Ao estacionar o porshe ao lado da picape de Brooke, Maria ainda sentir a adrenalina da discussão em suas veias. Sabia que Rachel não ia parar, sabia que só ia ficar pior. Isso dava a ela uma estranha vontade de vomitar, ou talvez não tão estranha assim.

Miguel treinava na quadra,e Brooke estava tomando sol numa cadeira de praia , ao lado dela, outra cadeira estava armada.

Maria soube que Brooke a estava esperando, por isso ,se recompôs e tentou esquecer um pouco do que tinha acontecido. Saiu do carro e caminhou calmamente até Miguel ,que deixou a bola de lado por cindo minutos para poder beijar sua namorada.

Depois Maria foi até Brooke, se sentou ao lado dela sem dizer uma única palavra e somente esperou.

- Pensei que você não fosse vir.

- O treino demorou um pouco mais. - mentiu dando de ombros.

- Eu já fui líder de torcido esqueceu, ainda lembro de todos os horários de treinos. A treinadora Sue não demora tanto, mesmo em época de campeonato. - Brooke falou sem olhar para ela.

Maria permaneceu em silêncio ,tinha esquecido do quanto Brooke era esperta.

- Se você não quiser falar tudo bem ,mas eu sei que aconteceu alguma coisa.

Mais alguns minutos em total silêncio, só o barulho da bola de basquete quicando pela quadra e os passos de Miguel correndo atrás dela.

- Rachel. - Maria disse baixinho.

- Rachel é um acontecimento muito ruim mesmo.

- Discutimos hoje ,antes de eu vir .

Brooke tirou os óculos escuro em forma de coração e olhou para Maria.

- O que ela disse ?

- Um bando de coisas que eu não gosto de lembrar, enfrentá-la não vai ser nada fácil.

- Pode ficar tranquila Maria, aquela cachorra late mais não morde.

- Você chamou sua prima de cachorra Brooke?- Maria perguntou sorrindo.

- E não é isso que ela é? - Brooke deu de ombros, satisfeita por ter arrancado um sorriso de Maria.

- Eu posso fazer uma pergunta Brooke?

- Claro.

- Por que vocês se odeiam tanto?

Maria sempre quis entender essa questão, e Brooke nunca quis falar sobre ela.

Brooke Davis sempre se fez de forte, para tudo e todos. Mas por dentro ela tinha suas muitas cicatrizes, algumas delas ainda abertas e sangrando. Brooke se fazia de forte para não preocupar os outros, ou muitas das vezes para estar pronta a ajudar quem estivesse perto.

Mas ela sabia que teria de contar sua história, teria de falar sobre as coisas que a assombravam. Era inevitável.

- Eu e Rachel eramos muito apegadas ,acredite se quiser. Nossos pais nos criaram muito juntas, e acho que por isso criamos uma relação de irmãs. Eu sou mais velha ,por isso eu era o exemplo dela. Mas quando entramos na adolecencia, Rachel começou a desenvolver características grotescas. Ela ofendia e magoava as pessoas só para se sentir melhor, passava por cima de qualquer um que a atrapalhasse de alcançar seu objetivo. Mas eu era ingenua na época, achava que ela nunca iria fazer aquelas coisas comigo, por isso permaneci tranquila. Até que me tornei uma das vítimas dela... - disse com um fio de tristeza da voz.

- O que ela fez com você?

- Eu me apaixonei por um cara quando estava no segundo ano, ele era tudo para mim e eu pensava ser tudo pra ele também. Viviamos juntos, eu daria meu mundo pra ele se fosse preciso. Mas em uma tarde eu fui até a casa da Rachel depois da escola, eu tinha uma chave da casa ,por isso pude entrar sem fazer alarde. Chamei por ela ,procurei em todos os cômodos e nada. Ai eu subi pro segundo andar, comecei a ouvir uns barulhos estranhos e fui caminhando curiosa para descobrir o que era. A porta do quarto dela estava entre aberta, e aquele barulho que eu tinha ouvido eram gemidos. Uma jaqueta vermelha estava jogada ao pé da porta e eu já tinha visto ela antes. Eu não podia acreditar ,mas eu continuei andando, porque eu precisava ver, precisava ter certeza. - fez uma pequena pausa, tomando ar - Quando eu entrei no quarto ,me deparei com Rachel e meu namorado na cama dela. Se agarrando, se beijando e tudo o que você pode imaginar.

Maria nem sequer podia imaginar o quanto devia ter sido terrível para Brooke ver aquilo.

- O que você fez?

- Foi naquela hora que eu mudei ,minha mente deu uma volta completa e de repente foi como se toda a minha vida passase diante dos meus olhos e eu pudesse ver o quanto Rachel sempre foi cretina. Eu comecei a gritar pelo quarto ,e foi naquela linda tarde que eu dei a maior surra do mundo naquela cadela desgraçada.

