Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 34
Laços


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um! Estamos bem na metade da história, o fim não está tão longe quanto parece. Altas emoções pela frente
Trilha do capítulo:
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– OPA! A gente deixa vocês sozinhos por uma meia horinha e já estão nessa loucura? Ô, Dinho, você não presta mesmo, hein?! E Lia, você não consegue respeitar nem a situação frágil do meu amigo, não? - Fatinha cobrou.

Ao abrir a porta do quarto onde estava seu melhor amigo, Matia de Fátima teve duas surpresas. Entrara em um momento inoportuno para qualquer outro, porém oportuno para uma periguete que adorava causar, como ela mesma se definia. Tão logo entrara, percebeu que Dinho e Lia se afastavam ao ouvirem a porta. Não demorou muito para perceber que ambos se abraçavam minutos antes. Sendo Adriano e a marrentinha, claro, não era qualquer abraço, e muito menos deixariam que alguém notasse o momento mais íntimo que haviam tido.

Lia discretamente secou uma lágrima, o que Fatinha entendeu assim que viu seu amigo. Esperava vê-lo branco e frágil, como já era comum desde a volta do garoto ao Brasil, com hematomas causados pela briga com Sal. A situação, no entanto, era um pouco pior. Para a funkeira, era um choque vê-lo já com os cachos raspados. A doença parecia tão pior, tão mais próxima, mais real... Era como se enfim percebesse o quanto a enfermidade estava afetando seu amigo, para além de uma notável magreza e dos enjôos noturnos. Talvez pelo mesmo motivo os hematomas estivessem maiores do que estariam em qualquer pessoa saudável. Para tentar lidar com a visão de seu quase irmão naquele estado, fez o que sabia melhor: implicou com a cena que vira do casal.

– Fatinha? É... Eu... Hã... Eu vou indo, vou deixar vocês a sós. - Lia titubeou, dirigindo-se à porta.

– Não, Lia, fica, eu venho depois. Não quero atrapalhar o momento amor de vocês. - Fatinha sugeriu com um sorriso inocente.

– Não tava rolando nada! Com licença. - Com isso, a roqueira se retirou.

Maria de Fátima se aproximou da cama do amigo contando os passos, torcendo para que doesse menos conforme se aproximasse e se acostumasse à visão, mas Dinho parecia mais roxo a cada passo.

– Ei, eu não mordo. - Adriano tentou zombar.

– Eu sei, eu sei. A única que morde acaba de sair do quarto.

Ambos riram juntos, como se nada tivesse acontecido.

– Olha aqui, senhor Adriano, você não é mais o meu único amigo, mas é o meu único irmão, e eu não vou admitir que você continue se metendo em encrenca assim! Como se já não bastasse os meus pais não ligarem pra mim, você ainda fica correndo risco à toa? Como é que eu fico?

– Eu pensei que você não precisasse mais de mim, agora que tem o motoqueiro... - Dinho cutucou com uma expressão de abandonado precedida de um sorriso debochado.

Fatinha não sabia se Adriano brincava por fachada ou por realmente já estar melhor. Na dúvida, apenas sorriu em resposta.

– Ele nunca vai roubar o seu lugar, Dinho.

– Só com você... - Adriano retrucou incomodado.

– E você acha que a Lia sente pelo Vitor um décimo do que sentiu por você? Meu amor, você está garantido naquele coração! É só ela deixar o orgulho de lado! - Fatinha encorajou.

Os olhos de Dinho brilharam, embora seu sorriso fosse convencido.

– Então vocês ainda não se acertaram?

–x-

– Como ele tá? - Vitor questionou assim que Lia voltou do quarto. - E você?

Exausta, a roqueira levou a mão à testa, sendo abraçada por Marcela em seguida.

– Agora não. - Ju aconselhou.

