Stay With Me escrita por soulsbee, Bella Guerriero


Capítulo 23
Dificuldades


Notas iniciais do capítulo

" A vida parece perfeita até o momento em que perdemos o controle sobre nossos planos, tornando o paraíso em pesadelo."
— Notas Finais -



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Ashley

Estava muito escuro. Não conseguia ver nada a um palmo de distancia a minha frente. A chuva estava forte, mas não parecia ser devastadora, estava mais para uma forte garoa que, mais tarde, poderia se tornar um temporal. Não ouvia nada além do uivar do vento nas arvores a minha volta e da água contra o asfalto. Estava frio e meus braços tremeram com as fortes brisas que me atingiam.

Ao longe, consegui ver um pequeno foco de luz surgir em meio às trevas, aproximando-se com velocidade na minha direção. Surgiram luzes também do meu lado direito, mas não era um pequeno foco como o que via à minha frente, era muito forte, pareciam refletores de um estádio e a luz era tão forte que parecia me cegar.

Encontrei-me em uma autoestrada chuvosa e sinuosa. Queria tentar ler a placa fincada ao lado do acostamento, mas não conseguia focar meus olhos nas letras tremulas. O rugido do motor de algo grande se sobressaiu ao som da chuva e do vento, fazendo meu coração bater mais rápido. Estava com medo daquilo, medo de que ele me atingisse.

As luzes se aproximavam em alta velocidade, percebia isso conforme o pequeno foco se tornava cada vez maior em tão pouco tempo. Era questão de segundos até que eles colidissem um contra o outro, mas ali, tão perto, parecia a eternidade. A adrenalina em meu corpo parecia estar a milhão quando, finalmente, consegui ver o carro velho de Alice surgir ao longe indo em direção ao caminhão que vinha pelo outro lado da pista.

– Ah meu Deus... – Sussurrei sem palavras, prevendo o que estava por vir – Alice, para! – Gritei milhares de vezes sem resultado algum. A chuva, o vento e o rugido dos motores cobriram o som da minha voz, tornando-a inaudível.

Logo atrás de Alice, notei meu Impala azul meia noite surgir atrás dela com Sthefan dirigindo feito um maluco. Eu queria mata-lo por estar pondo meu carro a tanto risco, correndo em alta velocidade em condições tão perigosas, mas com Alice prestes a sofrer um acidente, não ligaria de ver meu veículo aos pedaços.

Sthefan ultrapassou o carro de Alice com facilidade – claro, meu Impala era mega potente –, fazendo uma curva brusca a centímetros de distancia de mim. Encarei-o pela janela, seus olhos estavam vidrados vendo Alice vindo em sua direção sem perceber o monstro que estava prestes a cruzar o seu caminho.

E, em questão de segundos, o caminhão atingiu seu carro em cheio, arremessando-o longe, na ribanceira que ali existia. Sthefan não reagiu de maneira alguma, ele estava congelado em seu lugar, observando aquilo sem a menor expressão.

Um grito saiu de minha garganta no instante em que o veiculo de Alice se chocou contra aquela parede de ferro maciço, destruindo-se em milhões de pedaços. Não havia a menor esperança de que ela pudesse sair viva dali. A batida não foi tão forte quanto o imaginado, o caminhão havia reduzido pela metade sua velocidade ao chegar ao cruzamento, mas as varias vezes em que o carro capotou na ribanceira tornou tudo pior e, tanto Sthefan quanto eu, sabíamos qual era o final daquela historia.

– Alice! – Gritei seu nome pulando em sobressalto na minha cama.

– O que foi Ashley? – Christopher indagou logo em seguida, envolvendo meu corpo em um abraço acolhedor.

– Eu sonhei com ela... De novo... – Sussurrei com lagrimas se formando ao redor dos meus olhos. – E eu nem vi como o acidente aconteceu... Sthefan está sofrendo muito... – Abracei Christopher com todas as minhas forças, agradecida por ele estar ali comigo.

– Ela vai melhorar... – Christopher sempre dizia isso, mas agora, depois de tanto tempo com ela em coma, estava perdendo as esperanças, assim como nós.

