Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 33
Medo


Notas iniciais do capítulo

http://www.vagalume.com.br/remy-zero/perfect-memory-traducao.html Orelha/Dinho

ENFIM!!! Espero que gostem :) Completo, com essa fic, a missão de atualizar as 5 em um período de duas semanas COM PROVAS aushhuasahus. Espero conseguir manter o ritmo. Quase chorei escrevendo as cenas do Orelha e da Fatinha, espero que vocês gostem tanto de ler quanto gostei de escrever. Bjoss



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/356708/chapter/33

Lia se surpreendeu com a proposta de Dinho. Jamais esperava tal maturidade do garoto. Sentia uma dor distante, quase imperceptível. A dor de uma voz longíqua que se perguntava se Dinho havia desistido. Sabia que dificilmente conseguiria ser apenas amiga do garoto que amava, mas tampouco tinha coragem de confiar no aventureiro o suficiente para retomar o namoro. Tampouco queria ficar longe de Dinho, havia aguentado tempo suficiente e não sabia quanto tempo lhes restava para estarem juntos, ainda que como amigos.

Adriano observava a roqueira com certa hesitação. Temia a resposta, fosse qual fosse. Temia que Lia aceitasse tê-lo por perto sem namorarem, temia que jamais tivessem volta, temia que a loira não aceitasse e que sumisse de sua vida... Lia percebeu a preocupação de Dinho e sorriu. Eram tão parecidos, que seus medos eram os mesmos, ou, ao menos, pareciam ser. Passou a mão pela cabeça do ex.

– Eu vou sentir falta dos cachos.

– Eu pensei que você gostasse de mim com ou sem... Sabia que era mentira! - Dinho fingiu expressão de cachorro abandonado.

– É... Talvez eu não me acostume tão bem. A gente pede uma peruca pra Ju. - Lia riu.

– Quer dizer então que...? - O coração de Dinho pareceu bater mais forte.

– Quer dizer que a gente vai ter que conviver de qualquer jeito, a gente tá na mesma escola, esqueceu? E você é paciente do meu pai e da Raquel! Quanto à sua proposta, Dinho, eu ainda tenho que pensar, pode ser?

Dinho tentou disfarçar o nervosismo.

– Se a minha mãe descobrisse que eu deixo você mexer no meu cabelo, ia gostar ainda menos de você. - Adriano riu, tentando voltar ao assunto anterior à tensão. Lia tampouco pôde controlar o riso.

– Então foi por isso que você reagiu tão incomodado na última vez que a gente esteve nesse hospital?

– Quando? - Dinho pensou por um momento. - Era você? Eu pensei ter sentido a presença de alguém, mas o Dr Lorenzo disse que não era ninguém...

Adriano sorriu. Lia o visitara, como sempre havia desconfiado, mas era muito orgulhosa, na época, para deixar que Dinho soubesse.

– Você nunca me enganou. - Seus olhos brilhavam como os de Lia, que se sentia mexida pela lembrança de um tempo em que os problemas eram tão simples e, também, desconfortável. Talvez pelo antigo orgulho, talvez por assumir que sempre se importara, mas, principalmente, pela maneira como Adriano a mirava.

–x-

– Como ele está? - Vitor perguntou sem jeito ao avistar os outros adolescentes no hospital.

– O que você tá fazendo aqui? - Álvaro Gabriel cobrou agressivamente.

– Orelha! O Vitor não tem culpa pelo que o irmão fez! - Fatinha defendeu.

– O meu irmão quase morreu por culpa daquele Sal!

Era a primeira vez que Vitor via Orelha realmente se importar com alguém. Reparou nos olhos ainda inchados do nerd, escondidos pelas grossas lentes dos óculos de Álvaro Gabriel. Antes, achava natural, até mesmo irônico, que dois moleques irresponsáveis e de fraco caráter fossem melhores amigos. Era extremamente compreensível. Agora, percebendo o estado frágil de Orelha, percebia o contrário: a amizade humanizava o garoto. Percebeu Fatinha se aproximar do nerd. O motoqueiro era amigo de Maria de Fátima, conhecia seu caráter. Diariamente via Fatinha e Orelha se implicarem, se ameaçarem, mas, naquele momento, percebeu uma ligação entre ambos que tampouco conhecia. Dinho unia seus dois melhores amigos. Dois adolescentes que raramente se davam bem conseguiam se unir na dor pelo estado de Adriano. Era como se fossem irmãos de longa data.

