We Can't Go Back. escrita por erza stark


Capítulo 2
Memórias.




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O silêncio no carro seria constrangedor se não fosse pela música alta que tocava. Era difícil não lembrar das inúmeras vezes em que eu e Jellal viajávamos pelos parques aquáticos e passávamos por essa mesma estrada. 

- Por Lúcifer, esse garoto não cala a boca nunca! – O tal ‘’Zeref’’ praticamente gritou dentro do carro no mesmo instante em que desligou o som. Fechei meus olhos e respirei fundo na tentativa de tentar esquecer tudo isso. Sete dias atrás nós éramos as pessoas mais felizes do mundo, praticamente o casal do ano, e agora o garoto que eu amo está com um demônio no corpo e me levando como ‘’refém’’ para suas loucuras futuras. Se eu já não tivesse me beliscado incontáveis vezes, poderia afirmar que tudo isso não passava de um mal entendido e que acordaria a qualquer momento.

- Eu já disse que não vou te machucar, querida. – Ele suspirou. – A menos que você me incomode, só que isso não vai acontecer, certo? – Eu assenti. – Ótimo. Se você quiser seu namorado vivo, não tente se achar a esperta comigo.

- Isso não vai acontecer.

- Espero que cumpra com as suas palavras. – Ele sorriu.

- As vezes é difícil acreditar que o Jellal está ainda ai... E ao mesmo tempo é difícil acreditar que você está nele... – Eu estava tentando não parecer confusa. – Argh. – Ele riu.

- Eu tenho planos para mudar o mundo, e não fui eu que escolhi a Casca, ele me escolheu. – Se isso não estivesse sendo real, eu podia jurar que o vi lamentando. Jellal jamais tentaria qualquer tipo de contato com o inferno. Ou tentaria? Em quatorze anos que nos conhecemos, acho que posso afirmar isso sem qualquer dúvida.

- Você me olha como se ele quem estivesse no comando, isso é estranho. – Comentei antes de perceber a merda que eu havia acabado de fazer.

- E você me olha como se estivesse apaixonada, Erza. Acho que isso que te torna uma vadizinha, ele não está no comando, como você mesma disse. Quem está sou eu, então pare de achar que eu sou ele, apenas por usarmos o mesmo corpo. – Isso não fazia o menor sentido. – E eu posso provar.

Antes que eu pudesse iniciar qualquer tipo de argumentos, a tonalidade dos olhos de Jellal mudaram para uma espécie de roxo, quase preto.

- Agora você entende quem está no comando, vadizinha? – Eu não respondi. – Observe. – Ele apontou o dedo para um homem que trocava os pneus do carro e sorriu. – É isso que eu posso fazer, Erza. – O homem foi empurrado pelo nada. Meu Deus... Era isso que os demônios faziam?

- Sabe, vadizinha, lá no inferno eu costumava torturar as almas dos pecadores... – Ele pausou. - ... cortava elas em mil pedaços apenas para ouvir os gritos desesperados das almas e depois simplesmente... eu deixava o corpo inteiro e cortava novamente. – Prendi a respiração por alguns instantes e encarei o nada enquanto Zeref ligava o carro novamente. Seria esse o meu fim? Uma alma pecadora no inferno sendo cortada em mil pedaços algumas milhares de vezes por dia apenas para a distração dos demônios? Eu imaginava um futuro melhor.

- Entendeu como você pode acabar se me provocar, princesa? Eu posso acabar com você em dois segundos. – Ele riu. – Estou me controlando muito para não praticar nada com você, eu realmente não quero te matar. Não agora. – Ele piscou.

- Será que tem algum posto aqui por perto? Precisamos abastecer e comprar algo para comer, não vou agüentar por muito mais tempo. – Ele deu de ombros.

- Tem sim... Acho que dois quilômetros daqui, se não me engano. – Eu havia passado a quilometragem certa, acho.

- Você sabe o que eu como, não sabe?

- Eu prefiro não pensar nisso, Zeref. – Dei de ombros.

- Fígado é uma das melhores partes. – Incrivelmente, o resto de comida que ainda estava em meu corpo ameaçou sair pra fora.

- Eca! – Eu ri.

- Se você fosse um demônio certamente iria gostar. – Ele riu.

