A Ilha De Circe: Fênix escrita por Daughter of Apollo


Capítulo 10
Cabelos Avermelhados


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente, desculpem a minha demora. Tive que fazer esse capítulo um milhão de vezes - brinks, isso foi exagero - para ele ficar bom. Ah e, cometi um erro por ter pego informações de fontes não confiáveis. A maior pirâmide de Gizé não é Quéops. É Quéfren. Já fiz a mudança no último capítulo.Agradeço à AAJ e a Little Sheep pelos comentários. Amo vocês!



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Aiden

Os casebres caíam aos pedaços em alguns pontos. A escuridão... Não visível, mas a energia macabra que cada olhar nos passava ia penetrando aos poucos dentro de mim. Eu a sentia, como uma bruma gelada com dedos invisíveis, rastejando no chão e agarrando nossas pernas.

A brisa fria causou arrepios em mim, e eu contemplava um por um dos rostos com seriedade. Não estava gostando nada daqueles corpos magros, raquíticos e envelhecidos, em sua maioria cobrindo-se com trapos puídos e rasgados.

Aquela visão embrulhou meu estômago. A fome que atormentava-me dispersou-se por completo. As sombras alongando-se tornavam tudo mais assustador. Bia estremeceu, e passou seus braços em volta de si mesma. Caeliora mordeu seu lábio inferior cheio e voltou rosto para mim com uma pergunta:

– Onde devemos ir?

– Eu... Não sei. – Respondi-lhe com sinceridade. Até para mim o ambiente era sufocante. Na verdade, não havia visto nenhuma hospedaria por perto, tampouco cria que existia alguma ali. De repente, fui atingido por uma coisa não muito dura no peito, que espalhou uma gosma vermelha na minha túnica branca e me fez titubear.

Um tomate.

– Ai. Que. Nojento. – Reclamou Ca, procurando dentre os rostos hostis quem fora o autor do disparo. O fruto escorreu com um som lamurioso e o barulho que produziu ao bater no chão ecoou por toda a extensão daquela vila. A morena ostentou uma expressão raivosa e Bia apenas encolheu-se.

Naquele momento, o cerco fechou-se contra nós. Cada uma daquelas pessoas queria verdadeiramente nos matar. Levavam consigo pedras e pedaços de madeira.

Começaram a atirar.

Fui atingido pela maioria. Objetos eram arremessados em nossas costas e cabeças enquanto debilmente erguíamos os braços ao redor de nossos corpos numa tentativa de proteção.

A confusão de gritos só piorava tudo. Senti dor nos meus membros, que ia aumentando à medida que as coisas eram jogadas. Diversos hematomas marcavam-se na pele exposta.

Então, rompendo o barulho incessante, Caeliora bradou:

– Parem!

Sua voz atravessou a multidão de tal modo que todos cessaram seus movimentos. Encontrando uma brecha na multidão, puxei ambas pelas mãos e começamos a correr.

No início, ninguém nos perseguiu. Passaram-se alguns segundos e eles o fizeram.

Aquilo era um acontecimento que eu compreendia.

Olhei para trás. Eles continuavam a arremessar pedras em nossa direção. No instante da distração, senti alguém puxando nós três para um beco escuro.

Caeliora teve a reação de tentar atacar, porém a figura segurou seus braços com bastante força. Bia deu um passo atrás. Eu fui ajudar Ca.

Ela veio de encontro ao meu corpo e pisou no meu pé dolorosamente. Consegui segurar uma reclamação e restringi sua investida com uma mão na sua cintura.

– Calma, calma! – Será que só eu percebia que não havia perigo?

O estranho que usava um capuz continuou parado na entrada do beco, que ficava ao lado de uma casa e uns matos grossos.

Não se ouvia mais som além de nossas respirações.

– Quem são vocês? – Ele, melhor dizendo, ela, perguntou primeiro. Notei, por sua entoação, ser uma mulher idosa.

– Viemos de longe – respondeu-lhe Aurora. Claro, omitiu nossa verdadeira origem.

– Estrangeiros não são bem-vindos aqui – anunciou-nos severamente – O que querem neste vilarejo?

