Me afastei da grade, incrédula.

Logan havia escolhido ser lobisomem.

– Por que você fez isso? – Perguntei, lágrimas ao poucos se formavam nos meus olhos.

– Era minha única chance de viver, Lua. Eu estava cansado de viver me escondendo, ficar procurando o que comer. Eu não tinha mais ninguém.

– Você me tinha. – Aos poucos as lágrimas molhavam o meu resto. – Nós tínhamos um ao outro, Logan! Mas, você preferiu ser um monstro.

– Eu não sou um monstro! Não atacamos humanos.

– NÃO? Claro que não! Então me diga, quem quebrou todos os meus ossos, quem foi que me deixou largada completamente ensangüentada, quase morta? QUEM FOI LOGAN? Me diz?

– O que? Luanne... O que foi que aconteceu com você? – Vi em seus olhos que ele começava a entender.

– Depois de ser atacada por um bando de lobisomens, sabia que me restava pouco tempo, fiquei esperando a morte. – Fui abaixando a voz – Até que senti um vampiro me morder – Fechei os olhos ao escutar ele falar baixinho ‘não’ – E tudo dentro de mim começou a queimar. Quando acordei, achei que sabia o que havia me tornado – Engoli em seco – Estava errada. Me alimentei de uma vampira, não tinha intenção de matar-la, mas, ela ficou paralisada no momento em que eu afundei minhas presas. Então, eu entendi. Sim, Logan, eu sou uma vampira agora, como também... Sou um lobisomem, lobomulher, lobo. O que você preferir...

Não havia porque eu mentir para ele.

– Uma hibrida. Isso não é possível...

– Me deixa tirar você daí. – Dei um chute na grade, que com um barulho enorme se soltou.

– Como você conseguiu fazer isso? Eu tentei de tudo.

– Tenho sua força mais a de um vampiro. – Dei um leve sorriso e o abracei fortemente. – Sinto sua falta.

Demorou um pouco para ele retribuir meu abraço.

– Também senti a sua. Desculpa ter te abandonado, Lua. Eu devia ter voltado pelo menos para te avisar, sabia todos os nossos esconderijos e que você estava me esperando. Mas... Fui cercado. E o meu líder me ofereceu essa nova chance. Eu aceitei, Luanne. Descobri que queria ser isso. Só não consigo entender como você conseguiu... Você já se transformou alguma vez? – Ele segurou meus ombros e me afastou.

– Não, tenho medo. Sempre sinto algo se remexer dentro de mim, e minha raiva é quase incontrolável.

– Estranho. Para nos tornamos lobisomem, precisamos da pedra lua, uma antiguidade roubada das colinas, dos primeiros vampiros, amaldiçoada por ser roubada, então dizemos a seguinte frase: “Eu, aceito a maldição e os poderes da lua.”

Escutei um barulho vindo da escada.

– Você tem que sair daqui. Agora! – Comecei a puxar a corrente do pé dele.

– É impossível quebrar a... – Balancei a corrente na frente dele. – Uau.

– Precisamos achar uma saída. – Logan revirou os olhos, e puxou o meu braço para o fim do corredor. – Assim vamos ficar encurralados.

– Vem. – Resisti um pouco – Luanne Aili! Vem logo.

Bufei, mas deixe ele me guiar. A única coisa que havia na minha frente era uma parede.

– Ótimo! Vai me dizer que com a maldição, veio o poder de atravessar a parede. – Fui totalmente irônica, mas, senti uma vontade de rir. Só o Logan pra despertar esse meu lado.

– Quer parar? – Logan se abaixou e tirou uma pedra do chão, revelando um pequeno córrego, com certeza do rio que eu vi. – Consegui entrar por aqui. Me descobriram, mas não sabem como eu entrei. – Ele pulou para o buraco e me ofereceu a mão.

– Eu não posso ir com você. – Me ajoelhei e olhei para baixo.

– É o que? Por quê?

– Logan... Eu preciso ficar aqui. Não posso sair antes de matar o James.

– Você vai matar o sanguessuga chefe. – Acenei com a cabeça – Me promete que quando o fizer, irá me encontrar.

Ele se ergueu com os braços e voltou, ficando no mesmo nível que eu.

– Nós estamos depois da cidade, no leste, em um canal subterrâneo. Um conjunto de tubos marca a entrada. Você vai ficar comigo. Promete, Lua?

– Sim, Logan. Eu vou encontrar você.