- Só que eu não sou, Zeref. – Dei de ombros, sorrindo. – Sabe... Nós acabamos de nos conhecer, você está destinado a me matar e me cortar em mil pedaços apenas por diversão... Eu deveria estar correndo, fugindo de você, e não rindo. – Eu pausei. – Somos contraditórios.

- Eu acabei de pensar nisso, Erza. – Ele pausou - As coisas só estão indo bem assim por causa das memórias do Jellal, não estou conseguindo as controlar, por isso as coisas estão tão boas para o seu lado, eu já deveria ter te matado.

- Isso não melhora muito as coisas, Zeref. - Lamentei. - Você é um demônio e está no corpo do homem que eu amo, não estou conseguindo lidar com isso. – Suspirei.

- Se isso serve de ajuda, Erza, Jellal nesse exato momento quer te beijar. - Ele parou o carro ao chegarmos no posto. - Só que eu não posso e não quero fazer isso, porque eu preciso te matar, me livrar de você e acabar com as memórias dele. Está entendendo? Nunca conversei por tanto tempo com humanos desde quando fui para o inferno. 

- Então por que você simplesmente não troca de corpo, Zeref? - Conclui que deveria ter ficado calada no exato momento em que seus olhos voltaram para a tonalidade escura. 

- Não posso. Ele quem me escolheu na tentativa de fazer um pacto, Erza. Só que ele não sabia que daria certo e... bum! Aqui estou. - Novamente a história do tal pacto... Isso era mentira, não era? - Não sei mais por quanto tempo ele vai aguentar, esteja preparada para o meu surto de raiva, estarei pronto para acabar com você. - O melhor de tudo é que ele falava com uma tranquilidade assustadora. 

- Você está sendo um demônio legal, Zeref. - Sussurrei. - E tudo bem se você me matar... Se Jellal estiver morto dentro de você, não haverá mais muita coisa para ser feita. - Novamente as lágrimas invadiram meu rosto. 

- Imaginei que falaria isso. Não estou mais me aguentando ficar preso nas memórias do garoto, estou destruindo uma por uma, todas as lembranças boas... Só que por algum motivo a parte da memória dele que guarda você está presa... Como se tivesse uma barreira me proibindo de entrar ali. 

- E ela pode se romper a qualquer momento. - Completei. 

- Pegou rápido a informação. 

Finalmente demos um basta na conversa. Entramos rapidamente na lojinha do posto e nos separamos, Zeref foi pegar seu, ahn, lanche, que estava no caixa e eu peguei alguns pacotes de bolacha, refrigerantes e doces já que não teríamos que pagar. 

E então o grito agonizante do caixa invadiu o local enquanto Zeref literalmente tirava suas tripas. Sai em disparada da pequena lojinha e voltei para o carro. Seria difícil tirar tal cena da cabeça. E juntando tudo o que havíamos acabado de conversar... Eu poderia ser sua próxima refeição. 

- Não aguentou ver o sangue, querida? - Tentei ignorar as gotas de sangue que estavam em sua roupa e revirei os olhos.

- Sangue ainda não é meu líquido favorito. - Dei de ombros.

- Sangue é só o tempero, bom mesmo são os órgãos. - Eu preferia não ter escutado isso. 

O resto da viagem foi extremamente calma, apenas cantávamos acompanhando o CD que tocava do AC/DC.

- Chegamos.

Se estivéssemos vivendo em um desenho animado diria que meu queixo estava no chão. Jamais havia pensado que aquela floresta apenas um disfarce para a gigante mansão que escondia. Quatro andares, talvez?

- Primeira vez que vê algo tão grande, querida? – Eu assenti. – Se você não se meter em meus planos, irei deixa-lá usar a piscina.

- Se você diz! Irei me comportar direitinho, Zeref. – Tentei parecer simpática. Não me assustaria se a ‘’água’’ da piscina fosse sangue.

- Faça o que quiser, vadizinha, só não me incomode. Estarei no andar de baixo. – Cinco andares, então? Ou sabe quantos ainda poderiam existir abaixo desse tal quinto.

- Você confia em mim? – Perguntei. Ele sabia que eu podia simplesmente sair correndo dali atrás de ajuda, apesar de saber que me achariam louca.

- Não. Só que você confia no Jellal, e acho que isso já é o suficiente. 


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