Blackout {hiatus} escrita por Santana


Capítulo 4
A verdade é como um tapa


Notas iniciais do capítulo

I belong with you, you belong with me, you're my sweetheart ♪♪♫

Já ouviram essa música? É do The Lumineers e eu estou apaixonada por ela. Se chama "Ho Hey" e não paro de escutar!
Tudo bem com vocês? Demorei muito, mas mil perdões, o mês de testes/provas/simulados resolveu dar as caras novamente e me deixar com pouquíssimo tempo.

Graças ao meu surto de loucura decidi terminar de escrever esse capítulo hoje, mas me perdoem se acharem algum erro porque ele não foi revisado.
Aproveitem!



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– Obrigada por me deixar passar esses dias aqui, Ron. É sério, eu precisava refrescar minhas ideias, sabe?

– Sabe que não vai adiantar nada, não é? Só adiou o inevitável: Ver aquele pedaço de mal caminho todos os dias. – Ronald respondeu.

Fazia três dias que eu estava tirando uma folga de mim mesma na casa do Ronald. Os pais deles me adoravam, talvez porque pensassem que eu poderia fazer o filho deles virar homem qualquer hora dessas, e nem contestaram quando eu apareci perguntando se poderia passar uma tarde que acabou se tornando três dias.

Eu só não conseguia conciliar que a mudança dos pais do Dylan e o almoço do Steve com o papai acabaria resultando na mudança do garoto lá para casa, o que era um atrito incrivelmente intenso se eu quisesse continuar o ignorando, e eu não estava nem um pouco preparada para qualquer tipo de situação que envolvesse o Dylan e eu num mesmo cômodo, considerando os últimos acontecimentos.

E os anteriores também, principalmente.

Ronald se jogou em cima da minúscula cama de solteiro, me puxando pelo braço e me fazendo cair com metade do corpo em cima dele e metade quase para fora da cama.

– Você é toda trabalhada na hipérbole, cara amiga! – brincou, desembaraçando meu cabelo com os dedos que estavam acima do mesmo – Você e o Dylan já conversaram cobre o que aconteceu?

Balancei minha cabeça, negando.

Era uma droga de verdade que eu e o Dylan nunca havíamos parado para conversar seriamente sobre o que estava acontecendo naqueles dias em que nós ficamos juntos. Não havia demonstração de afeto em público. Não havia carinho. Só havia sexo e, bem, sexo.

Era um tipo de acordo oculto que praticávamos as escondidas. Não precisávamos ficar nos abraçando para mostrar a ninguém que quando chegava a noite ele ia para o meu quarto e voltava para o sofá antes de amanhecer, foi assim que com o passar dos dias eu me senti imunda e usada. Embora também estivesse usando-o. Mas o sentimento de culpa começou a crescer e eu simplesmente parei, sem nenhum aviso prévio.

Suspirei, me aconchegando no abraço do Ron e suplicando por carinho.

Ele era o único que me entendia.

– E aquela foto que você me contou, hein? – disse num tom acusador.

– Joguei fora, não me interessava.

O que era uma mentira bem descarada, porque eu guardei a foto.

– Ah, não te interessava? – Ron deu uma risadinha abafada, abaixando o olhar para me encarar. – Você tá gostando dele, idiota. Céus! Julia Collins, você está fazendo descaso, você gosta dele.

O que também era uma mentira bem descarada, porque eu não gostava de Dylan.

– Você parou quando viu que o sentimento não era recíproco – Ron continuou, achando que era um gênio por ter desvendado a situação – Aí você ignorou o coitado do Dylan sem deixar ele dizer nada.

– Ronald, não tem nada a ver isso que você disse, de verdade. – levantei-me indignada – Eu parei porque estava me sentindo uma puta, como a Antonia Green do curso de Direito. Você sabe quantas vezes ele deve ter dormido com ela? –perguntei retoricamente, colocando a mão sobre o peito para parecer tanto ofendida quanto eu estava. – Muitas! Tipo, a Universidade interira falava do “super caso” que eles tiveram. Eu fui a primeira a jogar pedras e dizer o quanto estava errado. E foi ele me beijar para que eu fizesse a mesma coisa.

Ron pareceu pensar um pouco, com a testa franzida e fazendo biquinho.

– Realmente, você estava sendo uma puta. Quer comer alguma coisa?

Ronald era o meu melhor amigo por isso, ele sabia me fazer sentir mal e logo bem, depois de dois segundos, quando queria.



