A manhã é ensolarada. As nuvens estão espalhadas pelo céu, em pouca quantidade, dando espaço para o clarão, posso ouvir pássaros cantando ao longe, melodias encantadoras, na floresta, as copas das árvores dançam silenciosamente com o vento soprando sobre elas. Esta manhã parece tão bela, quanto a minha noite de ontem.

Talvez o dia não esteja tão lindo assim, e a causa de tanta beleza no meu olhar seja meu bom humor. Minha madrugada foi cercada por sonhos, admito que não lembre um segundo deles, mas sei que Draco estava lá, e ele me fazia sentir bem.

Isso soa ridículo. Estou mesmo tendo bons sonhos com Draco Malfoy? Há alguns anos acharia que eu estou louca... Mas agora me parece tão interessante

Gina entrou no quarto batendo a porta com força, olhei para garota ruiva que entrava no quarto resmungando coisas inaudíveis e finalmente parando para me olhar, ou pelo menos notar que eu estava ali.

–O que foi? – eu perguntei

–Hogwarts é uma piada. – ela diz sentando em sua cama

–Achei que gostasse da escola...

–Não, Hermione. Em todos os jornais e revistas só se fala nisso, a entrada do coral de Hogwarts, com estilo trouxa.

–Esta tão ruim?

–Pior que imagina. É péssimo! Hogwarts esta em revista de fofocas, nem na época da guerra isso aconteceu

–Revista de fofocas? Como assim? – eu digo surpresa dando mais atenção a ela– o que estão dizendo?

–Não é óbvio? Que todos nós somos traidores, amantes de trouxas e rebeldes contra princípios bruxos – ela diz imitando a voz grossa de um famoso crítico, John Blackwood. Ele é um dos mais famosos e poderosos críticos bruxos, se ele esta falando sobre nós, é por que a coisa esta além do ruim.

–John Blackwood? – eu digo levantando da cama, exasperada como a própria ruiva.

–Isso mesmo querida. Hogwarts esta na mira do “caça lendas”

“Caça lendas”, um apelido para John, que descobriu estrelas famosas da música bruxa.

–E sabe o que é pior? Eu estou no coral. Escrevi-me ontem, não sabia que o coral se tornaria assunto mundial.

Logo pensei em Draco, ele também estava no coral. Isso também devia ser um verdadeiro escândalo na mão dos repórteres

Mandy Olsen

Joguei o jornal em cima da mesa depois de ler a última estrofe, da matéria de Rita Skeeter. Resisti o impulso de virar a página e ler a crítica de John Blackwood, aquilo já foi o suficiente por hoje. Não suporto mais olhar para essas “notícias”, o profeta diário estava repleto delas.

A mídia esta agindo ainda pior que o imaginado, o preconceito bruxo é muito forte. Até mais do que eu poderia imaginar, poucos ativistas incentivavam as pessoas a darem uma chance para o coral.

Porém talvez isso seja bom, estamos chamando muito mais atenção antes da Master of music começar, do que qualquer outro coral pode conseguir, só temos que usar a mídia a nosso favor, não contra.

Pansy Parkinson entrou na minha sala de forma rápida, e se colocou de frente a minha mesa, antes que eu perguntasse, ela simplesmente respondeu.

–Sra. Olsen tem que fazer alguma coisa! Viu como estão as coisas?

–Como não ver, Parkinson! – eu respondi – esta em todos os jornais

–Temos que parar com essa ideia, é loucura!

–Temos que por o estilo trouxa na competição, nós vamos usar a mídia a nosso favor.

–E como vamos fazer isso?

–Quem a mídia mais ama? – eu perguntei, e ela fez uma careta – Harry Potter. Ele esta a nosso favor. Sente-se, e fique calma.

Ela se sentou na cadeira frustrada.

Mal fiz Parkinson sentar, e Gina Weasley com Harry Potter entraram na minha sala.