Os braços de Christopher estavam confortáveis e passavam a segurança que precisava naquele momento, mas os feches de Sol que invadiram o quarto anunciaram que já estava na hora de levantar.

– Aonde você vai? – Perguntou cruzando os braços na cama.

– Ver o Sthefan – Disse vestindo uma camisa de moletom preta com a bandeira do Reino Unido estampado em cores envelhecidas nas costas.

– Acho que ele está lá embaixo, no galpão – Disse espreguiçando-se, mas não revelando a menor vontade de sair dali.

Christopher vestia uma camisa reglan de torso branco e mangas pretas. Ela passava a impressão de que ele possuía mais músculos do que o de costume e essa era uma linda visão, ao menos, adoraria vê-lo vestindo isso em qualquer outro dia, mas agora, não estava com cabeça para nada.

– Ótimo, te vejo depois, preguiçoso – Sorri torto soprando um beijo da porta para ele.

Segui apressadamente pelos corredores do primeiro andar, sentindo o chão de madeira meio áspero, algo que, outrora esteve completamente escorregadio e perfeitamente lustrado.

Desci as escadas sem me preocupar com os degraus, passando pela sala e vendo Felipe deitado no sofá, com sua linda cara fechada, comendo algumas tranqueiras e rodando os canais sem encontrar nada que o satisfizesse.

Em pouco tempo, estava na frente da casa, sentindo a barra da minha calça de moletom preto tocar a grama mal aparada. Alguns pedaços do mato pareceram grudar em meu chinelo preto, fazendo-me deslizar quando tentava andar tão rápido quanto andei dentro da casa.

– Sthefan! – Chamei-o ao me aproximar do galpão vermelho, típico de fazendas.

Ouvi um barulho surgir atrás de mim. O som de um carro velho rompeu o silencio daquela manhã frívola de inverno. Olhei em direção ao veiculo e notei Felipe dentro dele, batendo as mãos no volante quando o carro movido a álcool resolveu que não iria facilitar as coisas para ele e sair do lugar tão cedo.

– O que foi...? – Sthefan perguntou em um tom de sussurro, ao meu lado. Sua aparição momentânea me assustou um pouco, fazendo meu coração disparar.

– O que está fazendo aqui, tão cedo? – Perguntei tentando parecer gentil e levemente animada. Pensei em perguntar “Como você está?”, mas sabia qual seria a resposta. “Ah, a garota que eu amo está internada em um hospital a beira da morte, mas eu estou bem, não esta vendo o meu sorriso lindo?”

Algumas coisas... – Respondeu virando-se de volta em direção à porta do galpão que, agora, estava aberta.

– Posso saber o que é? – Indaguei aproximando-me mais dele.

– Não.

– Por quê? – Franzi o cenho curiosa.

– São coisas minhas. – Tentou parecer indiferente, mas aquilo não estava me convencendo em nada.

Seu rosto estava com algumas manchas de tinta branca e preta e sua camiseta estava com várias farpas de madeira espalhadas por todos os lados. Ele estava fazendo alguma coisa e eu iria descobrir querendo ele sim ou não.

Sem perguntar mais nada a ele, entrei no galpão iluminado apenas por uma luz próxima a porta enquanto o resto permanecia em um breu tenebroso. Ali era onde ficava o feno para os cavalos que tínhamos aqui. Alias, se não fosse pelo cuidador que os pais de Sthefan pagavam, eles estariam abandonados e talvez já tivessem morrido de fome.

No canto esquerdo existia uma bancada com uma serra elétrica e uma tabua retangular, com dois baldes de tinta ao seu redor. Um pouco acima, na parede, estavam penduradas todas as ferramentas que Sthefan tinha para qualquer tipo de problemas. Encanamento, cercas, chaves para os carros, até mesmo celas velhas de cavalos.

– Sai daqui! – Sthefan pôs-se a minha frente, bloqueando minha passagem. Realmente, ele estava escondendo algo que não queria que eu soubesse e aquilo só piorava as coisas para o lado dele.

