Anna escrita por Rukia Kuchiki


Capítulo 5
"Anna"


Notas iniciais do capítulo

O nome do capítulo tem relação com uma fala de um dos personagens.
E aí está o capítulo de hoje. ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/357426/chapter/5

— Anna vem comer – Milly gritou da cozinha.

Anna deu pause no jogo e correu até a cozinha, onde sentou-se com sua irmã e as duas comeram em silêncio. Milly levantou-se da mesa, foi até o armário e voltou com um comprimido em mãos.

— Tome.

Anna revirou os olhos, mas tomou o remédio.

— Eu não sou louca, minha mãe disse que eu não sou.

— Ela fala agora?

— Não, mas eu sei que ela disse.

— Vai se arrumar, você tem psicólogo.

Anna levantou da mesa e foi para o quarto, substituiu o uniforme da escola por uma calça e uma camiseta qualquer, colocou um tênis nos pés e saiu de casa, foi caminhando até o consultório e quando chegou lá ficou na sala de espera até ser chamada. Então entrou no cubículo de sala e sentou-se em uma poltrona vermelha desconfortável.

— Como vamos? – o homem magro cheio de olheiras perguntou.

— Normal – respondeu secamente.

— Bom, então eu vou fazer perguntas e você me responde, certo? – Anna assentiu – como andam os espíritos?

— É só um e ele sumiu – mentiu.

 — Sei – anotou algo em uma prancheta e voltou o olhar para Anna – a Milly, como vai?

— Bem…

— Anna, quando eu falei na Milly você mudou de expressão, pode me dizer o que lhe atormenta em relação a ela?

— Brigamos hoje e ela ta afim de um garoto.

— Um garoto, é? E o que isso tem de ruim?

— Não quero que ela tenha um namorado.

O velho voltou a escrever na prancheta durante alguns segundos.

— Eu quero que me diga por que brigou com ela.

— Eu me mutilei sem querer hoje de manhã e ela percebeu que eu não tomei o remédio – disse indiferente.

— Se mutilou “sem querer”? – soltou uma risadinha, o que irritou Anna – olha, querida, ninguém se mutila sem querer, acho que você estava consciente.

— Tanto faz.

— Não, isso é algo sério, Anna. Agora… Por que não tomou o remédio?

— Eu não sou louca.

— Ninguém está dizendo que você é louca, eu só quero saber por que não tomou o remédio.

— Por que eu não sou louca, porra. Eu só matei minha mãe.

— E você acha que isso não é relevante? – anotou mais uma coisa enquanto apertava os lábios secos.

— Sei lá. Já passou, não é?

— Não sei, o que você me diz?

— Que eu não sou louca.

— Ta, então você não quer mais tomar o remédio por que não é louca, isso? – Anna assentiu – certo, mas como você sabe que não é…

— A minha mãe disse que eu não sou louca – gritou.

O velho escreveu mais alguma coisa na prancheta e respirou fundo.

— Então você anda vendo ela – afirmou – por hoje deu, Anna, pode ir.

Enquanto caminhava pela rua, Anna batia os pés com força no chão, deixando algumas lágrimas cair, seria tudo tão fácil se ela não tivesse matado sua própria mãe. Não se recordava exatamente de como havia feito, mas sabia que tinha a matado e que por isso passou sua infância em um centro de reabilitação até ser adotada por um casal gay que já tinha uma filha também adotada, mas por que eles a escolheram? Anna poderia ter passado o resto de sua vida dentro de um quarto branco, recebendo medicamentos e deixando que enfermeiros escolhessem suas roupas, preferia isso a ter que dar satisfação de seus sentimentos para dois homens e uma menina.

Chegou em casa, mas não queria entrar, viu o carro de seus pais dentro da garagem e sentou-se no meio-fio, talvez pensar não fosse algo tão bom assim, não para Anna, sempre que pensava se furava sem perceber, isso já havia virado hábito e todas as cicatrizes em sua perna provavam isso, mas não era por querer, Anna não queria sentir dor nem nada, achava que era uma defesa contra seus pensamentos estranhos, sempre envolvendo espíritos e morte, interligados. De alguma forma Anna pensava em como morrer, se matar, é fácil, ela já fez isso antes; matou.

— O que faz aí minha filha? – a voz grossa de David despertou Anna de seus pensamentos, a menina olhou para seus braços a procura de algum hematoma, mas não havia nada novo.

