Isabella

Passei no Natal em um beco escondido de Veneza .Estava com um grupo de doidos que eu conheci depois de sair com o garoto do bar. Quando estava saindo do Motel... me esbarrei com uma menina loira de olhos claros que me lembrava muito Alice ,e eu não sei exatamente se eu senti raiva ou dor pois...No fim...Eu sabia que tudo acabaria em breve...Será que eu devia lhe dar um adeus ?Será que eu lhe devia isso? Não...Quem devia algo para alguém ali ,era ela para mim...Depois daquele dia...É que tudo em minha vida havia mudado...Aquilo que acabou com minha esperança ,meu amor próprio e me transformou nessa pessoa que eu era agora...Mas ainda havia tempo de descistir...E ninguém nunca saberia...Não ,eu não iria fraquejar. Planejei essa vingança a tanto tempo...Não seria um tempo perdido...

Quando voltei de minhas alucinações a menina estava brigando comigo e mandando eu ficar mais atenta por onde andava.

–Deixa pra lá Lexy ... -Disse a menina que estava com ela ,morena com traços europeus que me lembravam Ashley.

–Deixa nada Alex...Essa menina é uma idiota! Ei, se você se esbarrar comigo de novo foge!

–E você acha que eu sou lá mulher de me esconder?-Estufei o peito e a encarando de cima.

–Você é uma abusada ,que morre na noite de Natal mesmo? –Lexy me perguntou.

–Quem liga pro Natal ,só tenho lembranças ruins...

–Que tal eu apaga-las?-Ela me olhou com seus olhos azuis com a maquiagem carregada e me fez lembrar que Alice certa vez fez aquilo quando fugia dos pais...No fim ela voltou correndo pra casa quando quase foi morta em uma rua esquecida de Verona .Olhando por dentro da alma da garota ,ela parecia uma garota assustada tentando fugir do mundo caótico ,assim como Alice e ...Eu.

–Talvez você me faça um favor ...E eu outro por você .-Foi o suficiente para eu conseguir o que eu queria .Ela partiu pra cima de mim mesmo que sua amiga tentava lhe segurar .Ela me deu um soco de esquerda e eu cai no chão sentindo as pedrinhas do asfalto. Ela se jogou em cima de mim e começou a puxar e arrancar tufos do meu cabelo. Ela me lembrava demais ela...Por quê era tão doloroso vê-la como a Ally ?Mas ao mesmo tempo...Foi por esse motivo que puxei a briga...Um sonho que se realizava...Eu socando o rosto perfeitinho dela.

–Você não sabe nem brigar .-Caçoei dela enquanto se debatia embaixo de mim depois de eu assumir o controle .-Não se puxa o cabelo...Se faz isso...-E comecei a jogar a cabeça dela contra o asfalto .Sua amiga gritava e logo três rapazes chegaram e me tiraram de cima dela e me espremeram entre a parede. Alex a ajudou a se levantar e com a cabeça sangrando foi até mim.

–Você é uma vaca...-Ela tocou a parte dolorida de sua cabeça.-Eu gosto disso...-Deu um sorrisinho meio estranho. -Tem planos pro Natal?

–Não...Matei minha melhor amiga .-Disse fria.

–Que bom...Eu também.

...

Depois disso ,eles se apresentaram ...Adequadamente. Ela era Lexy e fugira de casa depois de ser presa por roubo .Alex parecia ser a certinha ,sim...Ovelha negra .Os outros três garotos eram Max ,Josh e Rob .Max tinha cabelos negros espetados e olhos cinzas que me levaram a época que ainda tinha chances com Sthefan, ele era metaleiro .Josh tinha cabelos castanhos claros que caia até seu ombro e olhos cor de mel ,era um cara legal. E Rob era loiro com o cabelo curto meio armado e bagunçado ,com seus olhos azuis e um corpo definido. Ele estava com uma camiseta do AC/DC o que me fez lembrar que havia deixado a minha para trás com a mudança repentina, ele facilmente poderia ser modelo ,mas era o garoto quieto que fora expulso da faculdade depois de estourar uma bomba no pátio deixando vários feridos ,outros surdos e alguns até mortos.

