Antes que eu pudesse perceber um mínimo sorriso se formou em meus lábios. Era isso, não sabia o porquê, mas, James havia encontrado um motivo para confiar em mim.

– Estou aqui para isso.

– Bom... Me encontre dentro de uma hora, no rio. – Ele se levantou da janela e passou por mim – Preciso te ensinar algumas coisas. – Disse por cima do ombro, antes de sair da sala.

Tudo estava acontecendo muito rápido. Nunca pensei que seria tão fácil conseguir ficar perto do James.

Voltei ao meu quarto, e enchi a banheira, deixei meu corpo mergulhado. Quais seriam as melhores maneiras de matar-lo? Arrancar seu coração... Não. Arrancar sua cabeça e deixar na frente desse ninho, para que todos os sanguessugas pudessem ver.

Escutei a porta se abrir, alguns passos.

– Quem está aí?

Uma garota apareceu no meu campo de visão, devia ser mais nova que eu no máximo 2 anos.

– Trouxe algumas roupas para você, a pedido do James. – Pelos olhos inocentes dela, eu sabia. Ela era uma ex-humana, como eu.

Me lembrei do que a Dabria havia falado sobre criadas.

– Você era humana? – Perguntei o óbvio. Ela assentiu – Como você... Por que você está aqui? – Me enrolei em uma toalha, eu podia sentir ainda o cheiro fraco de sangue humano nela.

Então, era assim. Um desejo incessante de sangue me tomou, precisei me controlar.

– Minha doença não tinha cura, os lobos haviam espalhado o vírus em um dos abrigos que eu me escondia com mais 5 humanos – Ela começou a falar com insegurança – Vi todos morrerem um a um, sabia que minha vez estava próxima. Mas, não queria morrer, caminhei até aqui, e pedi para que me transformassem.

– Você pediu por isso? – Não conseguia acreditar.

– Hmrum – A criada/vampira/ex-humana continuou a falar, totalmente desconfiada – O James, me escutou, fez com que todos se controlassem, por causa do meu sangue, e então me transformou.

Me engasguei.

– O JAMES?

– Sim. – Vi um relampejo de raiva em seus olhos – Não sei por que todos vocês acham o James tão impiedoso e sem coração.

Ela começou a se retirar do quarto, mas, antes de sair me lançou um último olhar de raiva.

– Ele está tentando vencer uma guerra, precisa ser firme. Ao contrário do quase todos aqui pensam, o James tem um coração sim. – E fechou a porta com força.

Fiquei parada, não sabia o que estava sentindo. Argh! COMO EU ODEIO ISSO.

Vesti uma das várias roupas que James havia me enviado. Tudo bem, Aili. Você tem um objetivo, nada de parar até alcançar-lo.

Respirei fundo e fui ao encontro dele.

Enquanto eu caminhava pelos corredores, os sanguessugas me olhavam com medo, soltei um leve riso, por onde eu passava eles se calavam e ficavam apenas me encarando. Uma coisa eu não podia negar, eu precisava de sangue. Logo.

Atravessei a ponte que separava os dois castelos e desci até o vale. De longe pude ver James em pé encostado em uma árvore, com uma camiseta preta que destacava seus músculos e uma calça folgada.

– Você veio. – Ele por acaso pensou que eu não iria aparecer?

– Claro.

– Pensei que tivesse ficado com medo. – Como se ele me assustasse. – Primeiro, preciso de você forte, estamos há muito tempo parados, sei que os lobos estão planejando alguma coisa.

James me jogou uma bolsa de sangue.

– Isso é sangue humano.

– Não. De onde você tirou isso? Produzimos esse sangue através de experiências. Não existem humanos para nos alimentarmos. Ainda recebem humanos como alimentos nas colinas?

Preferi não responder e bebi um pouco.

– Nosso veneno se espalha muito rápido na corrente sanguínea, assim toda vez que alimentávamos, eles se transformavam. Por isso que deixamos, não podíamos ficar sem beber sangue, se não nosso coração pára, é claro que você sabe disso. Diferentemente dos lobisomens que matam por prazer. Mas, o fim deles está próximo. Estamos nos preparando, Luanne. Em breve, essa região ficará livre daqueles amaldiçoados.

Não se alimentam de humanos. Estranho. Logan havia me dito que os lobos também não atacavam humanos, mas aqui estou eu. Tem alguma informação que está me escapando.

James segurou minha mão e me puxou para dentro da floresta, onde haviam alguns alvos nas arvores.

– Você já usou um arco? – Não.

–Sim. – Menti. Era uma droga não saber como os vampiros das colinas viviam, estava com medo da minha mascara cair.

– E uma besta?

–Não. Prefiro algo mais manual.

Ele me entregou um arco, junto com algumas flechas, e pediu pra que eu acertasse um dos alvos. Meu primeiro tiro, na sorte, foi bem no meio da bola que demarcava o alvo.

– Não precisa tanta tensão, Luanne. É por isso que eu prefiro a besta, é só apertar e... TCHA! – Ele levantou as mãos me assustando. – E adeus Lobisomens. – O que foi isso?

Ele sorriu e antes que eu notasse, sorri também. Precisei de alguns segundos para voltar a me concentrar.

– Novamente.

Levantei meu arco e atirei outra flecha, só que dessa vez errei feio.

– Deixa eu ajudar você.

James ficou atrás de mim, parecia que estava me abraçando, levantou meus braços junto com os seus, colocou a cabeça no meu ombro.

– Não aperte tanto. – Falou no meu ouvido, pude sentir um arrepio me percorrer. Mas, que droga! – Relaxe a mão... Dispare.

Soltei a flecha. Ela foi parar bem no meio de onde eu havia mirado. Ótimo.

– Perfeito, Luanne. – James não havia se afastado de mim – Agora, preciso que você acerte em alguma coisa em movimento.- Colocou outra flecha - Feche os olhos e escute.

Fiz o que ele mandou. Em uma das árvores escutei uma minúscula respiração, e um coração batendo, esquilo. Meu instinto agiu rápido, meus braços se levantaram e atiraram novamente, um segundo depois o esquilo caiu no chão.

– Eu iria soltar um alvo em movimento, mas, você foi melhor ainda. – James, NOVAMENTE, falou em meu ouvido, dessa vez com as mãos na minha cintura.

Encostada nele, senti seu coração batendo... Junto com o meu. O mesmo ritmo. Me virei e o olhei, um flechada e ele estava morto. Mas, só conseguia ficar parada, e em seus olhos eu consegui ver, ele havia salvado uma garota da morte, havia me aceitado aqui, ele estava apenas tentando manter ‘sua família’ viva.

James me encarava também, ele se curvou, sua boca estava a centímetros da minha, mas meus olhos ainda estavam nos seus. Me mão estava quase tocando seu rosto, quando ele me deu as costas, ficou parado por alguns segundos, e então começou a andar em direção ao castelo.

– Terminamos por aqui.

Continuei no lugar que eu estava, observando ele caminhar, a mão que ficou parada no meio do caminho, fui em direção a minha boca.

– Não. – Sussurrei.

James, havia dito para não me permitir sentir nada, isso não fazia sentido pra mim. Até agora.

Era ele que não queria sentir, e não permitindo ninguém sentir também. Por isso, o Kendall não queria que ele soubesse que nós havíamos nos beijado.

Nenhuns dos dois eram tão cruéis, como eu pensava. Sim, eles haviam matado, mas eu não ficava atrás.

Respirei fundo.

James não era quem eu pensava.