A Ilha De Circe: Fênix escrita por Daughter of Apollo


Capítulo 27
Olhos Dourados


Notas iniciais do capítulo

Eu quase sangrei, mas tá aqui. Capítulo pra diva Little Sheep.
Como esse capítulo foi mais curto que os outros, o próximo será mais longo.
Enjoy, filios.



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Ariella

Esfreguei os olhos por causa da areia, lacrimejando. Eu gostava do deserto, apesar do pequeno infortúnio. A beleza selvagem, a força com que provava seus viajantes. A mulher que me gerou viajou durante semanas por um lugar assim, para que eu nascesse lembrei-me. Passávamos exatamente pelo vão entre dois incríveis paredões de pedra, e eu me dei conta que aquela armadura não era exatamente boa para uma travessia no deserto. A não ser que fôssemos enfrentar alguma coisa.

Deixamos o vão e encontramos somente dunas. Leecher andava a minha frente. Ele era tão seguro quanto antes, e eu gostava de sua maneira inabalável. Da linha dura de seu maxilar e de quando treinava comigo no pátio de colunas.

Ele era tão seguro e eu, tão sentimental! Talvez houvesse sido a conversa com Ártemis sobre os meus votos. Ou eu simplesmente estava dando sinais da minha própria natureza feminina mortal. Não sei. Eu já o havia visto sem camisa, e mesmo sangrando e com uma fratura, ele era lindo. Eu me lembrava da sede... E de ficar encantada quando ataquei os lobos com fogo e me vi queimando nos olhos dele...

– Ari, algo errado? – Leecher perguntou, pegando-me de surpresa. É melhor que eu pare de distrair-me, para que isso não aconteça novamente.

– Não senhor, general, senhor.

– Na verdade, há sim. Eu posso ver, meretriz. Ah, não precisa contar, se não quiser – Ele falou com gentileza. Gentileza.

Sacudi a cabeça. Lee desacelerou o passo para que eu pudesse andar ao seu lado. Entreguei Nathán para que ele segurasse enquanto verificava meu cabelo. Lee segurou o bichinho de má vontade.

Alisei os cachos loiros. Lee deixou Nathán cair no chão.

– Ei! – Exclamei, pegando o coelho e o colocando em meu ombro, onde ficava escondido.

Leecher deu de ombros. Que homem apaixonante, deuses. Eu podia jurar que todas as mulheres caíam apaixonadas assim que viam sua amabilidade extrema.

Suspirei. Ele estava certo quando disse que havia algo errado. Imaginei que era o enlace mágico que permitia que ele sentisse, afinal seria a única explicação. Eu não acreditaria em qualquer outra coisa.

Resolvi contar a ele outra história, também perturbadora:

– Certo, está bem – Ele fez sinal para que eu continuasse – Sabe, Castor falou muito sobre minha mãe, que dizer, se referiu a ela como a mulher que me gerou, não a que me criou. Bem – pausei – Eu sempre soube que a mulher que me criou não foi minha genitora. Ela já havia me contado, e eu tinha minhas suspeitas. Não via em mim os traços fortes e marcantes dela, ou as feições arredondadas de meu pai. – Era difícil dizer – Ninguém era loiro na minha família, ou tinha olhos azuis. Cheguei a pensar que era uma daquelas meninas abandonadas no nascimento, mas não. Castor tirou-me essa dúvida. E agora... – Minha voz transbordava de angústia – Eu acho que essa incerteza, essa falta em mim aumentou. Há um buraco na minha origem pelo qual eu não vejo nada. Já pensou que pode haver uma mãe viva em algum lugar por aí? E que ela me largou por algum motivo?

– Você perguntou a Castor sobre isso?

– Sim, ele não me respondeu. Também perguntei quem era meu pai, ele não respondeu. E não respondeu sobre onde ficava o lugar onde nasci, Aergir. E às demais perguntas: Quem era Ariel? Por que tive tantos nomes? Por que um ritual tão grande para o meu nascimento? Por que meus olhos eram dourados e agora azuis? Por que eu...

