Ele E Ela escrita por Maitê


Capítulo 18
Vindo a tona




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- O que? - Brooke perguntou novamente sentindo o sangue fugir de seu rosto.

O que Rachel estava dizendo?

A garota sorriu, com a mão ainda cobrindo o rosto.

- Ora, por favor priminha! Vai dizer que você nunca percebeu nada de diferente nela?

Era claro que tanto Brooke ,quanto Miguel já tinham notado coisinhas diferentes. Mas nunca deram a devida atenção..

- É só ligar os pontos! Você sempre foi tão esperta priminha .. - disse zombeteira.

- Se você continuar de palhaçada eu juro que acerto sua cara de novo ,só que dessa vez com o dobro de força! - Brooke rosnou entre dentes de olhos fechados.

Rachel se calou de imediato. Brooke respirava com dificuldade, seu coração batia apertado e acelerado. Rachel não podia estar dizendo a verdade...

- Você fazer o que quiser Brooke, mas não pode negar que tem alguma coisa estranha com ela. Pode reparar, hoje na hora do almoço quando ela terminar aquele mini pratinho que ela faz ,Maria vai correr pro banheiro.

Brooke a encarava em choque, todas as vezes em que essa situação se repetiu, passavam como um filme na sua cabeça.

- O humor dela muda que nem volta de montanha- russa, tá tudo ali. Num pacote embrulhadinho pra presente. - Rachel prosseguiu, e se aproveitando do visível estado de choque de Brooke, carregou sua voz de deboche e lhe lançou um sorriso cheio de maldade.

Estava contente por ter atingido Brooke, e só precisou levar um tapa pra isso. Podia ser muito pior...

Era demais, Brooke não podia acreditar que fosse algo tão grave e mesmo assim só conseguia pensar na reação de Miguel.

Ele iria ficar arrasado.

Deu as costas a Rachel e praticamente correu para o carro, em menos de dez minutos ela já estava dirigindo novamente. Apertava o volante com força, tentava por as ideias em ordem.

O que iria fazer?

Podia fingir que não ouviu nada daquilo ,mas .... e se fosse verdade?

Algo precisava ser feito, enquanto houvesse tempo.

Sacudiu a cabeça de um lado para o outro espantando os pensamentos ruins. Conforme os minutos iam passando o coração dela foi se acalmando, mas sua mente ainda estava a mil por hora.

Entrou no estacionamento da escola ainda atordoada, logo viu o fusca de Miguel estacionado na vaga de sempre. Ele e Maria já estavam ali, encostados no fusca rindo e brincando um com o outro.

Brooke encarava Maria, ela estava beliscando a cintura de Miguel e ele ria alto tentando afastá-la. Pareciam tão felizes, Maria parecia tão bem... tão normal.

Então lembrou-se do que Maria tinha dito sobre segredos.. Talvez esse fosse o segredo dela.

Brooke apertou os lábios e tomou uma decisão, primeiro só iria observar e antes de falar qualquer coisa com Miguel, iria conversar com Maria primeiro.

Saiu do carro tentando sorrir, afinal não podia deixar que seu atual estado de espírito ficasse transparente para todos, principalmente para Miguel. Seria extremamente difícil enganá-lo.

Foi se aproximando devagar, segurava a alça da bolsa com força e tentava manter sua expressão tranquila.

- Brooke! - Miguel grita sorrindo enquanto segura os pulsos de Maria que ri alto.

Maria se vira e a encara toda sorridente, mal sabendo que o peso de seus segredos está começando a afundar o barco.

- Ei vocês! - respondeu parando ao lado deles. - O que vocês estão fazendo?

- Eu to tentando provar ao Miguel que ele é gordo! - Maria respondou rindo ,soltando seu pulso e beliscando sua cintura de novo.

- Já disse que não sou! Eu tenho um porte atlético . - disse entre risos pegando seus pulsos de novo e a beijando.

Brooke virou seu rosto, estava nervosa e não ia ficar encarando aqueles dois se beijando. Foi quando encontrou o olhar de Dyllan, que a encarava do outro lado de estacionamento. Ela retribuiu o olhar, com a mesma intensidade.

Sentia seu coração apertar toda vez que olhava para ele, em parte de raiva, em parte de arrependimento ,mas principalmente por conta da tristeza.

Todo dia se perguntava como podia tê-lo amado.

(....)

