James Potter havia me beijado. E para completar eu havia retribuído, cedido e estava devidamente encurralada. Não pelo porco espinho, mas por mim mesma e pela rede de sentimentos que me circulava. Não dormi bem durante noites, mas não porque o beijo foi ruim, acredite, aquele foi o melhor beijo da minha vida. Mas o problema é que eu queria fugir do James e de alguma forma, aquele porco espinho sempre sabia onde eu estava. Céus, eu estava ferrada.

Eu estava indo para a aula de Poções quando percebi Remo me olhando, suspirei e aumentei o ritmo dos meus passos. Sabia que os marotos estavam atrás de mim, mas não sabia se era por causa de Lene – que desde a discussão com Sirius havia se tornado mais distante (até mais do que eu) ou se era por eu estar sentando longe deles e ignorando completamente um mundo onde existisse James Potter e o seu beijo inesquecível e maravilhoso.

O que estava acontecendo comigo?

Encontrei Doe sorrindo e acenando para mim, me direcionei até ela e logo dei três passos para trás: Sirius, James e Remo estavam com ela. Traidora. Suspirei e deixei com que os meus pés me levassem até o banheiro feminino – ou como costumavam chamar o banheiro da Murta que Geme. Eu até poderia perder uma aula de Poções, mas ainda não estava pronta para ficar no mesmo cômodo que James, quero dizer, pertíssimo dele.

Entrei no banheiro feminino e logo ouvi um choro. Mas não era qualquer choro, era o choro de uma descendente dos McKinnon, e como eu sabia disso? Simples, eu já tinha visto toda a família de Marlene chorar e... Ela era a única McKinnon que estudava em Hogwarts.

- Me diga Lene, o que aquele cachorro fez dessa vez? – Soltei assim que me sentei ao seu lado. Ela virou a cabeça para mim e a encostou em meu ombro. Eu dei um meio sorriso e comecei a acariciar seus cabelos.

- Lil, se eu te contar algo, você promete não contar para ninguém? Nem mesmo para Doe?  - Eu afirmei com a cabeça, eu sabia que se eu a interrompesse, talvez ela não me contasse o que a afligia tanto assim – Ok. Tudo bem – Ela levantou a cabeça e se virou de frente para mim, cruzando as pernas como um índio. Copiei sua atitude e dei um pequeno sorriso, que eu denominava de ‘Não importa a merda que você tenha se metido, vou te ajudar a sair dela’ – Você deve saber que, desde que o James se diz apaixonado por você eu me digo, comente para você, Doe e Alice é claro, apaixonada por Sirius. Logo não foi difícil dele me conquistar, eu sempre arrastei um hipogrifo por aquele pulguento imundo – Ela suspirou – Quando eu descobri sobre ele ser uma Animago, eu fiquei contente, porque talvez existisse algo nele além do ego e da galinhagem...

‘‘Mas eu estava enganada, sabe? Eu dormi com ele Lils, e esqueci da poção. Esqueci do preservativo. Esqueci de tudo. Esqueci, quem sabe, até o meu nome. Mas eu não esqueci que era por ele que eu passava nossas festas do pijama acordada. Sabe? Não esqueci que eu queria aquilo. Semana passada Lil, eu não estava brigando com ele por causa de uma aposta absurda e idiota, eu estava brigando com ele por ele ter me engravidado e me deixado sozinha, como se ele não se importasse comigo, como se tivesse sido somente uma semana tola, algumas noites boas e nada mais. Eu odeio Sirius Black. E odeio o fato de mesmo assim eu amá-lo. Eu... Eu não sei o que fazer, eu só queria que ele soubesse, que eu o amo entende? E que eu to esperando um filho dele. Lils, eu to grávida, dá pra acreditar?’’

Ela se silenciou e eu a olhei. Que merda Sirius e Lene fizeram? Claro que ter um filho seria mágico e maravilhoso, mas ao mesmo tempo, estando em Hogwarts e em tempos como aquele – era impossível. Impossível criar uma criança como Lene gostaria de criar, ainda mais com Six sendo tão galinha quanto ele era. Respirei fundo e fechei os olhos, ainda absorvendo todas as informações.