– Ari! – Leecher colocou a mão em meu ombro. Calei as perguntas na hora. A expressão cálida e austera de seus olhos amparou o meu tremor – Ari.... - Ele expressou, gentil. Doce – Acalme-se.

– Está certo. – Concordei, sabendo que era a primeira vez que fazíamos algo assim e que parecia completamente natural.

Como algo podia arder tão terrivelmente e não queimar?

– Não possuo a resposta para essas perguntas. Posso dizer o que suspeitei. Sua mãe... A sua genitora, amou-a muito. Pelo que percebi, ela estava fugindo de algo ou de alguém, e junto de seu pai ou de você ela seria localizada. Talvez ela tenha te deixado para protegê-la, para que não te encontrassem. Atenas é tão grande e movimentada e a Ilha é tão distante e protegida que só seus habitantes podem encontrá-la. Sei que chegou a ela por acaso, mas sou levado a crer que não. Isso ajuda?

Assenti com a cabeça. Não choraria ou reclamaria na frente dele.

– Sim, obrigada – Respondi, verdadeiramente agradecida.

Ela me amava. Amou. Ama.

Desejei prolongar o momento. Desejei que ele não retirasse a mão do meu ombro. Como no mercado de Atenas, onde ele sorriu para mim pela primeira vez, ali ele olhou para mim pela primeira vez, e desejei que não tirasse os olhos do meu rosto nunca mais.

Ai, maldição. Eu estava dando sinais demais. Mais um pouco e ele notaria. Eu não deixaria isso acontecer. Desde o início isso vinha acontecendo. Simplesmente não funcionaria. Não, nunca. Eu era sensata o suficiente para saber. Se quisesse realmente ficar com Leecher, teria que abrir mão de praticamente minha vida inteira, minhas irmãs, a Ilha, a missão pelos deuses e qualquer magia. Isso se não fôssemos inimigos. Isso se ele sentisse o mesmo. E, supondo que ocorresse, quem garantiria que ficaríamos juntos a vida inteira? Que valeria à pena? Não deveríamos deixar algo assim atrapalhar nossos destinos.

Dever, dever, dever, que palavra sem sabor. Mas... E se eu só deixasse acontecer por um momento? Só um pequeno momento?

Respirei fundo. Nos olhos dele agora brilhava o mais puro ódio. De mim? Fiquei confusa. Ele tirou a mão do meu ombro, como se eu o queimasse, e virou o rosto bruscamente. Endireitou a postura e retomou a frente.

Soltei a respiração. Não ficaria magoada. Não ficaria magoada. Ele era só um amigo. Só um homem. Só uma pessoa.

– Certo, vamos em frente. – Grunhiu.

Claro, foi quando nos atacaram.

Dizer ataque seria estúpido, porque não havia um atacante visível. O vento quente e arenoso fustigou nossas pernas no sentido contrário ao que andávamos. Ouvi um rugido na areia. As dunas se ergueram com braços e pernas de tornado. Olhei para trás, os paredões de pedra.

– Temos que voltar! – Gritei, acima do barulho do vento.

– Não! – Leecher respondeu e por um momento temi que ele tivesse ficado louco – É o Labirinto de Areia, temos que atravessar!

Era noite sem lua, mas as estrelas iluminavam o caminho. Será que ele não via o que eu via? Íamos morrer enterrados, asfixiados ou perdidos!

– Mas, Leecher...

– Não posso explicar agora, vai ter que confiar em mim! Pegue sua espada!

Confiei, apesar de tudo, e obedeci. Desembainhei a espada, mas deixei o escudo pendurado nas costas, como Leecher. Imaginei que precisaríamos mais de agilidade do que defesa.

A areia elevou-se além de nossa cintura, arranhando e nos empurrando para trás. Minha pele pinicava e doía. Pense na praia, quando o vento traz a areia direto para as suas pernas e você sente aquela agonia. Agora imagine mil vezes pior, com o vento fustigando e os rugidos intermináveis.

Leecher agarrou minha mão com a direita e empunhou a espada com a esquerda. Não sei como, fomos em frente. Eu precisava virar o rosto para trás para proteger minimamente os olhos. Parecia uma tempestade de ódio do próprio deserto, e tive a certeza de ouvir risadas malignas e uivos de chacal.

