A Ilha De Circe: Fênix escrita por Daughter of Apollo


Capítulo 3
Partindo da Ilha


Notas iniciais do capítulo

Enjoy meu povo lindo



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Ariella

12 anos atrás

Atenas estava repleta de soldados que realizam suas rondas. Mamãe não quis sair da cidade, como todo bom e orgulhoso Ateniense que preza por seu amado lar.

Foram ouvidos rumores de que os persas atacariam e eu sentia algo estranho em meu íntimo. Dor e... Saudade? Eu não sabia dizer bem o porquê.

– Ariella Vitória Liene. – Chamou mamãe, oscilando sua irritação – Retorne para casa agora!

– Mamãe, por favor, deixe-me apenas chamar meus irmãos!

– Tudo bem filha, vá, mas cuide-se.

Eu me virei e corri pelo campo. Mamãe era casada com um aristocrata Ateniense poderoso. Eu não era sua filha, tampouco possuía pais. Embora Nohan e Calais fossem filhos dela. Meu padrasto, sendo um homem bom e generoso simplesmente aceitara casar com uma mulher que já havia se deitado com um homem. Não me falha a memória, ele sempre a chamava de arredia e exclamava quão bom fora ela ter – finalmente – aceitado casar-se com ele.

Mas não era a tradição mulheres serem casadas pelos pais? Sem escolha?

Mamãe sempre fora estranha ao extremo.

Disparei pelo pomar com o vento açoitando meus cabelos, atribuindo a eles um aspecto de fios dourados. Minhas pernas tocavam a grama com suavidade e força, como um cavalo. As árvores passaram rapidamente por mim e logo ficaram para trás.

Sentia-me uma força da natureza, algo que homem nenhum para. Apenas correndo e encarando a brisa na grande extensão daquele pasto.

Felizmente, meus irmãos não se encontravam em qualquer lugar das nossas terras. Conhecendo-os bem, deveriam estar nos limites da polis, onde nos era proibido. Não que eu os delataria, muitas vezes participava, embora fosse bom controlar a situação dos dois irmãos mais velhos.

Avistei-os brigando estupidamente com duas espadas e rolei os olhos. Isso só pode ser aspecto masculino, penso, a estupidez.

Os cabelos castanho claros e o rosto – por enquanto – angelical, a forma esguia de seu corpo e a pouca idade de Nohan para aparentar certas habilidades de guerra chamavam atenção para ele.

Calais, mesmo sendo seu irmão gêmeo, possuía um tom mais escuro de cabelo e um corpo mais avantajado. Olhando para seu rosto quadrado e mais duro, contava todas as diferenças dos dois.

– Meninas – provoquei – Mamãe está chamando vocês.

Meus irmãos fitaram-me mortalmente e cerraram os punhos em volta de suas espadas de madeira.

Sem precisar prever seus movimentos, disparei novamente pelo campo com eles atrás de mim proferindo todos os tipos de impropérios imagináveis.

Minha vantagem maior é que nunca ninguém conseguira ,e pegar, nem Nohan.

– Agora foge, não é mesmo, irmãzinha? – Gritava Nohan com rancor.

– É melhor não fazerem nada – ameacei, sem parar de correr – Ou contarei a mamãe onde estiveram.

Não percebi quando as últimas casas de Atenas foram desaparecendo e nós corríamos por terras abandonadas.

Fora um pouco tarde. Parei de repente, me amaldiçoando por ter ido tão longe. Vi milhares de armaduras chocando-se ruidosamente a poucos metros de mim. Homens caindo e outros derrubando.

Os atenienses lutavam contra persas.

Nohan e Calais pararam ao meu lado. Ao verem a cena, arrastaram-me dali o mais rápido possível, enquanto a luta de dois exércitos acontecia bem diante de nós. Alcançamos as primeiras casas e estas estavam vazias, muitas sendo queimadas. Eu sabia que não adiantava correr para lá, pois eles estavam lá também.

Minha visão embaralhou-se. Soldados gritavam e morriam. Aquele lugar estava uma confusão de berros, sangue, homens e casas incendiadas, tanto que eu acabei me perdendo os meus irmãos.

Eu sabia que deveria chegar à Acrópole o quanto antes, mas não conseguia. Continuei correndo sem realmente ver aonde meus pés me levavam. Era pequena demais para me notarem realmente.

De repente, eu avistei, vindo em minha direção, um guerreiro de armadura negra. Não era persa, tampouco ateniense. E não deveria prestar atenção a uma menininha enquanto haviam outros homens a serem mortos.

Seus olhos me hipnotizaram. Eu fiquei presa naqueles olhos negros e frios. Como a noite sem estrelas e o abismo do tártaro.

O homem caminhava lentamente em sua pose triunfante, mostrando que está alcançando a vitória. Vitória pensei ele está me alcançando. Recuei poucos passos, tentando afastar-me, mas a sorte não estava a meu favor e eu acabei caindo por tropeçar em um corpo morto de um soldado.

A espada pairou sobre mim com um brilho estranho. Tateei o chão com as mãos em busca de algo para defender-me, sem nunca parar de fitá-lo. Com um súbito movimento, ele tentou golpear com a lâmina, então esta se chocou com um pequeno punhal que eu consegui pegar do chão. Provavelmente do guerreiro morto. O homem tentou forçar a espada, e eu sabia que sua força era maior que a minha para que eu pudesse refutá-la. Então, senti um formigamento no estômago, subindo por meus membros, pelas minhas veias e explodindo de mim. O soldado foi atirado para longe, envolto em um brilho dourado.

