Acordo de bom humor pela primeira vez em meses e essa sensação de não ter que levantar e fazer algo que não quero, é maravilhosa. Tudo vai ser melhor hoje e eu sinto isso.

– Bom dia – diz Annie ao meu lado enquanto faz um rabo de cavalo em seu cabelo recém-aparado e ainda brilhante devido a hidratação.

– Bom dia – respondo e me levanto. Como Madge e Clove ainda estão deitadas sigo para o banheiro, pois sei que Annie não irá se importar de que eu vá primeiro.

Assim que entro no banheiro e antes que eu possa fechar a porta, a imagem que reflete no espelho me assusta e eu solto um grito.

– O que foi? – Annie corre e abre a porta em um rompante.

– Olha o espelho – exclamo enquanto passo as mãos pelo meu rosto.

– Essas somos nós. Algum problema? – avisa franzindo a testa como se não estivesse entendo.

– Então... Eu estou mesmo loira e namorando? – pergunto e olho o anel prateado em minha mão direita.

– Sim – ela sorri ao mesmo tempo em que passa as mãos pelos meus braços – É tão surreal assim pra você?

– É um pouco – afirmo.

Ela ri e sai do banheiro. Tomo meu banho e durante o processo, noto que meu pulso ainda está bem vermelho, com sorte tenho alguma blusa de manga comprida branca que fique boa no uniforme. Suspiro e saio do banheiro. Vejo Mad arrumando seu material, enquanto Annie toma banho, eu me arrumo e Clove continua dormindo. Ao colocar a blusa, fico com um pouco de medo de que o tecido seja claro demais e a vermelhidão apareça, mas por sorte esconde super bem.

– Meu Deus, a Clove não vai levantar não? – pergunto.

– É verdade – Mad fala e olha para o relógio, enquanto Annie passa pela porta com a toalha em mãos.

Ela chega perto do emaranhado de lençóis que supomos ser Clove e diz – Clô, a Annie está com fome.

Rio ao ver que ela treme, mas ignora.

– Clove... Ah meu Deus, o Cato sofreu um acidente! – exclamo e vejo que ela logo se levanta, sentando na cama com uma expressão apavorada.

– O Cato o quê?!- grita.

Começamos a rir de sua reação e ela logo entende que era apenas uma brincadeira, mas ao contrário do que, geralmente faria, ela apenas sorri envergonhada e vai se trocar.

– É... A nossa noite foi bem reveladora – comenta Mad.

– Pois é... Ela finalmente admitiu gostar do Cato – relembra Annie.

– E não vai demorar muito para que os dois comecem a namorar, assim como vocês duas – aponto e elas balançam a cabeça, pondo o assunto de lado.

Cerca de vinte minutos depois, todas nós estávamos prontas, pegamos nossas mochilas e antes de sairmos do quarto, eu as paro.

– O que foi Kat? – pergunta Clove.

– Eu ainda estou meio insegura em relação a minha ‘’nova’’ aparência – digo.

– Por quê? – pergunta Annie incrédula ao entender o que eu disse.

– Por que... Eu estou, ou... – suspiro e passo as mãos pelo rosto – Eu sou loira e eu não cheguei aqui assim, então é novidade pra todo mundo e...

– Desenvolve Katniss – fala Annie irritada.

– Eu estou parecendo a Glimmer e a Delly – sussurro.

Elas reviram os olhos e soltam os ombros demonstrando o quanto estão cansadas desse assunto. Eu havia falado algo parecido ontem um pouco antes de chegar ao colégio, toquei no assunto mais uma vez durante nossa conversa de madrugada e agora de novo. Acho que elas já cansaram de tentar enfiar na minha cabeça que eu tenho que parar de me comparar a outras pessoas, que essa sou eu e um monte de outras coisas. Mas o ‘’problema’’ é exatamente esse. Essa sou eu e eu sou insegura. Até anteontem eu não ligaria para o que os outros pensam, mas hoje já não é mais assim.

Percebo que elas batem a porta do quarto, me deixando sozinha, sem antes dizerem algo como: Vamos chamar o seu namorado, você está fora de controle.

Ótimo, eu sou tão chata que nem minhas amigas me suportam mais. Deito na cama e me viro de costas para a porta e espero Peeta chegar enquanto fecho os olhos e fico passando os dedos sobre meu anel de compromisso. Meu bom humor já havia sumido mesmo...