Em meio à dor e agonia, eu sabia que em circunstâncias como esta precisávamos procurar abrigo, no entanto Lee estava certo: Continuar era a única maneira de atravessar.

Agradeci mentalmente a Ártemis por ter me dado sandálias, pois eu costumava andar descalça e isso seria desastroso naquela tempestade. O peso da armadura prateada também era acolhedor. O fio da espada em minha mão, então, melhor ainda.

Contra quem lutarei?

Algo afiado abriu caminho pela parte exposta em minha coxa. Leecher golpeou por instinto ao sentir automaticamente o mesmo ferimento. Girei a espada, chocada por perceber que o sangue que o manchava era meu.

A coisa arrancou as lâminas de minha perna, fazendo o sangue espirrar, o meu e o de Lee. A criatura era invisível no meio do pandemônio. Era um homem? Um monstro? Um animal?

Leecher agarrou meu ombro. Sua mão esbarrou no coelho e ele não deu importância, pronto para me carregar. Recusei, sabendo que conseguiria, que ele estava tão machucado quanto eu. A dor já estava passando, o corte fecharia em pouco tempo. Eu não temia mais meu poder de cura. Eu o ativei com força total.

Arfei e tropecei enquanto andava. Sentia aquelas lâminas das criaturas em minhas grevas, escudo e na cota de malha. Ás vezes eu dava azar e elas atingiam a pele exposta de meus braços ou o rosto. Eu já estava cheia de cortes, os meus e os dele, e apesar disso não parávamos de andar.

O gosto da areia invadiu minha boca. Minha pele foi completa e dolorosamente esfolada. Quanto mais avançava, mais forte a tempestade se tornava, até que estávamos totalmente cobertos. O mundo resumiu-se a vermelho e dourado. Não havia céu ou chão. Eu golpeava a esmo, batendo ou cravando a lâmina em qualquer coisa que sentisse pelo caminho. Os uivos, gritos e ganidos aumentaram de intensidade.

De repente, tive a sensação de que era empurrada e arrastada para frente violentamente. Meus pés deixaram o chão, e nem assim vi o céu. Minha mão esquerda queimou com a magia do enlace e a mão de Leecher deixara a minha. Ele fora arrancado de mim.

Senti-me perdida, tonta. Pairando. Atingi o chão com tanta força que talvez houvesse quebrado algo se não estivesse utilizando todo o meu poder de cura e resistência.

Leecher não caiu no chão.

Por um instante de pânico – e foi apenas um segundo – previ o que aconteceria. Lancei meu braço para frente, um vazio, a que não segurava a espada – não tive o instinto de largá-la. – e fechei a mão ao redor de seu antebraço. Sua pele escapou por entre meus dedos, mas cravei as unhas em seu pulso.

Eu não o deixaria cair. Não o deixaria ir embora. Não por que ele me levaria junto se caísse e morresse, e sim porque eu não podia permitir sua morte.

A areia dissipou-se e eu vi a cena: Sua mão além do precipício, a única coisa que o impedia de despencar era eu. E como, com uma só mão, eu o ancorava, mal sentindo o peso, com uma só mão o puxei e ergui, estupefata , para a segurança.

Remotamente dei-me conta da minha força e dos novos arranhões que proporcionara a ele e a mim. Olhei nos olhos dele.

Arrastamo-nos para longe da borda, arfantes e cientes de nossa sorte. Em um instante estávamos de pé, o meu coração exultava em gratidão por ver o rosto – embora ferido e sujo de areia, suor e sangue – dele novamente.

Seus olhos se arregalaram. Mal percebi seu braço vindo em minha direção. Tornei-me para trás, para ver qual era o perigo, porém seu golpe era para mim. Fui puxada violentamente para trás. Seu braço amparou-me a tempo de eu não cair no chão. Não vi onde foi parar minha respiração, porque ele segurava minha cintura com o braço direito enquanto o outro empunhava a espada e estocava uma daquelas criaturas, um bicho esquelético que um momento antes iria atingir meu pescoço com as garras.

