A Ilha De Circe: Fênix escrita por Daughter of Apollo


Capítulo 22
Nos passos de Hades


Notas iniciais do capítulo

Querida Senhorita Ovelha, dedico a ti este capítulo. Obrigada pela belíssima recomendação.



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Caeliora
Eu não queria parecer insensível, mas talvez não pudesse evitar. Agora eu sabia para onde devíamos ir. Aquela voz... Eu a conhecia. De algum lugar. E ela disse para irmos em frente, descermos o máximo que pudéssemos.
Mesmo assim, eu estava sendo insensível. Estava seguindo a razão. Seguindo para onde devia ir e arrastando Aiden comigo.
Alguém precisava tomar a frente. Ser a pessoa que aguentará injúrias para continuar no caminho. Eu não queria ser insensível, mas fui, e sei disso. Aiden soube disso no momento em que o puxei para longe do corpo dela, que deixamos enterrado sob a água.
Soube que ali eu não seria bem... Não seria uma boa consoladora. Entretanto, segui todo o manual.
Não quis aproximar-me de Aiden. Era melhor deixá-lo com a própria tristeza, no momento. Eu me recriminava e agonizava, pensando em como contaria para mãe dela que a filha morreu. Como poderia chegar-me a ela e dizer isso? Ela era uma menina, ainda. Morrera com a coragem que muitos guerreiros não tinham.
Foi... Tão corajosa. Esplendorosamente corajosa. Eu me orgulhava de ter lutado ao seu lado, mesmo que por tão pouco tempo. Não podia aceitar, de modo que afastei-me. Guardei o sentimento de pesar no lugar de meu coração onde tais sentimentos ruins ficavam. Depois poderia reavê-lo, analisá-lo e remoer-me toda. Foquei nas palavras da voz e em seguir pelo caminho.
Uma hora depois, Aiden derramou algumas lágrimas. Fingi que não vi. Outra hora se passou, e mais algumas lágrimas foram derramadas. Eu segurei sua mão. Ele chorou mais. Eu chorei junto dele, mas não desviamos da rota. Nem ele, nem eu.
Ele não escondeu o rosto. Não abaixou os olhos. Chorou como o soldado que era, pela companheira perdida em batalha. Não era vergonhoso. Era um sinal de honra.
Comecei a cantar a canção fúnebre que costumávamos entoar na Ilha. Sua alma permanecerá. Por honra será lembrada. Entre as montanhas está, através dos vales. Seu espírito jamais morrerá, não importam os males. Porque com honra se foi. Deixe que pranteiem desde o templo até o mar. Na terra, no barco, no ar. Seu espírito não parará de respirar.
– Porque com honra se foi.
Aiden suspirou.
Deixei que caminhássemos ao longo do que pareceu o dia. Ali era tão escuro. As tochas mal iluminavam.
Paramos quando o sono bateu. Levantamos acampamento. Tínhamos provisões para mais três dias, contei.
Fizemos uma fogueira. Poderíamos mantê-la acesa à noite, porque o fogo não consumia a madeira. É muito bom se ter magia nessas horas.
Aiden sentou-se de encontro à parede. Tratei-lhe os machucados.
– Então, como era estar adormecida envolta na água? Como conseguia respirar? - Perguntou ele, na tentativa de iniciar uma conversa.
– Esse é um encantamento que você não aprendeu. Nem aprenderia, você é um espadachim. Trata-se de um casulo. É uma magia utilizada para congelar uma pessoa na situação em que ela está. Envolta no casulo, essa pessoa é sustentada pela energia dele. Nesse caso, eu fui sustentada pela energia da água. Um ser em um casulo não envelhece. Não evolui. Nem retrocede.
– Mas por que havia animais mortos ali?
– Porque a situação pode se inverter. O Casulo pode reverter o fluxo de energia, e ela ser sugada em vez de enviada.
Aiden guardou a informação. Não sei porque a queria, já que não se interessava muito por magia desde que chegou ao nosso lar. Havia algo de suspeito.
– Sabe, eu pensei que ela não fosse conseguir - disse ele - Mesmo que nunca houvesse dito isso. Pensei que ela fosse frágil demais. Pequena demais. Pensei que ela nem iria se sobressair. Entretanto, ela me surpreendeu, infelizmente. Foi como um tapa na cara. Porque ela era o tipo de pessoa doce que poucos prestam atenção na batalha. O alvo fácil. - Ele deu um sorriso amargo - Por que ela teve que me surpreender? Ter coragem logo no final. Sem ela teríamos morrido. Ela tinha tanto medo... Eu podia sentir. De todo o grupo, o medo dela era o maior.
Ele parou de falar.
– O medo dela era o maior, e tanto a coragem dela era a maior de todas. Porque não se pode ter coragem sem temer. Ela foi uma heroína, Aiden. Conseguiu o que queria. Morreu como todos nós desejamos morrer, um dia.
Ele assentiu e deixou o cabelo negro cair sobre os olhos.
Ficamos em silêncio até ele perguntar:
– Sei que você conversou com aquela voz. O que ela lhe disse?
– Disse que devemos seguir descendo. Cada vez mais fundo. Até que não haja mais resquício de luz, e nossas peles fiquem pálidas como a lua. Ela contou-me que a missão é tua, mas que é meu dever garantir que você a cumpra.
Novamente o sorriso amargo. Eu não gostava nele. Ficava deslocado na aura de Aiden. Como uma cicatriz em pele de bebê.
– Não preciso de uma ama de leite.
No outro dia, continuamos a andar. Não podia deixar que ele parasse. Esse era meu dever - ajudar Aiden. Por mais que ele achasse que era desnecessário. Podia ser insensível - e era. Eu não me importava. Meus sentimentos estavam controlados. Ordenei-me que sentisse apenas o que precisava sentir no momento. Determinação. Força.
Sempre tive esse poder. Desde pequena, não choro como as outras crianças. Observo as emoções desenrolarem-se e desabrocharem como flores diante de mim. Poderia selecionar a que quisesse, tocar, cheirar, presentear alguém com elas. Elas eram as flores. Minha mente, o jardim. A terra, meu coração.
Chegamos a um grande portal de pedra esculpida com símbolos que pareciam trigo e folhas de macieira. Senti frio quando passei por ele, mas não sabia dizer o que era. Aiden olhou para mim. A pele dele definitivamente estava mais pálida, porém não senti que ali estava nosso destino.
Não havia calor ali. E a luz apagou-se da nossa tocha. Através do portal, conseguíamos ver, não sei como, um conjunto de templos, lá embaixo. Feitos de pedra azul escura, como o céu escurecendo. Parecia o lugar onde o sol se punha. O primeiro momento da noite, eternizado na pedra. Que deus, ou deuses, seriam cultuados nesse templo?
A Caverna continuava descendo. Lá no fundo, a escuridão parecia palpável. O segundo momento da noite. Estrelada e escura, de pedra negra.
Aiden, ao meu lado, arregalou os olhos.
– Eu conheço esse lugar. Esse templo. Essa cidade.
– Como?
– Hades já passou por aqui. Ele seguiu o caminho da noite, através da caverna da escuridão. Nós o estamos seguindo.


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Notas finais do capítulo

Sei que a formatação ficou ruim, mas não havia outro jeito. Desculpem-me.



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