A comida da Tia Martha, mãe do Ron, era excelente! Uma Ambrosia, para ser mais justa.

Mas aí o Stev ligou para o Ron dizendo que eu deveria voltar para casa, se não ele contaria para a mamãe que eu estava me envolvendo com um drogado cheio de tatuagens e piercings e ela me mandaria para a clínica de reabilitação mais distante.

Ou pior, ela poderia me levar para morar com ela.

E eu não estava nem louca de querer uma coisa dessas, porque a mamãe é incrivelmente sufocante! Do tipo que não te deixa respirar sem que a sua respiração e a dela estejam sincronizadas, ou que não te deixa respirar porque te obrigou a vestir um vestido que esmaga os seus pulmões.

– Nunca mais repita isso, Julia! Imagina se a mamãe liga e quer falar com você? Ela iria pirar se eu dissesse que não sabia onde você estava, poxa, carrega o celular!

– Se ela ligasse você daria o seguinte recado: “Mamãe, a Jus teve uma alta noite badalada com drogados e bêbados passando a mão pelo corpo dela, ela fumou alguma coisa e está vendo algumas fadas, liga quando o efeito tiver passado.”

Stev não deu a mínima para o que eu disse, com tantos absurdos que saiam da minha boca de vez em quando, com um tempo as pessoas aprendiam a me ignorar.

– A sorte foi que o Dylan me disse que você devia estar na casa daquele seu amigo e deu um jeito de descobrir o número dele.

Revirei os olhos e sorri sarcástica, pegando um salgadinho no armário e tomando um gole do refrigerante que meu irmão estava bebendo.

– Nossa que utilidade! Onde ele está agora? Porque eu queria sugerir que ele se inscrevesse naquele grupo de apoio que procura pessoas desaparecidas.

– Não sei porque esse implicância com o cara, ele já está se sentindo bem mal com os pais longes e fazendo você sumir de casa, e tal. Eu não sou amigo do Dylan por qualquer coisa, ele é uma pessoa realmente muito boa, Julia, mas você só procura o lado ruim das pessoas para apontar e sair por aí dizendo.

Depois disso ele saiu, e ouvi os passos dele ficarem distantes. Logo me senti um pouco mal por, de um jeito ou de outro, Stev ter jogado aquilo na minha cara, como um tapa.

Eu não devia apontar o defeito dos outros, porque de repente me dei conta que eu era cheia deles.

Eu era tão infantil que não conseguia lidar com o fato de que Dylan Thorne ficaria na minha casa por um tempo indeterminado, e eu estava com medo de ter uma recaída.

– Você está bem? – Dylan perguntou, entrando na cozinha, fazendo uma careta um tanto esquisita.

E aí eu me senti ainda mais culpada por trata-lo mal, porque ele estava ali, na minha frente, perguntando se eu estava bem, quando poderia simplesmente me ignorar e me deixar um pouco pior.

E a voz do Ron veio certeira em minha mente, me fazendo me sentir horrivelmente sacana.

“Aí você ignorou o coitado do Dylan sem deixar ele dizer nada.”

Eu não havia deixado ele falar nada. Não havia.

E era por isso que eu não sabia o que estava acontecendo entre a gente todas as noites quando ele ia me procurar, porque eu não havia o deixado dizer nada.

Ergui o olhar do salgadinho e o olhei me sentindo uma vilã. Estava tão desesperada em fugir do Dylan que nem me importei com o que ele pensaria, com o que estava sentindo, mas estava na cara que ele não nutria sentimento algum!

E nem eu, que fique bem claro.

– Me desculpe, Julia, de verdade, por... não sei! – ele pareceu confuso, procurando algo pelo que podia desculpar-se. – O que aconteceu com a gente?!

Não respondi e ele continuou:

– Não se preocupe, Julia, eu disse que manteria distância, não disse? – Ele deu dois passos para trás, parecia-me que cada passo continha uma grande quantidade de mágoa. – Eu vou cumprir isso. Eu me arrependi de ter me envolvido com você, foi mal.

Ele balançou a cabeça e me deixou sozinha com as palavras dele me machucando, mas sendo tudo o que eu queria.

Eu havia conseguido que ele me deixasse em paz. Ele não deixou dúvida.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não esqueçam de comentar o que vocês acharam do capítulo e possíveis acontecimentos, ok?

Beijos!