– Porque você quer tanto que eu saia? – Indaguei esquivando-me para o lado algumas vezes, sendo barrada por ele. – O que está escondendo de mim? – Fingi ir para o lado direito, quando cortei-o pelo lado esquerdo, aproximando-me da bancada. – O que...

Não conclui meu pensamento. Na verdade, tinha medo do que ouviria dele. Aquela placa grande e retangular continha uma única palavra com letras grandes: “Vende-se”.

– Você pode me dizer o que é isso? – Trinquei o maxilar encarando aquilo em cima da bancada.

– Preciso vender o sítio se quiser pagar o tratamento da Alice... – Sthefan suspirou decepcionado.

Sabia que aquilo iria ser necessário, mais cedo ou mais tarde, afinal, Sthefan recebia a uma renda de seus pais para manter o sítio de pé. Nós também contribuíamos com o que tínhamos. Christopher, Isabella e Felipe ganhavam dinheiro de seus pais, não era muito, mas o suficiente para manter seu estilo de vida um tanto quanto esbanjador. Eu e Alice não contribuíamos tanto quanto os demais, já que não tínhamos a ajuda de nossos pais, mas sim trabalhávamos em coisas aleatórias, conseguindo uma pequena renda.

– Vamos dar um jeito... – Sussurrei pensando nos trabalhos que poderia arrumar para ajuda-lo.

– Querendo ou não, a Isabella ajudava muito. – Sthefan disse pressionando suas têmporas. – Mesmo que trabalhemos não será o suficiente...

– Então eu posso fazer de uma coisa! Posso trabalhar como professora de inglês e em alguma loja como vendedora! – Essas foram às únicas coisas que vieram a minha mente em tão pouco tempo.

– Mesmo assim... Você levaria um mês para receber e seria só o baixo salario de vendedora... – Levantei as sobrancelhas e abri a boca para retrucar, mas ele foi mais rápido - Ashley, você e eu sabemos que estamos em temporada de férias.

– Arrumo outra coisa! Christopher também pode ajudar! Sthefan, você não vai desistir tão cedo! – Estava me esforçando para manter o tom da minha voz, mesmo parecendo impossível.

– Temos até o final da semana que vem para conseguirmos arrecadar dinheiro o suficiente para pagar mais alguns dias de tratamento. – Ele fechou os olhos e abaixou a cabeça, rendendo-se aos meus argumentos.

– Ta, ok, vamos dar um jeito! – Apertei seus ombros, balançando seu corpo, fazendo-o abrir um leve sorriso. – Confia em mim... – Pedi e ele assentiu com a cabeça.

Ótimo. Além de ter minha melhor amiga morrendo, estava prestes a perder a única casa que tinha, desde que sai da Inglaterra e agora, tinha que melhorar meu rosto, sair dessa depressão profunda e procurar alguma coisa qualquer que me ajudasse a ganhar dinheiro o suficiente para ajuda-lo.

Tinha as opções de vendedora, em algumas lojas da região, e não seria difícil conseguir emprego, já que era uma grande conhecida dos donos, mas isso não iria nos dar uma renda alta. Mesmo com a ajuda de Christopher. As escolas de inglês estavam fechadas para as férias, então era outra ideia descartada. Depois de tanto pensar e chegar à estaca zero, sendo barrada pelo período de férias escolares e o final do ano, estava quase me tornando traficante, quando uma ideia um tanto quanto peculiar surgiu.

– Talvez essa seja a única saída... – Sussurrei para nós dois, despertando um olhar curioso de Sthefan.


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Notas finais do capítulo

Desculpas e mais desculpas. Sim, estou cansada disso, entretanto, essa história é muito mais complexa do que parece e um capítulo demora muito a ser feito. Entretanto,agora que eu e a Bella decidimos o rumo dos proximos capitulos, conseguimos colocar as coisas nos eixos e aqui estamos com mais um novo capítulo.
Tentei tirar o foco da depressão que eles estavam sentindo pela Alice e mostrar agora as dificuldades que estão surgindo em decorrência aos ultimos acontecimentos.
Mais uma vez, pedimos desculpas pela demora e agradecemos do fundo do coração aos leitores fieis que não nos abandonaram.
Estaremos cuidando para que essa história volte com tudo e os capítulos também.



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