Ele E Ela escrita por Maitê


Capítulo 30
Até logo




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Quanto mais Maria se afastava, mais ela sentia vontade de correr. Não entendia o motivo de tanto pânico, mas era graças a ele que ela conseguia ignorar os olhares que a acompanhavam quando ela passava.

O sinal tinha batido e os alunos já estavam saindo. Rachel nunca tinha demonstrado sentir culpa, talvez porque nunca tivesse sentido realmente. E agora ela vinha com essa. Para Maria, era difícil organizar as coisas. Os pensamentos e os sentimentos. Era extremamente difícil porque sua mente era sensível. Mas as vezes ela conseguia por uma ordem naquela bagunça, só que como tudo era muito delicado, um pequeno movimento em falso fazia tudo ia pelos ares novamente.

A culpa de Rachel tinha feito tudo se bagunçar de novo. Maria não queria vê-la, muito menos conversar com ela. Perdoava Rachel, mas aquela pequena conversa tinha feito Maria se sentir bagunçada novamente, será que ela tinha razão sobre tudo o que pensava? Será que Rachel era de todo má? Estava tão atordoada, que nem viu Brooke saindo do banheiro e a olhando passar, nem deu atenção quando a amiga a chamou. Só sentiu quando Brooke a puxou pelo braço.

— Ei! - chamou.

Maria não respondeu, só ficou encarando Brooke com o olhar perdido.

— Tá tudo bem? - Brooke perguntou preocupada. Maria somente balançou a cabeça de um lado para o outro, Brooke soltou o braço dela e a segurou pela mão, puxando Maria de volta para o banheiro.

— O que aconteceu?

Maria contou o que tinha acontecido, cada detalhe da conversa. Cada movimento e olhar de Rachel, foi além e contou cada detalhe do que estava sentindo. Maria queria falar e Brooke queria ouvir, tinha que aproveitar esses momentos em que Maria Flor se abria para falar. Não sabiam dizer quanto tempo passaram ali, quando Maria finalmente acabou de falar as duas estavam sentadas no chão, encostadas na parede fria.

Durante o tempo em que ficaram ali, algumas meninas entraram e saíram do banheiro, olhavam feio para as duas. Mas nenhuma tinha coragem de fazer algum comentário. Quando elas saiam, Maria voltava a falar. No fim, elas passaram alguns minutos em silêncio, encarando o chão do banheiro.

— Rachel culpada... - Brooke disse ainda encarando o chão.

— Pois é..

— Nem quando a gente era criança e ela quebrava minhas bonecas, aquela vaca sentia culpa. Nem quando era criança! E agora... Meu Deus..

— Pois é...

Brooke olhou para Maria, ela tinha o olhar perdido. Estava perdida.

— Você está bem?

— Não. Não estou bem. Foi bom saber que ela se arrepende, sabe? Isso quer dizer que ela tem sentimentos e ainda tem esperança pra ela. Mas... Isso me confundiu toda. Esse dia foi muito intenso.

— Foi mesmo, mas agora a gente tem que ir. Você passou por esse dia, conseguiu Maria.

Brooke sorriu para Maria, a encorajando. As duas levantaram e se deram as mãos, caminharam tranquilamente pelo corredor que agora já estava quase vazio. Abriram a porta e viram o céu laranja, com o sol que se punha em algum lugar. Maria encheu os pulmões de ar, e sorriu ao ver Miguel.

A volta pra casa foi silenciosa, Brooke foi pra casa em sua picape e Miguel levou Maria até em casa. Nenhuma das duas comentou nada sobre o assunto Rachel. Miguel percebeu que Maria estava muito calada, teve vontade de perguntar se tinha acontecido alguma coisa, mas imaginou que ela estivesse cansada. Afinal tinha sido um dia bem agitado.

Deixou Maria em casa e não demorou muito lá, logo foi para sua própria casa. Quando chegou Maria tomou um banho e ficou na cozinha contando para Berta e Jack sobre como tinha sido o dia. Os dois ouviam atentos e faziam perguntas, ela respondia a todas pacientemente. Mas sempre deixando de fora as partes não tão agradáveis. Depois de conseguir ingerir uma pequena quantidade de comida, Maria subiu até seu quarto. Disse que estava cansada e queria dormir mais cedo, mas na verdade ela só queria pensar um pouco.

