America's Candies escrita por Hissetty


Capítulo 3
Vossa senhoria pé-de-chinelo


Notas iniciais do capítulo

SÉÉÉCULOS depois, outro capítulo ;3
Que tal mais reviews? Se eu merecer eles, é claro! Senão continuo postando assim, devagarinho... xP
Bem, boa leitura pra vocês!



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Eu estava com uma dúvida cruel.

Realmente cruel.

Era assim: eu podia pular a janela, cair no galinheiro que ficava grudado na casa, levantar, driblar as aves que não voam malucas... ah. Não. Não era um galinheiro. Eram patos. Era um... pateiro? Um... patê? Hehe. Deixa pra lá.

Enfim, eu podia me jogar no curral dos patos e sair correndo. Talvez pegar a caminhonete feiosa do meu pai. Ou talvez ir até a estrada e pedir carona. Ou, talvez, eu pudesse ficar ali, paradinho na porta, encarando as três crianças que brincavam de Pula-Macaco no tapete, as velhinhas tricotando e fungando sobre a novela da uma da tarde. Tinha um velho ali também, jogando futebol de botão com um cara muito parecido com a minha madrasta. Pela janela do pateiro, eu vi meia dúzia de pré-adolescentes caipiras correndo um atrás do outro com uma espiga de milho na mão, fingindo ser uma espingarda.

Ô gente doida, sô.

Madson olhou para mim. Eu olhei para ela.

Ela sorriu maldosamente para mim.

- Vovó! A senhora voltou!

- Puta que pariu – eu grunhi, baixinho. Mas teve eco, então eu imaginei que eu tivesse falado alto demais. Olhei em volta, procurando ver se alguém escutou, mas então percebi que meu pai tinha falado a mesma coisa.

Eu sorri maldosamente para ele.

- Nada de palavrão, né pai?

Ele me olhou.

- Fica quieto, Rick.

Encolhi os ombros, sorrindo.

- Você odeia a véia – acusei.

- Velha, Rick, velha – corrigiu meu pai.

- Mad! – a velha que estava tricotando uma roupinha de cachorro largou as agulhas no sofá e... não. Ela não se levantou. Quero dizer, ela tentou. Mas caiu sentada de novo. – Ah, Mad, minha netinha, venha cá abraçar a sua avó!

Hehe!

- Vó, a senhora precisa descansar. Chegaram hoje, não?

- Chegaram? – perguntou a mãe da Madson, claramente confusa. – Chegaram, filha?

Madson olhou a mãe, inocentemente. Até eu estava vendo o teatrinho!

- Papai, você sabe, ele vinha com a vovó.

- Papai – repeti, rindo. Meu pai ficou branco feito papel. Minha madrasta congelou.

- S-seu pai, Mad? – perguntou meu pai.

- Isso, Jeff. Meu pai veio com a vovó da Califórnia... hoje.

PUTA QUE ME PARIU, ou melhor PUTA QUE ME MANDOU PRA CÁ!

Eu estava com outra dúvida cruel: eu sou incrivelmente sortudo em presenciar um caso de família aparentemente trágico e engraçado, ou terrivelmente azarado em presenciar um caso de família aparentemente trágico e incômodo?

- Quem é o menino? – perguntou a avó, deixando Madson e madrasta no vácuo.

- Rick. O filho do Jeff, vó – disse Madson, a contra-gosto.

- O que esse menino está fazendo aqui? – insistiu a velha.

Odeio velhos.

- Morar. Porque minha mãe é uma... – meu pai me lançou um olhar muito filho da puta, que fez com que eu engolisse o resto da frase –... senhora muito ocupada.

A velha me estudou. Um pouquinho. Depois mais um pouquinho. E então, ela me deu um sorriso banguela – é, banguela, o que me fez questionar “cadê as dentaduras da véia?” – e me chamou um uma agulha de tricô.

- Venha cá, meu filho, venha cá – chamou.

Eu fiquei paradinho, congelado.

- Venha! – insistiu ela, sorrindo, desdentada.

- É... sabe como é? Eu tenho... uhm... medo de agulhas!

- Não seja por isso! – ela tocou as agulhas para trás do sofá. Sério. Simplesmente jogou. Ela deu tapinhas no sofá. – Venha cá!

E aí, encabulado e vencido, eu fui.

- Qual seu nome, meu jovem?

- R-rick... – murmurei. Madson riu.

Sim, eu estava com medo da vó banguela.

- Richard? Belo nome!

- Não, só Rick... – comecei, mas meu pai suspirou e abanou a mão na minha direção, como se dissesse “não tente, ela vai continuar gagá e insistir nas burrices, essa velha filha da puta desdentada e com cheiro de bala de goma”.

Então tá.

- Quantos anos você tem, Richard?

- Dezenove, cor... – eu ia chamar ela de coroa. Ia. Mordi a língua na hora. Disfarcei com uma tosse –... senhora.

- Interessante, interessante. Você é jovem para estar em outro estado, não?

- Fale isso pra minha mãe – murmurei.

- E seu pai? – ela ergueu os olhos para meu pai. – Ele é um bom pai?

Sorri para ele. Podia ferrar ele agora. Mas apenas assenti, estreitando os olhos para ele. Ele fez o mesmo. A velha deu uma risadinha.

