser novata, mas tem pessoas muito legais na Lufa-Lufa também. Podem não ser amigos de longa data, mas valem a pena. Devia dar uma chance.

Por mais nobres que fossem as intenções de Noah com tal sugestão, Coline sequer consideraria. Isso seria o mesmo que dar as costas a Louis, algo impensável. Quando eram menores, ele fora o único que foi falar com ela, que quis conhecê-la. Ou seja, era o único que merecia sua amizade e devoção. O restante das pessoas eram maldosas e traiçoeiras, influenciadas pelas primeiras impressões e ideias equivocadas. Louis era o único que não se importava com nada disso.

— Vou refletir sobre isso – Coline disse mesmo assim.

Noah assentiu, satisfeito. Quando ele já estava longe, ela riu com escárnio.

Jamais.

x-x-x-x

Scorpius mal havia atravessado os portões do castelo, quando viu Rose descendo tão vagarosamente as escadas principais que parecia até em um filme trouxa em câmera lenta. Não, não esse tipo de filme.

— Direita – ela dizia encarando os pés, pontuando cada palavra com um passo. – Esquerda. Direita. Esquerda. Direita...

Scorpius ficou a fitando por alguns segundos, tão surpreendido pela cena que mal conseguia falar. Finalmente, ele quebrou seu silêncio:

— Que diabos você está fazendo?! – a incredulidade dele se sobressaía na voz.

Rose olhou para frente e se agarrou ao corrimão como se sua vida dependesse disso. Fez uma expressão de reprovação.

— Não grite com os outros assim! Eu podia ter rolado escada abaixo!

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Isso seria pouco provável considerando que você está a quatro degraus do chão – Scorpius deu um sorriso irônico.

Rose analisou sua localização e suas feições se abrandaram.

— Oh – exclamou ela. – Que alívio.

Rose terminou de descer, chegando finalmente ao andar térreo com um sorriso tranquilo.

— Eu quase morri há um tempinho – dizia Rose, relembrando. – Eu caio às vezes por aí, verdade, mas hoje eu estava certa de que seria a última vez.

— Não seja tão dramática – Scorpius não a levava a sério.

— Não é drama, aconteceu mesmo!

— Ainda que não seja exagero, você não precisa descer as escadas como se fosse uma velha esclerosada.

— Ei, isso não foi legal – Rose fez bico. – Vovó Granger tem esclerose e é uma doença séria, ok?

Scorpius rolou os olhos.

— Por que será que eu ainda tento discutir? – perguntou mais a si mesmo que a Rose. – Enfim, para onde você estava indo? Não que isso importe, mas...

Rose voltou a sorrir em um milésimo, afinal, Scorpius sequer se esforçava para mascarar seu interesse no que ela fazia, mesmo que fosse sobre algo trivial. “Isso demonstra que ele se importa mesmo que um tantinho comigo.”

— Bom, eu só ia às masmorras falar com o professor sobre um trabalho de Poções – respondeu Rose e então se recordou de que havia mais um lance de escadas até lá. “Deve ser carma.”

— Ah, o trabalho sobre antídotos, certo?

Ela fez que sim.

— Eu ia para o meu dormitório, então... Quer dizer...

A Masmorra da Sonserina, é claro, também ficava no subsolo. Rose ligou os pontos e, para facilitar a barra de Scorpius, sugeriu:

— Ei, por que não descemos juntos? – fez a ideia parecer sua. Caso contrário, o sonserino apenas daria voltas em falso, sem dizer o que estava pensando. Por que esse tipo de coisa era tão difícil para ele?

— Pode ser, tanto faz – falou Scorpius, querendo transmitir descaso.

“Esqueça, Malfoy” Rose pensava. “Eu já o conheço o bastante para não cair nessa”.

Os dois começavam a andar, quando:

— Malfoy!

Eles olharam ao redor, em busca de alguém, já que acreditavam estar sozinhos ali. De uma porta aberta, surgiu Professor Randall de voo, seguido por um enorme bando de primeiranistas.