Fechou a porta do quarto e deitou-se, encarou o teto por um momento depois olhou a porta de seu banheiro que agora estava constantemente trancada. Já que agora Maria tinha que usar o banheiro que ficava no corredor, um que não era tão particular. No começo tinha ficado bem irritada com a iniciativa, mas depois compreendeu a decisão.

As pessoas que a amavam, estavam pisando em ovos com ela.Cada palavra e movimento tinha que ser muito bem pensado e calculado, tudo para não correrem o risco de magoá-la. Maria Flor tinha uma visão clara e bem real do seu atual estado de saúde. Tudo era bem assustador e devia ser assustador também para quem via de fora. Principalmente para Miguel,Brooke,Berta e Jack que sabiam de tudo. Não devia estar sendo fácil para eles viver com uma pessoa assim, não era fácil nem justo.

Ela tinha arrumado esses problemas para si, não era justo trazer sofrimento e peso para a vida das pessoas que amava por conta de seus próprios demônios pessoais. Maria sentia muitas coisas o tempo todo, estava sempre jorrando emoções. Não tinha controle sobre o que sentia,nem como demonstrava. Mas depois de todos os acontecimentos uma coisa nova tinha crescido dentro de Maria, ela queria ser saudável novamente. Queria poder enfrentar a vida sem o constante medo que a rondava, queria poder cuidar de si mesma e ser pelo menos um pouco independente. Queria cuidar de si mesma para assim poder cuidar de quem amava.

Como iria fazer isso? De onde encontraria forças? Ela precisava de ajuda, tinha que se afastar... Tinha que recuar para que aqueles que a amavam pudessem viver, pelo menos por um tempo ela teria que ficar só. Depois de tomar a decisão, Maria passou a o fim de tarde e o início da noite no computador pesquisando.

Depois de ter decidido tudo, contou a Jack e Berta. No início os dois foram contra, diziam não ser necessário uma medida tão drástica. Mas no fundo sabiam que era necessário. E ouvir Maria contar tudo o que sentia e o que pensava só os ajudou a aceitar. Não queriam ficar longe de sua Flor, justo no momento em que a tinham mais perto. Porém era necessário, claro que era.

Aquela noite foi tranquila, Maria e Miguel falaram ao telefone como nas outras noites, porém ela não contou sobre sua decisão e logo depois conseguiu pegar no sono. Dormiu sem pesadelos, um sono tranquilo que a fez se sentir descansada na manhã seguinte.

Quando acordou mandou uma mensagem para Miguel, dizendo que não iria a escola, mas ia querer vê-lo mais tarde. Claro que ele quis saber o motivo dela não ir, ao que respondeu somente que não estava se sentindo bem. Sendo assim, marcaram o local de encontro e o dia seguiu. Aquele dia foi muito emotivo, Jack não trabalhou em momento algum. Passou o tempo todo com Maria, Berta também aproveitou o máximo que podia.

E juntos os três fizeram todos os preparativos necessários. Fizeram as ligações e arrumaram tudo. Às três da tarde tudo já estava pronto, só faltava contar a Miguel. E essa com certeza seria a parte mais difícil de tudo aquilo.

Maria arrumou-se sem pressa, queria ficar bonita para ver Miguel. Deixou o cabelo solto, usou o mínimo de maquiagem porque ele gostava assim, pôs um vestido azul claro que ia até os joelhos e sapatilhas. Mas tinha algo diferente, os cortes já estavam cicatrizando, não era mais tão horrível de olhar e os curativos tinham se tornado algo opcional. Miguel não tinha medo de suas cicatrizes, ele era corajoso o suficiente para lidar com elas. E Maria também seria. Retirou os curativos e respirou fundo em frente ao espelho. Era um novo começo para ela.