O refeitório estava barulhento, como sempre. A maioria dos estudantes estavam espalhados por todo o grande salão. Brooke mantinha os braços cruzados e expressão impassível. Estava tensa, esperando o momento certo.

Maria e Miguel estavam ao seu lado, ela não tinha comido muito como sempre e estava calada. Miguel comia um pedaço de pizza e falava pelos três.

Um pouco antes do sinal bater, Maria pede licença e se levanta. Miguel sorri e continua comendo. Brooke sabe bem aonde ela vai, banheiro, seu destino de sempre.

Espera cinco minutos e também se levanta, não pede licença nem olha para Miguel. Não tem coragem.

Ela passa pelas portas duplas do refeitório e anda apressada pelos corredores, agora vazios, do colégio.

Para em frente ao banheiro feminino e respira fundo, abre a porta lentamente sem fazer barulho.

Da três passos silenciosos e fecha os olhos quando ouve aquele barulho tão temido. O barulho que confirmava todas as suas suspeitas.

Alguém estava vomitando, Maria estava vomitando.

De rependete, vinda do nada uma raiva aguda e dilacerante se apossou de Brooke. Raiva da vida, dela mesma, das circunstâncias.. Menos de Maria.

Deixou a bolsa cair no chão com um baque, parou a frente da terceira porta, a que escondia Maria e seu segredo.

A abriu num rompante, como era esperado, Maria estava ali. De joelhos no chão, inclinada sobre o vaso sanitário. Uma das mãos na barriga e a outra apoiada na parede a frente.

- Maria! - Brooke falou meio engasgada.

Foi uma das cenas mais horríveis que viu em sua vida, uma cena que não saiu de sua cabeça durante muito tempo.

Maria Flor ficou estática ao ouvir a voz de Brooke, soube internamente que aquilo era o começo do fim. Não se mexeu, não conseguia. Só chorava ,até seus pulmões arderem implorando por mais ar.

Depois de um tempo virou o rosto para Brooke, uma das mãos sobre a boca.

- Então é verdade.. - Brooke suspirou com tristeza.

- Você não sabe de nada! - Maria falou ríspida, se levantando sem jeito.

Deu três passos tropegos até se apoiar no balcão da pia, encarou seu reflexo do espelho. Derrotada ,violada. Era assim que se sentia.

- Eu sei sim, na verdade sei a muito tempo. Mas só agora eu tive certeza. - o rosto de Brooke ia ficando cada vez mais vermelho, conforme sua irritação aumentava. - Por que?!

Por que? Por que? Por que?

Essa pergunta soava na cabeça de Maria todo dia, todo dia quando se ajoelhava diante de um vaso sanitário. E botava tudo para fora. Por que fazia mesmo?

- Porque eu preciso ser perfeita! - gritou para o mundo, não só para Brooke.

Depois disso ,desatou a chorar mais uma vez. Cobriu o rosto com as mãos, como que para esconder sua própria vergonha.

- Por que? - Brooke sussurrou, estava assustada demais.

- Porque se eu for perfeita, ninguém mais vai me deixar. - Maria respondeu de imediato, entre lágrimas.

Isso partiu o coração de Brooke, então Maria já tinha sido abandonada. E não foi qualquer coisa. Deve ter sido uma perda, uma decepção muito grande. Pra ter deixado traumas tão grandes em sua alma.

Brooke deu um passo a frente e com delicadeza tirou as mãos de Maria do rosto, seu rosto estava vermelho e banhado em lágrimas. Os lindos olhos verdes estavam em pânico em sem direção.

- Você não precisa ser perfeita. Ninguém é, não precisamos ser perfeitos diante dos olhos de quem está em terra. Precisamos ser perfeitos diante dos olhos de Deus Maria. Ele nos criou, e pra ele somos perfeitos.

- Você não entende .. - Maria disse ,soluçando mais uma vez.

- Entendo mais do que você imagina, e Maria, mesmo que você precisace ser perfeita. Não é assim que você vai conseguir, você vai acabar morrendo ..

Era a mesma história de sempre, a mesma fala de sempre. Morte, Maria pensava nessa palavra e no peso dela com frequencia. Será que seria tão ruim assim..?

Um arrepio gelado percorreu sua espinha quando esse pensamento passou pela sua cabeça.

Maria se afastou com certa violência, empurra Brooke para longe. Está com raiva da vida, porque ela tinha que descobrir?! Porque?!

