Uma Vez Mais escrita por AnaMM


Capítulo 30
Gritos e Silêncio


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me o atraso(de novo!), mas enfim consegui postar ^^ Agradeço novamente a todos que leram, e principalmente aos que comentaram, que é o único meio de saber se estão lendo e se estão gostando.

http://www.vagalume.com.br/simon-garfunkel/the-sounds-of-silence-traducao.html
http://www.vagalume.com.br/coldplay/fix-you-traducao.html
músicas para o capítulo



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–Me solta! - Lia se afastou de Dinho. - Você não ouviu? Eu te odeio, sai de perto de mim. - Falou com a voz séria e controlada, tentando se recompor.

–Não é o que parece! Lia, você acabou de admitir que o que eu disse mais cedo estava certo! - Dinho argumentou, frustrado com a negação da roqueira.

–Acredite no que quiser, eu só não quero mais te ver, pode ser? Com licença.

Lia tentou desviar, mas as mãos de Adriano a impediram, puxando-a para perto de si e a encarando novamente. Seus rostos estavam mais próximos do que ela gostaria.

–Por que você dificulta tanto as coisas? - Dinho murmurou contra o rosto de Lia.

–Porque quando eu facilitei você estragou tudo. - A roqueira desviou a face de Adriano, tentando escapar de suas mãos.

–Lia, por favor, eu preciso de você! - Dinho implorou contra os fios loiros que tão bem conhecia, suas respirações em sincronia.

A roqueira tentava resistir. Precisava resistir. Era Dinho, o garoto que a fizera sofrer por meses e que voltou apenas para arrancar as últimas lágrimas que lhe restaram. Não podia se deixar levar novamente. E, ainda assim, não era o mesmo. Era mais frágil, menos vivo, menos Dinho. Seu sorriso era melancólico, seus cachos tinham os dias contados e, Deus, nem os braços eram os mesmos. Poderia se desvencilhar com facilidade agora que Adriano estava magro daquele jeito. E então percebeu que talvez não fosse Dinho. Era ela quem não se desvencilhava, a única culpada pela proximidade do ex-namorado. Envergonhada por sua fraqueza, afastou-se, enfim saindo do colégio.

Dinho levou um tempo para conseguir se mexer. Era sua culpa e sabia, o que nem piorava, nem amenizava a dor. Surpreso, concluiu não sentir nada. Não sentia nada, não era nada. Talvez fosse um vulto. Um patético vulto que tentou recuperar o passado e consertar seus erros. Não havia espaço naquele novo antigo mundo que encontrara. O nome "Dinho" era apenas motivo de dor, apenas a memória de um equívoco. E por mais que precisasse estar com ela novamente, a necessidade de Lia de estar longe de tanto sofrimento era ainda maior. Era uma assombração. Tão fantasma era que não se sentia vivo, sequer havia conseguido se matar. Desprezível. Como podia haver cogitado voltar? Precisava de seus amigos, mas não estariam eles melhores sem passar por aquilo com ele, assim como tentava poupar sua família? Era egoísta. Gil, Bruno e Lia tinham razão.

–Você é o famoso Dinho?

Não reconheceu a voz, nem conhecia aquele homem à sua frente.

–Quem é você?

–Eu perguntei primeiro! - Os olhos negros ameaçaram. - É você que está cercando a Lia?

–Que eu saiba, o namorado dela é mais baixo e tem olhos azuis. Eles podem ter terminado, mas a Lia não é tão rápida assim... - Dinho respondeu irônico.

–Cala a boca e presta atenção, moleque! A marrentinha é minha!

–Marrentinha? - Dinho riu. - Péssima escolha de palavras. - Respondeu com a voz grave, seus olhos também ameaçadores. Sem pensar, desferiu um soco no rosto de Sal, que o imobilizou. Esquecera-se do quão fraco estava. Sal gargalhou.

–Você acha mesmo que pode me enfrentar? - Salvador murmurou ameaçador.

Dinho ponderou. O homem desconhecido, provavelmente o que Lia havia mencionado anteriormente, era mais alto, mais forte e aparentemente louco. O adolescente, no entanto, tampouco estava em seu juízo perfeito. Acabara de constatar que deveria deixar sua ex em paz, que deveria acabar com o sofrimento dos amigos, que deveria sumir. Que o moreno o atacasse, que o partisse em pedaços, que o jogasse aos leões, não se importava. Não mais.