— Ainda bem que achei alguém – o professor de meia idade estava ofegante. – Se eu tivesse tempo, arranjaria uma pessoa mais apropriada, mas o caso é que minha sogra me mandou um patrono nada simpático dizendo que minha esposa entrou em trabalho de parto! Eu nem sabia que ela estava grávida! Poderia levar os alunos para o gramado próximo à Floresta Proibida e, não sei, dar uma atividade qualquer e...?

— Por que simplesmente não cancela a aula? – questionou Scorpius, como se aquilo fosse óbvio.

À menção da palavra “cancelar”, os primeiranistas começaram a protestar, alguns até a espernear. Como eram barulhentos. O professor lançou à dupla um olhar significativo como se dissesse “Viram só?”. Scorpius encarou o grupo de pequenos com desgosto.

— Eu não tenho qualificação para dar aula no seu lugar, e tenho certeza de que isso viola alguma regra essencial da escola. Obrigado pela oportunidade, mas eu passo.

— Não tenho tempo pra essas regras idiotas, garoto! – Professor Randall parecia à beira de um ataque cardíaco e, quem sabe, realmente estivesse. – Minha mulher está tendo um filho! Tenho um grupo cheio de moleques fazendo birra na minha orelha! Eu não consigo pensar direito, entende?!

Empática, Rose puxou a manga da camisa de Scorpius para lhe chamar a atenção.

— Malfoy, você sabe como os menores costumam gostar das aulas de voo, e eles só tem no primeiro ano essa disciplina. Além disso, o professor foi pego realmente de surpresa e não está em condições de achar uma solução melhor, ele precisa levar a esposa ao St. Mungus. Imagino que não goste muito de crianças, mas se é esse o seu problema, eu posso ajudar. Só que você é o único aqui que voa com perfeição, o professor deve saber disso, senão não teria o incentivado a jogar mesmo que sozinho, lhe emprestando o equipamento todos esses anos. Hora de retribuir o favor, não acha?

Tantos argumentos racionais deixavam Scorpius momentaneamente sem resposta. Finalmente, ele tentou uma última cartada.

— Eu acabei de voltar do treino... – resmungou Scorpius.

Rose se virou para o professor e os alunos, sorrindo.

— Ele vai ajudar.

O coro de vivas foi tão ruidoso que Scorpius cobriu os ouvidos.

— Pirralhos... – sussurrou.

— Obrigado! Obrigado! – Professor Randall pegou a mão de Rose e a beijou como se ela fosse uma santa. Deu-lhe as chaves para o depósito de equipamento e, depois disso, sumiu de vista.

Contente e agora rodeada de primeiranistas a saudando, Rose olhou para o nunca-tão-carrancudo Scorpius.

— E então, Professor Malfoy? Qual a sua ordem?

Scorpius bufou, sentindo-se injustiçado.

— Para o campo – declarou ele, seu entusiasmo nulo.

x-x-x-x

Albus tinha tanto para fazer. A partida de Quadribol contra a Corvinal estava chegando perto, ele como capitão precisava rever as jogadas, sua estratégia tinha de ser mais bem trabalhada. Além disso, deixaram-lhe a encargo da ronda da monitoria naquela noite, por isso teria de ficar acordado até mais tarde se quisesse terminar seu relatório de Transfiguração.

Inspirou fundo, desejando que aquele dia passasse mais rápido. Pelo menos assim algumas de suas preocupações acabariam logo.

Agora, estava numa sala de estudos, após ter conferido o resultado de sua última prova teórica de Feitiços, em especial as anotações do professor. Ele com certeza precisava estudar mais aquela matéria.

Sentiu alguém cutucar seu ombro e virou o rosto.

— Oi – disse Tracy Shallow, timidamente.

— Oi, Tracy – ele sorriu gentilmente para a amiga. – Veio estudar também?

Ela riu de leve, mexendo as mãos atrás das costas.

— Na verdade, não – Tracy viu que alguns alunos lhe lançavam olhares de repreensão, exigindo silêncio. – Será que podemos... Conversar... – ela indicou a porta.

Albus logo percebeu a situação, assentindo.