- Você deve ser um bom garoto.

- Ele está aqui porque roubou uma viatura policial – disse Madson. PUTA, menina PUTA! A velha me olhou, assustada.

- Nenhum envolvido! Nenhum machucado! Sem danos morais, bebidas alcoólicas, limite de velocidade e porte ilegal de armas! – defendi-me, rapidamente. A velha, agora desconfiada, inclinou o pescoço para me estudar.

- Você me lembra meu marido – falou ela, olhando para o nada de repente. – Jovem, delinquente, odiado por muitos, revoltado, sarcástico, incompreendido... estúpido!

Aí eu fiquei olhando para ela, tentando descobrir se ela estava tentando me reciclar, me comparar, elogiar, intimidar, ofender... qualquer coisa. Mas, velhos são difíceis de entender. Ela, então, no auge de sua experiência, continuou falando. Eu fiquei olhando, pela janela, as crianças jogando baseball com uma pedra. Jesus.

-... não é? – perguntou-me a velha. Olhei para ela, alerta. Hã? – Não é, Richard querido?

- O quê?

Madson deu uma risadinha.

- Acho que ele não estava ouvindo, vovó.

Ao se dar conta de que eu realmente não estava prestando atenção, ela pegou uma agulha de tricô reserva no sofá e bateu com ela na minha nuca, no mesmo momento que a janela estourou em vários cacos de vidro e uma pedra me acertou no queixo. Para completar, um cachorro, surgido do nada, pulou em cima de mim e me derrubou do sofá, pegando a pedra arremessada pelas crianças – que obviamente tinham uma mira terrível, a não ser que eu realmente tenha sido o alvo – e pisoteando minha barriga.

Eu já disse que odeio velhos, cães e crianças?


(...)


Bem, pior talvez não ficasse.

Assim que eu fui praticamente morto pela família Adams, Madson, assim que parou de rir, me levou para a nossa casa – gasp – a pedidos da vovó Adams. Eu só faltava morder o cachorro vira-lata, Toby Adams, dar um golpe de jiu-jitsu na vovó e sair correndo atrás das crianças com um chinelo, porque, pelo amor de Deus, eu estava MUITO puto quando Madson me arrastou da casa principal.

- Relaxa, Rick – disse ela. – Não vai fazer manha, né?

- Manha, manha meu pau de óculos – murmurei. Sim, eu estava fazendo manha. ME PROCESSE!

Madson deu de ombros.

- Desculpe.

Franzi as sobrancelhas e olhei para ela.

- Pelo quê?

Ela ficou vermelha de repente. E eu, entendendo bulhufas, parei no meio do caminho.

- Pelo quê, pirralha? – insisti.

- Não fui legal com você – ela disse, baixinho. Parecia tímida. O QUE ACONTECEU COM AQUELE DIABINHO?! – Vou fazer um pudim pra você!

Fiquei parado, dois metros da entrada da casinha que eu moraria com ela. Era bonitinha. Parecia um chalé, azul bebê, três andares, cheia de sacadas de madeira clara, janelas com cortinas azuis floridas. Virei para a casa principal. Quatro andares. Bordô. Sem sacadas, mas com várias – VÁRIAS – janelas. A casa principal era gigante, cara. Tipo, gigante pra caralho.

Pisquei.

- Hey! Rick! Vem logo!

Suspirei.

É, não ia ser um ano muito fácil. Talvez, se Madson percebesse que eu sou uma ótima, agradável e supersimpática pessoa, ela me fizesse mais pudins. E me salvasse da família Adams, embora eu ainda esteja meio desconfiado da súbita mudança dela.

Mas havia pudim.

E eu queria pudim, então, foda-se!

Entrei no chalezinho. Coisinha bonitinha. Cheio de coisinhas de tricô. E bagulinhos de madeira. Poltroninhas floridas. Gatinhos felpudos no tapetinho colorido. Fiquei imaginando... o que aconteceria com este belo micro-chalé caso eu, acidentalmente, pusesse fogo, sabe, uma faísquinha de fogo no lugarzinho errado?

Hehe!

- E aí? – perguntou ela.

- É tão... inho – respondi. Ela franziu as sobrancelhas, como se estivesse confusa, mas aí piscou várias vezes. Repetidamente. Eu cheguei a ficar meio tonto com tantas piscadas.

- Inho? – ela disse, com outro tom de voz. – Bem, vossa senhoria pé-de-chinelo, você está na rua sem nós, e também podia estar na cadeia. Acho que, de longe, nossa fazenda é o melhor lugar, não acha?

Cruzei os braços.

- Não.

- Acostume-se – disse ela, virando-se de costas. – Vou fazer o pudim!

Inclinei a cabeça. Oi? Sério. Eu estava confuso. Estiquei o pescoço para a cozinha, vendo a pirralha pegar todas as coisas dos armários e da geladeira e começar a empilhar tudo na bancada. Ela pegou uma forma de uma gaveta e começou a jogar coisas em um liquidificador. Fiquei ali, parado no meio da sala, pensando o seguinte:

“ONDE CARALHOS MINHA MÃE FOI ME METER?!”


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Notas finais do capítulo

E entããão?
Reviews?
Um?
Dois?
e__e



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