– Kat? – chama Peeta batendo na porta antes de entrar no quarto – O que foi? – ele pergunta e se senta ao meu lado, me viro em sua direção ainda de olhos fechados agora apreciando o carinho que ele faz em minhas costas.

– Bom dia – murmuro como um sussurro.

– Bom dia. O que houve? As meninas pediram para eu vir aqui falar com você – diz calmo.

– É que... Eu estou diferente e loira. Eu não quero que me comparem a Glimmer ou a Delly, ainda mais com toda essa história que elas têm – falo encarando seus lindos olhos azuis.

– Kat, olha a Madge: Ela é loira e nem por isso é comparada à elas – ele diz sorrindo e eu fecho a cara ficando de costas para ele de novo.

– Peeta, é sério – falo e ele suspira.

– Katniss ninguém vai te comparar a elas. Não precisa. Você é mais bonita, mais inteligente, canta muito melhor e é minha namorada. Você é você e não tem comparação.

Sorrio e viro-me de frente para ele que me surpreende com um beijo na testa. Peeta é e sempre será Peeta, nunca perderá essa essência de bom menino.

– Podemos ir agora? Mesmo que a gente não tenha muita fome de manhã, nós ainda precisamos comer – adverte.

Nos levantamos e eu entrelaço nossos dedos. O café já devia estar acabando e nós não demoramos a comer, podemos comer uma fruta na ida para a sala. Então o paro antes que ele abra a porta lançando-me um olhar confuso.

– Não vai me dar um beijo de bom dia? – pergunto e passo meus braços envolta de seu pescoço enquanto ele põe suas mãos em minha cintura.

– Eu não acho nada mal, sabe... – ele inclina a cabeça um pouco para o lado, mas não se aproxima, apenas faz uma carinha de criança birrenta tentando conseguir o que quer.

– Esta esperando o que? – pergunto.

Ele cola seus lábios aos meus, doces e calmos, sem língua, mas tão profundo e romântico como qualquer outro. Puxo delicadamente uma mecha de cabelo de sua nuca e passo os dedos por um de seus cachos, enquanto Peeta suga meu lábio inferior duas vezes seguidas. Mellark, você vai me enlouquecer! Ele cola nossas testas e continuamos de olhos fechados aproveitando essa maravilhosa bolha que criamos. Acaricio seus cabelos e ele faz círculos imaginários em minhas costas.

– Se não tivéssemos aula agora, eu iria te levar lá para o lago, passar o dia inteiro agarradinho com você, minha loira – diz Peeta em um sussurro.

– Ah que namorado carente – falo encarando seus orbes azuis.

– Olha quem fala! – ergo a sobrancelha – Você acaba de ter uma crise de existência e vem falar de mim.

Me solto de seus braços bruscamente e me viro de costas ara ele; percebo que o mesmo fica confuso, mas não ligo pra ele agora. Eu não tive uma ‘’crise de existência’’ e assim que ele mencionou isso conseguiu me deixar extremamente irritada e me deu a entender que eu sou uma garotinha fútil que esperneia quando não tem roupa para vestir.

– Katniss – chama Peeta.

Ignoro e me lembro de que tenho que tomar a merda dos remédios que o médico mandou para controlar o estresse ou o que seja. Então vou até a sacola de remédios e ponho os que eu tenho que usar hoje em um nécessaire, jogando violentamente na mochila azul que eu uso.

Eu estou com raiva de Peeta, tudo estava maravilhosamente bem até ele abrir a boca rebater o que eu disse. Vou em direção ao espelho do banheiro e verifico mais uma vez se a parte vermelha do pulso aparece por baixo da manga branca. Quando concluo que não, apenas ajeito as alças do macacão e saio batendo a porta com força, sobressaltando Peeta. Coloco as alças da mochila nos ombros e saio do quarto.

Quando estou quase na porta do refeitório, sinto uma mão puxar meu braço. Firme, mas delicado.

– O que foi? – pergunto rude ao ver os olhos de Peeta demonstrarem arrependimento.

– O que foi digo eu! Porque você ficou assim? – pergunta arqueando suas perfeitas sobrancelhas.