É isso. Dizia a aura de Leecher, apesar de sua expressão estar tão rígida como nunca. Consigo amparar donzelas e estripar ao mesmo tempo. O que acha disso, Ari?

Impressionante. Respondi, sem fôlego.

Ele rapidamente postou-me de pé. O momento da calmaria passou. A areia retornou com ainda mais ímpeto. Minha visão tingiu-se de vermelho escuro. A noite, o chão, as estrelas e Leecher indecifráveis pra mim.

Perguntei-me o que o movia. Como ele sabia para onde ir, porque nos encontrávamos tropeçando e tateando às cegas com algum propósito.

Golpeei mais três monstros à minha direita e decepei um à minha esquerda, pois Lee cuidava desse lado enquanto eu vigiava o outro. Ele possuía habilidade nas duas mãos. Impressionante, se eu não possuísse também.

Dois cortes, oito estocadas e dezesseis gritos/guinchos/ruídos depois eu preferiria estar na linda sala de banhos da ala feminina da Ilha. Por Hécate, meus pés doíam e meu corpo ardia. Ainda assim, não permiti-me qualquer cansaço ou reclamação. Escorria sangue do meu nariz e ouvidos. Tornados de areia engoliam-nos, engolfavam-nos, brincavam com nossos corpos maltratados.

Algumas vezes eu perdia Nathán no meu ombro e forçava Lee a parar só para tatear à procura do bichinho e achá-lo agarrado às minhas costas, abaixo do meu escudo. De alguma maneira, o perigo da situação me fazia imensamente maternal em relação a ele. Eu era forte para poder ajudar os fracos, certo?

Uma imensidão de tempo depois, acabamos no centro do olho da tempestade, no meio de um vórtice maligno. Ficamos de costas um para o outro e fui tomada por uma onda de energia. Os cortes fechavam-se rapidamente mas, a julgar pelo talo profundo que descia as costas inteiras de Leecher – e, por consequência, as minhas – eu diria que não. E todo o vento, e os gritos e os monstros pareciam apenas uma parte da cena, meu coração exultava com o dele e minha mão manejava a espada e a faca como partes do meu corpo. Eu podia ouvir o sangue jorrando em minhas veias e os nossos batimentos cardíacos perfeitamente sincronizados.

Pude enxergar as criaturas mais claramente. Garras compridas em braços esqueléticos vermelhos, crânios cobertos de carne cinzenta e presas como punhais. Decepei uma dúzia de braços e cabeças enquanto investiam contra nós, emergindo e mergulhando no vórtice. Leecher e eu entramos numa espécie de dança mortal, nossos pés mal tocavam o chão. Mudávamos de lugar, nos movamos como se soubéssemos que o outro tomaria o lugar em que estávamos anteriormente. Eu ia para a direita e Leecher cobria minha retaguarda. Ele se abaixava e eu saltava sobre ele. Meus braços, minha mente, todo o meu corpo correspondia ao dele. Eu quase sorria – e acredito que cheguei a sorrir, vendo seu olhar de puro e insano deleite. Ele grunhia e gritava. Exaltava a cada morte que causava. E eu ria. Ria com o poder que surgia bem no centro do meu ser e se espalhava por todo meu corpo, até Leecher.

Se aqueles eram monstros de areia e ódio, Leecher era a escuridão e o ímpeto que os destroçava.

Nossas espadas nos deixaram em perfeito equilíbrio. Se um de nós saísse do compasso, morreríamos. O que parecia o mais provável de acontecer, com tudo indo tão terrivelmente rápido. Mas o improvável aconteceu, e nenhum dos dois quebrou o frágil encanto. Eu só lembrava de um dia ter sentido isso, e foi no dia em que o enfrentei em Atenas.

Como se fôssemos parceiros a vida toda. Como se fôssemos um.

A declaração me atingiu em cheio, dolorosamente. Um, é claro. A ligação. Era ela que nos proporcionava isso, nada mais. A verdade doía como o corte de uma lâmina. Mas ignorei. Não queria que doesse. Não queria saber de verdade nenhuma. Queria apenas o som de nossos batimentos cardíacos. Depois eu enterraria a lâmina bem fundo para que me deixasse uma cicatriz. A dor seria grande o suficiente para que eu nunca mais me esquecesse dela, e assim nunca cairia em bobas imaginações. No entanto, naquele momento, eu não queria nada disso.

