Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 44
Tire-me para dançar.


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI! Vou narrar uma curta odisséia: na semana 1, tive problemas pessoais e tirei dois dentes. Na semana dois, me recuperei desses dentes, morrendo de dor de cabeça, e tive um problema com uma das fics. Na semana 3, recuperei a tal fic e foquei nela até consertá-la e ENFIM pude chegar a essa coisinha linda que é meu xodó. Nunca escrevam 7 fics ao mesmo tempo, fazendo faculdade, tendo dois cisos pra tirar e tendo uma questão pessoal problemática a resolver. Not gonna happen.

Trilha:
http://letras.mus.br/the-maine/1996260/traducao.html já botei traduzida no capítulo, mas vai.
https://www.youtube.com/watch?v=wz7i0a3gKMQ
Conheci esse hino enquanto estava de repouso e QUE BOM, pq senão esse capítulo não teria ficado assim como ficou (e eu gostei bastante, não sei vocês).



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Oh um bom homem disse, se você está se sentindo morto

Você tem que tentar encontrar uma maneira de estar vivo

Seus pais sempre lhe cobraram que planejasse seu futuro. Tinham pressa em saber que profissão escolheria, em qual faculdade cursaria. Preocupava-os ver que Adriano não parecia se importar com nada, apenas com viver, do seu jeito à sua maneira. Talvez lhe faltasse ambição, inspiração... Queria conhecer o mundo, viver tudo que lhe fosse possível, sem obrigações, sem laços. Esse era Adriano. E ali estava, mundo conhecido, sonhos vividos, inspiração encontrada. Sentia-se um morto vivo. Poderia despencar a qualquer momento, para nunca mais acordar, e saberia que morreu vivendo tudo aquilo que queria, que sempre quis. Como se tivesse previsto o futuro, àquela idade havia completado seus planos. Não perderia nada. Se sobrevivesse, bom, amava aventuras, explorar o desconhecido... Estava feliz. Podia estar em seus últimos dias, sentia força e energia abandonarem seu corpo, e jamais se sentira tão vivo. Estava com seus amigos, com ela...

Isso não é um jogo que você tem que jogar

Não precisa de um motivo para respirar assim como você está morrendo

Ainda assim, queria mais, muito mais. Lia era sua adrenalina, melhor que qualquer droga, medicinal ou não, que consumisse. A soma das duas o enlouquecia. Seus sentidos estavam aguçados, sentia cada movimento da língua de Lia explorando sua boca como uma explosão. Arrepiava-se ao simples toque hesitante da garota se adequando sobre a superfície agora áspera de sua cabeça. Escorregara os braços pelas laterais reveladoras da blusa de Lia, levando seu toque de encontro à pele macia de suas costas. Seus dedos repousavam como se ali pertencessem, e exploravam o já conhecido como se jamais a tivessem tocado. Lia repousou uma mão sobre o ombro de Dinho, desacelerando o beijo, para em seguida aprofundá-lo novamente, dessa vez o puxando contra si com a outra mão pressionando sua nuca. Sentia cada centímetro de seu corpo. Como poderia partir sem tê-la por inteiro novamente?

Dê-me trovão, dê-me raio

E eu vou dar-lhe cada parte de mim

Tire-me para dançar, deixe-me fodido

Toque aquela velha guitarra e vamos cantar

Tinha tanta coisa por viver ainda com a garota que amava... Quando pensava ser impossível tê-la de volta, não pensava no assunto. Agora, no entanto... O que daria por viver mais um ano, dois, dez, uma eternidade que fosse. Lia era sempre uma surpresa. Nunca sabia o que esperar. Não podia prever se o rechaçaria ou se lhe daria uma chance, se aqueles arrepios que lhe provocava eram efeito da droga, ou se da própria roqueira. Se pudesse passar a noite com a roqueira com seus sentidos ainda aguçados... Não responderia por si. Se já era incrível normalmente... Se a música ainda tocava, não sabia. Se a festa ainda estava lotada, tampouco, muito menos se as luzes ainda piscavam em suas múltiplas cores. Seu coração batia anormalmente acelerado, e o corpo de Lia, de sua cintura a sua boca, jamais sentira daquela forma, e lhe bastava que o desejo o cegasse e que os batimentos cardíacos o ensurdecessem. Estava entregue, que ela fizesse com Dinho o que quisesse, não se importaria, desde que pudesse fazer aquele momento durar mais um pouco. Mais um muito. Seria uma eternidade pedir demais? Sabia que não se cansaria.