— Melhor sairmos por bem do que sermos expulsos – brincou ele, guardando o material na bolsa e passando a alça pelo ombro.

Ela concordou e os dois deixaram a sala. Uma vez lá fora, Tracy se voltou para o garoto.

— Albus... Você tem passado muito tempo com sua prima. Alguns de nós tem se preocupado, sabe? Não gosta mais de ficar com a gente? – Tracy questionava soando um tanto ressentida.

Albus estreitou os olhos, sendo aquela a primeira vez que ouvira tal queixa. Ele vinha agindo diferente? Pelo menos, a ponto de seus amigos se sentirem negligenciados?

— Me desculpe, eu não fazia ideia de que se sentiam assim. Nunca foi minha intenção deixar vocês de lado. Vou tentar compensá-los, eu prometo – disse o grifinório, sinceramente.

Não sabia bem quais de suas ações haviam provocado tais pensamentos nos amigos, mas sabia que não poderia deixar as coisas daquela forma.

— Além disso... – prosseguia Tracy. – Eu quero que me fale a verdade, Al. Você está saindo com a Weasley?

— O quê?

Tracy se corroía apenas por perguntar, mas tinha urgência em saber.

— Você ouviu, Albus. A Weasley é sua namorada?

Ele balançou a cabeça em negativa.

— Não, claro que não. Somos grandes amigos, eu diria, mas não estamos namorando.

— E você sente algo desse tipo por ela? – Tracy temia encará-lo.

— Tracy, eu já disse. Ela é minha amiga, nada mais – ele reiterava, ainda que não entendesse a razão daquelas perguntas todas.

Sua confusão triplicou com a ação seguinte da corvinal. Tracy se pôs na ponta dos pés e, puxando Albus pela nuca, beijou seus lábios. Em instantes, ela o soltou. Os olhos de Albus estavam totalmente arregalados devido à surpresa.

— M-Me desculpe – os olhos castanhos de Tracy ficavam úmidos.

Tentando readquirir o controle da situação, Albus agora conseguia piscar.

— Eu, er... – balbuciava ele, não sabendo nem por onde começar.

— Eu sou uma idiota! – lágrimas brotaram dos olhos de Tracy e, para evitar que Albus visse, ela saiu correndo.

Ainda atônito, Albus demorou a tomar algum tipo de atitude.

— Tracy! – ele chamou, inutilmente. Já nem conseguia vê-la.

Albus olhava para o lugar que a garota estava há menos de um minuto, se esforçando para compreender.

“O que acabou de acontecer aqui?”

x-x-x-x

Tudo parecia tão improvável, que Scorpius precisou lembrar a si mesmo ao menos duas vezes por que estava ali, no campo de Quadribol. Rose distribuía vassouras para todos, as quais havia buscado rapidamente no depósito.

— Lucy! – ela exclamou quando foi a vez de uma garotinha ruiva pegar uma vassoura. A menina usava as vestes da Sonserina. – Mal falei com você desde que chegou à escola! Está gostando?

A menina não respondeu. Fez uma carranca e, sem que ninguém pudesse prever, deu um belo pisão no pé de Rose. Os olhos da grifinória lacrimejaram.

— Por que... Fez isso...? – a dor dificultava que Rose falasse normalmente.

— Você não me convidou para a sua festa! – acusou Lucy, indignada.

Rose agora estava agachada, segurando o pé machucado – o mesmo que ela torcera mais cedo –, enquanto as vassouras jaziam abandonadas ao seu lado.

— Era em Hogsmeade – Rose tentava explicar. – Você é muito nova, os passeios só começam no terceiro ano.

— Você se esqueceu de mim! Foi isso que aconteceu!

— Me desculpe, Lucy, de verdade. Eu devia ter considerado alguma alternativa.

Ainda furiosa, Lucy simplesmente agarrou uma vassoura do chão e saiu andando. Scorpius se aproximou de Rose, portando um sorriso de deboche.

— Eu pensei que era boa com crianças, mas já até apanhou de uma – comentou o loiro.

Rose bufou e estendeu a mão para cima.

— Me ajuda?