Como a amiga previra, Lia estava em choque pelo que havia visto, ainda confusa com a proposta de Dinho e tentando decidir o que fazer. Secou uma lágrima que sequer havia sentido cair. Chorava como transpirava ultimamente, o que não condizia com a imagem forte, dura e inabalável que havia construído com o tempo. Tatá seguiu o exemplo de Marcela e também abraçou a irmã, que retribuiu com um sorriso fraco. Ambas levaram a roqueira para os bancos, sob os olhares preocupados de Ju e de sua mãe.

– Marrentinha? - Orelha se aproximou com cuidado, surpreendendo a roqueira. - Eu só queria dizer... - Segurou a mão da garota. - Que a gente tá junto nessa.

Lia se afastou da madrasta e da caçula e, talvez pela primeira vez que pudesse lembrar, abraçou o nerd.

– A gente vai ter que se aguentar por muitos outros momentos aqui no hospital, mas nós vamos sair dessa. Ele vai resistir, eu sei que vai. Eu não sei o que você viu naquele quarto que te deixou assim, mas o Dinho é forte. Não vai ser uma surra, nem uma doença misteriosa que vai nos separar dele. Eu vou zoar o meu melhor amigo até a gente ficar velhinho e você vai poder bater nele até começar a usar bengala pra se vingar da bobagem que ele fez. - Orelha riu, comovendo Lia, que gargalhou junto.

– Você é um mala, Orelha, mas é um ótimo amigo pro Dinho, eu devo admitir. - Lia sorriu para o nerd, ainda mexida pelas palavras de quem sempre vira como um insensível imaturo.

– A gente não presta, por isso se entende. - Orelha piscou.

– Faz sentido. - A garota riu em resposta.

Vitor observava, confuso, como até Lia e Orelha pareciam se unir por Adriano. Mais do que nunca, percebia que a turma do segundo ano do colégio Quadrante era uma família, com seus altos e baixos, rivalidades e amizades, mas que, em momentos cruciais, unia-se sem que divergências e implicâncias interferissem. Mesmo os que pareciam mais afastados eram como irmãos quando a dificuldade surgia. Principalmente se um membro da família estivesse em apuros. Com a ausência de Dinho, a família parecia ter passado por um momento mais afastado, como se fosse dividida em pequenos grupos que pouco se falassem e muito menos se conhecessem. Vitor sempre percebera os distintos grupos separados por um elo rompido que não conseguia decifrar. Agora sabia: era Adriano a peça que faltava para que os grupos voltassem a se unir. Sentia-se deslocado naquela sala, mal conhecia Dinho e, ainda por cima, era parcialmente culpado pelo acontecido. Olhou para Gil, que o socorreu.

– Eu me sinto tão culpado... Eu queria poder ajudar, sei lá, falar com o Dinho, pedir perdão...

– Espera um pouco, ainda é a vez da Fatinha. Ainda tem toda essa sala pra ver o Dinho. Nesse meio tempo, talvez você até consiga falar com a Lia.

– Ela tá bem mexida... - Vitor observou.

– Normal. O que o Dinho mais sabe é fazer a Lia sofrer.

– Gil! - Ju censurou. - A verdade, Vitor, é que o Dinho significa muito pra Lia, quer ela goste dele ainda, ou não. Nada mais natural que ela estar comovida desse jeito.

– Foi tão forte assim o que eles viveram? - Vitor questionou temendo a resposta.

– Você se lembra do estado em que ela tava quando vocês se conheceram? O que você acha? Eu te disse aquele dia: ela tenta se fazer de forte, mas o Dinho é o ponto fraco da Lia. - Ju respondeu.

– Eu queria tanto poder fazer a Lia esquecer esse cara...

– Todos nessa sala queriam, Vitor. Menos o Orelha, claro. - Ju completou rindo.

Após muitos risos e zoações e uma posterior conversa mais séria com seu melhor amigo, Fatinha voltou à sala de espera, indicando o caminho para Orelha em seguida. Para sua surpresa, Bruno a recebeu com uma rosa e um café.

– Foi mal pelo que eu falei antes, Fatinha. Como ele tá?