– Porque a minha manhã estava ótima até você falar que eu tive a bosta de uma “crise de existência” - falo e sustento meu olhar no seu enquanto ele passa as mãos pelo cabelo já bagunçado.

– Kat, me desculpa. Eu não quis dizer o que você pensa - avisa e tenta tocar o meu rosto, mas me afasto – Mô... - chama carinhoso e eu ignoro - A gente vai ter mesmo a nossa primeira discussão por causa disso?!

– Nenhum de nós está batendo boca está? – pergunto e ele nega - Então não tivemos nossa primeira discussão.

Viro-me e entro no refeitório, passo pela parte da comida e não entro na fila, apenas coloco a mão em uma das partes pratas de metal e tiro de lá uma maçã. Olho para trás e vejo Peeta me encarando, ignoro e sigo para a mesa que meus amigos estão.

Como todos estão sentados em pares, eu teria que sentar ao lado do meu namorado e isso é o que eu menos quero agora. Não que eu esteja com raiva como há alguns minutos atrás, eu estou chateada com o que ele disse.

– Finnick – chamo-o baixinho – Eu posso sentar entre as meninas?

Pergunto olhando para baixo. Finn está com Clove ao seu lado esquerdo e com Annie ao direito e ali seria o melhor lugar para sentar e ficar ‘’longe’’ de Peeta.

– O que foi Katniss? – pergunta se levantando e olhando para frente, procurando, talvez, por um outro certo loiro se não ele.

– Eu posso sentar entre as meninas?

Pergunto mais uma vez e ele me olha confuso.

– Por favor! – peço e franzo a testa.

Ele assente e puxa a cadeira pra mim, encolho meus braços em baixo da mesa, tentando não puxar atenção pra mim, mas noto ser impossível já que as meninas se aproximam perguntando se está tudo bem e eu apenas assinto com a cabeça fazendo com que elas voltem aos seus assuntos, sem antes notar que Finnick, Cato e Gale davam uma bronca em Peeta, que apenas reclama dos tapas que recebia na nuca.

O sinal bate e todos que ainda estavam no refeitório se levantam indo em direção as suas salas. Fico um pouco mais atrás do meu grupo de amigos que segue andando e conversando animadamente, dando a desculpa de que ainda tenho que terminar de comer a maçã. Entro na sala no último minuto e procuro um lugar vago ao mesmo tempo em que noto Peeta sentar na última cadeira da fileira, como sempre, com os braços cruzados olhando pra mim. Desvio o olhar e sento-me na primeira cadeira sabendo que o decepcionei fazendo isso.

Suspiro e faço um coque rápido no cabelo, ponho os óculos e tento prestar atenção no professor que acaba de entrar ao invés de me agarrar ao tilintar do ferro da aliança de compromisso que reside em meu dedo.

~*~*~*~*~

– Com licença, professor Snow – diz nossa diretora Effie ao entrar em nossa sala, interrompendo nosso último tempo de aula.

– Pois não – diz cavalheiro. Onde é que está aquele velho rabugento?

– Bom – ela começa parando no centro da sala – A nossa professora de teatro, Johanna, quer que todos se reúnam na quadra para que sejam feitos os primeiros testes para a peça de fim de ano. Ela quer que todos se sintam confortáveis, então não precisam usar o uniforme- ela diz e todos os alunos comemoram inclusive Glimmer que não tirou os olhos de mim e de Peeta ao notar o clima tenso entre nós – Mas apenas hoje, então nada de abuso. Assim que acabar a aula, troquem de roupa e podem ir. O almoço será um pouco mais tarde.

Ela sai da sala e deixa a todos eufóricos, pois logo o sinal bate e todos saem apressados da sala. Sigo para o quarto e fico nervosa. Algumas semana atrás, eu havia cantado na frente de todos os alunos da 1311, exceto Peeta e eu tenho certeza que os meninos vão me obrigar a cantar mesmo que eu não queira. E eu não quero.

– Kat, o que houve? Você está tão calada hoje – fala Mad, assim que entro no quarto e fecho a porta. Todas me encaram com um ar de seriedade e eu sei que todas realmente se preocupam comigo.

– Peeta fez um comentário que me deixou chateada – falo com a voz manhosa. Sento na cama e jogo meu tronco para trás.

– Ah, não foi pra isso que mandamos ele vir aqui – pondera Annie e nós rimos.

