Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 36
Forte


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo praticamente de passagem de tempo, mas também imprescindível. A resposta de Lia, a chegada da família Costa...

Trilha
http://www.youtube.com/watch?v=TWllJ_v1gUs

Quem quiser, tenho uma fic com os personagens do Gui e da Alice em Em Família
http://fanfiction.com.br/historia/466629/Alcool_Shirley_e_rock_n_roll/



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O destino atua de forma curiosa. Adriano Costa, que tinha fobia de relacionamentos sérios, acabaria arriscando a própria vida por uma namorada. O garoto que não imaginava viver preso a alguém viu seu mundo desmoronar ao ver seu relacionamento com Lia destruído. O aventureiro que não se apegava a ninguém porque sonhava viajar o mundo, ao fazê-lo, não queria outra coisa senão a presença de sua ex-namorada. Dinho acreditava ter visto contradições suficientes em sua vida, até ser surpreendido novamente. E então, como o pior dos castigos, o jovem que sonhava aproveitar cada segundo que a vida lhe oferecia com cada atração que lhe gritava, de navegar fortes correntezas a pular de bungee jump, viu seu tempo disponível quase se anular. Não teria mais 80 anos para explorar cada lugar com que sonhava; teria meses, talvez semanas. Sem tempo, e sem ela, agilizou sua volta ao Brasil. Poderia viver o resto de seus dias vivendo ao máximo seus sonhos, ou lutar por seu maior desejo: tê-la novamente em seus braços. Porque a vida sem Lia não fazia sentido, juntou o dinheiro da passagem sem pestanejar. Se não conseguisse recuperá-la, não teria muito tempo para chorar a perda.

Adriano voltou para sua terra natal com o coração partido e a saúde fragilizada. Uma combinação poética, talvez. Para Dinho, irônica. O amante da vida vivendo a morte precoce aos 18 anos. Aproveitara cada segundo, de poucas coisas se arrependia. Seu grande erro, no entanto, tornava tudo mais doloroso. O olhar reprovador de Lia lhe doía mais que seus sintomas. Observou o ambiente à sua volta. Sorriu ao ver a melhor amiga trazendo um pequeno pacote.

– Aqui, pra você. Desnutrido, vai ficar ainda mais acabaDinho! – A periguete brincou, entregando-lhe o embrulho.

– Careca, doente e gordo é que a Lia não vai me querer! – Riu.

– Cala a boca e come, que agora eu sou a sua enfermeira.

Sua felicidade era ter Fatinha ao seu lado, que fazia de tudo para animá-lo. Riam juntos, apesar de tudo. Gargalhavam da própria desgraça. Ainda assim, sua melhor amiga sabia como ninguém que o sorriso de Dinho era uma fachada. Que suas implicâncias com Lia no colégio e embates com Vitor eram apenas para não se render, para não se deixar atropelar pela tragédia que o consumia. Com Fatinha, tentava manter a imagem por tanto tempo quanto conseguia, e, ainda assim, não fugia de se perceber como realmente estava: destruído.

– Vai ser assim agora? – Dinho perguntou desanimado.

– Assim como?

– Assim, trancado nesse quarto, com marcação cerrada.

Fatinha se desconsertou.Não podia deixá-lo se desanimar, era como deixar alguém com uma contusão dormir.

– Eu prefiro você assim trancado, mesmo. Faz menos besteira.

– Lia? – O rosto de Dinho foi iluminado por um sorriso.

Fatinha sorriu olhando de um para outro, torcendo para que se acertassem.

– Eu vou deixar os pombinhos a sós. – Comentou se levantando da cama onde estava sentada com Dinho.

Lia ignorou o comentário da periguete e agradeceu a retirada da funkeira. Não teria coragem de falar o que gostaria com alguém além de Dinho a observando.

– Então... – Tentou começar, aproximando-se da cama. – Sobre a sua proposta, eu... Eu acho que... – Escolheu as palavras com calma, fechando os olhos.

Dinho segurou a mão de Lia, querendo acalmá-la, apoiá-la em qualquer decisão que houvesse tomado. A garota lhe respondeu com um olhar fixo sensível e sincero.

– A gente forma uma boa dupla, não forma? – Riu sem graça. – E, apesar de tudo, eu... Seria muito egoísta te deixar passar por isso sozinho, ou, pelo menos, com menos apoio. Quer dizer, você tem os seus amigos e- Bom, o que eu quero dizer é que você é importante pra mim e eu me sentiria muito culpada te deixando de lado nessa. Você entendeu, não entendeu? Fala alguma coisa! – Lia implorou impaciente. Não aguentava mais passar vergonha vomitando fragilidade.

