Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 47
Pais e Filhos


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo para a família Costa pq eles merecem some quality time together.

https://www.youtube.com/watch?v=YUIsCkyxLTk - Mama - MCR
https://www.youtube.com/watch?v=vdMPuMeTxzY - Cat Stevens - Father and Son (viciadinhos em CA, como eu, preparem-se pra nostalgia)
http://www.vagalume.com.br/cat-stevens/father-and-son-traducao.html
https://www.youtube.com/watch?v=AhUTZlYgo0A - Children Won't Listen - Into the Woods



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– Vocês voltaram? – Alice perguntou cética.

– Mais ou menos... – Dinho respondeu coçando a áspera cabeça. Ainda não havia se acostumado, embora já não estivesse mais careca.

– Iiiih... Isso não vai dar certo. Olha aqui, eu não admito que aquela garota encrenqueira te faça sofrer nesse estado!

– Alice... Você já não falou com a Lia?

– Falei, e eu continuo não confiando nela. Aquela peste está brincando com os sentimentos do nosso filho e isso eu não admito!

– Mãe, eu tô bem aqui.

– Sim, você está. É bom que esteja! Você presta atenção, Dinho. Você abre o olho com aquela Lia, você está me entendendo?

– Não era pra ser o contrário? – Comentou irônico.

– Justamente porque foi você que errou com ela que eu tenho medo. Eu tenho medo de que ela possa querer se vingar logo agora que você está frágil.

– Mãe, eu não sou tão idiota.

– Ah, Dinho, perto dela eu tenho medo do quão cego você fica.

– Alice, sinceramente, a gente veio para visitar o nosso filho, e não pra acusar a Lia.

– Eu concordo com a Alice.

– Como é que é, Tico? – Dinho cobrou incrédulo.

– É isso mesmo. Você já nos esqueceu por causa dela uma vez, quem garante que não vá acontecer de novo?

– De onde você tirou isso, pequeno?

– E não foi o que aconteceu?

– Claro que não! – O mais velho se defendeu. – Eu vim atrás do doutor Lorenzo e da Raquel, não só pela Lia. Se eu fosse encontrar vocês por lá, eu poderia já estar morto.

– Dinho, não fala isso! Não assusta o menino! – Mario o repreendeu.

– E não é verdade? Vocês acabaram de se recuperar financeiramente, como a gente ia arranjar um médico? Me fala!

– É, você tem razão... Tá vendo, Alice?

A mãe voltou a encarar a família.

– Vendo o que? De qualquer maneira, você quase não nos chama! Pra você, tudo que importa é essa vagabunda que te roubou de nós! Da sua família! – Protestou entre lágrimas.

– Alto lá! – Lorenzo se pronunciou ao chegar. – Do que você chamou a minha filha, Alice?

– Do que você ouviu, Lorenzo. – Respondeu categórica. – Quando você se lembrar de que tem uma mãe, você me procura. – Dirigiu-se ao filho antes de sair porta afora.

Impotente, Adriano se deixou cair no sofá. Não percebera quando as lágrimas haviam embargado seu rosto, simplesmente o sentira úmido.

– Lorenzo, você pode ficar de olho no Tico pra mim, por favor? Eu preciso de um tempo a sós com o Dinho.

– Claro. – Conseguiu pronunciar, ainda em choque com a cena. Por um instante, sentira haver chegado a tempo para impedir que um filho desesperado batesse em sua mãe. – O que você acha de um sorvete, Tico?

– Mas eu... Eu quero ficar com o meu irmão! – Protestou o menino.

– A gente já vai voltar, eles só precisam conversar sozinhos por agora, e em menos de meia hora a gente tá de volta. – Tentou convencê-lo. O médico puxou o braço de criança como pôde, com o que lhe restava de ânimo. – Vem.

Os dois deixaram a casa, sob protestos do caçula.

–x-

– Aquela ali não é a Alice? – Marcela se perguntou.

Lia se virou para reconhecer a mulher que atravessava a rua visivelmente alterada. Preocupada, levantou-se em direção à ex-sogra.

– Alice! Alice, espera!

Parou onde estava, frustrada, ao perceber que a mulher já se afastava em um táxi. Voltou para a sorveteria, confusa.

– Ela não deve ter escutado...

– Não, eu tenho certeza que ela ouviu. – Lia estranhou.

– O que será que aconteceu?

– Do jeito que a Alice estava no outro dia, eu tenho até medo de descobrir.

– Ela é uma sogra clássica com você, é? Como as megeras das piadas? – Marcela não conteve o riso. – Nas reuniões de pais e mestres, pelo menos, ela me parecia bastante razoável.

– Isso porque você não é a namorada do filho dela. – Lia ironizou, demonstrando nojo brevemente ao imaginar a professora com Dinho. Marcela percebeu o motivo da careta e riu.

– Espera, você acabou de confessar que é namorada do Dinho, ou foi impressão minha?

– Foi impressão sua, Marcela, eu quis dizer que eu era, na época.