Sem deixar eu dizer mais nada, sem pedir permissão, ele encostou seus lábios nos meus, me dando um selinho bem demorado.

– Vou estar te esperando. – Então ele voltou para o buraco e olhou para me dar um adeus.

– Logan, eu prometo, mas não sei se você me aceitará. James não é o único que eu quero matar. Enquanto eu não matar o SEU líder, não estarei satisfeita. Adeus.

– Lua, esper...

Não queria escutar mais nada, coloquei a pedra de volta no lugar. Fiquei esperando ele se mover, tinha certeza que Logan ainda estava no mesmo canto, sem querer acreditar. Até que por fim, o escutei correndo.

Livre.

Pelo menos eu tinha feito alguma coisa. Me levantei, voltei a subir as escadas, não queria ser pega aqui. Eu havia soltado um lobisomem, se alguém descobrisse tentariam me matar.

Voltei para o meu quarto, estava completamente confusa. Fiquei na varanda, deixando o sol me aquecer, enquanto me lembrava.

“ Parecia que o dia havia virado noite, chovia como se o mundo fosse acabar em apenas algumas horas, eu não comia nada há mais de um dia, precisava roubar de alguma loja fechada.

Estava correndo o risco de ser atacada, mas minha fome era maior, se fosse pra morrer, queria , pelo menos, o prazer de comer alguma coisa.

Vi um antigo supermercado, com as portas todas pregadas com pedaços de madeira. Tentei a porta do fundo, por sorte estava aberta. Pedi mentalmente, que ainda tivesse alguma coisa para comer.

Eu devia ser uma das únicas humanas vivas nessa cidade, não sabia quantos ainda restavam ou onde eles se escondiam. Desde que minha morreu, há um mês atrás, fiquei sozinha, tentando realizar seu último desejo : “ Fique viva” .

Adentrei no supermercado, e fui até a área dos cereais, não havia iluminação alguma, peguei uma vassoura, isso devia servir se aparecesse alguma coisa, pelo menos eu não iria morrer sem lutar. Nas prateleiras achei alguns pacotes de biscoitos, esfarelados claro. Peguei e coloquei na minha única mochila.

Comecei a procurar outras coisas que podiam servir, pelo supermercado, nunca iria no mesmo lugar duas vezes.

Quando eu o vi, pela luz de um relâmpago, ele ficou parado me encarando, enquanto eu levantava a vassoura para ele. Sem reação alguma, sabia que não tinha nenhuma chance. Joguei a vassoura no chão.

– Seja rápido. Não me deixe sentir muita dor. – Supliquei.

Ele acabou com a distância entre nós, mas ao invés de receber uma mordida, recebi um abraço.

– Você é humana.

Soltei um suspiro de alivio, e meus olhos se encheram de lágrimas. Um humano, eu não estava mais sozinha.

– Meu nome é Logan. – Ele me ofereceu um lindo sorriso torto.

– Luanne. – Retribui o seu sorriso. ”

Desde aquele dia Logan me ajudou em tudo, ele sabia arrombar, era mais fácil encontrar comida, tínhamos esconderijos, todos marcados com nossas letras L&L. A vida era melhor com ele. Até que um dia nós nos separamos... E ele nunca mais voltou. Agora eu sabia o porquê.

Era mais fácil ser humana, precisava admitir isso. Eu só esperava a morte algum dia.

Escutei ao longe, algumas vozes alteradas. Quando me lembrei do que tinha feito mais cedo.

– Merda.

O beijo do Kendall.

E todas aquelas coisas que ele tinha dito. Por que eu deixei ele me beijar? POR QUÊ?

Eu escutei todo aquele blábláblá e caí na dele. Eu fui uma otária. Não posso vacilar. E, o pior de tudo é que, ele me tinha nas mãos. Se eu morresse me jogando daqui, eu o faria agora.

Burra, imbecil, idiota.

Sanguessuga nojento. Destruiu tudo, culpa deles. DE TODOS! Perdi minha mãe, meu pai, meu melhor amigo, minha vida.

(.)

O Sol se pôs no horizonte e segundos depois Kendall entrou no meu quarto com um olhar desesperado.

– James quer ver todos.

Apenas assenti. Será que ele sabia que eu tinha soltado um lobisomem prisioneiro? Ah... Que ele me matasse então. Iria tirar todo o meu arrependimento.