Ficar longe de Peeta é estranhamente doloroso e eu não gosto dessa sensação. Eu gostaria mesmo é que ele estivesse aqui comigo, lançando-me olhares convencidos e sorrisos bobos, mas o que ele disse realmente me deixou triste, chateada e magoada e a razão pela qual fiquei assim é que... Eu não sou loira desde que meu pai morreu e voltar a ter cabelos claros, como ele tanto gostava, é difícil pra mim e ele talvez não tenha percebido isso. Simplesmente pensou, ou não, que eu pintei o cabelo e pronto.

– Ah Kat, não fica assim – diz Clove se deitando ao meu lado.

– É Kat. Tenho certeza que ele não falou com a intenção de magoar você.

Annie diz se deitando do meu outro lado, fazendo com que eu fique no meio.

– Além do mais, hoje é seu dia. Finalmente o dia em que todos vão saber o vozeirão que nossa linda Katniss Everdeen possui – Mad fala sonhadora, balançando os cabelos de um lado para o outro logo se jogando em cima de nós três e mesmo com toda sua delicadeza, soltamos um gemido de dor contido.

Ficamos ali quietinhas, apenas apreciando o doce som do silêncio.

– Temos que nos arrumar – aviso e todas se levantam da cama.

~*~*~*~*~

– Kat, eu vou ali na outra arquibancada ver se eu consigo achar a Johanna – avisa Madge.

– Pra que, Mad? Eu já falei que eu não vou cantar – digo e ajeito meu cabelo.

– Sim, você vai! Por isso eu vou falar com ela para dar uma atenção especial pra você, porque agora que a Glimmer voltou e já liderou o teatro uma vez, ela tem grandes chances de conseguir de novo, mas esse ano é seu e você sabe disso.

Reviro os olhos e ela sai junto de Annie. Cruzo os braços me concentrado em esconder as marcas. Não sei por que isso está me incomodando e chamando tanto minha atenção hoje. Talvez seja por causa de Peeta, já que ele não está comigo, tudo parece cem vezes pior.

Olhei para o lado e vi que estava sozinha, procurei ao meu redor e notei que Clove estava com Cato, seus dedos estavam entrelaçados e eles balançavam os braços como se fosse o maior descobrimento dos dois. Um de frente para o outro, sorrindo como se nada mais importasse. Sorri. É bom ver minha amiga feliz... Feliz ao lado de Cato que mesmo implicando com a baixinha, demonstra que gosta dela e eu estou apoiando o casal 100%.

Subi as escadas da arquibancada de ferro já enferrujada e me sentei no último degrau, o mais alto também, cruzei as pernas e fiquei observando todo o movimento que há na quadra. O grupinho de Delly todo vestido de rosa, balançando as mechas louras oxigenadas para lá e para cá como se estivessem em um desfile de moda, um trio de meninos encostados na parede perto da entrada, assoviando para todas as meninas que passam pela porta usando shorts menores do que a calcinha da minha avó...

Um vento frio passa e me arrependo de não ter colocado uma blusa de manga comprida de novo. Dobro os joelhos e me encolho, passo os braços envolta das pernas, fecho os olhos e suspiro, tentando me concentrar em algo que não envolva meu péssimo dia.

– Kat? – ouço a voz de Peeta como um sussurro perto do meu ouvido e logo sinto seus braços cobertos por um pano macio me rodearem e mesmo que eu ainda esteja um pouco chateada com ele, aceito seu abraço e apoio minha cabeça em seu ombro. Ele se ajeita atrás de mim, entrelaça seus dedos aos meus e rodeia minhas pernas na mesma posição que eu estava antes, só que agora com ele entrelaçado a mim.

– Queria pedir desculpas por hoje cedo, eu realmente não quis dizer o que você pensa... Foi mais como um comentário sem graça. Desculpa – ele diz tudo em um fôlego só e sei que ele está nervoso.

Continuo de olhos fechados, mas aperto seus dedos entre os meus e ele suspira aliviado dando um beijo em meus cabelos, apoiando seu queixo em meu ombro.

– Preparada para se apresentar? – pergunta e sinto seu sorriso sínico em sua voz.

– Eu não vou cantar Peeta.

– Não é bem o que a Mad está dando a entender.