Quando abri os olhos, Lene me olhava esperançosa e então eu havia entendido o seu pedido. Ela não queria que eu prometesse não contar para Doe, ela queria que eu contasse. Porque ela não teria a coragem. Não teria coragem de enfrentar a todos e então lhe dei um sorriso sem mostrar os dentes e a vi sorrir da mesma forma.

- Vá para o quarto, você não vai querer ver um churrasco de cachorro em pleno Salão Principal, vai?

Lene saiu correndo para o nosso dormitório na Grifinória, enquanto eu marchei e tentei achar os Marotos.

Pela primeira vez, eu estava indo atrás deles e não eles atrás de mim. E não era para brigar sobre James Potter, ou sobre Severo. Era para dar um puxão de orelha em um dos meus melhores amigos. O cachorro que estava se pegando com uma menina da Corvinal. Revirei os olhos e fiz um barulho estranho com a garganta, fazendo com que todos olhassem para mim.

- Sirius Black, como você ousa? – Essas foram às cinco palavras, que não estavam ensaiadas, saindo da minha boca.

- Ouso o que ruivinha? – Revirei os olhos com a voz rouca do cachorro.

- Primeiro você – Apontei para a menina que estava, ainda, agarrada nele – saia daqui, você não precisa ouvir nada do que está acontecendo ou vai acontecer aqui. Tá esperando o que? – Levantei uma sobrancelha e ela saiu correndo, para suas coleguinhas do quinto ano. Suspirei pesado olhando para o Sirius.

- E agora ruiva, o que é que a McKinnon inventou de mim essa vez?

Essa pergunta estúpida, vindo de um ser mais estúpido que o próprio James Potter, foi a gota d’água para mim.

- Como você ousa? Você brincou com ela Sirius! É por isso que faz uma semana que a minha amiga não fica perto de nenhum de nós. Porque ela não consegue olhar na tua cara e não ter nojo. Você dá náuseas a ela, Sirius. E agora a mim também. Eu achei que você era melhor que isso, que você realmente gostasse dela – Eu jogava tudo na cara dele, não me importando com quem estivesse escutando, me recompus, eu não queria começar a gritar feito uma louca ali – Ela... Ela te ama, Six. E agora não importa o quanto ela tente. Ela não vai esquecer-se de você.

‘‘Você tem merda de hipogrifo da cabeça? Porque é o que parece. Marlene McKinnon arrasta mais de um hipogrifo por você, ela te ama tanto Sirius. Por favor, o que você fez com ela? Ela tá esperando um filho teu Sirius, ela tá grávida e você tava ai se pegando com uma garota da Corvinal, enquanto a mãe do seu futuro filho estava chorando igual uma louca no banheiro feminino. Honre as calças que tem e vá atrás dela agora. Ela está no dormitório feminino. Espero que saiba o que você vai fazer’’

Saí de lá sem mais explicações, eu estava quase voando no pescoço de James, mas lutei para eu não agarrá-lo ali mesmo, que merda estava acontecendo comigo?

Era James Potter, o cara que zoava o meu melhor amigo. O idiota que me chamava para sair mais de cinco vezes por minuto. O cara que roubava beijos de mim. O cara mais lindo e mais egocêntrico de Hogwarts.

Mas todos os motivos que me faziam odiar Potter eram passado. Desde o começo do ano, ou então desde que Sev havia me chamado de sangue ruim, James Potter havia mudado e havia despertado algo em mim. Alguma coisa no meu estomago, algo que não e deixava dormir ou estudar direito. E aquelas malditas borboletas – algo que para mim existiam somente nos filmes trouxas – não saiam de mim.

Até o meu coração quase saia pela boca quando eu encontrava o seu olhar ou o seu sorriso. Até o perfume dele eu sabia de cor. Céus, eu o queria tanto.

Quando percebi, eu estava no corujal, revirei os olhos e neguei com a cabeça. Qualquer que fosse o meu problema eu não poderia escrever para a minha mãe. Suspirei e comecei a descer as escadas, vi James subindo e pude notar que o mesmo não me percebeu. Suspirei de novo, em menos de vinte e quatro segundos.

Era tudo ou nada.

Quando nos aproximamos, ele levantou a cabeça. E então eu o beijei.