-Então o ex da Lia que causou a briga com a Ju está de volta? – Marta perguntava, preocupada.

-Sim, mãe. O moleque voltou e a Lia deve estar péssima.

-Mas afinal, por que ele foi embora, mesmo?

-Longa história, pai. Complicada, como tudo o que diz respeito a esses dois...

-Oi, todo mundo! A Lia está no quarto?

-Oi, Ju. Sim, a Lia está no quarto. Você já sabe o que o Dinho queria?

-Não, na verdade eu não entendi várias coisas... Incluindo o que a Lia fez, mas isso já é um assunto privado, com licença.

-Como assim, Ju? O que foi que a Lia fez?

-Não vou contar, mas aposto que você a entenderia, já fez a mesma coisa várias vezes.

Bruno pensou por um instante e não gostou da conclusão que lhe veio à cabeça.

-Você está querendo dizer que...?

-Eu não estou querendo dizer nada, maninho. Agora, se me derem licença, eu tenho uma amiga para ajudar.

Ju voltou para o seu quarto e encontrou a melhor amiga entre choro e raiva abraçada a um travesseiro.

-Lia? O que você está sentindo?

-Eu odeio ele, Ju, ODEIO!

-Calma, Lia, calma!

Juliana abraçou a amiga, como havia feito mais cedo. Preferiu não tocar no assunto que a intrigava: a maneira como Lia havia reagido mais cedo. Talvez estivesse com mais raiva ainda por ter cedido ao ex, por ter deixado de lado seu orgulho por alguns instantes e pelo que fez com Vitor. A it girl sabia que Lia não gostava do atual(ou ex?) namorado como gostara(e provavelmente ainda gostava) do aventureiro. A roqueira fazia questão de dizer que estava tudo bem, que o garoto de olhos azuis era o namorado ideal e que não sentia mais nada por Dinho, mas, depois de tantos anos, Juliana já detectava as dissimulações da amiga.

-x-

-Se ele não concordar, você vai ter dinheiro pra pagar o hostel?

-Não sei, dr Lorenzo... Mas se não der certo eu me viro, nem que tenha que acampar na praça. – Dinho riu, ainda que preocupado.

Lorenzo por um momento titubeou. Lembrando da fuga de Dinho com sua filha, no passado, não tinha mais certeza se deveria ajudá-lo ou não. Aquele irresponsável quase causou a morte de sua filha e ainda por cima a fez sofrer horrores com a história da traição... Mas talvez a outra opção fizesse Lia sofrer mais ainda. Por respeito aos sentimentos da filha e ao juramento de sua formatura, seguia com a proposta de pé. Além do mais, apesar de tudo, gostava de Dinho. Era rígido com o garoto como genro, mas desde que o aventureiro era pequeno tinha simpatia por ele. Adriano podia ser um péssimo namorado para sua filha, mas Lorenzo não podia deixá-lo desamparado.

Na recepção do hostel, como costume, estava Fatinha, que mal podia acreditar no que via.

-DINHO!!!! – correu para os braços do melhor amigo, chorando. – Eu senti tanto a sua falta!

-Eu também, Fatinha, você nem imagina quanto...- sorriu para a melhor amiga, emocionado também.

Fatinha aproveitou a deixa para bater no amigo, entre raiva e brincadeira.

-Por que você fez isso comigo? Você era meu único amigo, Dinho, e você me abandonou!

A culpa bateu em Dinho. O término com Lia o abalara tanto que mal pensou em seus amigos quando decidiu partir.

-Eu sinto muito, Fatinha...

-Tudo bem, Dinho, eu sei que você estava sofrendo muito, aliás, eu te entendo perfeitamente.

Dinho notou as lágrimas de Fatinha.

-O que aconteceu? Foi o Bruno, né?

-Dinho, acho melhor você resolver essa história primeiro, depois vocês conversam.

-Dinho , o que você está fazendo com o pai da Lia? Ele não te odiava?

-Odiava, mas isso não vem ao caso. Olha o Michel vindo aí.

Adriano seguiu as instruções do ex-sogro e se voltou para o dono do hostel.

-Tudo bem, Michel? Olha só, será que vocês não estão precisando de um auxiliar pra Fatinha no balcão, ou pra guia turístico? Eu conheço trilhas, já ajudei o Rômulo com o barco várias vezes... Eu faço até faxina, se você quiser!

-Eu justamente estava precisando de alguém aqui no hostel pra fazer tudo isso, você está com sorte, garoto. Mas prevejo que você quer alguma coisa em troca, não quer? Já conheço esse discurso. – falou a última frase olhando para Fatinha, que fez graça.

-Será que eu posso ficar morando aqui? É só por um tempo. – Lorenzo se preocupou com a última frase de Dinho, percebendo o tom melancólico que o riso do garoto disfarçava.

-Olha, Dinho... A Fatinha, quando me pediu isso, ficou com o quarto da despensa, não sei se tenho lugar pra você.

-Ele pode ficar num colchão no meu quarto, Michel, por que não?

-Você e um garoto dividindo quarto, Fatinha? Nem pensar!

-Qual é, Michel, o Dinho é só meu amigo, não tem nada demais!

-Amigo, sei...

-A Fatinha está falando a verdade, ela até já dormiu na minha casa e não aconteceu nada. É só amizade, eu juro.

-Libera pro Dinho, chefinho, por favor!