Seu país continuava belo como sempre! Enquanto o carro percorria a pista o seu olhar ia fazendo uma viagem silenciosa nos locais onde sempre caminhava até que chegar em casa.

Quando o carro parou em frente à bela casa a primeira pessoa que Daniele viu foi Ruth que logo veio ao seu encontro e a abraçou com extremo carinho. Elas Permaneceram assim por alguns minutos e logo lágrimas vieram aos seus olhos, pois era impossível conter a alegria de poder sentir o gosto suave e quentinho de sua mãe.

Ruth olhou a filha de cima a baixo e exclamou:

_ Você está diferente!

Sim estava! Seu cabelo já não eram mais longo, agora estava cortado mais curto em estilo Chanel, havia adotado um novo estilo. Agora gostava de se vestir de acordo com a moda, com botas, casacos e jaquetas, tudo muito descolado. Enquanto caminhava para dentro da casa Ruth perguntou à filha como haviam sido as coisas no Canadá e Daniele calmamente contou de todas as coisas havia presenciado e vivido.

Sua mãe que ao ouvi-la parecia uma criança com um enorme sorriso no rosto, era como se ela estivesse tentando imaginar aquele cenário que era descrito pela filha.

Depois de organizar algumas coisas e tomar uma ducha ela colocou um vestido de alcinha “nossa, estava com enormes saudades de se vestir assim!” Amava aquele clima maravilhoso!

Ela foi até a biblioteca para matar saudade dos livros, pois sempre gostou daquele espaço. Enquanto procurava um historia interessante, sua mente fez uma viagem silenciosa ao notar que o local continuava o mesmo e por um segundo sentiu-se estranha por estar naquela casa outra vez.

_ Daniele?

Ela virou o corpo ao ouvir a voz de Julia que a trouxe para a realidade.

_ Oi dona Julia, eu nem percebi que a senhora entrou, estava tão concentrada nesse livro.

Daniele colocou o livro no local de onde havia tirado.

_ Eu não sabia que você chegaria hoje. Ouvi algo hoje pela manhã.

_ Queria fazer surpresa.

Ela riu enquanto abraçava Julia.

_ Mas como você está linda!

_ Obrigada, a senhora sempre amável.

Ela riu tímida, pois apesar de toda a mudança de visual, ainda tinha sua natureza conservadora e meiga.

_ E como está o Canadá? Faz tempo que não viajo para lá...

Apesar de simples aquele comentário serviu para mostrar o quão diferente financeiramente elas eram, pois para os ricos uma viagem como aquele era a coisa mais fácil, pensou Daniele enquanto voltava ao presente.

_ O Canadá é lindo! Fiquei encantada com o país, se puder quero voltar em outra oportunidade.

Elas comentaram assuntos triviais sobre as diferenças entre os dois países e enquanto conversavam pareciam amigas de longas datas, mas logo o tema se esgotou e fez-se alguns segundos silêncio entre elas, mas logo depois Daniele teve que perguntar.

_ E o Sérgio?

Julia sorriu.

_ Meu filho, aquele irresponsável! Está lá no quarto dele com a perna toda quebrada.

Um olhar assustado se formou no rosto de Dany, mas Julia tratou de acalmar.

_ Ele foi escalar com uns amigos e se esqueceu de verificar a corda do equipamento e aconteceu um acidente.

_ Ele está bem?

_ Bem ele está, mas não pode se mover muito.

Ela sentiu o coração bater tão rápido quando ouviu Julia dizer que ele estava com a perna imobilizada, mas logo sentiu sua respiração voltar ao normal quando ela disse que ele estava bem.

“Quer dizer não tão bem, mas bem.”

_ Graças não quebrou nada!

_ Ainda bem.

Depois de conversar um pouco com Julia ela disse:

_ Eu vou lá ver ele.

_ Ele vai ficar surpreso ao ver você.

_ Tenho certeza que sim.

Daniele sorriu se despedindo e seguiu para o quarto de Sergio. Enquanto caminhava em direção ao quarto dele Daniele sentia seu coração bater tão rápido e por um minuto sentiu suas mão geladas devido a tensão a qual se encontrava, porém ao parar em frente a porta do quarto dele não teve como fugir e bateu de leve.

_ Entra.

Aquela voz... Era a mesma voz que fazia com que seu corpo ficasse mole, sua respiração alterasse então ela levou à mão a fechadura e tomando coragem entrou no quarto.

Daniele viu que ela estava fazendo força para poder sentar na poltrona que se encontrava próxima a janela.

_ Oi Sergio.

Os seus olhares se cruzaram e Sergio t pareceu surpreso ao ver que era ela quem entrava em seus quarto, então se fez silêncio e foi como se um filme estivesse voltando em sua mente...

