Uma semana havia se passado, uma semana que o James estava me treinando, mas desde que me deixou sozinha na floresta naquela noite, não havia mais se aproximado tanto de mim, falava apenas as instruções e dizia se o que eu estava fazendo era certo ou errado.

– Luanne... Eu estava pensando... – James quebrou o silêncio enquanto eu colocava uma flecha na besta, sou voz estava muito calma.

– Se quiser, pode me chamar de Lua. – Falei sem perceber. Estava fraquejando com a minha humanidade, merda.

– Você... – Antes que ele completasse a frase, um vampiro apareceu rapidamente saindo do castelo.

– Senhor, matamos cinco lobisomens. Zona norte, estavam vagando por lá, com mais três. Os outros escaparam, não muito bem, eu garanto.

“Lobisomem”

– Algum de vocês se feriu? – James ficou em alerta.

“Lobisomem”

– Nada grave, ao contrário deles- o vampiro sorriu – Fizemos um belo estrago.

– Ótimo.

– Trouxemos os corpos, já devem estar voltando a forma humana.

“Lobisomem”

– Preciso ver isso. Luanne, terminamos por aqui. – James caminhou de volta para o castelo com o outro sanguessuga.

Não, não, não.

– Logan.

Corri na mesma direção que eles, os corpos estavam no portão principal, provavelmente os vampiros não iriam querer inimigos dentro da sua casa, nem mesmo mortos.

A entrada estava toda cheia, parecia que era um fato surpreendente matar lobisomens, tive que me espremer até que conseguisse ver alguma coisa.

Logan não pode ter sido morto.

– Parabéns. Hoje é dia de comemorar, menos lobos pelos mundo– James começou a falar alto para que todos escutassem. – Um baile. Isso seria o certo.

Ouvi alguns vampiros gritando em comemoração e sorrindo. Alguns começaram a se retirar. Foi quando finalmente vi os cinco corpos ensangüentados jogados ao chão.

Logan não pode estar ali.

– Vamos Luanne. – James passou por mim, me puxando pelo braço.

– Já vou. – Fiquei firme onde eu estava, encarando os cadáveres.

Esperei até que todos tivessem voltado para dentro, sobrando apenas eu e os lobisomens mortos. Caminhei até eles, mordi o lábio.

E por fim, soltei um suspiro de alivio quando eu percebi que o Logan não estava entre eles. Três homens e duas mulheres, fiquei apenas encarando-os, a espécie deles tinham me feito assim. Senti minhas mãos tremerem com a raiva, queria arrancar as pernas e os braços deles, jogar as cabeças o mais longe que eu conseguisse. Mas, uma parte de mim teve compaixão, eu seria igual a todos se fizesse isso.

Carreguei um por um para longe do castelo, e os enterrei.

Precisei me concentrar, eu com certeza iria surtar se o Logan tivesse sido morto, provavelmente sair matando todos os vampiros que eu encontrasse, mas, com certeza morreria. Uma contra mil, eu não tinha vantagem nenhuma.

Voltei para o castelo devagar, e para minha surpresa, ou infelicidade, Kendall me esperava no portão. Fingi que não o havia visto e passei direto.Então, ele segurou meu braço com força, fazendo com que eu o olhasse.

– O que foi? – Perguntei com raiva.

– Onde você estava?

– Não sabia que eu era prisioneira aqui.

– Você foi enterrar os lobos, não foi?

Respirei fundo, tentando me acalmar.

– Isso não é do seu interesse. Você passou uma semana inteira me ignorando, não que eu me importe, mas, você disse que não iria deixar ninguém me machucar e sabe que às vezes deixo minha humanidade aparecer. Não tem o direito de pedir explicações de onde eu estava. Agora, licença. Tenho um baile para ir.

Puxei meu braço, e fui o mais rápido possível para o meu quarto.

Eles iriam deixar as carcaças lá, jogadas as moscas?

Acho que, por um momento, esqueci que eu era uma das únicas que tinha humanidade aqui.

Reparei em uma caixa, em cima da cama com um cartão.

“Quero você do meu lado hoje. Fique bonita.

James. ”

Mas, que droga é essa?

Abri a caixa, e dentro havia um vestido preto. Ótimo.

A noite está maravilhosa.

Olhei para a lua cheia pela varanda, não podia passar de hoje. No final dessa comemoração ridícula, eu iria matar o James. Não havia porque esperar mais.

(.)

Me olhei novamente no espelho, estava pronta, o vestido era muito bonito, mas coloquei um tênis, precisava de um plano de fuga, jamais conseguiria lutar com 500 vampiros de uma só vez. Hoje, de todo o jeito seria a minha última noite aqui.

Abri a porta, e o Kendall estava com a mão levantada pronto pra bater.

– James pediu para que eu a acompanhasse até o salão.

Levantei uma sombrancelha.

– Posso ir sozinha.

– Você. Vai. Me. Acompanhar. – Ele falou entre dentes já segurando no meu braço.