– Ela está falando mesmo com a Johanna? – pergunto, tentando me conformar com tal fato.

– Sim – ele avisa e ri – Qual é, Kat?! Você tem uma voz incrível, por que reluta tanto em cantar?

– Eu não sei... – admito.

Nós rimos juntos e logo a tal professora Johanna pede para que nós formemos um círculo na quadra. Peeta levanta e para a minha frente, estendendo a mão, mas eu reluto e abaixo a cabeça cruzando os braços.

– O que foi? – pergunta confuso.

– Peeta, todo mundo vai ficar olhando pra mim por causa disso.

Mostro os pulsos e ele suspira cansado e tira o casaco, colocando-o em meu colo. Olho bem para ele e o mesmo sorri erguendo as sobrancelhas como um incentivo. Sorrio envergonhada e pego o casaco da GAP verde musgo e o coloco em mim segundos depois de sentir o cheiro de Peeta impregnado no tecido. Puxo as mangas um pouco mais para frente por precaução e aceito a mão que ele estende novamente e sem pensar duas vezes cruzo nossos dedos. Levanto-me e não perco tempo em colar meus lábios aos seus, num selinho leve mais gostoso.

– Obrigada, mô – sorrio e ele rouba outro selinho rápido de mim. Eu rio com a cara fofa que ele faz murmurando algo como: De nada mô.

Chegando na roda já formada eu e Peeta nos juntamos aos nossos amigos. Todos sorrindo abraçados aos seus próprios pares, tudo normal até que noto Mad e Annie com uma animação fora do comum. A professora Johanna se põe no meio da grande roda e diz:

– Bom, pra quem ainda não me conhece, meu nome é Johanna Mason e eu vou ser a professora de teatro de vocês até o fim do ano e hoje eu tenho uma surpresa – ela fala começando a andar em círculos – Geralmente nós pegamos um livro e o adaptamos para que vire uma peça, mas esse ano nós vamos fazer diferente. Em vez de fazermos uma peça, nós faremos um musical.

Todos gritam, batendo palma e rio da animação de alguns.

– Então – continua – Nós vamos precisar de muitos cantores, que eu sei, terem bastante aqui e de algumas pessoas que toquem instrumentos como violão, piano ou qualquer outra coisa. Mas antes de tudo, eu vou precisar fazer aquele teste que eu, particularmente, adoro. Nós vamos decidir quem vai liderar o pessoal da voz. Então eu vou escolher duas pessoas para cantar aqui na frente e uma delas vai liderar, mas agora eu quero todos sentados.

Nos dividimos em três fileiras e nos sentamos no chão mesmo, de frente para a professora. Aperto-me nos braços de Peeta e ele ri, passando os braços pelo meu ombro. Madge se vira pra mim e sem fazer som, diz ‘’se prepara’’. O que essa louca fez?

Quando todos já estão acomodados e em silêncio, Johanna volta a falar:

– Eu quero aqui na frente a Srta. Glimmer e a Srta. Katniss.

Arregalo os olhos e amaldiçoou Madge por tudo nesse mundo. E enquanto Glimmer levanta saltitante e vai até a frente, eu seguro com força a ponta do casaco e mordo o lábio inferior.

– Peeta, você pode pegar os tripés com microfone ali atrás da arquibancada, por favor? – ela pede e ele sai correndo.

Chego perto da professora que remexe em seu cabelo curto, enquanto alguns alunos voltavam a falar.

– Professora Johanna – chamo.

– Oh Katniss, me chame apenas de Johanna – assinto – Algum problema?

– Eu... Eu não quero cantar – falo em um fio de voz.

– Por que não Katniss? – ela franze a testa enquanto me pergunta.

–Eu não quero... Eu não sei cantar – falo e ela ri.

– É claro que sabe. Cato, Annie e Madge me mostraram um vídeo seu cantando Rolling In The Deep na sala de aula. Katniss, você sabe o quanto essa música é difícil? Você arrasou sem ao menos querer. Porque acha que não vai conseguir?!

– Johanna...

– Aqui está – avisa Peeta – O que houve?

– Bem, Katniss acha que não vai conseguir fazer o teste – avisa e vira as costas, ajeitando o microfone de frente para os alunos, um ao lado do outro.

– Peeta, me ajuda – suplico e ele ri.

