A Ilha De Circe: Fênix escrita por Daughter of Apollo


Capítulo 6
Passagens




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/356048/chapter/6

Ariella

A escuridão engolia toda a minha visão e qualquer coisa que eu conseguisse enxergar ou ouvir. Tudo desaparecera. O templo, o fogo, as pessoas gritando, Aiden... Tudo.

Tentei, em vão, fazer meus olhos verem além do breu, ou mesmo esperar que se acostumassem. Nada.

Pensei, assim, se tratar de algum lugar além de nosso mundo físico. Onde seria?

Forcei um passo á frente, mas decidi que era mais sensato permanecer no lugar. O que eu poderia encontrar andando às cegas?

Voltando a esquadrinhar o perímetro, notei um brilho amarelo no que parecia ser o chão. Relutante, cheguei mais perto e descobri que ali havia uma pessoa. Ela tinha cabelos loiro-dourados longos. Senti os dedos da menina apertarem meu tornozelo e ofeguei com o susto. Ela vivia, afinal, e estava de bruços.

Cuidadosamente a ajudei se levantar. Seus braços mostravam muitos arranhões e sua túnica fora reduzida a frangalhos. Ela ficou de pé com esforço e, quando analisei o seu rosto, arfei e afastei-me dela de supetão. A menininha era eu! Uns doze anos atrás...

Meu rosto se transfigurou em alguma expressão de choque enquanto o dela fazia o mesmo. Devagar, estendi a mão e toquei-lhe os cabelos, que estavam maiores e mais dourados do que agora.

A menininha então riu carinhosamente com suas feições inocentes e desapareceu na escuridão. Meu coração batia forte e eu não conseguia respirar direito.

Com urgência corri para longe, contudo, não sabia se ia em alguma direção. Imagens do Partenon em chamas apareciam para logo depois sumir.

Cedal e Péricles vinham até onde eu estava, correndo aterrorizados de qualquer coisa que eu desconhecia. Fui ao seu encontro no momento em que Cedal tropeçou e eu tentei ajudá-lo. Acabei por segurar o nada.

Onde eu estou? O que está acontecendo?

O som, semelhante a ondas do mar chocando-se contra rochas, machucava. Meu corpo começou a ficar desorientado, as trevas corroendo cada parte do meu ser. Eu estava assustada e isso impedia que pensasse com clareza.

– Fênix – ouvi o chamado – Fênix, por favor, não desapareça!

– Caeliora? Onde você está? – Gritei para o vazio. Não houve resposta.

De repente, alguma coisa tomou forma a uma distância considerável. Um homem de armadura negra, com um rosto quadrado, cabelos castanho escuros abundantes, uma rala barbicha na face e completamente inexpressivo. Sua espada reluzia como prata. Os penachos do elmo camuflavam-se. Notava-se que era um guerreiro forte.

E havia algo mais nele, que não sendo sua aparência, e sim sua energia. Eu podia ver que se tratava um deus.

Ele sorriu de um jeito cruel e eu coloquei a mão em meu colar. Se precisava livrar-me de um problema desses, seria com ele.

– Criança tola – pronunciou – Não pode detê-lo. Não conhece nem a si mesma.

Não ousei responder, uma explosão dourada repentina jogou-me para trás. Meus olhos arderam e minha visão perdeu o foco. Meu corpo todo doeu com o impacto, não acreditei não haver quebrado nenhum osso.

– Vitória! – alguém gritou. Me perguntei quem seria para me chamar por este nome, até que reconheci a voz. – Depois de todos esses anos!

O sol ia alto, a grama acariciava meus pés descalços com leves cócegas e o vento afagava-me gentilmente. Na minha frente, vi uma grande casa de campo, cheia de escravos trabalhando com suas túnicas simples.

Eu reconheci o lugar imediatamente e meu corpo gelou com a descoberta. Era um lugar calmo para se ficar, agradável, contando com as visões que eu estava tendo, porém, eu o odiava. A mulher baixa e de corpo farto sustentava uma expressão surpresa.

– Então quer dizer – falou minha tia – que se juntara àquele covil de bruxas?

Sua voz carregava desprezo.

Não contestei o bruxas, mas o covil me desagradou profundamente. Eu não gostava nada dela, embora fosse a única quase família que eu tinha.

– Sim – respondi calmamente. O que eu estava fazendo ali? Por acaso agora ficara senil? Ah, sim era uma alucinação.

– Eu sabia! Era um idiota assim como a mãe, desperdiçando a vida para tornar-se um demônio!

– Cala a boca! – Gritei, ou ordenei, pois a mulher ficou quieta e com medo – Não ousa falar da minha mãe! Ela não era egoísta e fútil como você. Só pensa em ti mesma. Não percebe, tola mortal, que eu sendo uma feiticeira posso salvar-te e a esta vida que levas! És egoísta a este ponto!

Minha tia permaneceu em silêncio e, novamente, eu fora para outro lugar. Isto não me parecia bom. Meus órgãos internos me fariam vomitar a qualquer instante se este joguinho continuasse.

Desta vez, o ambiente era um templo, repleto de braseiros e colunas de mármore. Em algumas foram entalhadas imagens de deuses, e o mais impressionante era a imagem de uma deusa em chamas no alto do tablado. As madeixas de seu cabelo se confundiam com as próprias chamas e seu vestido e olhos eram feitos pela mesma.

Héstia, deusa da lareira, do lar. Recordava-me que era lembrada pelas lareiras das casas.

A estátua se encontrava à minha esquerda, eu estava na sombra de uma das colunas. No chão, aos pés da deusa, o amuleto que tanto procurávamos brilhava. Me preparei para correr, até que percebi alguém me observando do outro lado do templo. O mesmo homem que quase me matara. Por um momento, apenas olhei-o nos olhos. E, num movimento mútuo, ambos disparamos.

O maldito era rápido, mas meus pés não me traiam. Sem interromper a corrida, rasguei mais um pedaço da minha roupa, pois o amuleto não poderia ser tocado.

Chegamos ao mesmo instante, a ponto de encostarmos no objetivo. Nossas mãos tropeçaram uma na outra com um choque elétrico que reverberou por todo o meu corpo e sacudiu meu cérebro. O homem paralisou na hora, e ali, não o vi como um assassino.

Claro, isso durou só um segundo, até que aquilo recomeçou. Um cansaço e dor horríveis se apossaram do meu corpo, desisti de pegar o amuleto, dobrei-me sobre mim mesma e vomitei no chão. A sensação era de estar queimando por dentro, meus ossos, até minha carne. O guerreiro ao meu lado caiu e começou a ter convulsões.

Eu só queria que aquilo parasse, que a queimação fosse embora. Por favor pensei Pare com a dor, quem quer que seja.

Meus membros tremiam terrivelmente. Minha cabeça bateu no tablado e escorregou.

Agora, sabia que minha consciência iria embora de vez. Antes de desmaiar, vi um deus se aproximar. Era loiro, irradiava poder e um brilho dourado.

O deus se ajoelhou ao meu lado. Eu queria gritar e minha voz ficou presa na garganta. Sua mão acarinhou meu rosto com cuidado. Quase me esqueci da dor com seu calor agradável.

– Descubra seu passado, Fênix – ouvi a linda voz dizer – E talvez possa salvar seu futuro


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem Deixem ReviewsBeijosaté uma próxima



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Ilha De Circe: Fênix" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.