Vitor os observou. Notou a música que tocava. Era a segunda vez que a ouvia naquela noite, ou não? As canções já se repetiam e Dinho e Lia ainda não tinham se largado. Estariam ficando há quanto tempo? Trinta minutos? Uma hora? Dias? Sentia-se enganado ao vê-los aos beijos daquele jeito. Por que Lia nunca o beijara como o fazia com Dinho? Pela intensidade com que se acariciavam, pareciam ter esquecido que estavam em público. Ou eram sempre tão passionais? Não os conhecera como casal, embora tivesse assistido a alguns vídeos da TV Orelha para entendê-los. O beijo que agora testemunhava conseguia ser mais intenso e íntimo que o da peça de teatro, temia pelo que podia sucedê-lo. Lia parecia desesperada, pressionando a nuca de Dinho até que leis da física fossem desafiadas. Moveram-se, ainda aos beijos, a um sofá, ainda que não vissem em que direção se deslocavam. Lia posicionou quase automaticamente suas pernas em torno das de Adriano, sentando-se em seu colo de frente para o garoto. De onde estava, tinha quase certeza de que a roqueira o provocava roçando-se contra a ereção do ex. Talvez o tivesse visto, talvez tivesse sido apenas a culpa quando Dinho a freou, de repente frio.

– Por favor, não. – Murmurou.

Lia o encarou hesitante e o beijou delicadamente. Passou a mão pela cabeça de Dinho em apoio, antes de se pronunciar.

– Eu esqueci, foi mal.

– Tudo bem... – Respondeu ainda mexido. – A gente ia acabar não fazendo nada, mesmo, não aqui em público. – Soltou um riso fraco.

– Você que pensa. – Provocou.

– Se você quiser, o seu “príncipe” está olhando pra cá nesse exato momento, chama ele.

– Dinho, é você que eu quero. – Respondeu séria.

– Você bebeu demais, você quer voltar pra casa e pensar melhor no que aconteceu.

– Desde quando você decide o que eu quero?

– Vem, vamos pra casa. – Deslocou-a para se levantar, conduzindo-a rumo a seus amigos.

– Lia, eu posso falar com você? – Vitor chamou.

– Agora não, Vitor. – Respondeu cansada, a dor de cabeça enfim a vencendo.

– Nunca é a hora, né, Lia? Agora, pra beijar o seu ex na minha frente...

– Você não ouviu? A gente tá indo embora, depois vocês conversam. – Dinho repetiu pela roqueira.

– Qual é? Você beija a minha namorada e quer me dar ordens? – Vitor o empurrou irritado.

– Vitor! – Lia o repreendeu assustada. – Você esqueceu que ele tá frágil?

– Frágil... Pra te beijar daquele jeito ele estava bem inteirinho...

– E você está sendo um idiota. – A loira retrucou. – Vem, Dinho.

– Vocês vão pra casa juntos, agora? Vão pra cama também?

Dinho tentou acertar o motoqueiro com um soco, falhando antes que seu punho o encontrasse. Alguns adolescentes se assustaram com a movimentação, voltando-se para onde Vitor e Adriano se enfrentavam, com Lia os mantendo afastados.

– A gente vai pra casa. – Repetiu. – Agora.

– Você vai levá-lo pra casa? Eu não estou te reconhecendo, Lia.

– O Dinho tá hospedado lá, anjo. Por favor, deixa eles, amanhã vocês conversam. – Fatinha pediu.

– Isso não vai ficar assim. – Vitor anunciou, afastando-se da dupla.