Quando chegara ao Quadrante, Vitor sentira que faltava algo. Todos se conheciam muito mais do que demonstravam, pela forma com que se enfrentavam, ou se ajudavam. Mesmo parecendo rivais, alunos de distintos grupos conheciam uns aos outros como dissidentes de uma mesma família. A chegada de Dinho foi a chave que faltava para que o motoqueiro compreendesse os jovens do colégio Quadrante. Não havia estado no colégio pela maior parte do ano anterior, mas percebia que o garoto unia os diferentes grupos. Era a peça central do quebra-cabeça, o capitão do time. Jamais pensara ver Orelha, Fatinha, Ju e a família de Lia unidos por uma mesma dor. Foi quando se deu conta que a roqueira não estava presente.

– Onde é que tá a Lia, Ju?

– Ah, oi, Vitor! É... - Juliana ponderou o que dizer. - Como você tá? Deve ter sido difícil com o Sal e...

– É, foi. O Sal tá preso. Depois eu lido com isso. A ficha não caiu ainda. - Vitor tentou responder sem pensar muito no assunto. Ainda estava em choque com a verdadeira face de seu irmão mais velho. Fez menção para que a it-girl respondesse sua pergunta.

– A Lia tá com o Dinho no quarto há algum tempo. - Paulina respondeu, também pesando as palavras. - Felizmente parece que ele está bem.

– Sim, o Dinho só vai ficar mais uns dias aqui pra alguns exames e volta pra casa. - Lorenzo interrompeu. - Acho que a Lia já ficou tempo demais por lá... Bem lembrado, Vitor. - Comentou o médico, incomodado. Ainda não era a favor de deixar Dinho e sua filha sozinhos por muito tempo, ainda que Adriano não estivesse em condições de abusar de qualquer pessoa. - Quem é o próximo?

– Eu! - Fatinha e Orelha gritaram ao mesmo tempo.

– Vocês estão em um hospital, dona Maria de Fátima! - Alertou Marta, rígida como sempre com a ex-nora.

– Se o seu irmão tivesse passado por uma situação de risco como essa, a senhora tampouco se lembraria de fazer silêncio, dona Marta. - Retrucou a funkeira.

A ex-sogra de Fatinha não pôde responder. Era a primeira vez que percebia a dor de Fatinha. A ex-nora que tanto a incomodara agora parecia tão frágil... Em nada lembrava a periguete que ameaçava o futuro de seu filho com sua falta de senso e sua falta de modos. Fatinha e o nerd eram os dois que mais sofriam naquela sala, ainda que o garoto de óculos tentasse manter a posse. Era impossível. Lembrava-se bem de Orelha aprontando pelo Quadrante cada vez que ia buscar Juliana na escola. Estava destruído.

– Pode ir, Fatinha. Eu espero. - A decisão de Álvaro Gabriel surpreendeu os presentes.

Orelha ainda temia o que encontraria no quarto de hospital. Tinha medo do estado em que encontraria Adriano, seu exemplo, desde pequeno, de força, de energia, de vivacidade. Dinho era seu defensor, mais que um aliado. Pela primeira vez, se veria na posição de mais forte, de responsável. Via Dinho como um irmão mais velho, que tentava corrigi-lo quando aprontava, que o havia resgatado de uma era de bullying, de seus anos mais difíceis. Agora era Adriano que enfrentava seu momento mais difícil e Orelha não se sentia preparado para apoiar o melhor amigo com a força que Dinho o apoiara desde a infância. Acima de tudo, temia que cada encontro com Adriano fosse o último. Talvez não vendo o estado do amigo, pudesse seguir acreditando que nada passava, que estava tudo bem, que seu irmão era indestrutível como um super-herói.

– Valeu, Orelha. - Recebeu o abraço inesperado de Fatinha.

Fatinha percebeu, pela força tremida com que o nerd retribuiu o abraço, o real motivo pelo qual Orelha lhe havia cedido a visita primeiro. Elevou a mão até a cabeça do nerd e beijou-lhe o rosto.

– Vai ficar tudo bem, você vai ver. - Fatinha tentou consolá-lo, controlando a voz. Em seguida, afastou-se do abraço. - A gente ainda vai ter que se aguentar por causa dele por um bom tempo. - Fatinha riu, tentando controlar as lágrimas.

A loira se dirigiu ao quarto indicado por Lorenzo. Parou em frente à porta por um momento, temendo o que encontraria, tentando secar as lágrimas e pensando no que falar. Respirou fundo e abriu a porta. O que encontrou, no entanto, por mais que tivesse imaginado por horas como encontraria o amigo, foi uma surpresa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado