Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 46
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Notas iniciais do capítulo

Voltei! Alguéns vão fazer as pazes... do jeito deles.



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Gil acordou ao som de tosse e de alguém vomitando. Sua tática era ignorar, mas estava cansado, queria empurrar a cabeça de Adriano contra o vaso sanitário para que parasse de fazer teatrinho por atenção. Levantou-se irritado, decidido a dar fim à cena do garoto. Saiu em disparada de seu quarto em direção ao som, para pegá-lo no flagra. Banheiro. A porta estava aberta, claro, mais garantido para se fazer ouvir.

– Acabou a palhaçada, Dinho. Ninguém tá nem aí pra você, pode voltar a dormir. – Anunciou de braços cruzados, encostado despreocupadamente contra a porta.

O garoto começou a erguer o tronco, apenas para jogá-lo contra o assento novamente, como se algo o puxasse.

– Vamos, anda, eu não caio nessa. Que foi, tá com ressaca?

O garoto apenas se ergueu novamente após alguns minutos. Fedia a vômito, e algumas gotas vermelhas percorriam seu queixo. Gil levou um susto. Não esperava. Dinho estava pálido, seus olhos mal se mantendo na mesma órbita, cansaço estampado no rosto. Gotas de suor exploravam seu rosto e o garoto o observava confuso. Uma nova arquejada. Gil correu até Adriano e o empurrou, como em sonhos, exceto que para ajudá-lo, não mais para afogá-lo. Deixou a mão apoiada contra as costas de Dinho e aguardou até que nada mais sentisse. Afastou-se para que o garoto pudesse se levantar e caminhar até o balcão da pia.

– Não, não, espera! – Pediu. – Porque você não vai pro chuveiro de uma vez? Acho melhor, você tá fedendo.

O garoto riu, mas acatou a sugestão. O grafiteiro, por sua vez, deixou o banheiro a caminho da cozinha. Serviu um copo de água, pegou uma toalha e procurou pela mochila de Dinho. À ausência de Lia na sala, esquecera-se de que o garoto agora dormia no quarto da roqueira. Tomou coragem para entrar. Não queria acordá-la, nem tampouco comprovar que dormira com seu ex. Voltou para seu próprio quarto, onde juntou roupas suas. Bateu à porta do banheiro.

– Eu vou deixar a toalha aqui, depois você passa no meu quarto.

– Segundas intenções, pichador?

– Haha! Muito engraçado você!

Em alguns minutos, Dinho batia em sua porta, confuso.

– Anda, veste isso. Aquele copo de água é pra você também.

O garoto sorriu agradecido e fez sinal para que Gil lhe desse privacidade. O grafiteiro virou as costas para Adriano e esperou.

– Valeu, Gil. – Escutou de Dinho.

Virou-se para o garoto. Estava vestido. Reparou que suas roupas ficavam largas no hóspede, e que sua pele, em contraste com a camiseta escura, ficava ainda mais pálida. Os dedos de Dinho tremiam contra o vidro ao levarem o copo a seus lábios.

– Foi mal.

– Que?

– Ah, cara, você sabe, eu não levei você a sério, achei que fosse drama.

– Relaxa, Gil. – Dinho respondeu naturalmente, errando a mesa ao deixar o copo, que caiu ao chão em pedaços. – Merda.

– Eu junto! Você fica parado aí, antes que caia o resto que você ainda não botou pra fora. – O grafiteiro debochou.

– Você sabe do que aconteceu com a Lia quando eu tava fora?

– Aconteceram várias coisas enquanto você tava fora. – Desconversou.

– Eu tô falando da overdose.

– Você soube, é?

– O Lorenzo deixou escapar.

– Então... Foi o que você ouviu. A Lia começou a perder a linha, e a merda bateu no ventilador.

– E... – Hesitou.

– Se você quer saber se foi culpa sua, foi e não foi. A Lia tava com muita coisa na cabeça.

– Aham...

