Stay With Me escrita por soulsbee, Bella Guerriero


Capítulo 28
Familia


Notas iniciais do capítulo

Um coração que foi enterrado no chão
Pode quebrar como se nunca tivesse encontrado
Eu gastei muito tempo cavando aquela sepultura
E se for dor o que eu sinto
Pelo menos eu sei que é real
Eu prefiro estar quebrado do que com medo

— Notas Finais -



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Ashley

Algumas pessoas não deveriam passar por coisas ruins, não quando elas foram boas durante sua vida toda, sempre disposta a ajudar e a lutar por seus amigos, mesmo quando eles estavam errados...

Acidentes acontecem, porém, sempre com as pessoas erradas.

Nunca foi fácil para eu entender o porquê algumas coisas aconteceram de uma determinada maneira em minha vida. Muito menos, compreender a culpa que um bebe tinha para ser deixado de lado por seus pais.

O amor da família sempre veio em primeiro lugar, acima dos amigos, dos namorados, dos bens materiais ou qualquer outra coisa. Sempre foi capaz de vencer as barreiras, inabalável. Resistente contra o tempo e as brigas.

Mas como compreender e concordar com algo que você nunca teve?

Por anos quebrei a cabeça tentando entender o porquê fui deixada naquele orfanato quando acabara de nascer, me perguntando qual era o meu defeito ou onde eu havia errado. Acreditei ser uma aberração para ter sido tirada dos braços da minha mãe e nada que dissessem fazia minha opinião mudar.

Porém, conforme o tempo passou e eu cresci, descobri que existiam infinitos motivos para ser abandonada. Desde pais pobres que não podiam criar seus filhos e acreditavam ser a melhor maneira, a desespero e dinheiro.

No meu caso, foi pelo dinheiro.

Minha mãe vinha de uma família classe media alta de Londres e ter um filho sendo solteira iria manchar a reputação nobre, ainda mais quando o pai era funcionário de uma borracharia local, sobrevivendo apenas com a educação básica que recebera no colégio.

Em suma, eu era alguém indesejada e só iria atrapalhar a união da família Archer com os Cole e isso acarretaria em uma grande perda de dinheiro e um furo que levaria a gráfica – uma das mais famosas – a falência e jogaria o nome da família na lama.

Quando descobri que o problema não era eu, mas sim eles, era tarde demais.

Sempre que um doce casal me levava para sua casa, antes da adoção, eu criava tanta confusão, tentando faze-los desistir de mim, que quando conseguia, ficava aliviada, pois voltava para perto dos meus amigos. A única família que tive, até todos serem adotados e eu ser abandonada. Mais uma vez.

Foi na ultima tentativa de adoção que encontrei, na sala da assistente social, uma pasta com meu nome, contendo vários documentos de desistência, exames médicos, e as minhas origens.

Eu confiava nela mais que tudo e, por muito tempo, implorei para que ela me dissesse quem eram meus pais, para que eu pudesse perguntar a eles qual era o meu problema e o porquê não podia viver com eles.

Naquele mesmo dia eu a confrontei e foi quando ela me explicou que, muitas pessoas, davam mais importância ao dinheiro do que a uma vida. Ela mal havia terminado de falar quando sai correndo de sua sala e segui para o meu quarto, pegando minhas coisas e as enfiando dentro de uma mochila para sumir dali.

A policia me procurou por uma semana inteira e quase me pegaram, se não fosse por meus novos amigos, estaria aprisionada naquele inferno de novo.

Eles eram crianças abandonadas como eu e viviam em uma casa caindo aos pedaços com um homem velho que nos obrigava a pedir dinheiro e a roubar, se fosse o caso, para pagar um agiota mensalmente.

Ele nos mantinha alimentado e nos deixava ir para a escola no período da manha, nos dava uma cama para dormir e não nos mantinha preso. Ele só exigia cem libras, como um “pagamento” por tudo o que ele nos dava, caso não conseguíssemos, seriamos trancados no porão por dois dias, sem ver a luz do dia, sem comida ou agua.

Eu tinha quatorze anos e ele era tudo o que tinha.

Um ano mais tarde, uma crise econômica atingiu o país violentamente e o casamento arranjado dos Archer com os Cole havia ido parar no buraco. A gráfica foi obrigada a fechar para a família não falir e minha mãe morreu logo em seguida, deixando uma pequena herança para o meu meio irmão - o resto ele herdaria quando fosse maior de idade.

Não hesitei em correr para a casa deles e exigir alguma coisa. Eu merecia, depois de todos esses anos sofrendo por culpa deles, mas fui tachada de louca e problemática, uma drogada em busca de dinheiro para alimentar meu vicio.

Meu irmão tinha os olhos da mesma cor que eu e o cabelo também, meu coração bateu tão diferente ao vê-lo, feliz por ter encontrado um sangue do meu sangue. Porém, seu narcisismo o cegava e eu não passava de uma órfã.