Era uma turma que eu me encontrei .Nenhum era certinho-Tirando Alex e todos tinham histórias a contar ,ninguém ali iria me julgar. Quando chegamos no beco ,nos sentamos no fundo deste enquanto Max fazia uma fogueira com panos e papeis que encontrou ali. Me sentei primeiramente junto de Lexy que me contara que tentara roubar uma loja de conveniências pois estava com a galera em casa pra fazer uma festa e tinha acabado a comida e bebida e ela estava sem grana ,então decidiram roubar...O ruim ,é que só ela ficou para trás ao ouvir as sirenes da policia e a única a ser presa E que quando saiu da prisão e tentou retomar a vida ,pegou a melhor amiga com o namorado na cama...Não pensou duas vezes antes de puxar o gatilho da arma...Pros dois. Quando ela terminou sua história ,Max chegou e começou a beija-la ,e logo aquilo passaria dos limites então fui me sentar perto de Alex e Josh que estavam conversando e rindo enquanto curtiam uma musica e se beijavam.

–E ai, como vocês chegaram aqui?-Perguntei me intrometendo e tentando puxa conversa. Diferente do que eu pensei ,Josh não se zangou ,ele parecia um pouco com Alex que era certinha e tímida.

–Eu conheci Max no colégio e larguei os estudos...Nunca fui preso ok ?Não sou desses...Quando Max me apresentou a Lexy ,ela levara Alex e a conheci ,dai começamos a ficar e...

–Namorar .-Disse Alex as presas sorridente olhando fundo nos olhos do...namorado .Ele sorriu e ficou encarando os olhos azuis dela.

–E você Alex?

–Ah ,conheço ela desde a infância...Nossas mães eram vizinhas. Quando fomos pro colégio ela conheceu gente nova e logo foi presa e eu continuei, mas não a abandonei ,só não a deixo me controlar...

–E qual é a do Rob?-Disse indicando para ele do outro lado do beco isolado.

–Ah...-Disse Josh. -Ele sempre foi assim...Nem tente ,-Ele disse quase que lendo meus pensamentos .-Ele não conversa nem com a gente...

–Então o que ele faz aqui?-Perguntei. -Ele....Procura um lugar para fugir.

Comecei a prestar mais atenção em Rob ,a pesar dos jeans rasgados e a camisa toda suja ,pude imaginar o futuro que ele poderia ter tido...Um daqueles que passaria em Harvard , um daqueles que ama a família e adora curtir uma sexta a noite com os amigos...Mas quando olhei no fundo de seus olhos ,pude ver que seus sonhos estavam lá ,mas não a chance de tê-los.

De repente Lexy com Max se levantaram as presas e puxaram Alex com ela .Josh deu de ombros para mim e se levantou levando um coberto consigo e pude ver ele se enrolando nele com Alex. Sobraram só eu e Rob no beco e depois de alguns minutos de silêncio ,desci ir ver o que estava acontecendo na rua. Quando cheguei nesta ,avistei Alex abraçando Lexy e se balançando na outra calçada de esquina ,a uns 50 metros de mim .Josh deu um tapa na mão de Max e os dois deram um pequeno abraça em ambos com um tapa agudo nas costas e logo foram dar um abraço em grupo nas meninas .Olhei para o céu com um reflexo de luz e vi a chuva de fogos de artificio se iniciar .Um mais belo e brilhante que o outro. Olhar os fogos e os quatro amigos se abraçando me fizeram lembrar novamente de meus natais com os amigos ,e de como a época feliz havia passado.

–Quer um?-Perguntou Rob ao meu lado oferecendo um cigarro.

–Não ,não quero morrer de câncer no pulmão...Isso trás sérios problemas sabia ?Até a morte. -Ele levantou uma sobrancelha. -Tá...Ótima ideia. -Peguei um e Rob o acendeu para mim .Na primeira tragada me afoguei e pensei que morreria engasgada.

–Ei ,vai com calma...-Joguei o cigarro no chão e o apaguei.

–Como você gosta disso?