– Mas ela também não tava conseguindo relaxar, nada parecia suficiente pra ela, sei lá... Ela reclamava muito que não sentia que o lance com o Vitor fosse real, que se sentia vivendo uma farsa. Acabou sendo um período bem criativo em termos de música... Na frente do Vitor, claro, ela fazia que cantava as músicas pras quais ele dava letra, mas aqui em casa a trilha sonora era outra.

– Entendi... E durou muito tempo essa fase?

– O suficiente. – Cortou o assunto. Não tinha que dar satisfações para Adriano. – Você dormiu com ela? – Questionou hesitante.

– Quando? – Perguntou distraído, brincando com o copo quebrado.

– A Lia não tava no sofá.

– Você ainda tem ciúme dela? O que a Ju acha disso? – Debochou.

– Eu me preocupo com a Lia.

– Sim, ela tava comigo, vai fazer o que? – Adriano desafiou.

– Pra alguém nessas condições você é marrento até demais.

O garoto riu, sendo acompanhado pelo grafiteiro.

– Olha, ele sorri. – Dinho zombou.

– Cala a boca... – Gil tentou manter a pose.

– Bom, eu vou voltar pra minha marrentinha, divirta-se.

– Vai à merda! – O pichador debochou, recebendo o dedo do meio de Dinho.

–x-

– Dormiram bem? – Lorenzo perguntou sarcástico em direção à filha e ao ex-genro, assim que apareceram, juntos, na sala.

– Muito. – O garoto respondeu passando o braço pelos ombros de Lia, que não conteve o riso, apesar da ressaca.

– Você parece bem até demais, Adriano, tá de máscara, é?

– Do jeito que esse aí vomitou há pouco, Lorenzo, não sobra mais nem refrigerante no organismo do Dinho.

O médico olhou para o ex da filha.

– Não teve mais do que mereceu, espero que tenha aprendido a lição.

Lia abafou o riso. Se o pai soubesse... Assim que se recompôs, no entanto, focou no que tinha acontecido.

– Você tá bem?

– Tá tudo bem, marrentinha, o Gil me deu uma força.

Marcela sorriu orgulhosa para o filho.

– Por essa eu não esperava! Deve ter sido efeito da bebida também. – Debochou.

Apesar dos protestos de Gil, Dinho e Lia não puderam conter as risadas.

– E vocês, casal? Pelo visto a noite foi boa. Ou melhor, manhã...

Lorenzo se engasgou com um pedaço de pão. Adriano tentou ajudá-lo, rindo ao ser ignorado.

– Eles são só amigos, não são?

– Somos! – Desconversaram.

– Amicíssimos!

– Parças!

– Melhores amigos!

Alternaram-se em adjetivos.

– Coloridos. Bem coloridos. – Marcela completou rindo.

– Escuta aqui, Adriano, essa manhã eu deixei vocês dormirem no mesmo quarto porque tava muito tarde, digo, cedo, mas eu exijo que você respeite a minha filha! Não pense que vai ser essa liberdade toda todo dia, não!

– Pai, qual é, o que pode acontecer que já não tenha acontecido?

– Não interessa, Lia Martins, você é minha filha, ele é meu paciente, e eu exijo respeito!

– Lorenzo, toma o seu café, relaxa... Você tá roxo, meu amor! Os meninos sabem se cuidar, qual o problema?

– O problema, Marcela, é que esse inconsequente, pra esquecer que tinha que estar de repouso, é um pulo! Olha aí! Já estão de firulinha em plena mesa do café! Eles vão acabar me enlouquecendo! – Apontou para o casal, que já havia se distraído em seu mundo particular, entre olhares e flertes. – Afinal, vocês são o que agora?

– Lorenzo, não é da sua conta. – Marcela defendeu a enteada.

– Ok, ok, vou reformular a pergunta: nessa relação aí de vocês tem beijo ou não tem?

– Tem, pai. – Lia riu. Estava agora abraçada a Dinho, quase em seu colo. – Tem beijo. Satisfeito?

– O que você acha? – Perguntou sarcástico.