– Sim, eu entendi, você aceita. É que tava hilário ver você tentando se justificar! – Dinho gargalhou, corando a ex.

– Cala a boca! Eu só tô fazendo isso por compaixão, ok? E é na amizade! – A roqueira protestou. – E ai de você se tentar alguma coisa a mais!

– E se você não resistir e me beijar?

– Daí você me leva junto na próxima consulta, que eu vou precisar me tratar também.

Riram juntos. Talvez conseguissem manter uma amizade ou, pelo menos, a fachada de uma.

– Amigos? – Lia perguntou com a voz doce.

– Amigos. – Dinho sorriu, enfim se sentindo um pouco melhor.

Inseguro, tentou contato visual com Lia, hesitante. Entendendo o pedido do garoto, a roqueira o abraçou. Um abraço terno, saudoso, interminável. Sabiam exatamente o quanto precisavam um do outro, ainda que nem sempre admitissem. Esconderam algumas lágrimas. O momento era mais forte para cada um do que deixariam parecer. Tomaram seu tempo nos braços um do outro para assimilar. Não tinha volta, Lia percebeu. Iria com o ex até o fim. Outra lágrima. Respirou fundo nos braços que tanto desejara envolvendo seu corpo. Estava em zona segura aceitando a amizade, e apenas amizade. Poderia amá-lo em silêncio, sem o risco de ser traída. Não o perderia, mesmo sem recuperar a relação. Estava nos braços de quem queria, com quem queria estar, sem os riscos que a haviam destruído. Enfim em paz com Dinho, como tanto sonhara. Seu maior desafio seria resistir ao impulso de beijá-lo.

Passaram o resto da tarde conversando sobre tudo e nada. Sobre os lugares que Dinho conheceu e suas experiências, sobre como estava lidando com a situação. Evitaram falar em Vitor, Valentina, ou em seus sentimentos. Riram e se implicaram como nos velhos tempos. Algumas lágrimas escapavam e constrangedores silêncios tomavam conta de ambos, mas se recuperavam tão rápido quanto haviam parado. Era um momento forte, e ambos sabiam. Como no abraço, respeitaram seu tempo e venceram os olhares intensos que trocavam de quanto em quanto. Quando Fatinha chegou, os olhos de Dinho brilhavam para Lia.

– Finalmente! Ai, obrigada, Santa Clarice! Esses dois teimosos se entenderam! – Comemorou.

– Vai com calma, Fatinha, eu ainda quero matar o Dinho. – Lia riu.

– Ah, mas não vai! Já me basta essa maldita doença! Você nem se atreva, Lia!

Silêncio. Ainda não sabiam lidar com o elefante na vida de Adriano.

– Desculpa. – Falou sem jeito. – Então, vocês são amigos agora?

– É o jeito, né... – Dinho brincou.

– Moleque! Ai de você! – A roqueira retrucou.

Os dias se passaram depressa com a nova formação. Lia visitava Dinho diariamente e Fatinha os rondava, soltando indiretas nos momentos mais oportunos. Apesar das implicâncias, viraram um trio. Adriano, estando em repouso, não mais trabalhava. Aproveitava para passar as tardes com Lia ou com Orelha, que se alternavam em visitas com Lorenzo e Raquel. Quando tinha tempo livre, a periguete se unia ao ex-casal. Passavam a tarde falando bobagem e brincando, qualquer coisa para animar o enfermo. Vitor e Morgana, no entanto, incomodavam-se com a falta de atenção que recebiam.

No meio tempo, a família de Dinho, enfim, aterrissou no Brasil. Um reencontro de lágrimas e de abraços intermináveis. Alice, Mario, Tico e Bárbara chegaram ao hostel em uma tarde chuvosa. O pequeno, claro, foi o primeiro a apontar o novo visual do irmão. Alice tentou calá-lo para não magoar o filho.

– Deixa, mãe. O corte tá polêmico, mesmo. – Dinho riu.

– Você tá parecendo o professor X! – Tico se animou.

– Daqui a pouco, se eu precisar usar uma cadeira de rodas, eu te levo de carona, combinado? – Adriano brincou, apertando a mão do caçula.

Mario deu dois tapas leves nas costas do filho, admirado. Seu filho havia amadurecido. Era uma dor para os pais vê-lo naquele estado mais que Dinho deixava transparecer se preocupar. Concluiu, então, que Adriano estava aprendendo mais do que deveria com seus erros e castigos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e, por favor, comentem!