Maria reprimiu um risinho ,podia claramente ver Brooke surrando Rachel. E era hilário.

- O que aconteceu depois?

- Eu larguei ela lá no chão e atirei as roupas do idiota pela janela, depois eu fui embora. Só quando cheguei em casa foi que percebi o que de fato tinha acontecido, eu chorava como nunca chorei na vida. Foi uma traição dupla sabe? Toda minha raiva e toda minha tristeza deu nisso. - ela disse ao alisar seu cabelo. - Cortei o cabelo sem pensar duas vezes, eu queria mudar, ser diferente, ser mais forte. E minha imagem não transmitia isso. Eu queria mais que isso, queria pessoas fortes perto de mim. E com meu novo visual eu consegui.

Era impressionante, mesmo depois de conta sua história, a história que estava por trás do tão famosos "Surto de Brooke Davis" ,ela ainda conseguia sorrir. E isso fez com que Maria a admirasse ainda mais.

- E Miguel é uma delas?

- É ,ele foi a única pessoa que teve coragem de vir falar comigo quando voltei para a escola. Eu percebi que ele era diferente, e me perguntei o porque de nunca tê-lo notado antes. E decidi que ele iria ser meu melhor amigo.... E aqui estamos!- concluiu rindo.

Maria sorriu ,mas ainda estava preocupada com o problema Rachel. E Brooke percebeu.

- O segredo é não expor suas fraquezas, principalmente na frente de um inimigo. Quanto mais amedrontada você parecer diante dela, mais forte ela vai se sentir.

- O problema são os meus segredos Brooke..

Maria sempre soube o quando eles eram perigosos, se alguém soubesse ,ela estaria perdida.

Brooke resistiu ao impulso de fazer perguntas, sabia que elas não seriam respondidas.

- Todos temos segredos Maria, uns piores que outros. Mas na verdade o tamanho deles, depende da importância que depositamos neles. - Brooke estende a mão e envolve a de Maria sem jeito. - Eu e Miguel estamos aqui e acho que falo por nós dois quando digo que por que sejam seus segredos, nós vamos continuar aqui.

Maria se sentia comovida com as palavras da amiga, isso, amiga. Era isso que Brooke havia se tornado, e pela primeira vez na vida, Maria não se sentia completamente sozinha, agora ela tinha um namorado maravilhoso e uma amiga de verdade.

Sendo movida por essa constatação, Maria se esticou em sua cadeira até envolver Brooke em um forte abraço. No início a garota de cabelos rosa foi pega de surpresa, mas o que ela sentia era o mesmo que Maria, então foi fácil corresponder ao abraço com a mesma intensidade.

Elas não viram ,mas Miguel foi forçado a largar a bola quando viu as duas mulheres mais importantes de sua vida naquele momento. E internamente pediu a Deus , que fosse daquele jeito para sempre.

(.....)

O céu já estava escuro quando Miguel estacionou o carro em frente a casa de Maria, buzinou somente uma vez e não precisou esperar muito para que Flor abrisse a porta e fosse correndo até o fusca.

Estava linda como sempre, camiseta branca e saia rodada alta azul. Cabelos presos em um rabo de cabelo perfeito, estava parecendo uma colegial dos anos 70.

Miguel sorriu todo bobo ao vê-la se aproximando toda sorridente.

Maria entrou no carro, toda animada. Iam passear hoje, Miguel iriam levá-la para comer em um lugar legal e depois iriam caminhar pela praia.

- Resolveu voltar uns anos no passado minha Flor? - Miguel perguntou sorrindo.

Maria deu de ombros.

- Eu gosto muito do estilo dos anos 70 ok? - Maria respondeu alisando a saia.

Se olharam e sorriram ,se aproximaram até poderem trocar um beijo que começou calmo e foi ficando cada vez mais quente. Até que Maria se afastou se jeito.

- É melhor irmos logo, amanhã temos aula.. - disse fazendo careta.

- Bom ,então vamos indo!

E assim ele dá a partida no fusca.

Em menos de meia hora, Miguel estaciona o carro em frente a um pequeno e charmoso restaurante italiano. Ele está todo animado ,mas Maria não muito, só consegue pensar em como fazer para fugir de todas as calorias e gorduras desse lugar.

Miguel sai do carro e da a volta até abrir a porta para Maria, que pega sua mão e sai do fusca.

Os dois entram de mãos dadas e se sentam em uma mesa ao lado da vidraça da frente do restaurante.

É um lugar pequeno, mas muito bem decorado. Tudo ali remete a cultura italiana, as cores, os quadros nas paredes e a música leve que enche o local.

- Gostou? - Miguel pergunta olhando Maria observar o local.

- É muito charmoso. - ela responde e volta a olhá-lo sorrindo.

- Fico feliz por ter gostado. - ele sorri de volta.