–Eu não tenho nada a perder. - Adriano respondeu com força, ignorando os rasgos que cada palavra lhe causava.

Não podia consertar o que havia feito, nem apagar o sofrimento de Lia. Poderia, contudo, livrá-la de mais dor e enfrentar o louco que a atormentava. Talvez não limpasse seu nome, ou sua consciência, mas um pouco teria feito.

Tentou chutar Salvador, atacá-lo com a cabeça... Conforme sua raiva aumentava, parecia recuperar sua força. Tentou se soltar, precisava acabar com quem fosse aquele homem misterioso. Precisava fazer algo bom à garota que amava, nem que fosse a única vez.

–x-

Nando, de seu bar, percebeu a movimentação. Não conferiu se conhecia os envolvidos, apenas telefonou para a polícia. Havia sido muito difícil controlar a reputação de seu bar, depois de tantas confusões, e não deixaria que estragassem tudo, mesmo que a uma ou duas quadras de seu estabelecimento.

–x-

Sal já perdia a paciência. Estava cada vez mais difícil segurar o ex de Lia, ainda que parecesse tão fraco.

Dinho aproveitou a distração de Sal, com sua própria raiva, e se desvencilhou, atacando-o em seguida. Dessa vez Salvador sentiu o golpe de Dinho. E o seguinte. E mais outro. Revidou. Adriano voltava a parecer fraco à sua frente, seu soco o deixando mais roxo do que esperava. O garoto caiu, levantando-se em seguida, apenas para ser nocauteado outra vez. E outra. E outra. Sal estava em cima de um Dinho estirado, desferindo-lhe golpes intermináveis. Rosto, tronco, rosto, tronco.

–DINHO!! - Aquela voz, conhecia. Sorriu.

Nada.

–x-

A rua estava completamente diferente de quando o confronto começara. Lia, Ju, Gil, Vitor, Morgana, Nando, a polícia, Marcela, Paulina. Moradores da região movimentavam o bairro e assistiam de longe à aproximação dos policiais, que separavam a briga. Lia e seus amigos haviam sido despertos pela sirene e pela curiosidade de ver o que se passava no Botafogo àquela hora da tarde. Um arrepio subiu a espinha da roqueira quando percebeu que era Sal e mais alguém... Não conseguia ver quem, o irmão de Vitor escondia o outro corpo com seu tamanho.

Apreensiva, acompanhou a cena enquanto policiais encontravam em seus pertences uma arma e algemavam o homem que tanto a aterrorizava. Sentiu-se mal por Vitor, que sequer conhecia a índole do irmão. Com um choque, no entanto, esqueceu-se de sua preocupação anterior. Enfim pôde ver quem estava sob Salvador, quem poderia ter morrido caso a polícia não chegasse, roxo, destruído na calçada que tantas vezes a levara até ele.

–DINHO!! - Gritou. Correu em direção ao garoto caído, ignorando os policiais que ainda o cercavam. Chegou a tempo de vê-lo fechar os olhos.

Silêncio. A rua estava lotada, as sirenes ainda soavam e dois guardas levavam até a viatura um Sal aos berros, mas Lia não escutava.

–Dinho, fala comigo! Dinho, acorda, por favor! - Nem sua própria voz escutava. Batia no rosto de seu ex, caso ele tampouco ouvisse seus gritos, seu desespero. Nada.

Quatro braços a seguraram. Não pôde ver de quem eram. Viu Marcela, viu Marta, viu Olavo falando com os policiais. Não escutou suas vozes. O tempo parecia não passar. Ela e Dinho pareciam invisíveis, despercebidos. Viu Fatinha correr até Dinho, chorar aos seus pés. Queria estar com eles, mas os braços a arrastavam cada vez para mais longe. Fatinha sacou um telefone de seu bolso e gritou o que provavelmente fosse uma chamada ao hospital, já que alguns minutos depois ouviu o som de uma sirene. Outro tipo de sirene. Não podia perdê-lo, não de novo, não tão cedo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Daqui a menos tempo que separou o 29 do 30, vem mais(espero).