Lorenzo voltou para o hospital antes que Lia perguntasse qualquer coisa e Dinho ficou sob os cuidados de Marcela. Gil não estava gostando de ver o garoto no sofá de sua casa, mas tampouco sairia de perto por medo de que a amiga tivesse uma recaída pelo ex. A roqueira não saía de perto do sofá, ainda que quisesse fugir do fantasma de seu passado. Dinho era como um ímã e Lia não conseguia se afastar do corpo dormido do garoto. A professora observava a cena comovida com a maneira com que a enteada olhava para o aventureiro.

Marcela sempre apoiou o namoro dos dois e era encantada pela história dos adolescentes. Desconfiava deles desde as épocas de briga e ficou incrédula com a separação. Não tomava partido em respeito ao filho, que gostava de Lia, mas sempre torceu pelo relacionamento da roqueira com Dinho. Sentiu-se até culpada pela torcida ao ver a garota sofrer tanto com o erro do aventureiro, mas agora percebia que não estava errada aquele tempo todo. Era nítido que a roqueira amava o garoto desacordado e que ele a amava tanto quanto, ou não teria voltado. Seu lado eternamente adolescente ficou encantado pelo retorno do garoto. Se Lia pudesse assumir o que sentia e perdoar o garoto... Foi quando lembrou que, mesmo assim, a história poderia não ter um final feliz. Voltou sua atenção ao ex-casal mais uma vez.

A roqueira ainda brincava com os cachos do ex, sentada no chão, ao lado do sofá. Seu rosto estava mais próximo da face de Dinho. Próximo até demais para Gil. Lia aproximou inconscientemente sua boca à do aventureiro e encostou seus lábios nos de Dinho por uma fração de segundo antes que o grafiteiro chamasse sua atenção, fazendo a roqueira se afastar, constrangida.

-Por quanto tempo mais esse idiota vai ficar dormindo no sofá?

-Ah, filho, não sei... Talvez daqui a pouco ele acorde...

-Eu não estou gostando nada dessa história! É muito folgado, mesmo, pra desmaiar no nosso sofá...

Marcela balançou a cabeça, incrédula. Até dormindo o garoto parecia representar uma ameaça ao seu filho. Ouviu-se um gemido e todos voltaram a atenção para o sofá, onde Dinho parecia recobrar a consciência. Lia correu até ele, preocupada.

-L-lia?

-Eu to aqui. – falou tentando acalmar o garoto, suas mãos entrelaçadas sobre o peito dele. – Calma, relaxa. – Lia passava a mão pelos cabelos de Dinho novamente, enquanto ele lhe sorria como no dia em que caiu da pedra. A roqueira sorriu de volta um sorriso fraco, permeado de preocupação, mas com um brilho no olhar por vê-lo bem.

Marcela sorriu para a cena e pediu instruções a Lorenzo pelo telefone. Enquanto isso, Dinho ainda sorria pela presença de Lia ao seu lado e segurava forte à sua mão como se fosse perdê-la no momento em que a soltasse. Gil olhava cético para a cena e aproveitava para questionar o garoto. Marcela cortou o filho assim que percebeu o incômodo de Adriano. Lia queria se afastar e censurar o ex-namorado pelo que havia feito no colégio mais cedo, mas temia perdê-lo de novo após tantas horas desacordado. Ainda não havia entendido a cena que precedera a sedação de Dinho e a lembrança do garoto desesperado se debatendo contra Nando e Lorenzo a perturbava.

Marcela percebeu o clima e chamou Gil para ajudá-la na cozinha. O grafiteiro protestou, mas foi levado à força pela mãe até o balcão.

-Ou você me ajuda aqui com a louça ou eu vou sumir com os seus sprays!

Dinho riu da cena e agradeceu em pensamento por Lorenzo tê-lo impedido de se matar. Estava com sua marrentinha ao seu lado e ainda podia rir da cara de Gil... Sua perspectiva havia melhorado drasticamente do início da tarde para então. Aproveitou que Lia se distraiu com a cena de mãe e filho e beijou sua face furtivamente. A garota corou e olhou para Dinho entre incomodada, irritada e apaixonada. Pelo menos aquela situação havia acalmado a marrentinha, como único ponto positivo do drama daquela tarde. Adriano sentou-se no sofá e puxou a ex para sentar ao seu lado, encaixando seu braço por trás dos ombros da garota e a trazendo para mais perto de si. Lia deitou sua cabeça no ombro de Dinho e ficaram abraçados no sofá sem falar nada, apenas aproveitando o momento e como seus corpos se encaixavam. O garoto beijou a testa da roqueira.

-Eu senti tanta falta disso...

-É só um momento de trégua, que fique bem claro.

-Sei...

Dinho sorriu e roubou um beijo da garota, que retribuiu com um selinho e voltou a deitar sua cabeça no ombro do ex. Marcela acompanhava a cena furtivamente e quase quis tirar uma foto do momento pacífico e carinhoso dos dois. Gil já estava se irritando novamente.

-Lia, por acaso você lembra que tem namorado??

-Você ouviu, Gil, é apenas carinho de ex. – Dinho sorriu triunfante, enquanto Lia revirava os olhos, também sorrindo.

-Ah, conta outra! Eu e a Lia também namoramos e ela nunca me deu essa abertura.

-Vocês nem namoraram de verdade!

-Pelo menos os meus sentimentos eram reais, ao contrário dos seus!

Dinho se levantou furioso e encarou o pichador.

-Eu AMO a Lia! Eu posso ter estragado tudo, mas eu nunca menti sobre amá-la!

Lia não sabia como reagir, nem se acreditava nas palavras de Dinho. Antes que tomasse partido, no entanto, Marcela apartou a briga.

-Ok, chega por hoje! Dinho, acho que você já pode voltar pra casa, e Gil, acho melhor você ir pro quarto esfriar a cabeça.

Ambos seguiram as direções indicadas por Marcela, que sentou com Lia na sala.