Há dois anos eles estivam ali, um de frete para o outro, mas a situação era diferente. Naquela época eram um casal apaixonado e com um sentimento tão belo. Um amor tão bonito que terminou com duas pessoas indo a direções opostas.

Ela suspirou afastando aquelas lembranças que ainda rodeavam sua mente e olhou para o rosto de Sérgio que estava lindo como sempre, seu corpo ganhou um pouco de massa corporal, mas ele continuava muito charmoso.

_ Daniele...

Quando ouviu aquela voz ele pensou esta tendo alucinações, mas quando viu Daniele entrar por aquela porta teve certeza de que não estava enlouquecendo. Ela estava muito diferente mais bela que nunca! Estava com jeito de mulher, mas sem perder seu encanto de menina, os seus olhos não eram mais escondidos por aquelas lentes de leitura, agora ela exibia seus belos olhos que por vezes o fazia se perder.

_ Você está diferente. _ ele se viu como um bobo dizendo aquelas palavras, mas elas escaparam antecipadas.

Um sorriso se formou nos lábios dela, era o mesmo sorriso gentil de sempre, pensou ele vendo aquele jeito meigo de Daniele.

_ Isso foi um elogio?

_ Você sabe que sim... Você está tão linda e... Seu cabelo...

Ela passou a mão no cabelo e riu e sacudiu agitando os fios e logo pode sentir aquele cheiro suave no quarto, era o perfume dela. Esse não havia mudado, era o mesmo. Isso ele jamais esqueceria!

_ Sim, eu cortei eles.

Ela lembrou que Sérgio sempre gostou de deslizar os dedos nos fios de seu cabelo.

_ Como você pode continuar assim, maluco?

Ele mudou de posição na poltrona.

_ A mamãe já foi falar não é?

_ Mas só um maluco se esqueceria de verificar as cordas do equipamento.

_ Você tem razão... Só um maluco _ ele riu, porém ficou sério e o olhar dele se perdeu no rosto dela enquanto viajava no silêncio e pensava em como tudo era diferente agora, tinha vontade de perguntar como ela estava. Se tinha algum namorado... Se bem que provavelmente ela teria, já que estava tão linda daquele jeito. Sim, ela estava linda!

Seu olhar se deteve em seus lábios rosados e sentiu vontade de beijá-los outra vez... Porém desviou o olhar ao ver que ela praticamente tentava ler sua mente.

_ E aí como você está?

Ela riu do modo como ele perguntou.

_ Estou bem.

_ Só isso? _ Ele pensou que ela fosse contar detalhes da viagem ou algo assim.

_ Sim Sérgio... O que mais eu teria a dizer? Foram dois anos maravilhosos, eu me diverti muito, adorei conhecer o Canadá. Fiz grandes amigos lá e...

_ Realizou seu sonho.

O modo que ela disse soou irônico naquele momento.

_ Sim. Realizei meu grande sonho.

_ Fico feliz por você.

Ela ia dizer que apesar de tudo não sentia uma felicidade plena em seu coração, mas riu e disse.

_ Obrigada. Mas eu...

No momento em que Daniele ia dizer que sentia por tê-lo deixado no momento em que ele precisou tanto dela, entrou no quarto uma bela morena elegantemente vestida. Ela se aproximou de Sérgio e deu um beijo em seus lábios e ele a abraçou com carinho.

Daniele assistia a cena em silêncio apenas observando o belo casal.

_ Querido como você está?

A voz dela era tão suave e elegante.

_ Estou bem Laura.

_ Espero que sim amor _ Naquele momento ela pareceu notar a existência de Daniele e com um sorriso suave perguntou.

_ Você é Daniele, não é?

Ela sabia sobre seu nome? Indagou-se Dani surpresa.

_ Sou eu sim.

_ Ah o Sérgio me contou sobre a amiga dele _ Ela a olhava de cima a baixo _ Então é você?

Ela assentiu e Laura estendeu a mão para Daniele que a cumprimentou em sinal de educação.

As mãos de Laura eram finas e macias.

_ Eu sou Laura, a noiva dele.

“Noiva?”

A mente dela dava voltas e nem soube dizer como permaneceu na posição de elegância e olhava para os dois com aquele sorriso nos lábios. Por fora podia sorrir com um riso falso, mas por dentro estava sentindo-se muito triste e seu coração doía muito.

Daniele ficou olhando aquela bela mulher que parecia pertencer a uma família rica, era fácil notar por seu jeito educado, suas belas roupas e seu porte fino. Certas coisas eram difíceis de disfarçar, pensou ela enquanto comparou suas unhas com as de Laura e até as escondeu, pois sentiu vergonha.

Laura virou para Sérgio e comentou:

_ Ela é bonita como imaginei que era.

_ Obrigada.

