A Ilha De Circe: Fênix escrita por Daughter of Apollo


Capítulo 20
Sangue do meu sangue


Notas iniciais do capítulo

ALERTA de capítulo mal-revisado.
ALERTA 2 - capítulo dedicado à Queen of Nárnia.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/356048/chapter/20

Ariella

Leecher estava conseguindo dar conta da briga sozinho. O garoto que o enfrentava não possuía tanta experiência quanto ele, de modo que deixei o rebuliço e preparei-me para qualquer eventualidade.

Meu general e o aprendiz rolavam no chão, trocando socos e outros golpes, mas o oponente de Leecher ficou inconsciente antes que ele pudesse completar sua fúria. Leecher era implacável e possuía fogo para a luta. Como se ninguém nunca pudesse vencê-lo.

Lee abandonou o corpo do garoto. Senti um comichão no rosto, o feitiço de proteção para barrar a dor quase sendo ultrapassado. A briga foi intensa. Na face de Leecher havia algumas escoriações, especialmente uma bem feia na parte inferior de sua maxila direita.

O garoto permaneceu deitado no chão. Havia machucados em seu braço esquerdo, nas juntas do ombro, no rosto e pescoço. Um corte partia o supercílio esquerdo e o sangue proveniente manchava seu olho. Na verdade, pingava e manchava a alma dele e a minha.

– Precisamos matá-lo e esconder seu corpo – Leecher sentenciou, ligeiramente arfante.

Meu coração apertou-se um pouco. Aquele rapaz ainda nem se tornara um soldado de verdade, apesar de já ter alcançado seus vinte e poucos anos. Era... Errado tirar isso dele. Arrancar sua vida. Ele estava defendendo sua cidade, não atacando por maldade.

Porém, lembrei-me, aquilo era guerra. A vida dele era só uma.

Mas uma vida vale muito, mesmo na guerra. Na guerra ela vale ainda mais.

Leecher foi ditando a estratégia ao perceber minha hesitação:

– Não podemos deixá-lo aqui, vivo. Mesmo que acreditassem que ele foi espancado por um soldado adulto qualquer, ele avisaria que há invasores na pólis, ou espiões.

Suspirei. Nada mais que a verdade. No entanto, por piedade, talvez, abaixei-me sobre o rosto dele limpei um pouco do sangue que vertia, apreciando o familiar padrão do formato dos olhos.

O rosto era rígido, bonito e másculo. Possuía cabelos castanhos com leves cachos e a pele queimada de sol. Deleitei-me com sua boca em formato de coração, delicada, macia, porém firme.

Minha garganta se fechou e eu não conseguia mais respirar. Meu coração falhou completamente.

– Ari, você sabe que é necessário.

Se, naquele momento, eu estivesse apta a prestar atenção no mundo à minha volta, a olhar para Leecher ou realmente ouvir o que ele disse, eu notaria o tom mais baixo com que falou comigo, as palavras rodopiando e floreando no ar, ao contrário de irem diretamente para mim e acertando meu rosto, como eram suas palavras costumeiras. Se eu estivesse prestando atenção, captaria a doçura da voz e o poder que ela exalava ao dizer meu nome.

Mas meu foco, total e inteiramente, estava naquele ser. Ergui a cabeça para Leecher com horror nos olhos.

– Não podemos matá-lo.

– Por que não?

– Ele é meu irmão.

=/=

Lee ficou ao meu lado enquanto eu reanimava a estranheza à minha frente.

– Você tem certeza?

– Sim.

Vergonhosamente, minhas mãos tremiam um pouco. Peguei sua mão direita. Haverá uma cicatriz em seu pulso, de quando queimou-se nas brasas do fogo. Ela terá um formato quase oval. E de fato, a sombra da marca estava ali, mais esvanecida que em minhas memórias.

Peguei minha adaga e deixei que seu dedo indicador encontrasse a face plana. Então, prensei um contra o outro. Eu sabia como aquilo doía. O corpo soltou um gemido e afastou a mão de mim.

Uma nova profecia: Seus olhos serão castanho claros, como avelãs. E de fato, eram. O horror pingou sobre mim e espalhou-se como uma praga de gafanhotos em minha sanidade.

– Nohan. – Disse eu.

No momento em que colocamos os olhos um no outro, no momento em que sua boca abriu-se, eu já não sabia mais quem eu era. E quando ele chamou-me pelo nome que há muito eu não utilizava, houve uma espécie de queda. Uma queda, um baque e o cessar da respiração.

– Vitória – Ele pronunciou.

