O Limite Entre A Morte E A Loucura escrita por Marcela


Capítulo 2
Consequências


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam gostando da história



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Por mais que eu me esforcei não consegui entender o que Irmã Jude estava dizendo. Passei mais algumas horas acompanhada pela velha sensação de estar presa ao meu próprio corpo e só então consegui abrir meus olhos. Neste momento uma luz atordoante veio a tona, na forma de flashes. Eu não conseguia manter os olhos abertos por mais que alguns segundos, pois eles doiam intensamente ao encontrar a luz. Passei mais alguns minutos tentando me acostumar ao clarão ao meu redor e concluí que isso significava que eu passara tempo demais no escuro e ainda não havia conseguido me acostumar com o brilho cintilante de uma simples lâmpada.

Quando finalmente consegui resistir a toda luminosidade do local onde me encontrava, reconheci as velhas parede sujas e o ar úmido de Briarcliff. Infelizmente soube o que isso significava, aquele era o meu castigo.

Comecei então, a refletir novamente e com muito esforço me lembrei de tudo o que acontecera: logo após o almoço, em uma quarta-feira entediante, estava tomando um banho de sol, quando vi Kit beijando Grace Bertrand. No primeiro instinto, corri até os dois e pulei em cima da garota, puxando seus cabelos. Grace me deu um murro no estomago, e Kit a segurou, impedindo que ela me batesse mais. Ele disse à garota as palavras que não saíram da minha mente nos próximos dias:

– Não machuque essa menina, ela é uma pobre coitada que não tem nenhum amigo, você em compensação tem a mim, que além de ser um amigo, ama você.

Aquelas palavras de Kit pesaram sobre mim como uma espada que atravessava o meu coração e eu nem me importei ao ser arrastada por dois dos enfermeiros que me conduziram até a sala da irmã Jude e contaram para ela sobre a forma como eu comecei a brigar com Grace.

A perversa freira abriu as portas de um armário repleto de chicotes e ordenou que eu escolhesse um que seria designado para o meu castigo. Escolhi o mais simples deles, um chicote fino feito de couro trançado. Jude me bateu nas pernas 15 vezes com o instrumento e depois mandou que os enfermeiros me trancassem na solitária.

Naquela noite, o jantar me foi servido através de uma fresta na porta, mas eu não sentia fome alguma. Eu sabia que passaria muito tempo ali, por isso comecei a andar pelo quarto procurando algum objeto pontiagudo para riscar na parede a minha própria contagem dos dias. A primeira vista, não encontrei nada que me parecesse útil, mas ao desistir e deitar novamente na cama, pude reparar em um parafuso frouxo que talvez servisse para o meu objetivo. Com o fino cabo da colher que veio junto a minha refeição, consegui terminar de tirar o imenso parafuso e procurei um canto na parede que ainda não estivesse riscado.

Trancada na solitária, passei os oito dias seguintes. Com o tédio dominando a minha cabeça, comecei a imaginar o quanto a minha vida e a de todas as pessoas presas naquele lugar seriam melhores sem a presença da detestável Irmã Jude. Inevitavelmente, por várias vezes ao dia o meu único desejo passou a ser matar Jude, não me importando com as consequências que isso me custasse depois.

Quando finalmente fui liberta da solitária, esperei até o momento em que todos foram para o pátio e fui até a sala da freira cuja presença desde sempre me perturbara. Abri a porta e a encontrei sozinha, sentada a mesa lendo um livro do qual nunca ouvi falar. Entrei e tranquei a porta, esperando ela dedicar sua atenção a mim. Assim que ela levantou os olhos em minha direção, me aproximei e em um só movimento segurei com as duas mãos o pescoço de Jude, na tentativa de estrangula-la. Imediatamente, a freira arrastou suas mãos sobre a mesa e pegando um porta-retrato de vidro, atirou-o contra a minha cabeça. Senti o sangue escorrer pela minha testa, mas não desisti, estava determinada a mata-lá. Novamente ela pegou outro objeto sobre a mesa, desta vez uma caneta e começou a perfurar os meus braços com a mesma. Eu comecei a gritar, mas não a soltei. Neste momento, quatro enfermeiros adentraram a sala de Jude, atraidos pelo barulho, separaram nossa briga e ficaram me segurando pelos braços.

Ao se recompor, Irmã Jude caminhou em minha direção e com um sorriso irônico nos lábios fechou o punho direito e me deu um murro sobre o olho. Eu não pude revidar, pois dois dos enfermeiros pressionavam os meus braços. Depois ela os mandou me trancarem novamente na solitária e com um tom sádico disse:

– Você vai passar o resto dos dias presa sozinha naquela cela, Jhennifer.

Me levaram novamente aquele repugnante lugar e me deixaram lá, como um bicho preso na gaiola. Com o passar do tempo, perdi as contas de quantos dias haviam se passado e comecei a aceitar a realidade de que ficaria trancada naquele pequeno quarto até o dia da minha morte.

A situação daquela cela era precária e a comida começou a se tornar cada vez pior. Às vezes eles me deixavam dois ou três dias sem comer e a quantidade de água era pouco mais que o necessário para a minha sobrevivência.

Eu que sempre odiei a solidão, tive que aprender a conviver com a única compania que me restava: as vozes insistentes dentro da minha cabeça. Foram essas vozes que me convenceram a colocar um fim em tudo e o meu único desejo passou a ser a morte.


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Notas finais do capítulo

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