-Acorde.

Eu já estava me habituando a acordar com aquela voz monótona de Ulquiorra. Era sempre fria e sem emoção. Honestamente, não um bom jeito de começar o dia.

-Acorde – ele pediu de novo.

-Já estou levantando.

Ele saiu depois de deixar a bandeja com comida na mesa. Tomei o café da manhã. Era o terceiro dia que eu ficava presa nesse lugar. Pelo visto, Kurosaki-kun e o pessoal não sentiam minha falta... Mesmo me sentindo muito triste, pude me consolar com a ideia de que pelo menos eles estariam seguros no mundo dos vivos. Contanto que Yumi consiga escapar, eu não me importo de ficar aqui para o bem de todos.

Ulquiorra entrou e recolheu a bandeja. Ficou parado na porta olhando para mim por alguns minutos. Caramba, porque ele me olhava tanto? Estava me dando nos nervos já. A porta se fechou atrás dele, mas não ouvi os passos no corredor. Ao invés disso, ouvi vozes.

-E como ela está? – a voz de Ulquiorra ecoou.

-Está bem... É uma chata insuportável, mas pelo menos se comporta.

Eu não reconhecia aquela voz. Será que era do cara de cabelos azuis, aquele que levava os livros nos braços? Se fosse, era de Yumi que eles falavam.

-Entendi.

-E essa daí? Qual o nome dela mesmo?

-Orihime Inoue. Fisicamente, ela está bem. Acho que ela está psicologicamente abalada com alguma coisa.

-Bom, você não foi exatamente gentil ao trazê-la para cá – a risada do outro cara ecoou – Você é um idiota, tem que aprender a como tratar mulheres direito.

-Olha quem fala.

Um berro soou. Era a voz de Yumi.

-GRIMMJOW! CADÊ VOCÊ, SEU IDIOTA?!

-Argh... – o cara bufou – Ela está me chamando... Acho que vou ficar louco.

E depois disso não houve mais nenhum barulho. Fiquei esperando o dia inteiro por mais algum sinal de vozes, mas não ouvi nada. Eu só queria alguém para conversar. Não gostava de me sentir tão sozinha.

Eu estava sentada no chão olhando pela janela quando a porta foi aberta e Ulquiorra entrou com o almoço. Ele novamente ficou parado, mas dessa vez falou:

-Aizen-sama pediu para que eu perguntasse o que te aflige.

-Ah... – Aizen-sama, é? Tá bom – Nada, deixa pra lá.

-Eu tenho que voltar com alguma resposta. – ele veio até meu lado.

-Diga para ele se concentrar em outra coisa, e não em mim. – sorri para o Espada – Afinal, eu sou uma mera prisioneira. Não preciso da compaixão dele.

Ulquiorra me encarou por mais alguns segundos, então virou-se e foi embora.

Aquele dia foi um saco. Estava calor demais, eu me sentia desconfortável naquele vestido, e mais desconfortável ainda com a angústia que só crescia no meu peito. Eu daria tudo para ter alguma notícia do pessoal.

Já havia escurecido quando aquelas mesmas vozes voltaram a ecoar perto do meu quarto.

-Ela continua um saco.

-Não descobri o que a deixa aflita.

-Se bem que tenho que falar com Aizen-sama... Parece que a Yumi desmaiou hoje.

Minhas pernas me ergueram num salto, corri até a porta.

-É melhor falar...

-ABRA A PORTA! ABRA A PORTA! – gritei, batendo com os punhos no metal branco.

A porta subiu. Os dois homens estavam parados na minha frente. Era mesmo aquele cara de cabelos azuis. Ele estava apoiado na parede, Ulquiorra estava mais perto, apertando o botão na parede.

-Algum problema? – ele perguntou.

-O que você fez com a Yumi?! – avancei para cima do outro homem, pegando o colete dele – Você está machucando ela?! Deixe-a em paz!

-Calma aí, garota idiota – ele afastou minhas mãos. Ele tinha uma expressão malvada – Eu não fiz nada.

-Mentiroso! Pare de machucá-la ou eu...!

Ulquiorra pegou meu pulso e me puxou para trás.

-Eu não fiz nada! Ela deve estar doente ou sei lá! – Grimmjow berrou – Ulquiorra, controle essa mulher, pelo amor de...

-YUMI! YUMI! – gritei. Quem sabe ela podia ouvir.

-Pare de gritar. – novamente a voz de Ulquiorra congelou meu sangue – Volte para o seu quarto.

Lágrimas brotaram nos meus olhos.

-Vocês... Vocês... Qual o problema de vocês?! O que querem conosco?! Deixem a Yumi sair, ela não tem nada a ver com isso!

Grimmjow parecia meio espantado, Ulquiorra estava com a cara de sempre. Ele pegou meu pulso de novo e me arrastou para dentro do quarto, fazendo com que eu caísse na cama desajeitadamente.

-Está vendo? – Grimmjow abriu um sorriso sombrio – Eu disse que você tinha que aprender a tratar mulheres direito.

E a porta fechou.