A Ilha De Circe: Fênix escrita por Daughter of Apollo


Capítulo 21
A primeira luta de Ariella


Notas iniciais do capítulo

Capítulo total e propositalmente narrado por Leecher. Queria que fosse ele a contar essa cena.



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Leecher

Ariella encarava o homem com uma expressão tão fria que comecei a ficar preocupado. Ela não demonstrava exatamente nada, como se aquilo não a abatesse. Queria saber o que se passava em sua mente naquele momento. Se ela realmente estava tão tranquila. Algo dizia-me que não, como se eu pudesse desvendar seus pensamentos.

– Eu não me chamo mais assim. É apenas Ariella, agora.

– Claro, leoazinha. Como desejar. Isso é uma enorme surpresa, verdadeiramente. Não que eu não o esperasse, mas talvez para mais além, mais para o fim. De qualquer forma, é melhor que eu me apresente. Sou Castor. E quem é o jovem com você?

– Leecher – General. Leecher.

O irmão do jovem em quem eu bati deu um passo à frente a atraiu o olhar de Ariella. Todavia ela não permaneceu muito tempo sobre e ele. Voltou-se para Castor, como que determinando um centro.

– Por favor – ela implorou – Dê-me uma resposta.

O homem mostrou-se compassivo. Era mais velho e com ar de mais experiência.

– Quer saber como eu a conheço, o que seus irmãos fazem aqui e por que não estão mortos. Você quer saber o que aconteceu. Mas para isso preciso contar-lhes o que aconteceu muito antes disso.

Ele ia dizer mais alguma coisa, entretanto o barulho dos passos irrequietos do irmão de Nohan fizeram vir o silêncio mais uma vez. Ele parecia ter palavras presas na garganta, querendo sair. Sua atenção voltou-se para o pescoço de Ariella. Um animal branco.

– Por favor, vamos conversar. Sentem-se – Disse Castor. Havia divãs e cadeiras encostados nas paredes da sala. No centro havia uma mesa alta, coberta com um mapa. Com certeza um local de reuniões de um conselho de guerra. O que não explicava a presença de dois aspirantes a soldados.

Ariella sentou-se ao meu lado. Eu sentia sua tensão. Eu sentia seu tremor. Estava preocupado com ela. Aquilo não era natural ou normal, mesmo para um guerreiro. Ela permanecia tão calma por fora, tão friamente calma.

– Eu sou parente do marido da sua mãe, Vitória. – Começou Castor.

– Eu não lembro nada sobre você.

– É claro que não lembra. Você era muito pequena da primeira vez que nos vimos. E da última, podemos dizer. Quando Atenas foi atacada, tive apenas uma chance, a chance de salvar seus irmãos, e a aproveitei. Não pude ajudá-la.

– Como assim?

– Eu pensei, no início, que todos estavam mortos. Você, sua mãe, o marido dela, a irmã... Pensei que estavam mortos, pois o ataque fora muito intenso naquela parte da cidade. E havia assassinos contratados infiltrados naquele exército. Eu sabia quem eram. Mas esse não é o início por onde quero começar.

=/=

Havia uma garota correndo. Na verdade, ela tentava correr. Seu ventre inchado e dolorido atrapalhava. A gravidez andava por volta dos cinco meses. E, por mais que uma moça em seu estado devesse descansar, ela não parava em um lugar por mais que alguns dias. Não podia.

Então, novamente em fuga, para não lhe assassinarem o bebê ainda no ventre. Sentia-se tão desamparada, mas sabia que, sobre o sol e sobre a lua, haveria sempre proteção. Um lugar em que alguém a amasse e que ela amaria. Não agora, na verdade. Agora ela correria sobre o fulguroso sol e fria lua do deserto. Nada por terríveis distâncias.

Motivou-se pensando na segurança que lhe daria dos outros perigos compensaria. Só um falcão sobrevive no deserto, junto dos escorpiões, das serpentes e demais aves de rapina. Os animais que ela admirava.

Então, alcançou a última fonte de água junto de uma ravina. Lá um camelo a esperava com sua bagagem. Ficou tão aliviada, tão tremendamente feliz, que cantou para a criança em seu ventre. Ela remexeu-se com cuidado. A moça tratou de recolher uma de suas últimas porções de água, preocupada, embora conseguisse resistir por mais tempo do que as pessoas normais. Estava grávida, deveria tomar cuidado.

Quando partiu, os únicos que testemunharam sua fuga foram dois pastores de ovelhas da Tribo de Benjamim, que ficaram a admirar-lhe os cabelos louros e a provação que teria ao enfrentar o deserto.

Ele viria a ser seu melhor amigo.

Depois de um mês de viajem, a jovem perdeu um pouco de sua saúde e estabilidade mental. Nesses dias ela pensava no pai da criança, que não poderia estar junto dela naquele momento como ela desejava. Ela não admitiria, mas sentia falta dele. Ainda carregava em seu coração a promessa de toda a proteção que ele pudesse oferecer, mesmo que fosse pouca, naquela situação. Ela fugia por ter motivo.

Todo o dia a aurora a saudava o mais sutilmente possível. O sol diminuía seus raios quando ela passava, para que não sofresse com o calor excessivo. A lua não era fria à noite para que ela não morresse de frio enquanto dormia. E nunca faltava-lhe um abrigo em que descansar, ou um oásis a encontrar e deliciar-se com a água fresca.

