Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 37
Confissões


Notas iniciais do capítulo

Ok, aí vai um capítulo que me fez chorar MESMO escrevendo. A cada cena, um nó na garganta. Ainda assim, um nó na garganta e algumas lágrimas que vocês vão adorar sentir e derramar. Afinal, não é todo dia que dona Lia confessa o que sente, não é mesmo? Preparem-se para essa viagem turbulenta por um capítulo que traz discussões polêmicas à tona. Afinal, o Dinho fez certo ao optar por ir atrás da Lia e não por voltar para a própria família? E a amizade? É boa ou ruim pro Dinho?
Espero que vocês gostem do capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo.
Trilha do capítulo, que eu achei que tem tudo a ver com o discurso final da Lia
http://www.youtube.com/watch?v=EzT0mT3akNU



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A família Costa acompanhou Adriano até o quartinho onde se hospedava. Lágrimas e risos compunham a atmosfera da antiga despensa do hostel, onde o primogênito confidenciava seus dias no Rio desde que voltara e sua viagem anterior, enquanto a família lhe narrava a vida em Miami. Uma ferida, no entanto, não foi deixada de lado.

– Por que ela, meu filho? Nós somos a sua família, Dinho! Você sabe o que foi pra gente saber sobre a sua doença por telefone? E se o pior acontecesse? - Alice engoliu em seco. - A gente sequer saberia? Nós perderíamos um filho, um irmão, um ex-enteado, que seja, sem sequer entender o que estava acontecendo, sem direito a uma despedida? - O choro tomou conta da mãe. - No passado, eu cheguei a aceitar o seu namoro com a Lia, mas trocar a sua família por ela? Ir atrás dela pra se despedir ao invés de voltar pros nossos braços? Meu filho, isso foi muito baixo! A gente te ama muito mais do que ela, Dinho! Aquela menininha pseudo-revoltada te chutou sem nem te dar o direito a explicações e você escolhe ela aos seus pais? Que espécie de filho é você? Ingrato! Egoísta! Você não pensou na sua mãe por um segundo? - Alice gritava. - Você não se deu conta, seu mimado, que tudo que a gente mais quer é estar com você quando o nosso filho precisa de ajuda? Que eu enfrentaria deus e o mundo pra que doesse menos pra você? E você parte o coração da sua mãe assim, preferindo ela à gente?

Dinho se sentiu encurralado. Nunca havia pensado daquela forma, pensava estar poupando os pais de uma dor maior, de não ter que enterrar o próprio filho, ou de não precisar se preocupar com perdê-lo caso houvesse uma cura. Estivera tão focado em Lia, que ferira as outras pessoas mais importantes de sua vida. A mãe estava errada, não havia escolhido a ex à família. Via Lia também como sua família. Como a esposa de seus sonhos, companheira para a vida que precisava recuperar antes que fosse tarde. Pensara não ser tão importante quanto a irmã que ganharia, que o nascimento da menina sanaria as dores dos pais caso morresse. Testemunhando o desespero emocional da mãe, percebera, enfim, a burrada que havia cometido. Sabia agora que Lorenzo lhes havia contado. Precisava agradecer-lhe mais tarde.

– Mãe, me perdoa, por favor. Eu não pensei... - Dinho implorou silenciosamente, em desespero por consertar o que havia feito.

– Você a ama mais que a nós? Você não sentiu a nossa falta o suficiente pra querer passar seus dias de tratamento com a gente? No meu colo?

– Não é isso, mãe. É só que... Dói muito ver vocês assim, eu não queria... Eu não queria ver vocês sofrendo. E tem o Tico, a menina...

– O que você acha que o Tico pensou quando soube? Hein? O que você acha? O coitado estava convicto de que o irmão não o amava! - Alice confidenciou severamente.

Os olhos de Adriano se encheram de lágrimas ao mirarem o caçula acuado. O mais velho se aproximou aos poucos, até abraçá-lo ajoelhado, como nos velhos tempos. Tentou segurá-lo no colo, mas a pouca força que tinha não era suficiente. "Eu sou só o irmão do cara!" dizia o menino em sua lembrança. Uma lágrima caiu. Lembrou-se das noites na barraca que armava em seu quarto, imitando animais e fazendo o irmão rir. Levou uma mão aos olhos, ainda com o caçula nos braços.

– Eu te amo, pequeno. Nunca duvide disso. - Dinho assegurou ao pé do ouvido de Tico. - Eu só não queria que você se preocupasse.

– Mas como é que eu iria te ajudar se você não me contasse?

– Me ajudar? - Dinho riu.

– É. Eu vou descobrir a cura, você vai ver! Que nem nos Quadrinhos, em que o herói sempre se salva no final! - Tico assegurou.

– Só que nós não estamos nos quadrinhos, Tico, e eu não chego nem perto de ser um herói.

– É, sim! Você é o meu herói, sempre foi! Menos naquela vez que o Mocotó me salvou e a Lia e a Ju ficaram cuidando de mim...

– Quando você crescer, vai perceber que eu só fiz bobagem. Que eu erro muito, todos os dias. Você não deveria se espelhar em mim, pequeno. - Dinho confessou melancolicamente.

– Tem certeza? - Dinho se surpreendeu ao ouvir a voz feminina. - Você salvou a minha vida uma vez, lembra? Você enfrentou os bandidos, quase morreu, pra me salvar.