–Sei lá...Preciso de um lugar para afogar as mágoas. -Ele se sentou na beira da calçada observando os seus amigos. -Legal eles terem em quem confiar não?-Ele olhou o cigarro em sua mão direita que já ficava meio preto pela fumaça.

–E você não tem?-Me sentei também.

–Depois do que me aconteceu...-Ele negou com a cabeça.

–Se me permite perguntar...O que aconteceu?

–Você é enxerida né ?Acaba de me conhecer e pensa que vou te contar toda minha história?

–Você que veio até aqui ,ok?-Me irritei e me levantei observando os fogos não ligando mais para ele.

–Desculpe...É que depois de tantos anos me esqueci como é ter alguém se importando comigo...E...Porque vejo muito de você em mim.

–Não tenho nada a ver com você. -Afirmei.

–Tem...-Ele deu um sorriso fraco. -E como tem...

–De um exemplo.

–Você também espera das pessoas mais...Espera de você mais...Você espera a própria esperança.

De alguma forma ,aquele rapaz podia me ler mais do que eu imaginava e isso me deixava com medo ,como se minha mascara tivesse caído ,algo que nunca deveria acontecer.

–Não foi eu que tacou a bomba. -Ele disse se levantando e dando mais uma fumada.

–Então quem foi?-Perguntei autônoma.

–Meu melhor amigo...-Ele deixou o sorriso falhar. -Ele queria zoar...E tacou a bomba bem no meio do intervalo...Só que ele não esperava que fosse tão forte .Ele matou minha irmã...E quase nos matou ,mas ele jogou a culpa em mim e eu também .Não só para protege-lo ,mas porque eu realmente era o culpado...Eu poderia ter impedido o ,mas não o fiz...-Ele jogou o cigarro na valeta e o viu apagar com o vento. -Sou mais culpado que ele.

Eu o entendia...A dor da perda era algo que ninguém nunca esquece ,algo que vira parte de você...Algo que nunca vai mudar.

De repente o último fogo imprevisto estourou no céu e olhamos para cima vendo um vermelho brilhoso iluminar o céu Feliz Natal .E sentindo a dor do abandono ,desejei novamente que eu não estivesse com pessoas desconhecidas e fajutas, queria estar com meus amigos...Queria dar o último adeus a Alice.

Alice

Meu sangue queimava .Parecia que eu estava recebendo um veneno letal direto na veia ,queria que aquilo parece ,que acabasse....mas as pessoas ao meu redor diziam ao contrário...Que eu devia receber mais.

Minha mente estava nebulosa e eu não conseguia lembrar de nada...A não ser um grito no silêncio .E logo apos ele uma confusão ,todos se movendo ao meu redor e mexendo em meu corpo...Mas eu nada sentia nele ,não importava o que fazia ,furar ,mexer ,recolocar...Eu nada sentia ,só uma queimação infernal.

–Ela está perdendo muito sangue!-Alguém gritou ao meu lado.- Está inconsciente e muito feria! Precisamos leva-la...Agora-Logo mãos ágeis me tomaram em seu colo e me levaram para um carro .A dor saia de dentro para fora e o fogo se alastrava pelo meu corpo. Onde ele havia começado –nas pernas-eu já não as sentia.

–Oxigênio!-Falou um paramédico. Não quero oxigênio –Apesar de não conseguir respirar...Deus ,será que estão tirando meus pulmões?!-Mas...Só façam o fogo parar !Eu queria gritar ,mas minha boca não se mexia e logo que fora tampada com a mascara do oxigênio senti uma pequena picada no meu braço que estava quase dormente. -Corre!-Ele gritou ao motorista e a sirene aumentou de volume ,parecia que voávamos. Um outro paramédico falava pelo rádio.

–Como está a outra vítima?-Ele aguardou resposta que eu não compreendi. -Tá...Levem ao acompanhante para o hospital Di La Veneza e chamem a pericia.- Comecei a sentir meu corpo repulsando algo dentro de mim e senti gosto de sangue na minha boca logo quando comecei a pular da maca.

–Ela está com hemorragia interna!-Gritou o paramédico do oxigênio.