Ela começou a se sentir demais naquele lugar , então sua única alternativa seria ir embora , afinal não pertencia mais aquele lugar , agora ele já tinha uma dona.

_ Bem, eu preciso ir _ ela virou para Sérgio_ Melhoras com sua perna.

Ele riu com aquele mesmo belo sorriso que sempre havia ficado gravado em sua mente.

Virando de costa saiu do quarto, mas ainda pôde ouvir quando eles voltaram a se beijar, sentiu algo diferente dentro de seu coração era como se tudo estivesse rompendo dentro dela, então antes que pudesse evitar sentiu lágrimas escorrerem em seu rosto. Ela rapidamente levou a mão ao rosto tentando evitá-las, porém elas vieram uma após a outra e foi inevitável sentir-se triste, então ela procurou um local distante onde ninguém pudesse contemplar aquela cena.

Ela encostou-se à palmeira e ficou olhando pra grande orla que cercava o condomínio. As lágrimas já haviam cessado, mas a tristeza permanecia em parte porque sabia que Sérgio já a tinha esquecido, enquanto que ela...Bem, ela permanecia com aquele sentimento ainda adormecido dentro do coração, mas era momento de seguir em frente, afinal ela mesma fez sua escolha pelo seu grande sonho e agora era momento de desfrutá-lo.

No dia seguinte ela foi até a casa de Adriana para matar a saudade de conversar com sua amiga querida. Ao chegar no local viu que muita coisa havia mudado , mas aquela espertinha continuava a mesma brincalhona de sempre.

_ Quem eu vejo é mesmo você minha amiga?! _ Exclamou Adriana ao vê-la tão diferente.

_ Acho que sim _ Daniele sorriu e abraçou a amiga que fez uma festa ao vê-la.

_ Assim você me parte ao meio!

Drica riu e soltou a Daniele que segurou suas mãos e fez com que ela rodasse exibindo seu belo visual.

_ Você está linda! _ Ela a abraçou novamente _ Que bom que você está aqui! Eu já estava morrendo de saudades.

_ Você também está linda Drica.

Ela puxou a amiga e foram sentar juntas no sofá _ Vem me conta como foi no Canadá? E os canadenses?

Drica era um amor! Sentiu muitas saudades da amiga. Elas riam e conversavam amigavelmente enquanto Daniele contava todos os detalhes da viagem e sobre os homens bonitos que conheceu na faculdade e em outros locais. Era tão bom estar com sua amiga novamente!

_ E como foi com o Sérgio?

_ Não quero falar disso Adriana.

_ É seu direito...

Daniele olhou para a amiga que certamente estava louca para saber sobre como foi o encontro entre eles.

_ Eu já sei sobre o noivado dele. Porque você não me contou?

_ Eu não queria estragar as suas coisas contando sobre isso _ ela olhou para Dany _ Amiga, apesar de tudo eu sei que você ainda tem sentimentos por ele.

Era impossível negar, pensou Daniele.

_ Quando eu o vi ali na minha frente depois de tanto tempo, pensei que ele fosse me abraçar e dizer que estava com saudades, mas aquela mulher entrou e o abraçou e falou que era a noiva dele, eu...

_ Ficou triste?

_ Mais que isso. Eu senti uma dor tão forte e foi como se tudo estivesse desabando Adriana. Eu ainda amo o Sérgio! Mas parece que eu vou ter que esquecer isso porque ele se mostrou bem apaixonado por ela.

_ Eu não sei o que dizer amiga.

_ Não tem nada para falar. _ ela riu afastando aquele assunto que a deixava triste e pegou a bolsa_ Trouxe presentinhos.

_ Disso eu gosto! _ Ela abriu um enorme sorriso.

Nas semanas que se seguiram ela foi a algumas entrevistas de emprego em grandes empresas. Era o sonho de muitos profissionais e ela estava lá entre umas das candidatas a serem batidas e de currículo excelente!.

Ao chegar em casa nem tirou os sapatos e se atirou na cama de tão cansada que estava, alguns minutos depois ouviu batidas em sua porta.

_ Posso entrar?

Era a voz de Sérgio! Daniele ficou surpresa e sentiu a adrenalina percorrer seu corpo, e quando isso acontecia era difícil de esconder, pois seu rosto ficava vermelho e se sentiu medo de que ele pudesse notar que ela estava nervosa.

_ Já entrou! _ ela disse entre séria e brincando vendo que ele entrava em seu quarto, então ela sentou na beira da cama e olhou para ele.

Quando Sérgio olhou para o estado em que Daniele se encontrava foi quase impossível conter a exclamação.

_ Nossa, você está acabada!

Ela afastou as madeixas do rosto e jogou o sapato pro lado.

_ Obrigada pelo elogio.

Ele riu brincalhão.