Foi sozinha ao encontro de Miguel, dirigiu seu porshe com tranquilidade até a praia. Depois de estacionar, andou até o ponto de encontro. Uma praça que se localizava bem no centro da zona litorânea da cidade. De um lado, todas as lojas e atrações e do outro o mar em toda sua beleza. Bem no centro da praça se encontrava uma grande fonte, que era um dos lugares mais procurados pelos casais da cidade e que a visitavam. A tradição dizia que quando um casal apaixonado fazia um pedido naquele fonte ele iria se realizar e o casal ficaria junto por toda vida.

Muitos duvidavam, achavam que era besteira, enquanto outros juravam que era verdade. Os casais mais antigos da cidade garantiam que a tradição se cumpria, pois quando estavam namorando fizeram seus pedidos ali e além deles se cumprirem, amor não faltou em suas vidas.

Pois bem, Maria estava do lado dos que acreditavam. E agora estava ali esperando por Miguel, estava em paz com sua decisão. Sabia que aquele momento seria difícil, mas o futuro seria muito melhor graças a ele. Não demorou para que Miguel chegasse, logo ele chegou, tinha vindo direto do colégio. E estava ansioso para saber o porquê daquele encontro.

— Oi amor. - ele disse ao se aproximar, estava confuso. Isso era claro.

— Oi. - ela sorriu para ele.

— Tá tudo bem? - ele perguntou antes de beijar seu rosto.

— A gente precisa conversar.

— O que aconteceu? - ele perguntou preocupado.

E agora? Como ela ia contar? Encarava ele com aqueles lindos olhos azuis, ele era tão lindo... Por dentro e por fora. Ele merecia uma garota inteira, e ela iria ficar inteira por ele e por si mesma.

— Eu tomei uma decisão Miguel, uma decisão muito importante e preciso te contar.

— Tá, pode falar.

Maria respirou fundo e segurou a mão dele, Miguel estava claramente nervoso e Maria não queria que ele se sentisse assim. Queria passar segurança a ele.

— Eu vou me internar Miguel.

— Quê?! Por que?!!! - Miguel apertou a mão de Maria com força, não queria soltá-la, não a queria longe.

— Miguel, me escuta amor. - Maria levou as duas mãos ao rosto dele e fez com que seus olhares estivessem conectados. - Não vamos nos enganar achando que eu vou ficar bem logo, porque não vou. Isso é vida real, problemas reais, meus problemas!

— Não não, mas você não precisa! Maria, não!

— Preciso amor, eu preciso! - dizendo isso encostou sua testa na dele, e esperou até que Miguel encontrasse um pouco de calma novamente.

Mantinham os olhos fechados, se sentiam presos numa bolha somente deles. A despedida deles.

— Maria, por favor... - Miguel sussurrou.

— Olha pra mim. - ela pediu.

Os dois abriram os olhos e se encararam. Maria fazia carinho no rosto dele, já ele a segurava com força. Tinha medo de soltá-la e vê-la ir.

— Esse não é o nosso fim. É só um até logo meu amor, eu garanto que vai ficar tudo bem. Eu procurei um boa clínica e já está tudo acertado. Amanhã bem cedinho eu vou, e daqui a três meses eu vou estar de volta pra você.

— É muito tempo...

— É o tempo que dura o tratamento, o tempo que vou levar pra ficar inteira pra você. E pra todos que eu amo.

Miguel ficou em silêncio, ela tinha seu ponto de razão. Mas não sabia o que falar, podia não ser um adeus,mas até mesmo um até logo era doloroso.

— Você tem certeza de que quer fazer isso?

— Tenho. Certeza absoluta.

Silêncio novamente, Miguel estava triste. Muito triste, e isso partia o coração de Maria.

— Me promete uma coisa? - ela perguntou.

— O que?

— Daqui a três meses, nessa mesma hora e lugar, você vai estar aqui esperando por mim. Promete?

— Prometo.

Ela sorriu, ele tentou fazer o mesmo.

Os dois se abraçaram, e aquele foi o abraço mais longo e apertado que tinham trocado até agora. Depois fizeram seus pedidos na fonte. Cada um jogou uma moeda, jogaram ao mesmo tempo de mãos dadas.

Ele pediu que conseguisse suportar a ausência dela por esses três meses e ela pediu que conseguisse voltar inteira para ele. Seu amor.


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Notas finais do capítulo

Só mais unzinho e acabamos gente ):
Beijo beijo meus amores!