– Valeu, moreno... - Maria de Fátima tentou juntar as palavras. - Foi... difícil. Eu não poderia dizer que tá tudo bem, por mais que quisesse, mas... Vai melhorar, espero.

– Eu tô aqui pra você, ok? - Bruno assegurou.

– Você não sabe como é bom ouvir isso. - Fatinha sorriu, abraçando-o. - Doutor Lorenzo? - A funkeira chamou.

O médico recém chegava à sala onde estavam todos reunidos.

– Quando o Dinho volta pra casa?

– Nós vamos fazer mais alguns exames pra ver se está tudo bem, e ele recebe alta assim que sair o resultado. - Lorenzo respondeu enquanto anotava em sua prancheta.

– Lorenzo, eu não acho que seja uma boa ideia esse garoto, fragilizado como deve estar, seguir em um quartinho de hostel empoeirado, sob os cuidados dessa irresponsável.

Fatinha tentou ignorar os "elogios" de Marta a sua conduta prestando atenção no que o médico respondia. Para sua sorte, tinha a aprovação temporária de Lorenzo. Tranquila novamente, aproximou-se de Lia. Precisava falar com alguém que tivesse visto o mesmo que ela, saber que não estava sozinha em sua preocupação. Enquanto Lorenzo explicava aos outros como era a situação de Adriano, Fatinha acompanhou a roqueira até um canto mais isolado.

–x-

– Aqueles cachinhos vão fazer falta, né? A gente vai pegar no que? - Fatinha debochou.

– Então quer dizer que quando a gente namorava eu tinha que ter aberto o olho com você? Desde quando você pega nos cachos do Dinho, Fatinha? - Lia retrucou brincando, uma vez que já haviam conversado seriamente sobre o estado do garoto.

– Ai, Lia, só quando a gente dorme junto. - Fatinha gargalhou, contagiando a roqueira.

– Fatinha... Eu sei que não é nada ortodoxo, que você é a última pessoa pra quem eu devia perguntar isso, mas... O Dinho me fez uma proposta, e eu não consigo decidir o que fazer.

– Que proposta?

– Ele quer que a gente seja amigo.

– Amigos coloridos ou amigos-amigos? Duvido que vocês resistam!

– E o que eu faço? Eu não quero ficar longe dele nesse momento, e depois olhar pra trás e me arrepender de ter aproveitado tão pouco, sabe? Quer dizer, a gente não sabe quanto tempo ainda tem, mas eu tampouco quero me deixar levar e sofrer de novo.

– Lia... Você vai sofrer em qualquer situação, então se joga, cara! E daí se rolarem uns beijinhos? Vocês já se beijaram várias vezes desde que ele voltou, que eu tô sabendo. Essa ligação de vocês só acontece uma vez na vida, você não pode desperdiçar! Ok, ok, você sofreu bastante, mas isso não interessa agora. Você quer estar com ele ou não? Pode ser a última chance! - A voz de Fatinha falhou ao reconhecer que seu melhor amigo podia estar com os dias contados, mas precisava dar um empurrão, não só por Dinho, como também por Lia. - Olha, faz o que você quiser. Se você vai conviver com ele como amiga, como amiga colorida, ou como namorada, não me interessa. Eu só não quero que o meu irmão passe os possíveis últimos dias de vida dele sem a pessoa que ele mais ama ao seu lado. - Fatinha lacrimejou, apertando forte a mão da roqueira.

Apesar da visão embaçada pelas lágrimas, Maria de Fátima jurou ver algumas lágrimas caírem dos olhos de Lia. Sabia que a roqueira era imprevisível, mas precisava que desse certo. Jamais a perdoaria se não estivesse com Adriano naquela situação, pois sabia que seu amigo não teria motivação sem Lia ao seu lado. Não podia deixar que Dinho se entregasse. Havia visto o garoto desistir de lutar uma vez, não voltaria a ver a mesma cena. Nem que tivesse que amarrar a roqueira em uma cadeira ao lado de Adriano.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentem ali embaixo o que acharam, que eu agradeço de montão ;)