A verdade confirmava-se na mente do meu general.

– Sou eu.

E então Nohan jogou sobre mim as palavras que me destruíram por completo:

– Você deveria estar morta.

=/=

Ali, diante de meu pálido corpo estava meu irmão Nohan, que foi proclamado morto há bem mais de doze anos. Senti meu coração inchado e parado. Deveria eu jogar-me em seus braços, ou deveria fugir para longe daquela anomalia? Eu nunca, na verdade, cogitei a possibilidade de ele estar vivo. Quando disseram-me: Estão mortos, estavam mortos. E, em minha memória, Nohan sempre era apresentado como o garotinho babão e irritante que apreciava a ilusão de poder.

Aquele rapaz... Homem. Soldado, que me fitava com tamanha surpresa quando eu o fitava, parecia muito mais que a versão mais velha do menino das minhas lembranças.

Você deveria estar morta. Não, caro irmão. Você deveria estar morto.

– Há algo de diferente em você – Disse ele, ainda estupefato.

Respondi:

– Em você também.

Não sabia mais o que dizer. Apenas o que perguntar.

– Como você está aqui?

Ele ergueu o tronco pesado e rijo e olhou apreensivo para Leecher.

– Não somos espiões – assegurei-lhe. Entretanto, como confiaria nele e ele em mim? Para sua cidade – sua pátria e pólis – eu não era sua irmã perdida da rival Atenas. Eu era uma invasora, e ele um quase soldado com deveres.

– Vocês precisam vir comigo. Não vou entregá-los, mas há algo acontecendo.

=/=

Nohan olhava constantemente para trás, na minha direção. Seu olha recaía como um juiz sobre mim, pronto para sentenciar-me à morte. Não havia nenhum amor ou piedade. Tampouco ódio ou ressentimento. Era apenas o olhar...

Após alguns momentos daquela tensão estarrecida, Nohan parou de olhar para trás de passou a prestar atenção no caminho, de modo que o imitei.

O átrio do templo não era muito bonito ou luxuoso como o de Atenas. A pedra cinza e branca conferia-lhe uma linda frieza, pontuada de coloridos quentes nas tapeçarias. Não oferecia nenhum consolo, assim como Leecher, tão sólido atrás de mim. Um marco da arquitetura em minha alma.

Um súbito barulho no templo... Nohan chutara alguma coisa... Viramos no corredor.

– Nohan, filho, é você?

Nohan voltou-se para olhar para trás novamente. Aquele olhar de novo, que Tártaro!

Prendi a respiração e ajeitei a postura. Eu não sou uma criança. Sou adulta, sei enfrentar isso. Não posso cair agora, não na frente dele e... Tártaro, eu o conheço realmente? Temos alguma ligação? A resposta clara é...

– Aposto que ele esqueceu o que deveria perguntar.

O som veio de outra voz. No final do corredor um tecido vermelho escondia o cômodo onde estava o que quer que nos esperava.

– É um garoto estúpido – Falou mais uma vez a segunda voz. Nohan não prestou atenção às palavras.

A luz invadiu meus olhos, porém concentrei-me e mantive a compostura. Não poderia mostrar fraqueza. Nohan empurrou o tecido. Leecher surgiu diante de meu corpo como um rochedo forte e implacável.

– O que houve, levou uma surra? – Questionou alguém.

– Por favor – ele retrucou – Não façam alarde.

Leecher passou sob o portal e ouvi as exclamações vindas das criaturas lá dentro.

– Mas...

Então, o tecido vermelho deslizou rente à minha cabeça. Seda. O silêncio explodiu por todo o átrio do templo.

À minha frente postava-se Calais, o gêmeo nada parecido e mais velho de Nohan. A seu lado estava um homem que eu não soube identificar, porém era idêntico ao meu mentor Pólux, que era o mais próximo de um pai que eu me permitia possuir.

– Vitória.

Lá estava mais uma vez, o nome que nunca mais utilizei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Certo. Preciso dizer algumas coisas:
Primeira: Agora, a estória vai ficar mais rápida, por que ela já está do meio para o fim. Os capítulos serão mais curtos porque quero separá-los para causar mais tensão. Vão haver muitos acontecimentos importantes e mudanças.
Segunda: É possível que eu mude algumas coisas no início da estória, mas nada muito grave. Apenas que eu achei melhor escrever de outra forma. Talvez eu tenha acrescentado uma coisinha ou duas.
Terceira: Mamãe ama vocês! Até o próximo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Ilha De Circe: Fênix" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.