Se sentem ligados, e quando se olham dessa maneira. Nada mais importa no mundo. Tudo fica tranquilo, e os problemas e preocupações simplesmente avaporam.

Esse momento é interrompido quando o garçom chega e deixa o cardápio com eles.

Miguel passa os olhos por ele tranquilo, pensando no que pedir. Já Maria está praticamente em pânico, tudo parece tão gorduroso... e tão gostoso.

Depois de uns 10 minutos, o garçom volta e recolhe os pedidos. Lasanha de quatro queijos para Miguel, e panquecas de espinafre com molho branco para Maria.

Ela remexia os dedos em seu colo, estava nervosa, mas não sabia bem o porque. Andava assim ultimamente, seu humor estava como uma montanha russa.

- Você está bem Flor? - Miguel estendeu a mão por cima da mesa.

Maria encarou sua mão e sorriu ,pôs a sua por cima da dele.

- Só estou preocupada..

- Com o que?

- Hoje depois do treino eu e Rachel tivemos uma discussão.. - era melhor falar de uma vez.

- Essa garota de novo? - Miguel suspirou, parecia estar um tanto irritado.

- Mas já está tudo bem ,eu conversei com a Brooke..

- Eu vi vocês duas se abraçando hoje . - disse sorrindo - Eu confesso que no início achei meio estranho ,mas eu gostei muito de ver vocês duas daquela forma.

- Brooke é uma ótima pessoa, de verdade. E depois de saber pela barra que ela passou por causa do Rachel..

- Espera, ela te contou?

- Contou. Por que o espanto?

- Porque a Brooke nunca fala sobre isso com ninguém. Ela ter contado sobre "O surto de Brooke Davis" é um grande passo pra ela.

- Então quer dizer que ela confia em mim? - Maria sorriu.

- Exatamente. - Miguel retribuiu o sorriso.

Depois disso os pedidos foram entregues por um simpático garçom de olhos castanhos profundos. Miguel logo atacou o prato, sem cerimonia nenhuma. Já Maria ficou encarando e remexendo suas panquecas.

E claro, Miguel percebeu. E viu ali uma ótima oportunidade de observar. Sabia que Maria comia mal, e já tinha percebido que a cada dia era como se Maria Flor fosse ficando mais e mais magra.

Enquanto comia sua própria comida, observava Maria muito discretamente. Partiu as panquecas ao meio, depois partiu mais uma vez. Remxia nelas, comeu um pequeno pedaço e voltou a tarefa de esfraganlhar a comida. Miguel se perguntava o que ela estava fazendo. Mas logo Maria se retirou para ir ao banheiro e ficou um bom tempo lá, durante esse tempo Miguel encarava o prato dela pensativo. O que ela estava fazendo?

Depois Maria voltou e não quis demorar, pediram a conta e depois de teram pago tudo foram em direção a praia para uma caminhada.

Miguel ainda pensava nos segredos que Maria ainda tinha, porque ela com certeza tinha alguns. Maria falava sobre o quanto estava animada com o início da temporada de jogos. Depois de um tempo a preocupação de Miguel foi se dissipando, isso aconteceu quando Maria começou a beijá-lo e fazer carinho em seu rosto.

As dez e quinze Maria estava em casa, ou na frente dela. Porque só entrou as dez e meia, relutou em entrar porque queria passar mais tempo com seu namorado.

E a certeza de que o amava era cada vez maior..

(.....)

No dia seguinte,Brooke Davis acordou com mil e umas preocupações na cabeça. E todas ela envolviam Maria Flor. Precisava fazer alguma coisa. E seria hoje.

Levantou ,tomou banho e vestiu um vestido longo e folgado ... preto. Bagunçou o cabelo e pôs os óculos escuros nos olhos. Desceu pro primeiro andar e só entrou para pegar seu café e dar bom dia aos pais e irmão.

Ainda era muito cedo, mas ela não iria direto para a escola. Tinha um assunto a resolver antes disso..

Dirigiu calmamente pela cidade, em direção a parte mais rica da cidade. Estacionou em frente a enorme mansão a qual conhecia muito bem, já que passara boa parte de sua infância ali.

Viu o carro da cadela na entrada de carros, isso queria dizer que ela ainda estava ali.

Sorriu antes de sair do carro, andou calmamente até a porta e deu três batidinhas antes de Rachel abrir a porta toda sorridente.

Esse sorriso durou uns poucos segundos, porque logo a mão de Brooke acertou seu rosto bem em cheio. Deixando sua bochecha direita vermelha e em chamas.

- O que é isso sua maluca?! - Rachel gritou com a mão no rosto.

- Isso é pra você aprender a ficar bem longe da minha amiga! - Brooke respondeu com o dedo da cara de Rachel.

- Maria? - Rachel perguntou com um sorriso sínico nos lábios. - Aquela bulímica?!

- Oque?!