Ela indicou a poltrona para ele. E foi como se de repente um filme estivesse voltando em sua mente, mas ela afastou aquela idéia e voltou a se concentrar nele.

_ O que você disse?

Ele analisou o rosto um tanto cansado e sentiu vontade de tocar aquela pele macia como costumava fazer no passado, mas afastou aquele pensamento tão rápido como ele veio.

_ A Ruth comentou que você foi a algumas entrevistas.

_ A mamãe não perde certos hábitos!

A voz era pra ser apenas em pensamento, mas acabou saindo alta.

_ Ela apenas comentou.

_ Verdade, eu fui a algumas entrevistas e vamos ver.

_ Bem, se você estiver disposta a trabalhar para a nossa construtora.

Ela ficou parada sem fala olhando para ele.

“Como assim trabalhar para a construtora deles?”

A empresa da família dele era simplesmente uma das maiores do país e tinha filiais espalhadas em todos os estados e até fora do Brasil.

_ Eu nunca pensei.

_ Sério?!

Ela assentiu sem palavras, pois realmente nunca havia passado por sua mente que ele pudesse lhe oferecer uma oportunidade como aquela, apesar deles terem sidos ótimos amigos e logo depois o relacionamento...

_ Então deve ser realmente surpresa por eu estar te convidando para fazer parte da equipe.

_ É sério mesmo?

Ele riu exibindo aquelas covinhas que tanto a cativavam. Ele era simplesmente lindo! Daniele sentiu uma dor no peito ao pensar que poderiam está juntos naquele momento.

Ela havia escutado da mãe que após a morte do pai Sérgio havia assumido o controle da empresa e teve que mudar um pouco seus hábitos.

_ Eu nunca pensei que você um dia fosse ser um empresário de sucesso.

_ Nem eu! Mas a vida reserva algumas surpresinhas e eu pude contar com os melhores professores do ramo empresarial. _ Ele gesticulou e levantou da poltrona e indo até a janela e parando de frente para olhá-la.

_ Então o que você me diz?

Ela viu que a perna dele já estava melhor e de certo modo sentiu um alivio por isso então voltou a olhar para ele.

_ É sério mesmo?

_ Porque eu brincaria?

Realmente ele estava sério naquele momento, então começou a pensar que haveria motivos ocultos para aquilo.

_ E porque você está fazendo isso?

_ Oras Daniele, eu preciso de uma contadora e você até onde eu saiba é uma! Além do mais seu currículo é excelente, fora isso, eu te conheço e sei da sua paixão pelo que faz. Quer motivos melhores que esses?

Ela riu fazendo com que seu rosto ficasse vermelho, pois ainda não havia se acostumado com elogios.

_ Obrigada.

Ele achou lindo o modo tímido dela. Aquele sempre havia sido uma das coisas que o conquistou de imediato.

Sérgio voltou a se concentrar no motivo que o tinha levado até ali e começou a detalhar o que ela faria na empresa.

_ Eu preciso de uma pessoa de total confiança ao meu lado. Você vai fazer a última analise antes dos orçamentos serem liberados.

_ Mas acredito que a empresa deve contar com uma equipe especializada.

_ Sim, mas digamos que preciso de alguém em quem confie.

Ele se aproximou dela.

_ Você vai aceitar?

Não teria muito para pensar, era uma oferta irrecusável, além do mais, nenhuma das outras empresas bateria aquela!! Não seria louca de dizer que não, mas sentiu um frio ao pensar que teria que permanecer ao lado dele.

_ Eu aceito.

_ Ótimo! Você vai passar pelo período de experiência, mas acredito que isso não deve ser problema.

_ Em absoluto!

_ Que bom. Você pode começar amanhã?

_ Sim.

_ Você pode dizer alguma coisa além de “em absoluto” e “sim“?

_ Sim.

Foi inevitável ele rir ao que ela voltou a responder desse modo.

_ Obrigada pela confiança.

Sergio riu vendo o rosto corado dela e antes que ele falasse algo ela o abraçou causando certa surpresa. Era como na época em que eram amigos e cúmplices das brincadeiras.

Ela o abraçou e fechou os olhos esquecendo-se de quem eram naquele momento, apenas queria demonstrar a alegria que sentia por ter Sergio ali partilhando daquele momento de êxtase para ela. Sentia uma enorme felicidade invadir seu coração, porém logo notou o que estava fazendo.

“Ele não era mais o Sérgio dela e sim de Laura.”

Daniele sem graça se afastou dele.

_ Desculpa, acho que me empolguei.

Ele riu e ajeitou o cabelo dela que saiu da fita que formava uma tiara.

_ Não tem problema, você sempre faz isso.

Aquela cena trouxe lembranças para ambos, então Sérgio se afastou decidindo que já era momento de sair.

_ Aguardo você amanhã.

E saiu do quarto fechando a porta.