– Que não é da sua conta. – Respondeu, piscando para Marcela, que riu junto.

–x-

– O meu pai vai enlouquecer. – Lia riu, aos beijos com Dinho no sofá, sentada em seu colo.

Mordia o lábio inferior do ex-namorado quando a campainha os interrompeu. Sem a menor vontade de sair dos braços de Adriano, gritou para que Gil aparecesse para atender. Irritado, o garoto abriu a porta e saiu, rumo ao apartamento de Juliana. Mario fechou a porta assim que Alice e Tico também entraram.

– Ah, vocês já estão assim, é? – Alice comentou ao ver a posição em que o filho e a ex-namorada se encontravam.

Não gostava nada de ver o filho de volta com a roqueira. Principalmente por estar morando na mesma casa que ela, dormindo sabe-se lá a quantos metros de distância de Lia. Não pretendia ser avó tão cedo, ainda mais com seu filho correndo risco de vida.

– Lia, você pode nos dar licença, por favor? – Mario pediu calmamente.

– Claro. – A garota confirmou, pulando do sofá após um selinho de despedida no ex.

–x-

– Posso sentar com você? – A enteada perguntou à professora.

Marcela estava na sorveteria, fazendo hora para que Lia e Dinho tivessem mais privacidade.

– Vocês já brigaram de novo? – Perguntou confusa ao ver a garota desanimada à sua frente.

– Não, não, os meus antigos sogros chegaram. E o Tico. – Acrescentou.

– Bom. Eles têm que aproveitar bastante o filho.

Lia se manteve calada. Detestava que tocassem no assunto. Marcela sabia.

– Desculpa.

– Não deixa de ser verdade...

– Tá, vamos trocar de assunto. E você e o Dinho? O que rolou na festa? E depois da festa? Rolou?

Lia a encarou, vermelha. Tentou lutar contra o sorriso, sem graça.

– Rolou pegação... – Marcela concluiu sorrindo.

– Ah, mas você já sabia que a gente já tava até se beijando de vez em quando...

– É, mas um selinho aqui e outro ali não é ficar com o Dinho, ou é? Pegação, mesmo, foi só na festa, não foi? E depois? Rolaram uns amassos no quarto? Olha lá, hein, ele tá fragilizado.

– Se eu contar, você promete que não fala nada pro meu pai?

– Ai, meu deus! Rolou! O Lorenzo fala tanto que vocês não podem...

– Ah, Marcela, sei lá, acabou acontecendo, e a gente se cuidou muito. – Respondeu vermelha.

– Ok, mas ó: não vão se acostumando! A história do repouso é séria, e o Lorenzo vai ter um ataque se ficar sabendo! Ai, eu fico tão feliz por vocês! Parece que foi ontem que vocês se beijaram na peça! Não conta pro Gil, mas eu achei um amor quando vocês fugiram juntos.

– Sério?

– Eu sempre fui partidária de vocês, marrentinha. – A professora riu. – Talvez eu tenha percebido que tava rolando antes mesmo que vocês.

– Não seria tão difícil, do jeito que eu demorei pra aceitar...

– Mas você já sabia, não sabia? Assim, lá no fundo.

– No fundo eu sempre soube, só não aceitava. E até certo ponto eu tinha razão em evitar o que eu sentia pelo Dinho, considerando o que ele me fez depois...

– Olha, Lia, eu não sei o que aconteceu entre vocês em todos os detalhes, nem o que se passava por essas cabecinhas, mas o Dinho te ama.

– Eu sei... E agora ele não vai ter muito tempo pra errar de novo, não é? – Ignorou uma lágrima que se formou com a lembrança dos possíveis dias contados de Adriano.

– Olha, chegaram os pedidos. Toma logo esse sorvete que é pra parar de falar besteira. – Marcela brincou, embora estivesse séria. Não queria concordar com a enteada, por mais que soubesse da probabilidade de Lia ter razão.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentários são sempre bem-vindos. Obrigada pela atenção ^^