Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 29
Ódio e Pranto


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar primeiro QMP, mas a inspiração falou mais alto(talvez graças à Marianna, que me fez uma revisita à fic diariamente com seus comentários) e tive que postar tipo JÁ! Foi uma verdadeira guerra, pq o pc tá muuuuito lento, mas eu não poderia salvar pra postar depois, então vai na raça. Espero que gostem. Eu quase chorei escrevendo.

http://www.vagalume.com.br/demi-lovato/warrior.html
indico essa música pq descreve bem o que a Lia sente em relação à Raquel, mostrando sua superação em relação à mãe.

http://www.vagalume.com.br/the-fray/say-when.html



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–Eu não posso!- Dinho escutou-a gritar.

Estava sentado contra a porta do banheiro feminino. Não chamaria de, legitimamente, ouvir por trás da porta, não foi sua intenção inicial. Notara que Lia não estava mais em sala e saiu a encontrá-la. Precisava falar com sua marrentinha, precisava... Havia visto o olhar da garota quando revelou ao resto dos alunos sua doença (ou Fatinha, ou Mathias...), fora testemunha número um do pequeno escândalo na quadra, ou talvez protagonista... Sabia que Lia estava mexida com o que estava acontecendo e queria estar com ela, explicar que talvez não fosse tão ruim. Mais do que isso, sabia que precisava do apoio de Lia naquele momento, sua presença era mais forte que qualquer remédio. Talvez fosse egoísta... Não, com certeza era egoísta, mas tinha direito a um pouco de egocentrismo, não? Era a sua vida que estava em jogo. E ouvi-la dizer aquelas palavras era como um soco no estômago, não podia obrigá-la a sofrer para amenizar sua própria dor, podia? Só o que sabia era que precisava de Lia Martins mais do que nunca.

–Dinho?! – Juliana encontrou-o assim que abriu a porta.

Adriano se levantou constrangido e sorriu, sem jeito, para as duas. Lia tentara se esconder, mas Dinho já a havia visto.

–Eu preciso falar com você, marrentinha, pode ser?

–Você tava escutando atrás da porta?! E não me chama de marrentinha!

–Mais ou menos...

–Dinho! – Ju exclamou. – Bom, espero que tenha escutado o que ela nunca vai admitir pra você.

–Eu não ouvi muita coisa e não, não era a minha intenção, eu só tava esperando vocês saírem pra falar com você. – Disse olhando para Lia, ainda hesitante.

–Eu não tenho nada pra falar com você. Agora, se me der licença, eu preciso ir pra casa.

Lia tentou sair de perto de Adriano, que a puxou pelo braço assim que a roqueira cruzou a porta.

–Eu sei que não está tudo bem, mas eu quero que esteja. É muito importante pra mim terminar o que eu queria falar aquele dia. – Dinho e Lia se encararam; ele, implorando e ela, numa mistura de ódio e desejo tão característica desde o retorno do ex, agora também permeada por tristeza, ainda que Lia não admitisse.

–Lia, por favor, você precisa conversar com o Dinho, contar o que você sente. Eu sei que você nunca faz isso, mas é agora ou nunca, você não entende?

–E quem disse que eu sinto alguma coisa, Juliana? O que eu sinto é raiva! Eu não quero e não vou conversar com esse idiota, e nem você, nem ninguém vai me obrigar a passar mais nenhum segundo sozinha com a pessoa que eu mais odeio! – Lia gritou. Sua face avermelhava-se cada vez mais, enquanto suas palavras atingiam Adriano uma a uma.

–Lia... – Dinho estava sem palavras e sua voz não estava em condições de pronunciá-las, mesmo que as tivesse. Respirou fundo. Sabia como Lia era exagerada, resolveu colocá-la contra a parede, fazê-la admitir a mentira. Riu sarcástico – ou pelo menos tentou, sua própria risada dificultada pelo nó na garganta - . –Você me odeia mais do que odeia a Raquel? – Temia a resposta. Arrependeu-se da pergunta no instante em que a fez.

–Sim. – Lágrimas embaçaram os olhos de ambos. O garoto, que ainda segurava o braço de Lia, soltou-lhe. Estava sem chão, mas seu orgulho ainda exigia uma última resposta.

–Por que? – Foi só o que conseguiu pronunciar, seu choro agora indisfarçável.

Lia chorava tanto quanto ele. Era como se cada golpe que desferisse em Dinho a golpeasse de volta. Ju estava afastada, dando-lhes privacidade, mas pronta para empurrar a amiga para o ex caso a garota fugisse, e tampouco aguentou. Não esperava que o que Lia sentisse fosse tão forte a ponto de sobressair a dor que tanto a traumatizara no passado.

–Porque a Raquel eu consigo ignorar. – Foi o que conseguiu dizer com o fio de voz que lhe restava.

Dinho não esperava por aquilo, nem Lia. O garoto a provocara tanto, ainda que inconscientemente, que a roqueira acabou admitindo o que ela mesma desconhecia. Odiava Raquel, sua mãe lhe tirava do sério, mas conseguia ignorá-la e seguir adiante. Com Dinho, era diferente. Não conseguia ignorá-lo por mais que sua presença lhe incomodasse. Não conseguia odiá-lo completamente, por mais que seu sorriso lhe irritasse. Era muito pequena quando perdeu a mãe, o que a moldou como uma adolescente arisca, agressiva e fechada, mas a Dinho havia se entregado por inteiro. Com Dinho, havia recuperado a leveza e conhecido a felicidade plena. Amava-o tanto que o odiava. E por seu amor ser tão forte, tão intenso, também assim era seu ódio. E sofrer tanto com sua doença a fazia odiá-lo mais. E mais ainda por poder perdê-lo para sempre, ainda que não o quisesse em sua vida. Mas queria Adriano em sua vida, e era o que mais doía. Havia aprendido a ignorar o amor que sentia por sua mãe, sabia controlá-lo. Com Dinho, nada era controlável. Seu coração disparava, sua face corava, suas mãos tremiam. Desejava tê-lo em seus braços como imploraria por respirar levada por ondas para o fundo de um oceano tão frio quanto seu mundo sem ele.

Lia sentiu os braços de Adriano enlaçando seu corpo e odiou o ex-namorado ainda mais. Odiou a si mesma. Por que tão mexida pela sua presença?

Dinho entendeu as palavras da roqueira. Eram um apelo. Seu choro, um grito desesperado. Não sabia o que fazer, em anos não aprendera a agir com sua marrentinha. Optou pelo mais simples: um abraço. Podia dizer tanta coisa na linguagem dos dois... E apenas o necessário. Beijou-lhe a testa e a abraçou ainda mais forte.

Juliana cortou seu choro com um sorriso. Sua amiga precisava daquilo, precisava desabafar e ser confortada pelos únicos braços que realmente queria que estivessem em seu corpo, pelos braços cuja ausência lhe causava aquele choro, aquele sofrimento. Já podia voltar para casa, Lia estava onde deveria estar.

I'm breakin' down and you're breathing slowly Say the word and I will be your man, your man "Say when" And my own two hands will comfort you tonight, tonight


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Notas finais do capítulo

Eu estou desmoronando e você respira devagar
Diga a palavra e eu serei seu, seu,
"Diga quando"
E as minhas duas mãos irão consolá-la esta noite, esta noite

Foi um sacrifício postar, mas a criança nasceu. Comentários são mais que bem-vindos. Agradeço os comentários nos capítulos anteriores, favoritações, recomendações... Vocês me inspiram, amo todos ♥