– Chegamos por acidente. Estávamos perdidos – replicou Caeliora, falando de um jeito convincente.

A mulher retirou o tecido de sua cabeça, revelando cabelos brancos macios e longos, olhos verde musgo e um rosto expressivo, sábio e austero. Havia poucas rugas, a pele era bem translúcida, e ela vestia uma túnica longa, sem adornos. Ela bem poderia ter mil anos, a julgar pelo que víamos em seu olhar. Mas era muito bonita para sua idade, com certeza fora linda quando jovem.

– Os guardiões... – Murmurou baixo, perdida em pensamentos. – Muito bem – bradou – Sei o que vieram buscar. Não está aqui.

– O que? Do que está falando? – Fiquei confuso com o que ela disse. Que ela especulara sobre guardiões?

– Não se façam de tolos! – Xingou.

Um longo silêncio.

Uma sensação desconfortável.

Um grunhido de frustração vindo da anciã.

– Certo – disse por fim – Venham comigo. Precisam sair daqui.

Bia olhou para Aurora, que olhou para mim e olhei novamente para Bia.

Não tínhamos para onde ir, seria arriscado sair no vilarejo e, ao que parecia, a senhora sabia algo sobre nossa busca.

As duas hesitaram. A senhora rolou os olhos.

– Vamos – suspirei.

A mulher assentiu e, estranhamente, eu confiei nela, sabia que não nos faria mal. Seguia-a para fora do beco. Caeliora postou-se ao meu lado. Bia, um tanto quieta, ficou no outro.
Eu não sabia o que aconteceria. Um bolo formou-se na minha garganta. Sentia algo errado no ar, na situação. Como se por todo o lado algo, ou alguém nos cercasse. Um péssimo pressentimento cruzava minha mente, mas o foco priorizava-se. Tentava ignorar os sussurros na minha cabeça, como na época antes de partir.

Qual era o motivo disso?

O ambiente era simplesmente opressor.

Caminhamos em direção às árvores mais escuras e espessas, longe dos olhos de qualquer um.

O que aconteceu aqui que deixou as pessoas naquele estado?

Quem será esta mulher?

– Como te chama? – Perguntei, quando nos encontrávamos distantes o suficiente. A senhora não virou o rosto, tampouco pareceu escutar o que eu falei, mas respondeu:

– Selinos. E vocês?

– Caeliora.

– Bia.

– Aiden - ela não esboçou reação. Na verdade, nem fez questão disso. Caeliora deu de ombros para mim, e Bia balançou a cabeça.

Não tinha trilha na floresta, e a vegetação era principalmente de árvores infrutíferas e altas, com folhas verde-escuras, que não permitiam a passagem da luz do sol.

Pouco vi do que fossem animais. Alguns veados, roedores, cobras e corvos sondavam-nos dos arredores, mas não passava disso.

Meus pés cansaram bastante quando avistamos uma casa de barro e pedras cercada por árvores. Ali a luz penetrava mais, e os animais ajuntavam-se a volta dela. Passarinhos coloridos cantavam, coelhos saltitavam no pequeno jardim, esquilos pulavam de galho em galho, cervos aproveitavam um regato que serpenteava no lado esquerdo, dríades davam risadinhas no mato e desapareciam quando as olhávamos, coisas que assemelhavam-se a vaga-lumes – porém eu duvidava que fossem – brilhavam por ali e eu cheguei a notar um lince dourado perto dos cervos.

Naquele instante, adentrávamos em um mundo aparte. Longe da violência e barbaridade do vilarejo, onde até o ar trazia harmonia.

A cabana tinha um tamanho médio, eu supunha que possuía uns três quartos. Selinos levou-nos até lá dentro e serviu-nos de pão, peixe, sopa de cevada e bolos. Sentamo-nos em uma mesa pequena e comemos com sofreguidão. Eu soltava gemidos de prazer a cada mordida.

Caeliora conseguia ingerir os alimentos com mais calma, e Bia o fazia em silêncio. Selinos aguardou que terminássemos a refeição para postar-se na cabeceira da mesa.
– Obrigada senhora – agradeceu Caeliora com voz séria – Estamos muito gratos por sua ajuda e por nos oferecer comida.

