Lá vem ele: cabelo em topete singelo, blusa de jogador, calça jeans mostrando a cueca (no caso branca) e tênis de marca.

Freddie Williams Benson era seu nome. O cara mais conhecido do colégio. Isso daria até uma manchete de primeira página do jornal da East High. "Garoto galinha chega no primeiro dia de aula arrasand corações". Credo.

Meu nome? Eu sou Joy Puckett. Não que seja a garota mais popular. Mas sim, as pessoas me conhecem.

Fechei meu armário com um pouco mais de força do que o normal, por ouvir meu celular tocar irritantemente. Não atendi. 

Ele vinha com os clones: um monte de garotos do time de futebol americano que ninguém sabia o nome, mas sabia que eram populares. Qualquer otária babaria por eles. Mas eu não. 

-E aí, Joy? - Bonnie chegou do meu lado, digitando algo no celular. - Aula de biologia?

-Não esse ano. - respondi, ainda sentindo a vibração do meu bolso. - Mudei para Artes Dramáticas esse ano. Nada mais de dissecar sapos e animaizinhos.

-Que chato. Quase não tem peça de teatro aqui na escola. - Bonnie sorriu, por causa da mensagem que escrevia. - Hoje vamos ao shopping almoçar?

-Nem vai dar. A melhor amiga da minha mãe vai casar, tenho que ir comprar um vestido com ela.

-Tudo bem. - Nesse momento, os garotos passaram, assoviando e fazendo gracinhas, típico de primeiro dia de aula. Eu devia ter colocado o pé na frente para um deles cair, mas ia ser muito mico e olhos virados pra mim.

Pelo visto, ele leu minha mente: olhou dentro dos meus olhos. Uns poucos segundos, só de relance. Logo voltou a falar com um que devia se chamar Jeremy Lockwood ou qualquer coisa. Aos poucos, foram levando o reboliço para o resto dos corredores escolares.

-Gatinho esse Jeremy, não é?

-Que nojo, Bonnie. Ele pega todas.

-Eu não ligo. Se eu puder entrar para o clube... - ela riu. - Bem, já vai bater o sinal. Vou indo pra sala de Biologia. Aula de quê?

-História. Depois a gente se vê, no intervalo.

-Claro. Tchau.

-Tchau!

Assim que Bonnie desapareceu e o corredor estava vazio, vio celular no bolso. Minha mãe ainda estava ligando. Treze chamadas perdidas.

-Oi, mamãe.

-Filha? Por que não atendeu antes?

-Mãe, estou atrasada para a aula.

-Mas filha...

-Depois a gente se fala. Te amoo! - desliguei, suspirando. Só depois de um "te amo" animado, ela parava quieta. Meu Deus.

Depois de pegar os fones de ouvido no armário, o fechei de novo e fui em direção à sala 4: História Nacional.

xx

A sala não estava tão cheia quanto o ano passado. , para minha alegria, não tinha nenhum jumento da tribo Benson pra atrapalhar a aula. Sentei na terceira carteira, meu lugar de sempre, e fiquei esperando o novo professor entrar na aula. 

Seu nome era estranho, não me lembro ao certo. Só sei que assim que bateu o sinal, ele nos deu um feliz ano novo e um bombom, não sei porquê. Deve ser bêbado.

Meu livro não tinha saído da página quatorze, mas eu o fechei e segui para a sala 7, Artes Dramáticas. Achei o máximo ter teatro esse ano. Pode não parecer, mas adoro atuar. Estava lembrando da peça "A Família Adams" que assisti na Broadway outro dia. A maquiagem, o cabelo, o figurino...

POW!

CATAPLOFT!

Senti minha cabeça doendo muito!

-Ai! Não olha por onde anda?! - gritei, pegando meus livros de olhos fechados.

-Foi mal, mas você que ficou aí que nem idiota pensando na vida e não me viu entrar!

-Olha como fala comig...

Ah, que droga. 

-Ah, você é aquela menina do coral. É... - Benson me olhou, tentando lembrar meu nome. Quem diria, ele ironicamente atropelou uma fantasma.

-Joy. Joy Puckett, obrigada pela consideração. Mas se me der licença, tenho aula de teatro pra assistir. - disse, entrando na sala e colocando meus livros numa carteira vazia, agora na quarta carteira.

-Gosta de teatro?

-Sim. Mas por que você está conversando com uma pessoa invisível mesmo? - arqueei as sobrancelhas, e finalmente olhei para Freddie. Ele sorria que nem idiota.

-Eu só não lembrava seu nome, ok? Conheço você. Dançamos festa junina juntos ano passado.

-Que bom. Ficou no passado. Arranje outro par para este ano.

Assim que disse minhas últimas palavras, a professora entrou. Uma mulher de 40 anos, loira, de roupas de segunda mão.