O Limite Entre A Morte E A Loucura escrita por Marcela


Capítulo 3
Morte




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O tempo naquela cela se passava devagar, o tédio me consumia e eu já não suportava mais ficar sozinha. Em questão de meses, as vozes que eu ouvia começaram a tornar-se ensurdecedoras e eu já não suportava mais viver cada dia encarando a realidade de que as coisas nunca iriam melhorar para mim.

Vez ou outra, conseguia distinguir o barulho de passos vindos do corredor, em meio ao tumulto sonoro que se passava dentro da minha cabeça. Nessas raras ocasiões, caminhava em direção a porta e observava pelo buraco onde me entregavam a comida, os outros pacientes andando de um lado para o outro.

"Eles também estão presos aqui, mas são mais livres que eu" era o que eu pensava quando fui interrompida por uma imagem que me desconcertou completamente: Kit e Grace andando de mãos dadas rumo ao salão principal.

Por instantes me odiei por nunca ter percebido, os dois estavam namorando... Essa seria a única explicação plausível por ele ter dito que amava ela no dia da nossa briga.

A garota que possuia tanto sangue frio a ponto de matar sua própria família, foi o que me disseram uma vez, ao lado do meu Kit, do meu Bloody Face que por trás de toda fama de assassino e de seu olhar misterioso, no fundo escondia um ar de menino assustado e indefeso.

Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Me sentia tão sem chão que pela primeira vez em meses sentia como se as vozes estivessem se calado.

Passei os próximos minutos refletindo e logo cheguei a conclusão de que nunca tive um bom motivo para estar viva. Desde que fora trancada em Briarcliff eu sempre depositei toda a minha esperança em Kit, mas a verdade é que eu precisava encontrar um motivo qualquer para continuar lutando e o usei para isso.

Finalmente tomei a decisão definitiva, eu me mataria naquele dia, antes mesmo que perdesse a coragem.

Com o parafuso que usava para riscar a parede e deixava escondido em um furo na laje, na quina ao lado da porta, tentei cortar os meus pulsos, aconteceu porém, que ele já estava bastante desgastado para ser útil em tal fim e sem mais nenhuma ideia, o único jeito que encontrei foi começar a bater a minha cabeça com força contra a parede, com a esperança de que isso me causasse um coágulo, ou algo assim...

Com o barulho que as minhas constantes batidas fizeram, Jude veio ver o que estava acontecendo, junto de um enfermeiro chamado Albert. Quando ela entrou no quarto, minha única reação foi correr em sua direção e apertar-lhe novamente o pescoço para tentar esgana-la. Obviamente, fui impedida pelo enfermeiro e ouvi dela, em um tom ameaçador:

– Você só tem uma solução, garota. Lobotomia... Pode sedá-la, Albert.

Depois de uma picada da seringa com o sedativo e alguns segundos, só me lembro de desmaiar e acordar atada em uma maca na sala do Dr Arthur.

– Olha só quem acordou? Minha nova paciente favorita – disse o médico – você já está pronta para a operação?

Fiz um gesto insinuando que não com a cabeça e comecei a gritar desesperadamente.

– Fica tranquila, Jhennifer. Você vai ficar bem quando acordar, quer dizer... Se acordar...

O sorriso sádico que aquele homem possuia nos lábios enquanto me dizia friamente estas palavras me assustava mais que o cenário horripilante que era a sala dele.

Dr Arthur me amordaçou então e disse que ia sair para comprar alguns equipamentos necessários para a operação e voltava em algumas horas para fazer minha cirurgia cerebral.

Depois que ele saiu, com muito esforço consegui esticar uma de minhas mãos, ainda amarrada pelo pulso até uma pequena mesa ao lado da maca. Peguei um bisturi e com ele consegui cortar, com certa dificuldade a amarra que prendia o meu braço.

Eu não tentei terminar de me soltar da cama, apenas aproveitei do tempo que tinha para dar um fim a vida que levava e com uma sequência de cortes na barriga e muita dor, fui sentindo a vida deixar o meu corpo aos poucos.


Só agora posso entender o que tudo isso significa. Depois de morta, eu acordei no limbo e só então fui transportada ao meu eterno castigo por cometer suícidio, passar o resto de meus dias agonizando como se ainda estivesse em Briarcliff.

Sou então novamente interrompida de mais um destes constantes devaneios por uma presença nada ilustre, Dr Arthur está aqui...


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Notas finais do capítulo

Tem alguém lendo? Ando com preguiça de continuar, mas se alguém estiver lendo deixa um oi aqui pra eu saber.