— Pensando – respondeu e virou-se para sorrir amigavelmente.

David sentou-se ao lado da filha e suspirou forte.

— Anna, você não está bem ultimamente, pensei que estaria feliz hoje, é seu aniversário.

— Sabe que não gosto desse dia…

— Você tem que esquecer certas coisas, pense em coisas boas… Como foi a consulta hoje?

— Por que me pergunta se depois vai ligar praquele velho e ele vai te dizer tudo? – revirou os olhos – sempre pensei que psicólogos não podiam contar o que seus pacientes dizem.

— Você é um caso a parte, Anna. Não podemos deixar que se perca, amamos você, querida.

Anna sorriu, um sorriso forçado, mas o suficiente para deixar o homem feliz, levantou-se e ofereceu a mão para o pai, os dois entraram juntos em casa.

— Anna, minha linda – John gritou da cozinha e Anna foi até ele.

— Oi pai – abraçou o homem que usava um avental de cozinha, ele tinha cheiro de morango, Anna sempre achou aquilo adorável em John.

— Senti sua falta quando cheguei, pensei que sua consulta acabava as três…

— Acabou antes, mas fiquei na rua um pouco.

John repreendeu-a com o olhar e voltou a fazer comida.

— Cadê a Milly?

— Saiu com um amigo da escola, um tal de Matt, não gostei daquele garoto – John respondeu com uma careta – sabe, Anna, às vezes gostaria que a Milly fosse como você e ficasse apenas em casa conosco.

Anna sorriu, deu um tapinha no ombro do pai e foi para seu quarto, fez alguns temas da escola e ficou pensando em Milly, quem seria Matt, será que era o garoto bonito de quem Milly falou? Involuntariamente, caíram lágrimas de seus olhos claros e ela deixou-as ali, estava cansada demais para limpar.

— Anna – uma voz carinhosa chamou-a e Anna arregalou os olhos e olhou para o lado, sua mãe estava ali, sentada na cama ao seu lado, usando a camisa vermelha, nas mãos carregava uma única flor amarela.

— M-mãe? Você disse algo? – perguntou assustada e no mesmo instante limpou as lágrimas.

Sua mãe assentiu com a cabeça e Anna sorriu-lhe, deitou na cama e ficou encarando a imagem da mulher bonita.

— Milly saiu com um menino – suspirou – não gosto disso, ela é minha irmãzinha, não é? – sua mãe negou com a cabeça, tinha um sorriso gentil nos lábios – é, eu sei que não… Gosto tanto dela, mamãe.

Anna fechou os olhos por um tempo e deixou que o cansaço lhe dominasse. Acordou apenas quando sentiu dedos finos e gentis acariciando suas bochechas.

— Boa noite, Anninha – quando ouviu a voz doce de Milly, Anna sentiu todo seu corpo se arrepiar e abriu os olhos, segurou a mão da irmã quando ela estava prestes a se levantar – desculpa, não queria lhe acordar, pequena.

— Onde estava? – perguntou sonolenta.

— Eu saí com um garoto.

— E… C-como foi? – sentou-se na cama, sem largar a mão da loira.

— Ele é legal, carinhoso… Bonito… Acho que estou gostando dele – sorriu.

Anna sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, mas secou-as antes que essas descessem, largou a mão da irmã e levantou da cama.

— Que horas são?

— Falta uma hora pro jantar ainda – levantou também e encarou Anna – não ficou feliz por mim?

— Não – respondeu sincera – não gosto de você com ninguém.

Anna se aproximou e beijou a bochecha de Milly, ficando na ponta dos pés, depois saiu do quarto e foi até o banheiro, se encarou no espelho, sentindo-se nojenta por sentir ciúmes de Milly, queria a irmã apenas para si, mas não devia.

Olhou novamente pro espelho e se assustou, ele estava rachado, formando a palavra “assassina”, Anna socou o espelho e observou toda sua mão sangrar, seus dedos estavam cortados, o espelho em mil pedaços, alguns sobre a pia e outros espalhados pelo chão, Anna saiu correndo do banheiro e sentou no corredor, não sentia dor, apenas observava sua mão sangrar.

Olhou para o lado como por instinto e sorriu ao ver sua mãe ali, sorrindo para si.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até amanhã. :>



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anna" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.