Ele fez uma expressão de pouco caso, mas a auxiliou, de qualquer forma. Rose recolheu as vassouras, terminando de entregar aos mais novos. Dentre eles, no fim da fila, também estavam mais dois conhecidos. Tanto de Rose, quanto de Scorpius.

O sonserino quase estremeceu quando viu aquele par de cabeleiras louras idênticas.

— Rose – os dois disseram, abraçando-a ao mesmo, cada um de um lado.

Rose mandou um sorriso irônico para Scorpius.

— Viu só? Nem todos aqui me detestam.

— Mas esses daí são pragas – ele disse sem piedade. – Podíamos aproveitar a Floresta Proibida logo ao lado e levá-los para um “passeio”, não é?

A fisionomia de Rose deixava clara sua confusão.

— Do que está falando? Você os conhece?

Os garotos se afastaram de Rose para olhar Scorpius.

— Ah, então ele estuda em Hogwarts – falou Lorcan, observando o uniforme do rapaz.

— Acho que ele é mesmo um humano, afinal – completou Lysander.

— Humano? Que conversa estranha é essa? – quis saber Rose, interessada.

Os gêmeos se entreolharam.

— Achávamos que ele pudesse ser um vampiro, quando o vimos na Floreios e Borrões – contava Lysander.

Rose começou a gargalhar. O olhar que Scorpius lhe lançou era tão cortante quanto uma adaga. Isso não a desencorajou.

— Eu entendo como chegaram a essa conclusão. Ele é pálido e rabugento de dar medo, não? – ela aproveitou a pequena chance de vingança para alfinetá-lo.

“Acho que você não faz tanto sucesso com os pequenos também, Malfoy” guardou aquele pensamento para si.

Os gêmeos Scamander concordaram imediatamente com Rose. Scorpius estava sem paciência.

— Já chega dessa conversa. Vamos começar de uma vez – ele foi reunir os primeiranistas.

Para a sorte de Scorpius, a maioria ali já pegara o jeito para voar, visto que não era a primeira aula do ano. Rose estava um tanto impressionada com a maneira como ele lidava com as crianças. Apesar de se zangar facilmente e ralhar com frequência, ele insistia em ajudar um aluno em dificuldade até que este conseguisse superar o problema ou, ao menos, melhorar. Era muito como aquele típico professor ranzinza, que sempre critica, mas que no fim, reconhece o esforço do aluno. Ela se perguntava se há alguns meses, ele teria agido assim também.

Afinal, será que teria acudido um professor em apuros três meses atrás? Ainda que continuasse com sua essência, Rose notava uma certa mudança no jeito de Scorpius. Ele estava mais tolerante, menos arrogante. Pelo visto, também estava mais disposto.

Rose pegou-se sorrindo, um sentimento caloroso a invadindo. “Orgulho. Acho que estou orgulhosa dele. Quando comecei a considerá-lo assim? Não faz tanto tempo, mal conseguíamos nos tolerar.”

Após uns quarenta minutos, Scorpius finalmente conseguiu colocar a situação sob controle e mandou que os primeiranistas usassem o resto da aula para treinar e, se quisessem, jogar Quadribol amador. Ele até havia conjurado alguns aros e os colocado para flutuar.

— Esses moleques cansam – agora ele se aproximava de Rose, massageando a nuca. – O tempo todo têm alguma dúvida. Não sabem que não sou professor de verdade?

Rose ainda tinha o sorriso orgulhoso no rosto. Scorpius notou e não gostou.

— O que é?

Ela deu os ombros.

— Nadinha.

Algo naquele sorriso o incomodava profundamente. Precisava removê-lo dali e rápido.

Foi quando teve uma ideia.

— E então, Weasley, acho que sua vez chegou.

— Hã?

Scorpius cruzou os braços.

— Se até pirralhos conseguem voar, não vejo o que te impede.

A expressão de Rose se transformou radicalmente para puro terror.

— Não, Malfoy. Não. – Disse ela, já decidida.

— Por que não?

— Eu e voo não combinamos, é muito simples.