– Me solta. – Dei um empurrão, fazendo com que ele se chocasse com força na parede.

Vi a raiva nos seus olhos, eu consegui provocar-lo. Kendall movimentou-se rapidamente, segurou meu pescoço, levantando-me do chão, meus pés ficaram balançando no ar. Chutei sua perna com toda a minha força, fazendo com que ele se dobrasse com a dor, mas, acabei caindo. Quando consegui me levantar, Kendall já estava recuperado, preparando para outro ataque, pensei rápido, minha única alternativa seria mordê-lo e deixar com que o veneno de lobo o matasse.

Mas, a única coisa que ele fez foi me abraçar.

Fiquei parada, meus braços ao lado do meu corpo. Por que ele fez isso?

– Me desculpa Luanne. Eu não queria... – Respirou fundo, falando no meu ouvido – Não quero que ninguém te machuque, nem mesmo eu.

– Você está enlouquecendo?

– Meus instintos são mais fortes – Kendall me olhou nos olhos – Você me atacou e quando dei por mim estava fazendo o mesmo.

Realmente, era muito difícil controlar os instintos.

– Preciso me apressar. – Desfiz o abraço dele e segurei em seu braço.

Kendall esboçou um sorriso sem mostrar os dentes.

– Mas, antes... – Ele selou seus lábios nos meus. Me afastei rapidamente.

– O que você está fazendo, Kendall? – Falei um pouco alto demais, o que será que ele tinha na cabeça?

– É que você Luanne, me mostra um lado que eu não conhecia. – EU NÃO! – Uma parte boa, acho que a minha melhor parte.

Não acreditei que ele estava falando aquelas coisas de novo. Eu não podia perder o foco.

– Kendall... Precisamos ir. Sou a guarda-costas do James.

– Eu não vou perder você pra ele.

Coloquei as mãos no seu rosto.

– Não existe nada para perder. Tenho uma função aqui. – Ele apenas assentiu com um olhar triste e me levou até o salão.

Quando ouvi que seria um baile, pensei em vampiros dançando loucamente, bebendo sangue até não suportarem mais. Me enganei. Parecia um baile medieval. Mas, se esses vampiros são bem antigos, acho que devem preferir assim.

Assim que vi o James caminhei até ele, e dei um sorriso.

Você morre. Hoje.

– O vestido ficou ótimo. – Se curvou e beijou a minha mão.

Olhei para o lado e vi Kendall puxando uma vampira para dançar. Confesso que não havia visto nada tão bonito como aquele estilo de dança, os casais mal se tocavam, mas pareciam que estavam conectados pelo olhar. Senti uma pontada quando o Kendall olhava diretamente nos olhos da garota.

Ciúme.

Mas, que merda.

– Alguma coisa ta incomodando você, Lua? - Meu coração deu um pulo quando o James falou no meu ouvido.

Balancei a cabeça em negação.

– Quero te mostrar uma coisa, me acompanha? – Ele percorreu meu braço com os dedos e segurou minha mão.

Deixei que ele me guiasse até uma escada, que dava para o telhado. O vento fez meus cabelos balançarem, o olhei sem entender.

– O que James?

– Você ainda não viu? – Reparei ao meu redor, vi a floresta e o rio iluminada pela luz da lua cheia. – Pensei em você quando vi a lua cheia.

– É muito bonito. – Olhei em seus olhos castanho-esverdeados, não sabia ao certo se estava falando do que eu vi ou dele.

– Tenho um presente pra você, Lua. – Estremeci ao som da sua voz falando meu apelido, mordi o lábio.

James tirou do bolso um colar.

– É um pedaço da pedra lua, acho que você já ouviu falar dela. – A pedra da maldição – Essa parte não foi amaldiçoada, porque não foi roubada. O meu pai me deu antes de me enviar para tomar conta desse lugar.

Então o pai de James era quem comandava os vampiros das colinas, os mais fortes. Era isso? Fazia sentido, já que ele é um sangue puro.

– Agora quero que fique com você. – Ele colocou o colar no meu pescoço.

– Obrigada. – Falei baixinho.

– Lua... –James se aproximou de mim, curvando-se, seu rosto estava a milímetros do meu.

Por um segundo, havia esquecido o que eu estava fazendo nesse lugar.

– Não. – Me afastei e abaixei a cabeça.

Ele ficou imóvel na minha frente.

– Luanne, eu sei que disse pra você não sentir nada, não quero fraquezas, e gostar de alguém é uma das maiores fraquezas que se pode ter. Finalmente, encontrei a minha...

– Não termine! – Coloquei o dedo nos seus lábios, impedindo que ele continuasse.

Respirei fundo. Meu coração estava acelerado, acho que ele escutava as batidas rápidas. Não posso jogar meus planos fora, já cheguei até aqui. Não posso me permitir sentir nada, não devo.

– Desculpa James.

Sem pensar duas vezes, enfiei minha mão entre as costelas dele, enquanto via sua boca se abrir, até tocar em seu coração.