– Sem dúvida nenhuma – acrescentei e Bia também anuiu.

– Certo, certo – replicou a anciã – Agora, é melhor começarmos o assunto de maior importância. Vocês são da Ilha de Circe, não é verdade?

O silêncio instalou-se na sala. Bia agarrou meu braço, nervosa, e eu quase sentia o sangue pingar dele. Não reclamei da dor porque fiquei estático. O que Selinos realmente sabia?

– Sim, somos – informou-lhe Caeliora, mais serena e com a voz branda. – Como sabe?

– Conheço de longe um seguidor de Circe quando o vejo. Mas não vejo muitos aqui no continente. São raros e a maioria solitária.

– Como a senhora nos conhece? – Questionou, curiosa, Aurora, enquanto inclinava-se na direção da anciã. Selinos sacudiu os cabelos quase prateados e enrugou a testa.

– Sou uma. Era aprendiz na minha juventude. Foi há muito, muito tempo. – Divagou, com a entoação mais cansada. – Por que estão tão longe de casa?

Fui eu quem respondeu. Bia permanecia em seu silêncio tímido, prestando atenção em tudo o que Selinos falava. Uma mecha de seu cabelo ruivo caía por cima dos olhos.

– Estamos em missão. Há rumores de um inimigo que quer derrubar Zeus do trono e a guerra é uma consequência disso.

Para nossa surpresa, a velha brindou-nos com uma risada sonora e afinada, como o som de uma lira. Encontrei o olhar de contrariedade de Caeliora à minha frente na mesa.

– Meus filhos – começou Selinos – Não pensem que a guerra é apenas uma consequência. Há muito mais envolvido, posso sentir. Não sei o quanto, mas sinto. É tudo planejado. Atenas era uma terrível armadilha para pegá-los antes que completassem seu objetivo. Embora creia eu que nem mesmo aqueles soldados façam ideia do que os cerca, ou quem são seus superiores de verdade.

– O que quer dizer? – Perguntou Aurora.

– Quero dizer que agora, as pedras de Hécate não são mais tão importantes, até porque Hécate foi capturada. E os deuses interferiram, pois vocês são a última esperança. Podem ver em qualquer lugar. As trevas estão avançando. As pessoas tornaram-se tão selvagens que estão matando umas as outras. Cidades inteiras desaparecem, são destruídas. As pobres almas morrem de fome e pestes em todo o mundo. Mesmo os nobres não escapam. Precisam parar isto.

– Se Hécate foi capturada – verbalizou Bia, assustando-me após seu silêncio – Como podemos conseguir? Nossa meta a incluía principalmente.

– Crianças, primeiro de tudo é necessário recuperar os amuletos e os deuses que foram enjaulados. Não deixem, em hipótese alguma, que as pedras caiam nas mãos de seus inimigos. No fim, se conseguirem libertar os imortais, estes lhes auxiliarem e possuírem os amuletos, há a possibilidade de salvarem todo o mundo conhecido. – Ela suspirou e logo deu continuidade - Para cada deus e amuleto terá uma espécie de guardião que deverá ser vencido para a obtenção da vitória. Sigam a trilha que aqueles que detêm o poder deixaram para trás.

– E os outros? Ariella, Dreah, Valentine... – Desesperou-se Caeliora, preocupada. Seus olhos arregalaram-se e ela agarrou a borda da mesa.

– Calma, Ca. – Bia tentou passar confiança, no entanto sua voz tímida não surtia muito efeito.

– Cada um deve seguir seu próprio caminho, semideusa.

– D-o que me chamou? – Gaguejou Caeliora, o choque transpassou seu rosto, que ficou pálido.

– Oras, nunca percebeu que em suas veias corria sangue divino? – Exasperou-se a mulher – Igual a esse daí. – Apontou para mim com a cabeça.

– S-sim, m-mas o assunto chegou apenas aos ouvidos de Circe e das minhas irmãs. Já suspeitávamos por causa dos meus pais... Porém nunca i-importei-me realmente.