–Desculpe, nós precisamos entrar – Harry diz e se sentou em uma cadeira. Gina fez o mesmo

Pouco depois, a porta se abriu mais uma vez, com Draco Malfoy e Blásio Zabini atravessando a sala, para se sentar também. Parece que mesmo sem pedir, consegui armar uma reunião com todos os já escritos no coral.

Pansy Parkinson, Draco Malfoy, Blásio Zabini, Gina Weasley e Harry Potter... São poucos.

Todos começaram a falar – ou gritar – ao mesmo tempo, dando sua própria opinião.

–Chega! – eu interrompi com o berro – O que aconteceu não é o fim do mundo, ninguém aqui é burro, todos nós sabíamos que isso aconteceria. A mídia só esta começando, não sabemos o que ainda pode vir.

–Professora, lutar contra a mídia é inútil, eu sei disso – Harry diz – só se vence com provas.

–Teremos provas quando nós ganharmos. Harry, você é influente, salvou o mundo de Voldemort, temos mais peso na competição com você. O que esta acontecendo, é como um Reality show.

–O que é isso? - Draco perguntou

Eu suspirei, não seria fácil fazê-los conhecer o mundo trouxa.

–Escutem, – eu digo o mais amável possível, suspirei e comecei a falar – Temos de estar unidos, juntos de verdade, se quisermos vencer a Master of music. Não estou dizendo que vai ser fácil, por que não vai. Eu queria muito dizer que vai dar tudo certo, que acontecerá tudo como planejamos, mas eu estaria mentindo. Vai ser muito difícil, cairemos mil vezes, porém não podemos desistir, temos que sacudir a poeira e juntos seguir em frente, unidos como uma família. Eu sei que é pedir muito pra vocês, mas vocês se comprometeram a isso.

–Grifinória e Sonserina? – Pansy perguntou irônica – unidos?

–Nunca ia dar certo – Harry respondeu

–Perfeito, já acharam algo que vocês concordam – eu respondi.

A maioria revirou os olhos

–Se fizerem o coral se tonar maior, não conviverão tão juntos.

–O coral maior? Quase impossível professora – Gina diz quase lamentando – a maioria de Hogwarts quer ficar longe de nós e do escândalo

–Então terão que achar o resto desta maioria, eu sei que há músicos talentosos em Hogwarts, ela é enorme, vários desses alunos tem futuro. Precisamos de músicos, cantores, compositores...

–Não conhecemos nada que é trouxa – Blásio diz – nunca ouvi música trouxa na vida!

–Nem eu – Pansy diz

–Não tem problema, vocês aprenderão comigo, eu juro.

Hermione Granger

Sem Gina, ou Harry – para minha surpresa, ele estava no coral – que foram à procura da nova professora, segui sozinha com Rony para o salão principal.

Seria um curto caminho, se não fosse com ele. Rony não falava direito comigo, eu tão pouco conseguia pronunciar uma palavra.

“Garota idiota! Hermione, idiota!” eu falava para mim por pensamento

Podia soar bobo, mas é verdade, não importava o quanto Draco me fizesse bem, a presença de Rony me fazia tremer, ainda sou apaixonada por ele. Não da pra negar isso. Rony é o amor da minha infância, o garoto por quem sempre sonhei estar perto, e construir uma família, e agora com Lilá no meu caminho, tudo esta se destruindo.

Não me lembro, quando foi que esse amor começou. Só lembro-me dela ter se arrastado pelos anos, até o agora. Victor Krum, de certa forma foi uma paixão, porém nunca deixei de amar Rony, nunca em nenhum momento senti algo parecido com alguém.

Com Draco... Ele me faz sentir bem. Mas com Victor também era assim, ele me fazia feliz, é um bom amigo, tivemos uma boa amizade colorida, mas no fim era apenas isso, uma amizade colorida, nada mais que isso, Draco só é mais um Victor Krum, não um Rony, essa paixão momentânea vai passar. Nunca daria certo mesmo, uma Grifinória e um Sonserino.