– Lia? - Adriano estava sem reação.

Levantou-se rapidamente, acomodando o irmão em sua cama, e a mirou fixamente. Não esperava vê-la. Sorriu, encantado, com as lágrimas ainda presentes nos olhos. Alice a encarava incomodada, ainda sensível por haver sido preterida pelo próprio filho a Lia.

– Eu pensei que você só viesse mais tarde.

– E eu duvidei que você tivesse perdoado o meu filho depois do que ele aprontou. - Alice comentou rispidamente.

– A gente tá trabalhando nisso. - A roqueira respondeu com cuidado, percebendo o tom hostil da ex-sogra.

– Nós somos só amigos agora. - Dinho explicou.

– Sei... Lia, posso falar com você a sós? - Alice pediu.

A roqueira, acuada, consentiu, dirigindo-se ao hall do hostel, enquanto Dinho tentava dar atenção ao resto da família, preocupado com o que sua mãe poderia falar a sua ex.

–x-

– Olha aqui! Eu não vou permitir que você iluda o meu filho só porque ele está frágil,pra depois abandoná-lo de novo quando ele mais precisar de você! - A mãe de Adriano bradou.

– Eu nunca faria isso, Alice! Quem você pensa que eu sou?

– Eu sei bem quem você é! Você é a vadia que cegou o meu filho até para a própria família, alugou-o por meses, até que, no primeiro deslize dele, deixou-o sem direito a explicações, sem sequer se preocupar com o quanto você importava pra ele! Por sua culpa ele viajou, por sua culpa ele se matou trabalhando na África e por sua culpa ele pegou essa maldita doença! - Acusou.

– Eu não vou permitir que você fale assim comigo! - Lia se defendeu, mexida pelas palavras da mãe de seu ex.

Não podia dizer que nunca havia cogitado sua culpa pelo estado de Dinho. De fato, culpava-se diariamente por havê-lo feito partir e ser contaminado. Era sua característica mais natural culpar-se por tudo que acontecia a sua volta, não precisava de Alice a acusando. Estava convicta desde o retorno do ex de que, caso não o houvesse expulso de sua vida, o aventureiro jamais teria partido. E, ao mesmo tempo, odiava-o por haver partido. Por ter acreditado tão rapidamente que o melhor para a já perturbada Lia Martins, seria deixá-la em paz. Não queria ser deixada, por mais que houvesse bradado o contrário. Não suportou um só dia sem Adriano Costa ao seu lado. Era uma fraca, uma romântica estúpida e dependente, e Dinho era um imbecil, um pau mandado, que se jogaria de uma ponte pela ex se implorasse para tal. Odiava-o por seguir suas exigências, e se odiava por exigi-las. Alice não tinha o direito de gritar com a ex-nora. Eram ambos igualmente culpados, o filho e a namorada.

– O Dinho fez as escolhas dele! - Lia chorou na defensiva, tentando, ela mesma, acreditar no que dizia. - Eu não o obriguei a vir atrás de mim ao invés de voltar pros braços da família! Eu não o obriguei a se rastejar pelo meu perdão, nem a implorar por essa amizade sem futuro, em que sempre um vai querer mais do que o outro pode dar! - A roqueira gritou aos prantos. - Mas eu não posso ficar longe dele, não posso! Eu juro que eu tentei, eu juro que fiz tudo que pude pra resistir, mas eu não pude! Nós vamos ter recaídas, e um vai querer ficar pro resto da eternidade com o outro, mas eu jamais vou conseguir perdoá-lo, e ele dificilmente vá conseguir resistir à doença pra ficar comigo. - A voz de Lia enfraqueceu conforme a conclusão veio à tona. - Então nós vamos viver essa amizade sem compromissos como o nosso único "para sempre", como a relação mais honesta que nós conseguirmos, porque, quando chegar a hora, eu não vou suportar saber que não estive com ele até o último segundo. Porque, quando tudo acabar, eu quero, pelo menos, poder saber que eu fiz o homem que eu amava sorrir na hora mais dura, no momento mais difícil. Porque eu não sou médica, eu mal terminei o terceiro ano, mas eu sei que ele é feliz comigo, que eu sou feliz com ele, e quero fazer da vida dele um pouco menos dolorosa. Eu não estou enganando o Dinho, nem me enganando com isso. Eu estava nos enganando ao resistir, ao tentar fugir do que a gente sente, do que a gente tem. Você pode me odiar por tudo, por ele ter preferido vir atrás de mim, por ele ter viajado e pego a doença por minha causa, por ele sofrer tendo apenas uma amizade quando queria mais, mas eu vou fazer o possível pra que o seu filho possa sorrir.

Mexido, Dinho tentou secar as lágrimas que caíam sem cessar. Havia saído do quarto sem ser notado, tendo escutado grande parte do discurso apaixonado e embargado pelo choro de Lia. Pela primeira vez, desejou que Orelha tivesse gravado cada segundo. Precisava de provas de que não estava sonhando. Lia havia, enfim, confessado o que sentia. Estava abrindo mão de seus bloqueios por amor. Por amor a ele.


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Notas finais do capítulo

não quero esperar até acabar, você me faz ser forte / me desculpe se digo precisar de você, mas não ligo, não tenho medo do amor / quando não estou com você sou mais fraco, isso é tão errado? Você me faz forte.

Comentários aqui embaixo / espero que tenham gostado ^^