Passaram-se muitos dias. As únicas companhias da moça sendo seu camelo e a criança em seu ventre. Cantava para ela durante horas, e ouvia sua própria voz projetar-se eternamente pela terra. Apresentava-lhe estrelas e contava-lhe sobre sua vida e o pai. Em alguns dias, bebê se agitava, e a mãe vomitava constantemente. Depois de um tempo entrou em uma espécie delírio. Minimamente.

Quando chegou à fortaleza e templo de Aergir, estava com oito meses.

Ela se lembrava muito bem do dia.

Um soldado do templo a esperava no alto da muralha. Ele avistou o camelo vindo na direção da cidadela. Gritou. Todos queriam saber o que ele havia visto. O templário saiu de seu posto, abriu a muralha e correu para acudir a moça em sua montaria. Ela estava quase caindo. Cuidou ao tocar-lhe a barriga ainda mais inchada e levou a moça para dentro.

Não houve uma alma em Aergir que não ficasse surpreendida. Tantos, tantos dias no deserto, e a moça sobreviveu. A moça e – ainda mais surpreendente – a criança. Os anjos que ali estavam de passagem comemoraram sua gravidez e logo trataram de transportar a notícia até sua cidade.

Ela perguntou ao templário que salvou-lhe a vida:

– Qual seu nome?

Ele respondeu:

– Ariel.

E a moça foi levada para a sala de curas, afim de ser cuidada. O cavaleiro que a ajudara permaneceu a seu lado. Ele e sua irmã, Lin, que a auxiliou muito em seu último mês. Lá, ela soube das várias batalhas do templário para defender a fortaleza do templo. A irmã contava-as nas raras vezes em que ele tinha que fazer qualquer coisa em qualquer outro lugar. Ariel era chamado “O Leão.”Corajoso e forte leão.

Um lugar especial foi preparado para o parto. O templo Oeste, onde o primeiro raio de sol era capturado a cada dia. No chão pintaram o contorno desses raios, em volta da onde a criança nasceria. Desenhos em formas de arabescos. Floridos e alguns diretos como os raios.

No momento em que a primeira dor do parto acometeu sobre a moça, ela estava pintada com os símbolos da harmonia. Eles atravessavam seu corpo inteiro. Em seu ventre havia um sol e três linhas.

O templário segurou sua mão na hora do parto, que aconteceu de madrugada. Os magos da cidadela despertaram com o som do primeiro choro do bebê da jovem, que nasceu com o primeiro raio de sol da manhã. Logo que nasceu, o recém-nascido passou pelas mãos ágeis de Lin, mestre em Maiêutica, e soube-se que a criança era saudável e muito forte.

Uma menina.

Ela agarrou-se à mãe logo que teve a chance, alimentando-se do leite materno. Bom sinal.

Então, o templário questionou:

– E quanto ao nome da criança?

A pergunta puxou a todos para saberem a resposta. A luz do sol pairou sobre o rosto da mãe. Ela ergueu a criança. Cabelos dourados. Olhos dourados. Auréola de luz.

– Hoje, teu nome é Vitória, por causa da grande provação que sofremos no deserto, e do teu nascimento, que venceu todos os inimigos. Um dia, teu nome será Aliene, porque resplandeces a luz e por causa das linhas que sempre separarão tua vida. Em algum lugar, te chamarás Ariella, por causa do grande leão e fúria dele. E, em algum momento, tu serás Fênix, porque vencerás e sobreviverás ao tentarem tirar-te o teu espírito.

=/=

Leecher

Parado no ar, o choque de Ariella estarreceu a todos. Ela levantou-se. Nohan levantou-se. O outro garoto levantou-se. Levantei-me – tive que segurá-la para que não caísse. Não havia mais calma. Ou frieza. Agora, ela era a garota que descobria a verdade. A verdade de todas as coisas.

– Esta é a sua primeira luta, Aliene. – Disse Castor. Deixei que ela pudesse se firmar. Ela sabia o que precisava fazer.

Eu torcia por ela.

– Obrigada – Ela agradeceu. Eu não sabia se deveria dizer. Vá, Ariella.

Ela precipitou-se para frente, caindo nos braços dos dois irmãos. Admitindo a irremediável verdade – ela os amava.

Eu sorri.


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Notas finais do capítulo

Coisas a se dizer:
Maiêutica é a arte do parto.
Aliene, pode ser visto como Liene ou Eliana, que quer dizer: "Sol, de beleza resplandecente", por Significados dos Nomes , e "É uma variação de Eliana, nome que vem do latim Aeliana, e significa "de Élio, da natureza de, ou pertencente a Élio". Élio é um nome com duas prováveis origens. Pode ter vindo do hebraico El Elion, que significa "o Altíssimo", ou ainda do latim Elius, que quer dizer "natural da Élida, habitante da Élida", uma região da Grécia localizada no Peloponeso. Há algumas fontes associam o nome Élio como uma variação do nome Hélio, que surgiu através do grego e significa "sol", mas esta relação não deve ser considerada." Segundo Dicionário de Nomes Próprios.
Vocês capturaram a essência.



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