Minha historia com Draco, será como a outra com Victor, apenas uma lembrança de momentos passados, enquanto eu estarei com Rony.

Lilá entrou na minha vida para destruir tudo! Estávamos perto de ter um final feliz, há alguns dias nós estávamos namorando, e eu estava muito feliz, com o meu garoto. Porém veio essa venenosa, e acabou com tudo. Claro que Rony teve culpa, me trair foi um grande erro, mas não aconteceria se não fosse por ela, que é uma verdadeira cobra.

Rony me feriu fundo no meu coração. Talvez demore muito para essa ferida cicatrizar no meu peito, mas nunca vou deixar de o amar, ele vai ser meu um dia.

–Hermione, fala alguma coisa – ele diz de repente – ainda esta com raiva?

Respondi com um olhar, e ele suspirou.

–Já pedi desculpa, - ele diz – eu errei, você não merecia isso

–Não, eu não merecia – concordei um pouco fria.

–Me perdoa, por favor, Mione. Eu não queria magoar você, somos amigos há muito tempo e...

–Oi, meu Uon Uon – Lilá chegou com sua voz açucarada, pulando em Rony em um abraço apertado.

Olhei em outra direção, não precisava ver aquilo.

–Onde esta seu caderno, amor? – ela perguntou

–Ah claro, eu esqueci.

–Que caderno? – eu perguntei

–Vou ajudar Rony com alguns problemas em Poções

–Ajudar? – eu fico surpresa – Rony eu achei que fosse ti ajudar nessa matéria

–Não precisa amiga – Lilá diz distorcendo a palavra, e tomando a palavra antes que Rony respondesse – não é a única inteligente de Hogwarts.

–Eu já volto – Rony diz indo embora

Parada no corredor, Lilá me olhou com um sorriso maldoso.

–Perdeu querida. O Rony é meu namorado agora, mas não fica triste não, eu aposto que um dia se você tiver dinheiro, você pode pagar alguém pra ti namorar, Mione – ela deu uma risada – quem sabe assim você perde a virgindade

Namorada? Não achei que estivessem juntos, talvez estivessem ficando, no máximo. Não achei que Rony pudesse pedi-la em namoro. E pior, como ela sabia que eu sou virgem?

–Surpresa, querida? Eu não, quem teria coragem de ir pra cama com você?

–O Rony vai perceber a cobra que você é Lilá. Cuidado, eu posso aprender a derrubar você.

–Me derrubar, Mione? Ui, eu acho difícil. Nem conseguiu segurar seu homem. Ops! Seu Ex-homem. É muito burra pra isso, já perdeu pra mim, coitada, você esta perdida nesse jogo. Deixa-me ver se eu consigo ti ensinar a regra: Perdeu vai ter que aguentar

Burra? Eu senti meu corpo doer, em resistir ao impulso de bater em Lilá, ela não podia me chamar assim.

Resolvi dar a outra face. Forcei um sorriso e saí a passos largos

Senti a raiva pulsar no meu corpo, e não era apenas de Lilá. Mas de Rony por ser tão lerdo

No meu caminho, esbarrei com Rony, não segurei minha língua e apenas falei:

–Vai se arrepender de me trair com aquela cobra, ela ainda vai se mostrar a pior.

–Hermione, por favor – Rony me segurou para que eu não fosse embora, e eu senti descargas elétricas passarem pelo meu corpo, a tão boa sensação que eu sentia falta – A Lilá é uma boa pessoa, me desculpe se...

Puxei meu braço, e ele me soltou.

–Você tem que aprender a me escutar – digo suspirando

Não chorei, não derramei uma lágrima qualquer eu não faria mais isso.

