Sal percebeu os roxos que escureciam conforme o dia passava na pele do irmão.

-O que aconteceu com você, maninho?

-Ah, foi o maluco do ex da Lia que me atacou no futebol...

-Ex da Lia?

-É, ele tinha ido embora, mas agora voltou e tá querendo voltar com ela de qualquer jeito, mas eu não vou deixar.

-E nem eu vou deixar que alguém bata no meu irmão e saia impune!

-Sal, deixa pra lá... Esse cara devia levar uma lição pelo que fez com a Lia, mas eu to bem, de verdade.

Salvador sabia que o irmão não falava de lição física e que o que Vitor menos queria era violência, mas não pôde deixar de sorrir, irônico, com a idéia que o caçula lhe havia dado. Iria defender a honra do irmão e ainda tirar mais um do caminho entre ele e Lia, agora com uma desculpa extra. Não questionou Vitor quanto à aparência do garoto. Observaria os movimentos da roqueira, para tentar encontrar o tal ex e puni-lo duplamente por estar atrás da garota que Sal queria e por mexer com seu irmão.

-x-

Lia dormiria mais uma vez na casa da amiga. Estava confusa com o que havia ocorrido à tarde e precisava desabafar antes que precisasse encarar Dinho no colégio.

-Espera aí, Lia, você ficou com o Dinho?

-Eu não fiquei com ele, Ju, foi só um beijo.

-E um selinho.

-E um selinho. Um beijo e um selinho, só isso.

-E o primeiro? Será que conta?

-Não sei, Ju, só me diz o que eu faço... Você acha que o Dinho vai entender que foi só um momento de fraqueza? E o Vitor? Eu conto pro Vitor?

Lia perguntava rápido, quase perdendo o ar. Ju riu.

-Calma, calma, respira! Deixa eu ver... Você fic-beijou o Dinho e não sabe agora como encarar nem ele, nem o Vitor? – Juliana fazia pose de detetive para descontrair a amiga enquanto pensava em como ajudá-la. – Não faço idéia. Por que você foi beijar o Dinho, hein? Você não disse que queria esquecê-lo, ignorá-lo?

-Não sei, Ju, não sei! Foi mais forte do que eu! Se você tivesse visto como ele estava... Desacordado daquele jeito, depois da cena bizarra de quando ele entrou... Eu sei que eu queria ignorar e esquecer o Dinho, mas daí ele apareceu na casa da Marcela desesperado e eu... E eu tive mais medo de perdê-lo que de sofrer por ele e... Não sei, aconteceu!

Lia voltava a se descontrolar e Juliana a abraçou. Não queria estar na pele da amiga e agradeceu aos céus por estar tudo bem entre ela e Gil. Sentiu Lia tremer em seus braços.

-O que foi aquilo, Ju?

-Não sei, isso você vai ter que perguntar pro seu pai.

-Eu tenho tentado perguntar do Dinho desde que eles apareceram juntos na casa da Marcela, mas ele sempre foge do assunto...

-E você já perguntou pro Dinho?

-Não, eu prefiro não ter que falar com ele.

-Mas beijar você beija, né? Entre outras coisas...

-Juliana!!! – Lia jogou um travesseiro na amiga, ofendida, mas brincando. Ju ficou aliviada ao ver a roqueira rir e jogou o travesseiro de volta, iniciando uma curta guerrinha interrompida pela consciência de ambas de que iriam acordar a casa inteira. Lia dormiu mais tranqüila depois da brincadeira, esquecendo os reais problemas que levaram à batalha.

-x-

Fatinha acordou no meio da madrugada com o som de alguém vomitando. Olhou para o colchão ao seu lado e Dinho não estava. Reconheceu o cheiro forte vindo do banheiro e aproximou-se do garoto. Ia oferecer ajuda, mas Dinho parecia não parar. A funkeira preocupou-se. Não tendo o que fazer, aguardou até que Adriano estivesse melhor. O garoto lavou a boca e se atirou contra o vaso sanitário, cansado e dolorido.

-Dinho, é sério, o que está acontecendo?

-Deve ter sido algo que eu comi, Fatinha, nada demais.

Fatinha desconfiou. Avistou os remédios do garoto próximos à pia e rapidamente tomou posse dos frascos, antes que Dinho tentasse impedi-la. Em choque, a garota leu a inscrição de cada bula.

-Nada demais???