Quando a noite caiu, invadi aquela casa de três andares de paredes ornadas por replicas de quadros famosos, estantes repletas de livros, lustres de cristal em um ótimo e confortável design. Limpa, organizada, espaçosa... Cada quarto dali valia a dois da casa onde eu estava.

Entrei no quarto onde minha “mãe” dormia e roubei quase todas as joias que ela possuía. Desde perolas, rubis e esmeraldas a um lindo anel de ouro com uma solitária de diamante.

A policia então estava novamente atrás de mim e, se voltasse para o “abrigo” que vivia, Carl – o responsável por nós – iria pegar todas as joias, venderia e gastaria da maneira como bem entendesse e eu permaneceria ali, pobre e dependente dele.

Após a venda de algumas joias, pude alugar uma quitinete em um bairro vizinho do que vivia. Não era o melhor lugar do mundo, mas dei inicio a uma nova vida independente e longe deles. Havia entrado em outro colégio, comecei a trabalhar em um bar durante a noite e estava mantendo uma renda razoável para sobreviver, pois sabia que mesmo vendendo as joias que sobraram, não teria dinheiro pelo resto da minha vida.

Minha vida estava indo bem, mas na semana que conheci Sthefan e Felipe, dois casais de amigos que viveram comigo no abrigo me encontraram ameaçaram se vingar pelo transtorno que levei a eles, pois, quando a policia começou a sondar o local a minha procura, Carl os havia prendido no porão como castigo, acreditando que eles eram culpados daquilo tanto quanto eu.

E, no dia em que conheci os garotos, eles haviam me encontrado novamente e decidiram que seria o dia onde colocariam a vingança em pratica.

Se não fosse pelo treinamento básico de autodefesa que recebi no colégio, tinha certeza que estaria enfiada em um hospital, passando por cirurgias antes de ser presa por invasão e roubo.

Sthefan e Felipe se tornaram grandes amigos naqueles dias que ficaram enfiados em minha quitinete, indiferentes em relação à simplicidade e localização, e, como sabiam que eu queria dar o fora de Londres o mais rápido possível – antes que a policia me encontrasse – ligaram para mim no mesmo dia que haviam se mudado para o sítio, me convidando para morar com eles.

O que eu tinha a perder? Eles poderiam ainda ser desconhecidos, apesar do pouco tempo que vivemos juntos, e eu poderia estar indo para uma cilada, mas nada disso era relevante. Vendi mais algumas joias, deixando apenas o anel de diamante, conseguindo comprar a passagem de ida, sem volta, para a Itália onde tudo realmente começou, comprar meu carro e pagar metade da bolsa de estudos que havia ganhado da universidade.

Sthefan e Felipe eram os únicos com quem eu conversava tranquilamente, diferente de Christopher e Isabella que foram um porre para mim, no inicio, porque me lembravam meu meio irmão narcisista e eu tinha nojo, mas o tempo mudou minha percepção deles. Alice parecia fazer tudo para agradar as pessoas e aquilo me irritava, mas não era porque ela queria passar uma boa impressão e sim porque foi assim que sua família – grande, por sinal – lhe ensinou a ser. Gentil e caridosa.

Quando ela me encontrou trancada no quarto, admirando o anel de diamantes, pensando que fim daria a ele, fui obrigada a lhe contar a minha historia, de ponta a ponta, fazendo-a se surpreender e ficar preocupada comigo e implorou para que eu o guardasse para comprar uma casa perfeita.

No dia em que Alice fugiu para a casa de seus pais, sabia que não importava quantas vezes um de nós pedíssemos para ela voltar, pois ela não queria, porém, sabia que se fosse eu a pedir ela voltaria. Ela não fazia a menor ideia de como era crescer longe de uma família e tomou toda minha dor para si. Alice me considerava sua irmã de consideração e iria estar ao meu lado a todo custo.

– Eu não pensei duas vezes, Alice... – Sussurrei segurando suas mãos gélidas e pequenas nas minhas – Eu precisei... Por você... – Referia-me ao anel que vendi para pagar seu tratamento.

Ela me recriminaria por ter aberto mão de uma casa, ou qualquer outra coisa do meu interesse, por ela. Se estivesse acordada mandaria eu voltar atrás e gastar com outra coisa, mas, em todos esses anos, recriminei o dinheiro por ser o responsável em afastar as pessoas, agora estava disposta a usa-lo da maneira contraria.

Aquele quinteto se tornou a minha família verdadeira e, como em toda família, nos amávamos, brigávamos, passávamos por momentos difíceis e felizes... E agora, estávamos passando por um furacão que mudaria completamente nossa vida.