Voltei à luta.

O vértice fechou-se sobre nós. Se não estivéssemos preparados, teríamos caído. Nos mantivemos de pé, firmes. O céu poderia cair sobre nós e nos manteríamos ali.

Uma criatura arranhou meu braço que segurava a espada, quase na empunhadura. Suas garras fecharam-se em meu pulso. Desferi um chute cegamente e acabei por atingir uma costela. O bicho soltou um grito estridente e soltou. Depois disso não lutei com o mesmo vigor.

Eu não vou morrer.

Bem, se morresse, ao menos seria enterrada. Nossa, que mórbido.

A situação, no entanto, dizia que morreríamos. Morreríamos em glória, mas morreríamos, de fato. Quando já perdia as esperanças, Leecher puxou-me para mais perto. Uma sensação fresca acariciou a mão que ele segurava. Fiquem em êxtase. Logo meu antebraço experimentava a mesma sensação, e então, com um último e forte puxão, a areia soltou meus membros. Caí nos braços esculpidos de Leecher, as estrelas pintando o céu atrás de sua cabeça.

Respirei com força e tossi torrentes de areia. Desvencilhei-me de seu abraço, forçando-o a recuar aos poucos para trás. O ar seco do deserto era a melhor coisa que eu já provara depois daquele labirinto.

Forcei Leecher a ir mais para trás. Ele não se incomodava, ocupado em respirar. Adivinhei por que chamavam de Labirinto de Areia. Quem conseguiria escapar dele? Não eram necessárias paredes diversas para desnortear uma pessoa.

A tempestade acabaria com qualquer um que ousasse atravessá-la. Como, então, Lee sabia como atravessar?

Em meio a tosses e barulho de gorgolejo, fomos recuando para trás, a tempestade continuava lá. Queria agradecer a Lee por ter me salvado, em vez disso, comparei sua visão com uma lembrança minha em que estava fazendo pão pela primeira vez. Totalmente coberta de farinha e azeite. Só que agora eram areia e sangue. Um pedaço de dente estava cravado em seu ombro.

A areia voltou-se lentamente. Foi recuando e nos revelando o que eram as coisas que nos atacavam. Chacais esqueléticos, a carne mal revestindo os ossos. De pé nas patas traseiras eram mais altos que eu ou Leecher, com peles cinzentas, olhos como cavidades escuras. Mostraram as presas para nós, rosnando ameaçadoramente.

A tempestade reuniu-se em um só local, uma esfera de caos terrível. Trovões de ódio soaram dela. Recuamos mais, espadas em riste. Não olhei quando meus pés atingiram algo molhado que ardeu em meus machucados como o demônio. A areia por fim tomou forma: Um guerreiro vermelho em uma armadura egípcia cor de sangue, duas vezes a minha altura. Ele rosnava, os punhos cerrados, os músculos tensos. Seus olhos cheios de ódio e ressentimento apontaram para nós, e então pararam em Lee.

O guerreiro voltou-se, por fim, e caminhou para noite.

Esperamos até que todos os monstros sumissem de vista nas areias do deserto. Não se via nada além de dunas até onde podíamos enxergar. Nada dos paredões de pedra. Ficamos observando, arfantes, durante muito tempo. Eu nunca sentira o sangue correr tão rápido ou a sensação exultante de fazer algo tão emocionante. Era... Era poder... Eu me sentia poderosa. Eu me sentia em êxtase.

– Conseguimos – disse eu – Passamos o Labirinto de Areia.

– É, isso foi emocionante. Aliás, você foi emocionante. Nunca vi ninguém lutar daquela forma. Foi incrível.

– Obrigada, Lee.

– Claro, para uma garota de Circe.

Virei o rosto para ele, fingindo ofensa. Seu olhar me contemplou e ficou arregalado de repente. Como se visse algo surpreendente em meu rosto, algo que ele visse pela primeira vez.

– O que? O que foi?

– Seus olhos, Ari, estão dourados.


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Notas finais do capítulo

Beijos, babys



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