– Você ainda tem dúvida sobre cantar bem ou não?! Você já cantou Adele na sala, porque Cato me mostrou o vídeo, você já cantou Beyoncé pra mim. Se eu não tivesse gostado, ou achasse que você não canta bem, eu teria te falado. Você consegue – tentei objetar, mas ele continuou – Sem falar que você me prometeu uma vingança contra as loiras ali por terem te jogado na piscina, lembra? É a sua chance – ele diz e sem que eu possa responder, me dá um selinho e sai. Deixando-me a visão de uma Johanna sorridente.

Viro-me ao ver que Peeta sentou-se na primeira fileira e sorriu em um pedido mudo de que eu seguisse adiante. Vejo Glimmer já atrás do tripé o ajustando para que a altura ficasse confortável para ela e eu faço mesmo enquanto Johanna se pronuncia novamente.

– Ano passado, eu ensinei uma batida pra vocês e eu tenho certeza que ainda se lembram, então é só repetirem agora. Katniss e Glimmer, vocês vão cantar Rumor Has It e Someone Like You enquanto a batida rola – franzo a testa. Já não basta uma e agora ela quer duas músicas? – Mas vocês vão ter que juntá-las, fazer tipo um remix. As duas vão cantar juntas enquanto misturam as letras e seguem o ritmo dos outros alunos.

Respirei fundo, girei a aliança em meu dedo e pus uma mecha de cabelo atrás da orelha.

– Glimmer, você começa – avisa.

Música:https://www.youtube.com/watch?v=OklNFqXsYdg&feature=youtube_gdata_player

Os alunos começam a bater as mãos no chão, ora estalando os dedos ora assoviando. Respiro fundo e coloco as mãos no microfone.

She, she ain't real,
She ain't gonna be able to love you like I will,
Sure, she's got it all,
But, baby, is that really what you want?

Olhei incrédula. De onde saiu essa voz?! Ela ergue uma sobrancelha em um desafio. Olhei para Madge, ela ignorou e eu estremeci. Que droga...

Bless your soul, you've got you're head in the clouds,
You made a fool out of you,
And, boy, she's bringing you down,
She made your heart melt,
But you're cold to the core,
Now rumour has it she ain't got your love anymore,

Rumor Has It.

Enquanto ela cantava o refrão com extrema calma e facilidade, eu pensava em algo que a superasse. Então soltei:

Don't forget me, I beg, I remember you said

Sorri. Eu tinha alcançado mesmo aquela nota?

I heard that you're settled down
That you found a girl and you're married now
I heard that your dreams came true
Guess she gave you things, I didn't give to you

Rumor Has It

Cantei e vi todos sorrindo, animados com a canção e notei Glimmer cantar junto. Desesperada, tentando não perder a atenção.

Don't forget me, I beg, I remember you said

Glimmer decidiu inverter os papéis e trocou as músicas.

Never mind, I'll find someone like you
I wish nothing but the best for you, too

Inverti de novo e vi seu olhar ameaçador.

Don't forget me, I beg, I remember you said

Ela diminuiu o ritmo…

Sometimes it lasts in love
But sometimes it hurts instead

E eu fiz o mesmo…

Sometimes it lasts in love
But sometimes it hurts instead

Olhei para os alunos e todos sorriam ainda em choque pelo o que havíamos feito. Vi Peeta e um dos sorrisos mais bonitos direcionados a mim e então uma salva de palmas e assovios começou e eu ri da infantilidade de Gale e Finnick que chegaram a minha frente e fingiram me saldar. Ajoelhando-se e batendo os braços no chão como se eu fosse uma rainha.

– Perfeita – sussurrou Peeta em meu ouvido, me abraçando por trás.

– Parabéns as duas e Katniss? – chamou Johanna fazendo todos se calarem – Parabéns, você é, agora, a mais nova líder de canto do nosso musical.

Ela diz sorrindo enquanto todos os meus amigos gritam em comemoração e me abraçam. Recebo beijos na bochecha e parabenizações das meninas e dos meninos que ainda se curvavam ao chão. De longe vi Glimmer e Delly vermelhas de raiva e eu sabia que a vingança estava feita e eu havia ganhado muito mais do que isso. Ganhei reconhecimento e tudo estava maravilhosamente bem.