O fogo me tomou completamente. Eu não senti mais o ar em meus pulmões. A escuridão me envolveu. Eu estou morta.

Tempo Atual

A noite era fria, gelada. As cobertas de pele não faziam muita diferença. É estranho o clima estar assim. Normalmente é o calor que nos saúda e as brisas frescas dão a nós algum alívio.

Aqui cultivamos nossos grãos e todos os moradores ajudam. Eu mesma já trabalhei nos campos, já treinei os cavalos e teci túnicas de linho.

A Ilha de Circe é como o paraíso. Tudo o que plantamos pode florescer. Só é preciso tomar cuidado para não plantar ervas venenosas, pois nasceria também.

Olhei em volta no cômodo escuro. Eu conseguia avistar Caeliora e Flora, dentre outras meninas. A escuridão não me impedia de enxergar.

Levantei-me. Ainda é madrugada. Não há muito que ouvir à noite dentro do palácio. As paredes são mais opacas e friorentas. Meus pés moveram-se sem produzir som algum.

Caminhei por aqueles corredores como um ladrão prestes a invadir uma casa. Não queria ser vista por ninguém.

Depois de muito andar, atravessei os portões e cheguei à praia. A areia é quase branca sob a luz de uma lua muito cheia. E o mar parece reluzir como mil diamantes negros.

Pensei no passado. Apenas três pessoas o conhecem. Dreah, Caeliora e Circe. Certas coisas precisam ser mantidas em segredo. Minhas irmãs, de certo modo conhecem-me porque viveram o passado comigo.

Eu sempre fui assim, mesmo distante, gostava das pessoas à minha volta. De observar, não interferir. Se necessitassem da minha ajuda, eu a daria de bom grado.

Aulas de esgrima, luta, magia e o que fosse preciso para qualquer um que pedisse. Mas eu apenas auxiliava, não estreitava laços.

Agora eu estava prestes voltar. Não reclamaria, claro. Eu quero, só não é do meu agrado. Aquelas pessoas não veriam o mundo como eu vejo. Nem o lar onde vivemos, como nós o conhecemos. Por isso ficaríamos em anonimato. Ninguém da Ilha de Circe tem boa reputação para eles.

– No que tanto pensa, Ariella? – Uma voz calma disse atrás de mim. Me virei e vi dois olhos castanho-escuros fitando-me de volta. Aiden.

– Na nossa luta. Não vai ser fácil. – Respondi. Aiden era legal, e muito tranquilo também.

– Está com medo? – Ele brincou, um sorriso luminoso no rosto. Dei apenas um rolar de olhos em resposta. – Então... Que tal treinar um pouco antes?

Aiden pareceria com Nohan se este ainda estivesse vivo. Um rosto com feições joviais, embora se portando como um homem.

– Caso não se importe em perder, Aiden, seria legal. - Ele riu e seus olhos brilharam com o desafio. Era bom estar com ele, era fácil e isso tornava as coisas mais agradáveis.

– É muito confiante, mas isso não durará muito tempo.

Fomos para o Arsenal e de lá pegamos algumas armas emprestadas, além de proteção. Aiden escolheu uma espada curta, como aquela que sempre está com ele, e eu peguei duas facas de bronze.

Voltamos agora para praia, tomando nossas posições.

– Prometo cuidar para não machucá-lo, Aiden. Você ainda é muito jovem.

Caçoei por ser quase dois anos mais velha. Ele não se irritou.

Simultaneamente, fomos para cima um do outro. Ele tentava algumas estocadas que eu desviava com as facas. Então logo se cansou e partiu para algo mais elaborado.

Aiden fingiu golpear a lateral do meu corpo, e, no último segundo, colocara a espada em uma posição mais baixa. Prevendo o movimento, defendi-me com as minhas facas e em seguida, chutei-o no peito. Aiden caiu.

Chagando perto o suficiente do garoto, pairo acima de seu corpo, triunfante.

– Eu venci, rapazinho.

Então, ele deu uma rasteira e eu caí na areia macia.

– Eu acho que foi empate – ele riu.

Aiden é um garoto calmo e chegara há pouco tempo. Uns cinco meses. Ele já sabia usar a espada quando apareceu, vindo de um vilarejo pouco povoado e era muito bom com ela. Parecia esconder um segredo.

Ouvimos alguns sons ao longe e percebemos que o sol já nascia. Pus-me de pé rapidamente e olhei a claridade surgindo no céu.

O sol nascendo, mais um novo dia, um recomeço. A prova de que é possível recomeçar. Como eu recomecei em um nascer do sol. Uma Fênix surgia das cinzas.

– Vamos Aiden, temos que nos apressar.

Corremos de volta ao arsenal, guardamos as armas e as cotas de malha, indo cada um a seu quarto.

Ninguém havia acordado quando cheguei e, sem perder tempo, comecei a vestir-me com o Chitón* branco.

Pouco depois as meninas também levantaram, vestiram-se e então caminhamos juntas até o porto, onde todos os outros nos esperavam.

Um começo. Uma nova era. A calmaria acaba agora. É hora de partir para guerra


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Notas finais do capítulo

* chitón é a túnica que os gregos antigos usavam
People, deixem reviwes para uma autora que ama isso. Obrigada aos que deixaram BeijooosNos vemos logo mais



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