– Pois devia. É necessário que aprendam sobre si mesmos antes de enfrentarem o primeiro guardião.

– A senhora sabe onde ele está? – Questionei na tentativa de focar novamente no assunto e dar espaço á Caeliora. Não sabia como Ca devia estar se sentindo. Quando eu descobrira, fora do mesmo modo, entretanto, tínhamos mentes diferentes e um jeito diferente de encarar os fatos.

– Sei, sei de muitas coisas, Filho de Hades – murmurou – Mas antes, devem descansar e banhar-se. Estão fedendo.

Bia corou e Caeliora encolheu os ombros. Senti minhas orelhas esquentarem.

– Venham comigo – chamou Selinos e levantou-se. Seguimos até um dos quartos, o qual continha duas camas e um baú. A tampa parecia muito pesada para ela, em sua idade, abrir. Porém, quando tentei auxiliá-la, ralhou comigo. Do baú retirou peças de roupas para nós, já que as nossas estavam rasgadas e demasiadamente sujas.

– Há uma cachoeira que alimenta o regato mais para trás da casa. Peguem a trilha e não tem erro. – Informou Selinos e depois dirigiu-se a mim – Espera aqui enquanto elas banham-se primeiro.

Fiz o que ela ordenou e aguardei – bastante, por sinal – enquanto as duas refrescavam-se naquela água... Que deveria estar tão agradável...

O clima quente fez com que minhas roupas grudassem em mim com o suor. Mas a atmosfera mágica que a cabana proporcionava melhorou a situação. O lince veio para perto de mim e postou-se aos meus pés, ao mesmo tempo em que eu sentava em um tronco cortado de árvore.

Senti-me desconfortável, verificando a todo o momento se o bicho não iria ferir-me com suas garras ou me morder. E ele bocejando de tempos em tempos, mostrando os dentes afiados, de nada ajudava.

Eu já sonhava com fontes frescas e rios quando Bia e Caeliora retornaram, rindo e brincando pelo caminho. Usavam calças e túnicas azuis celestes de mangas curtas e estavam descalças.

– Graças aos deuses – exclamei e passei correndo por elas, que gargalharam quando esbarrei numa pedra e quase caí.

Segui a trilha e pude inspecionar as pegadas de Caeliora e Bia demarcando a direção. Pouco depois, cheguei a uma linda cachoeira brilhante, de tamanho médio e com as águas límpidas e frescas. O lugar estava repleto de borboletas coloridas, animaizinhos e aqueles pontos brilhantes voadores que eu não sabia o que era.

De uma pedra lisa e saliente, pulei com tudo.

O banho foi maravilhoso por causa do calor. Pus roupas brancas e limpas, ao contrário das antigas, rasgadas e sujas.

Voltei à cabana e acabei por presenciar a cena de Ca penteando os cabelos curtos e avermelhados de Bia com um sorriso maternal e sincero. Assim que aproximei-me, as bochechas da ruiva tornaram-se tão vermelhas quanto suas mechas . Selinos surgiu de um corredor. A noite estava para chegar.

– Passem a noite aqui, e amanhã poderão seguir viagem para encontrar o seu primeiro desafio.

– Onde ele fica? – Perguntei.

– Irão pela floresta e o acharão. Mas, por hora, descansem. As meninas dormem no quarto com as duas camas. O garoto no dos fundos. Estarei à frente das meninas.

Ao término de suas palavras, o cansaço me abateu. Soltei um bocejo, e escutei os de Caeliora e Bia. Uma cama pareceu uma ideia muito boa.

– Vou me retirar, com licença – disse, e disparei para o quarto dos fundos. Os passos das duas ecoaram no chão. Atirei-me nos tecidos macios, cansado, e pensei nos perigos esperavam-nos no bosque.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso aí. Peço que, por favor, comentem. Isso me motiva a escrever. Pra quem não sabe, Lince é o gato super desenvolvido com suíças gigantes que aparece na imagem acima. E peço desculpas a AAJ, mas próximo capítulo talvez não haja Ariella nem Leecher. Bem, é isso. Beijos.



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