- Você não sabe de nada Brooke, eu faço isso a mais tempo do que você imagina e ainda to de pé! - falou num tom arrogante.

- Por quanto tempo? - Brooke perguntou com aparente calma na voz.

Flor arregalou os olhos por uns segundos.

- Maria ,eu só quero te ajudar. Eu sou sua amiga lembra? Não quero fazer mal ou nada disso. Só quero seu bem. - Brooke tenta se aproximar novamente. - Naquela tarde ,quando você estava falando de segredos... Era sobre isso não era?

- Também.

- Também?

Tinha mais, mais uma coisa. Maria Flor estava ali parada no banheiro do colégio. Diante de uma das três pessoas que lhe forneciam um bom exemplo nessa merda de vida que ela levava. A verdade engasgada na garganta, arranhando ,puxando, sufocando, querendo sair. Por que não? Se Brooke tinha descoberto isso, não iria demorar para que descobrisse o outro segredo.

Tomando ar, Maria estende os pulsos e num momento de coragem insana, arranca as pulseiras que cobrem seus dois pulsos.

Revelando as muitas cicatrizes, e os cortes mais recentes, feitos a duas noites atrás num momento de desespero.

Brooke se arrepia inteira ao ver aquilo, seus olhos se mergulham em lágrimas e ela só consegue pensar em como Miguel irá reagir aquilo.

- Maria.. - é só o que ela consegue dizer.

- Antes que você pergunte, eu faço isso porque tenho raiva de mim. Raiva das coisas que me foram tiradas, raiva da minha vida de merda e dessas pessoas medíocres que passaram a vida inteira me cercando. - ela disse com frieza na voz.. e no olhar. - As vezes ,a raiva e a tristeza se tornam tão grandes que resulta nisso. - ela dá de ombros, indiferente .

- Eu tenho que contar ao Miguel. - Brooke diz determinada, dando as costas.

Mas antes que possa passar pela porta, Maria agarra seu pulso a detendo. Em total desespero, sente como se sua única chance, sua única razão de viver estivesse sendo arrancada dela.

- Não Brooke! Por favor, não faz isso. Por favor, por favor Brooke. Não... - ela soluça sem parar, as lágrimas rolam sem parar e suas pernas fraquejam. Maria vai ao chão ,ainda segurando o pulso de Brooke com a maior força que pode.

- Por que ? Ele ...

- Ele vai me deixar! - Maria grita com os olhos fechados.

Não quer ver, não quer sentir. Naquele momento, queria que o chão se abrisse e ela fosse engolida por ele.

- Você acha que ele é assim?! - Brooke puxa seu pulso, libertando- se do aperto de Maria. - Ele não vai te deixar, e ele tem que saber que está namorando com uma linda garota que tem sérios problemas.

Brooke chega a por a mão na maçaneta da porta, mas não consegue sair. Os soluços de Maria a impedem, Brooke olha para trás e a vê de joelhos no chãos. Os pulsos virados para cima, deixando seus cortes a mostra. Ela não fala nada, mas o desespero ao seu redor chega a ser palpável.

Brooke respira fundo e se ajoelha ao lado de Maria, passa um de seus braços pelo seu ombro e pega uma de suas mãos com a outra. Maria Flor se apoia na amiga, ainda chora.

De repente percebe que agora chora por todas as coisas que já perdeu na vida. Pela sua mãe, irmão, pai. Por ter a chance de perder Miguel, e ter seu coração esmagado por isso...

- Eu o amo Brooke, com todo o meu coração. Ele é a minha única chance, mas se ele souber, vai achar que sou louca e vai... ele vai... - nem consegue completar a frase por conta dos soluços .

- Não vai não ,eu não vou contar. Por enquanto.. Mas eu quero que você faça uma coisa em troca.

- O que?

- Eu quero que você vá a igreja comigo e com Miguel no domingo, pelo menos uma vez. Eu quero que pelo menos por um momento você sinta esperança de verdade. Esperança que só pode vir de Deus, tá bom?

Maria faz que sim com a cabeça, não é um preço muito alto. E se for a igreja uma vez ,vai poder continuar com Miguel.

Elas continuam ali, sentadas. Atadas uma a outra. As duas em desespero.

Sem ter a mínima ideia do que esperar do amanhã.


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Notas finais do capítulo

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Que Deus abençoe a todos, beijinhos! *-*