–Estamos quase lá!-Gritou o motorista.

–Não dá tempo!-Gritou o paramédico do rádio. -Teremos que entubá-la. –O outro paramédico correu para uma estante improvisada e pegou um cone e uma seringa e o entregou ao outro. Ele escancarou minha boca e eu vi um líquido vermelho vazar dela .Meus olhos se desfocaram.

–Não to vendo a traqueia!

–Clama...To quase lá!

–Não vai dar! Derek acelera !Ele não vai conseguir!

–Vo sim...Mais uns segundos...-A última coisa que vi foi um paramédico loiro tentando enfiar um cano na minha garganta e um outro desesperado. Apaguei.

...

Eu ouvia passos ao meu redor e alguém chorando bem ao meu lado ,além de sussurros incompreensíveis .Eu sentia a mascara de oxigênio e isso me incomodava .Eu queria abrir meus olhos e ver o que estava acontecendo...Minha cabeça girava e perguntas surgiam a cada segundo sem nenhuma sendo respondida. Onde eu estava ?O que aconteceu ?Onde estavam todos ?E por que eu não sentia meu corpo ,ne mesmo minha alma ?Eu sentia como se levitasse e como se a gravidade não existisse.

Eu não sabia quanto tempo se passara comigo naquele estado ,a razão de tempo e espaço pareciam não existir enquanto eu enfrentava a infinito da escuridão .Um dia de repente eu consegui abrir os olhos e isso me deixara animada .Vi um quarto branco de hospital e Ashley abraçada a Christopher. Ele voltaram?! Me senti animada e fui tentar abraça-los ,mas passei reto por eles .Sacudi minhas mãos em frente a seus rostos tristes ,mas seus olhos continuavam desfocados .Eu vi Sthefan sentado ao lado do leito de hospital debruçado e fui até ele batendo em suas costas ,mas nada acontecia. Olhei ao redor e vi pela porta Felipe sentado no corredor chorando .Ver o rosto dele fez minha memórias voltarem.UM quarto escuro e bagunçado ,com Isabella em seus braços .Cacos de vidro com Sthefan gritando .Uma dor alucinante em meu peito .A paisagem passar rapidamente por meu carro...Uma luz ofuscante E ...o Nada. Rever todas aquelas lembranças começaram a me assustar ,olhei para a frente de Sthefan e vi meu corpo desmaiado e ligado a inúmeros aparelhos .Minha cabeça começou a doer e uma escuridão me cegou .Quando abri meus olhos vi um jardim calmo com o sol do amanhecer e uma cachoeira .Vi animais rondando e pássaros cantando ,um lugar lindo .Avistei uma senhora de cabelos brancos sentada em um banco branco e reconheci ela quase que enfartando nisso: Minha avó Rose. Fui correndo até ela me sentei e a abracei como tantas vezes fiz na infância e sentia tanta falta ,sentindo as lágrimas banharem meu rosto.

–Vovó...A quanto tempo...Eu senti tanto a sua falta!-Soluçava.

Me afastei para ver seu rosto e percebi que ela não me reconhecera.

–Quem é você-Ela perguntou assustada.

–Sou eu...Alice...Sua neta!

–Alice? Não você não pode estar aqui...Ainda não está pronta...

–Pronta para que vó?

–Você deve voltar ,tem assuntos a tratar.

–Pronta pra que?

–Para o Além ,minha netinha. -O Paraíso começou a retroceder e minha avó a sumir ,como se não me pertencesse .Quando cheguei ao quarto de hospital novamente vi Sthefan chorando e beijando minha testa.

–Eu te amo Alice...E sempre estarei com você...

–Sthefan.-Falou uma voz sem vida de Ashley. -Vamos...Está na hora...-Ele negou com a cabeça. Também não quero deixa-la ,mas...Se não sairmos um pouco ficaremos louco e...Ela não iria gostar disso.

–Feliz Natal...Alice. -Ele sussurrou em meus ouvis com o amor que ele sempre transmitia e senti a dor que lhe causei e lhe causava e que era a hora ,de voltar para casa.