Os que superassem, nunca mais iriam se separar, os que fugissem, não seriam dignos de pertencer a nossa família. Felipe estava em um conflito direto com Sthefan, porém ainda estava conosco, nos amava. Ele era como o filho incompreendido lutando para se redimir. Isabella, no entanto, fugiu e ela era fazia o papel da garota revoltada que não aceitava nada. Era o que ela queria ou nada e se ela não voltar logo, não será digna de estar ao nosso lado.

Estava com o rosto deitado sobre as pernas de Alice, com os olhos entreabertos, fitando seu rosto adormecido enquanto recordava minha vida como se um filme passasse diante dos meus olhos, ao mesmo tempo em que rezava em silencio pedindo para ela voltar para mim e para Sthefan.

– Acorda logo... – Pedia sempre que estava com ela, como se isso fosse invadir sua mente e, cedo ou tarde, a traria de volta de um sono profundo. – As aulas vão começar e você não pode perder a bolsa... – Murmurei acariciando as costas de suas mãos.

Senti algo cutucar minha mão, uma vez, mas me mantive indiferente. Porem, algum tempo depois, senti a mesma coisa novamente atraindo minha atenção para o dedo indicador de Alice se mexendo.

– Meu Deus... – Disse incrédula, de olhos arregalados, em choque, fitando seus demais dedos se mexerem sutilmente em um movimento quase imperceptível. – Enfermeira! – Gritei cambaleando para fora da poltrona, com o coração batendo a milhão quase saindo pela boca, escorregando pelos corredores do hospital até achar o enfermeiro que cuidava de Alice. – Ela acordou! – Anunciei em alto tom, ofegante.

– Vamos lá! – O enfermeiro jogou algumas pranchetas contra o balcão e correu para o corredor do lado, chamando uma equipe medica inteira antes de seguir para o quarto de Alice. – Por favor, fique aqui fora um pouco. – Pediu entrando as pressas no quarto e fechando a porta após os demais terem entrado.

Da pequena janela quadrada, pude ver o medico abrir seus olhos, usando sua lanterna à procura de alguma espécie de trauma enquanto os demais mediam sua pressão e monitoravam as maquinas em busca de algo diferente.

Eu via a boca deles se mexendo, mas não conseguia escutar uma palavra sequer devido ao barulho que abafava as vozes.

Estava atônita diante daquela situação, sentindo uma chama de esperança crescer quando o rosto preocupado do medico relaxou para algo mais gentil e os olhos de Alice permaneceram abertos por conta própria, com vida.

Fui o mais rápido que pude até a recepção, encontrando Christopher sentado em uma das poltronas da sala de espera, conversando baixo com Isabella. Ignorei-a puxando seu braço com força, obrigando-o a se levantar em um sobressalto.

– Ashley o que foi?! – Indagou preocupado, passando seu braço ao redor do meu corpo, obrigando-me a olhar para ele.

– Vem comigo! – Disse arrastando-o para longe de Isabella em direção ao leito de Alice.

– Aconteceu alguma coisa com ela? – Me acompanhou em passos largos.

– Sim, ela...

– Não me diga que... – Interrompeu sem conseguir concluir a frase, com um olhar triste esperando que eu dissesse o pior.

– Ela acordou! – Respondi com um sorriso largo no rosto, parando na porta do quarto dela, apontando para a garota, agora sentada na cama, mexendo suas pernas com dificuldade enquanto os enfermeiros colocavam algumas medicações em seu soro.

– Não acredito! – Christopher disse maravilhado fitando Alice sorridente.

Ela olhou para nós dois do lado de fora e antes que se pudesse se mexer, o doutor fez sinal para que entrássemos.

– Ela tomou alguns remédios para dormir, mas antes quer falar com vocês. – Disse o doutor fazendo sinal para que sua equipe se retirasse do recinto.

– Ashley, Christopher... – A doce e suave voz de Alice saiu em um tom quase inaudível devido a mascara de inalação em seu rosto.

– Você precisa descansar... – Christopher disse passando as costas de sua mão em seu rosto, arrancando um sorriso fraco de seu rosto.

– Vocês estão juntos... – Completou com dificuldade tentando se mexer e sendo impedida por Christopher.

– Relaxe... – Disse ainda acariciando seu rosto.

– Chame o Sthefan... – Pediu lutando para manter os olhos abertos. – Por fa... – Alice caiu em um outro sono profundo, mas, dessa vez, ela estava apenas descansando e logo acordaria novamente.

Ela estava de volta.


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Notas finais do capítulo

OMG PASSADO DA ASHLEY SE REVELOU U_U decidi tudo isso de ultima hora com a Bella kkkk Antes era uma viagem totalmente diferente do que é agora, pq agora ficou coerente kkk
Espero que tenham curtido, o proximo cap é da Bella, então se demorar culpem ela e não a mim :p
Coments? Até mais.



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