— Você é uma bruxa, a vassoura é voadora. Faz total sentido. A única coisa que não combina é esse seu pavor e o fato de ser grifinória. Quer dizer, será que você está na casa certa? – provocou Scorpius.

— Posso estar na Grifinória, mas ter alguns, er, receios é perfeitamente normal.

— Receios, é claro – Scorpius riu.

Rose corou um pouco, constrangida.

— Eu sei que é meio patético, só que nem todo mundo sabe voar, ok? Nem todos nasceram para isso. Ainda que eu sempre tenha desejado saber qual é a sensação, não posso simplesmente ignorar minhas limitações.

— Limitações? – Scorpius parecia pouco convencido. – A maioria das pessoas que não têm a menor capacidade de voar costuma ter medo de altura, algum trauma de infância, ou sei lá. Pelo que entendi você não tem nada dessas coisas. Eu chamo isso de – ele se aproximou para criar suspense. Rose recuou o rosto para trás, meio surpresa. – medo de tentar.

Ela o encarou por alguns segundos, sentindo o rubor aumentar ligeiramente. Então, deu uma risada.

— Engraçado você falando assim, como se estivesse tentando me incentivar. Não soa nada como você. Parece até que está colocando fé em mim.

Scorpius a olhou com mais atenção. Ela fazia aquilo parecer uma brincadeira boba, que não devia ser levada a sério, porém seus olhos a traíam. Como naquela vez, quando iam apresentar o trabalho de Defesa Contra as Artes das Trevas no fim do ano anterior, Rose pedia por um voto de confiança. Alguém que lhe dissesse que era capaz e que teria sucesso, só bastava querer.

Entretanto, diferente de antes, Scorpius não sabia se dizia aquilo que ela precisava ouvir. Não porque descresse na ruiva, ele sequer a vira tentando para se decidir. Mas aquilo que realmente o deixava hesitante era o significado daquele incentivo.

Amigos se incentivavam, não havia nada de errado nisso. Porém, a cada pequeno ato de amizade, mais claro ficava... Mais evidente ficava que...

— E se eu dissesse que estou? – indagou Scorpius.

Aquilo fez Rose parar de rir. Até mesmo o sorriso sumira, ela estava agora atônita.

— Bom, então – Rose dizia. –, eu responderia que...

Porém, Scorpius nunca recebeu sua resposta. Professor Randall chegou às pressas para retomar a aula. E o momento passou.

— Aparentemente, minha esposa não teve nenhum filho – explicava o professor. – A minha sogra apenas me odeia o bastante para querer me ver completamente em pânico, não importando a hora. Por Merlin, aquela mulher é detestável...

Rose e Scorpius se entreolharam, decididos a não comentar. As crianças se despediram dos dois com mais entusiasmo que o esperado. Rose acenava de volta, animada. Scorpius fez pouco caso.

Enquanto andavam de volta ao castelo, Rose se virou para o loiro com um sorriso.

— Você também sabe ser muito atencioso, não é, Malfoy? – ela disse.

“Atencioso”? Ela devia estar com febre.

— Está se sentindo bem, Weasley? – ele seriamente duvidava.

— Claro, por que não estaria?

— Essa mania sua de dizer coisas aleatórias.

— Só porque você não entendeu, não quer dizer que foi aleatório.

Enigmas eram dispensáveis. E Scorpius estava certo de que eventualmente Rose Weasley o enlouqueceria com suas charadas.


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Notas finais do capítulo

Imagino que agora que Scorpius e Rose são amigos, todos devem estar ansiosos para que essa amizade evolua para algo mais. Porééém, vamos com calma, sim? Tudo no seu devido tempo. Além disso, eu adoro complicar a vida de cada personagem, então sabem como é... Será que já há palpites de quem vai se apaixonar primeiro? Quem dará o primeiro passo na direção do "romance"? Definitivamente, estou adiantando muito as coisas, mas fico curiosa pra saber o que acham hehe Já tenho tudo planejadinho.

Dessa vez, não tem spoilers! Mas se me perguntarem algo por review, eu posso responder por lá ;D

Beijoooos!