Estava cansado de ver a namorada, ainda que estivessem dando um tempo, se deixar levar pelo responsável por seu sofrimento de tantos meses. Seria Lia tão autodestrutiva? Ou a pena realmente a cegava? Dançando e se beijando no centro da sala de Pilha pareciam de fato um casal. Era como se visse flashbacks do que um dia Lia e Dinho haviam sido, e enfim compreendia por que haviam se tornado namorados há um ano. A sintonia era gritante, a química exalava. Riam juntos, e tinha certeza de que não era apenas pela óbvia embriaguez de ambos. Lia era diferente ao lado do ex. Não só em personalidade, como se fosse outra pessoa. Sabia que não conhecia a verdadeira Lia, aquela que Dinho namorara. Percebia a diferença nas risadas, no olhar, e não era efeito de álcool, ou de qualquer outra droga que pudessem haver consumido. Ainda que alterada, Lia parecia viva. Enfim solucionava seus questionamentos acerca da roqueira. Dinho era o que lhe faltava. Sem ele, era apenas um fantasma. A roqueira era outra quando estava bem com o ex, como o casal que haviam sido. Era mais intensa, mais alegre, beijava com mais vontade, aproveitando cada toque, cada contato com o corpo daquele que em breve poderia perder para sempre. Incomodava-o perceber que a verdadeira Lia, completa, viva, conhecia apenas por influência de Adriano. Não era saudável, não era correto. Pensava, logo que o garoto chegara, que poderia salvá-la, afastá-la do que a envenenara um ano antes. Agora sabia que era impossível. Poderia lembrá-la dos motivos pelos quais estava afastada e que não seria nada saudável seguir com o garoto, e era tudo que podia fazer. Lia ainda o amava, de corpo e alma, como nunca Vitor fora amado, como apenas poderia se entregar a Dinho, por mais temerosa que estivesse, e essa certeza o enojava.

Como encararia seus amigos no dia seguinte, não sabia. Nem se poderia olhar no rosto de Lia sem tentar humilhá-la sobre o que Dinho já lhe havia feito. Não podia deixar que Lia se entregasse daquela forma apenas para sofrer ainda mais intensamente. Seria egoísmo querê-la para si ainda que amando outro, ou seria não recebê-la de volta e deixá-la se entregar completamente a Dinho o verdadeiro egoísmo?

– Ei, alto lá, essa festa é em homenagem ao Dinho e ele fica! – Orelha anunciou.

Adriano sorriu para o melhor amigo, e olhou para Lia, abraçada a seu corpo. A garota pareceu ponderar.

– Vem, casal, a noite ainda mal começou!

Por que desperdiçaria a companhia de seus amigos? Sorriu para a roqueira animado.

– A gente fica. – Lia sorriu de volta, ignorando o olhar de desgosto de Vitor ao longe.

Juntaram-se a seus amigos para mais algumas rodadas de gargalhadas, de música alta e de luzes frenéticas. Pularam, dançaram, beberam, cambalearam embriagados de inocência e de leveza. Seus problemas eram levados pelas ondas sonoras, deixando-lhes apenas aquele momento.

Me tire para dançar
Me deixe fodido
Toque aquela velha guitarra e nós cantaremos
Sim, nós cantaremos

E cantaram. Cantaram pela vida, eterna em sua efemeridade, com todas suas escolhas e surpresas, com as trapaças e as linhas tortas do destino que a moldava, com seus caminhos cruzados, com seus reencontros e despedidas. Não lhes importava mais por quanto tempo duraria sua família, a família do colégio Quadrante, de irmãos para a vida, de almas gêmeas, importava-lhes aquele momento, e a vida que ainda tinham por aproveitar, fosse por aquela noite, por uns dias, por umas semanas. Aproveitariam cada segundo não como se fosse o último, mas como se fosse o único. Estarem reunidos lhes valia ouro, independente dos motivos que os afastassem. Que suas escolhas e suas sortes se encaminhassem do resto. Por hora, apenas cantariam.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo e MIL desculpas pela demora, foi maior que eu. Beijos e até a próxima atualização. Tive um pequeno problema pra traduzir "get me fucked up" e achei essa que escolhi a melhor forma. Aqueles que sabem inglês, podem preferir usar "deixe-me estragado", não sei, mas achei "fodido" uma tradução não só literal, como de sentido. Enfim, have fun.