Passei por ele, sem lançar nenhuma olhada e me direcionei para a sala que eu havia falado com James. Senti Kendall me seguindo, pelo menos sabia que estava indo para o lugar certo.

Antes de chegar, fui puxada pelo braço, e fiquei de cara a cara com ele.

– Será que ele descobriu? – Perguntei me fitando. Olhei em seus olhos. Não. Se concentra Aili.

– Eu não sei.

– Luanne... Ele não pode saber que eu queria ser um humano. Ele não pode saber que eu senti algo por você. Algo humano.

Algo por mim? Isso não é possível. Ele é um sanguessuga cruel... Será mesmo?

– Não vou falar nada. Mas, não há muito que se possa fazer se ele descobriu.

Kendall passou a mão pelo meu rosto.

– Não vou deixar ele te machucar. – Fechei meus olhos e apenas senti seu toque.

O que eu estou fazendo? O que?

Uma porta se abriu, um pouco longe de onde estávamos, e escutei a voz do James.

– Onde o Kendall está?! Não vou começar a falar sem ele! – Sua voz saiu como um rugido, é... Ele estava furioso.

– Acho melhor irmos. – Kendall me puxou pela mão, mas antes de chegarmos na sala, ele a soltou.

Quando escutei a palavra ‘todos’ pensei que fosse TODOS OS VAMPIROS, mas cheguei a conclusão que eram os mais importantes. Mas, por que eu estava ali?

Me ferrei.

– Já que você finalmente chegou... – James se desencostou da parede. Continuei acompanhando o Kendall, fiquei ao seu lado e fingi não me importar com nada. – Podemos começar.

Olhei-o no momento que ele me encarava, para minha surpresa, recebi um aceno de cabeça.

– Quero saber quem foi o inútil, O IMPRESTÁVEL, que deixou aquele lobisomem fugir? QUEM?

Silêncio total.

– ÓTIMO! ESTAMOS EM UMA GUERRA! NÃO PODEMOS TER FRAQUEZA. Eles estão nos destruindo, eles tinham alguém infiltrado aqui, se continuarmos desse jeito, vamos morrer por aquelas garras. É ISSO QUE VOCÊS QUEREM, IMBECIS?

Ninguém respondeu. Podia ver em seus olhos, todo o seu ódio e ao mesmo tempo su frustração.

Eu sei que não devia, mas o achei... O que você está pensando? Você não tem esse direito, ele é seu alvo.

– Preciso de um culpado. – Ele passou novamente o olhar por mim – Kendall, quem devia ficar de vigia?

– O Rodrigo, que está morto, - ouvi algumas exclamações entre os vampiros – junto com – ele engoliu em seco – O Nicolas III.

– Eu daria as honras para você, Luanne, mas preciso fazer isso. – Entendi. Nicolas vai morrer.

Olhei para o Kendall, não havia nenhuma expressão no seu rosto, eu apenas imitei.

James andou até um vampiro com sardas e o puxou pelo pescoço até o centro da sala, fazendo com que se ajoelha-se de frente para ele.

– Eu não sabia que o Rodrigo estava morto- Nicolas começou a implorar – Ele me prometeu que iria guardar o lobisomem por todo o dia... Peço misericórdia, senhor.

– Nunca. – James, com um único golpe com a mão, arrancou quase todo o pescoço do vampiro, deixando apenas um pequeno pedaço para segurar a cabeça, então o corpo bateu no chão.

Pelo canto do olho vi o Kendall fechar os olhos durante o ataque.

– SAIAM! – Aos poucos todos os vampiros se retiraram, ficando apenas, eu, Kendall e James. Já estava me dirigindo para a porta – Luanne, fique.

Kendall puxou o corpo do vampiro pela porta dizendo que iria mandar alguém limpar aquele sangue.

Restando eu e o James.

Talvez fosse a hora perfeita de matar-lo, mas, estava ainda em choque com sua demonstração de poder. Ele se sentou na janela e fez sinal para que eu me aproximasse.

– Pensei muito Luanne, preciso de você aqui. Sei que posso confiar em você.

Meu primeiro passo, confiança.

– Você acabou de ver como as coisas funcionam, tento deixar-los vivos e só recebo ódio em troca. Todos aqui me odeiam, enquanto estou protegendo nossa raça.

James segurou minha mão com a sua que não tinha sido utilizada para matar, a outra ainda pingava sangue, me puxando para mais perto. Me olhando intensamente com seus lindos olhos castanho-esverdeados.

– Me proteja.