Desisti de seguir caminho para o salão principal, e corri para o banheiro feminino do segundo andar, ele tem sido há muito tempo um bom lugar para pensar, tirando o fato da Murta que geme sempre estar por lá.

Cheguei ao banheiro, e ela já estava lá.

Como de costume, sentei em cima da pia e tirei meu inseparável caderno vermelho do casaco.

Esse caderno é a minha preciosidade, ele é onde eu escrevo todas as minhas canções, como compositora sempre estou com ele, nunca se sabe quando vou conseguir inspiração para escrever algo.

Murta que geme fez uma careta

–A você não larga esse caderno? – ela diz queixosa como sempre é – se não bastava ter morrido, eu tenho que aguentar uma maluca com um caderninho vermelho.

–Cala boca murta que geme, ou eu vou contar pro Harry!

Ela cruzou os braços, se mostrando teimosa.

–Harry Potter não tem bom gosto pra amigos – ela diz manhosa

Eu apenas revirei os olhos

Ouvimos um barulho, a porta de entrada rangeu. Pensei em me esconder, porém antes de ter uma boa reação, vi que Draco entrava despreocupadamente.

–Não me assusta assim! – ralhei

–Achei você – ele diz – não devia estar no salão?

–Não – eu respondo dando de ombros

Murta desistiu de ficar ali, e despareceu murmurando algo.

–Eu mudei de ideia no caminho – eu respondo melhor – e você?

–Eu queria falar com você – ele diz de pé, na minha frente. Agora com eu sentada em cima da pia, estávamos exatamente da mesma altura.

–Sobre o que?

–Sobre o coral

Eu revirei os olhos

–Não quero entrar, Draco – eu digo logo – Você viu como está às coisas, até John Blackwood esta falando de Hogwarts. E não dá, não posso cantar em público para bruxos, eles já são cruéis por eu ser nascida trouxa.

–Achei que Grifnorios não desistissem

–Apelando para o emocional? – eu debocho – Não caio nessa

–Pelo visto são teimosos também... – ele resmungou – Só temos cinco integrantes ainda, nós precisamos de mais.

–Perfeito, procure outro aluno.

–Você não precisa cantar

–O que?

–Você pode compor o coral também precisa de compositores, Sra. Olsen que disse.

–Não sei não – eu suspiro insegura – compor? As músicas não são tão boas, elas precisam de...

–Você é nascida trouxa, você entende de música trouxa.

–Não como vocês precisam

–A professora disse que vai nos ensinar, o melhor que puder sobre cultura trouxa e blá... Vai ser chato, mas nós precisamos.

–Chato? Eu não acho.

–Nos ajude Hermione. Nós precisamos muito de você

–Não. – eu digo teimosa fazendo biquinho

Draco sorriu maliciosamente, se aproximando de mim. Ele me roubou um beijo, e eu retribuí sem demora. O loiro passou a mão pelos meus cabelos, e parou na nuca, me puxando para mais perto, aprofundando nosso beijo, que ainda assim não demorou muito.

–Ainda digo não. – eu disse de novo teimosa, depois que nos separamos.

–Você é bem teimosa, hein Hermione.

–Escuta Draco. Eu entraria para o coral, se realmente valesse a pena tudo isso, e eu não sei se vale.

–Eu acho que vale

–Por quê?

–Quando entrei no casamento, não achei que fosse você lá no palco, não podia ser, que a Hermione que eu conhecia, estivesse ali. Eu nunca ti vi tão feliz e viva. Não é ótimo estar no palco?

–É, mas...

–Eu vi você fazer de tudo pra proteger o Potter e Weasley, durante anos, então por que não começar a fazer algo por você mesma?

–Você é bom com palavras – eu brinquei

–Só quando eu quero – ele deu um sorriso torto

E eu ri

–Tudo bem – eu suspirei – mas vou contribuir com composições, nada de cantar pra todo mundo.

–É um começo...

Eu revirei os olhos, ele não desistiria tão cedo.