– Tá bom... – Encerrou o assunto, embora descrente das palavras da enteada. – Lorenzo? Tico? O que aconteceu?

Lia se virou novamente para ver quem chegava.

– Ah, que bom que eu encontrei vocês aqui! O clima pesou lá em cima!

– A gente viu a Alice saindo daqui alterada, o que aconteceu? – A professora cobrou.

– Nem queira saber, Marcela. Sobrou até pra você, filha.

– Eu meio que percebi quando ela me evitou agora há pouco...

– Graças a deus ela te evitou!

– Como assim?

– Quando eu entrei em casa, ela tava falando coisas horríveis de você. Se ela não tivesse saído porta afora, eu não responderia por mim!

– Lorenzo! O Tico! – Marcela o repreendeu.

– O que ela falou? – Lia perguntou temerosa. Maldita curiosidade...

– Eu prefiro que você não escute, filha.

– E o Dinho? – Marcela indagou.

– Ele ficou com o pai. O Mario pediu que a gente deixasse eles a sós.

– Entendi...

– Como ele tá? – Lia se pronunciou.

– O Mario ou o Dinho?

– Você sabe quem, pai.

– Ele tava bastante alterado, também, quando eu saí de lá. Opa! – Lorenzo freou a filha. – Você fica aqui, mocinha. Daqui a pouco a gente volta, todos juntos.

– Que foi, Tico? – Lia percebeu que o menino a olhava torto.

– Isso tudo é culpa sua. – Falou com a voz distante.

Marcela passou a mão pelos cabelos da garota. Se antes tinha a rivalidade de Ju, agora tinha a de toda a família de Dinho, pelo visto. Por que, pelo menos nessa possível reta final, a enteada não podia ficar em paz com o garoto que amava? Percebeu a menina chutar de leve a mesa, impaciente. Algumas lágrimas começando a surgir.

–x-

– A sua mãe não falou por mal.

– Eu pensei que ela e a Lia tivessem se acertado há meses...

– Sim, a Alice de fato aceitou a Lia como sua namorada pouco antes de tudo dar errado... Filho, você tem que entender que não foi fácil pra ela. Nada disso. Primeiro, você se recusava a ir com a gente. Depois, ao invés de ir conosco pra Miami, você seguiu viagem com uma estranha pra África. Daí você passa meses só nos contatando virtualmente, volta pro Brasil, e a gente descobre pelo seu sogro que você pode morrer a qualquer momento? Você esperava o que? A sua mãe quase perdeu o bebê mais de uma vez nessa sua aventura toda!

– Você nunca me contou...

– Pelo mesmo motivo que você não nos contou da doença, exceto que a sua irmã está saudável agora.

– Desculpa...

– Olha, filho, não é por mal... É que você nos enlouquece com esse espírito livre e despreocupado.

Dinho parou sem palavras por um instante. Olhou pela janela, à procura de respostas. Nada. Apenas dor e arrependimento.

– A sua mãe explodiu porque ela te ama. - Explicou, com a mão nas costas do filho em apoio ao adolescente. – Nós todos te amamos. Eu, a Alice, o Tico, a Lia... Por mais que a sua mãe não queira admitir. Vocês... Vocês precisam conversar. Você e a sua mãe, com calma, sem ressentimentos. Ela deve estar morta de medo de que você não a procure como ela falou.

– Eu vou... Eu só preciso... Eu só preciso me recompor, sei lá... Se eu for agora, provavelmente piore a situação. Eu não vou nem conseguir olhar na cara dela. – Riu secamente.

– Esse é o espírito. – Mario sorriu. – Eu já falei que você amadureceu muito?

– Já. – Sorriu em resposta.

– Porque você amadureceu. Muito. - Reafirmou, aproximando o filho em um meio abraço. – Eu tenho muito orgulho de ser seu pai. – Uma lágrima única escapou pelo olho de Mario. – Você faz tudo que eu deixei de fazer. No que eu errei, você tenta acertar. Eu nem sei se eu te ensinei bem, ou se a minha sorte foi você não seguir o meu exemplo.

– Você me ensinou bem, pai. E, no que eu errei, eu errei sozinho.

– Não, você errou porque não teve um bom exemplo.

– Eu consertei porque eu tive um bom exemplo. – Secou também uma lágrima.

Mario passou a mão pelo rosto do filho. Não sabia o que dizer. Jamais conseguiria encontrar palavras que definissem o que sentia naquele momento, o quão orgulhoso estava e o quanto amava aquele filho. Por tantos anos se preocupara com o que poderia ter errado na educação do menino, com sua parcela de culpa nas confusões que Adriano arranjava, e agora se deparava com seu menino mais forte que o pai, e definitivamente mais corajoso. Dinho havia amadurecido por conta própria, quando precisou fazê-lo. Embora crescer antes pudesse havê-lo poupado de alguns ataques do coração, sentia que tudo estava acontecendo na hora certa. Restava-lhe apenas saber se não seria muito tarde para conhecer melhor o homem no qual seu filho estava se tornando.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :) bjs